Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    Eu caí no chão com um baque, rolando alguns metros antes de parar. A dor foi intensa, mas eu sabia que não havia quebrado nada — a redução de peso havia ajudado a amortecer a queda. Mesmo assim, eu estava exausto e sem mana.

    Antes que eu pudesse me levantar, os guardas já estavam ao meu redor, suas armas e varinhas apontadas para mim.

    — Pare! Não se mova! — um dos espadachins ordenou, sua voz firme e autoritária.

    Eu levantei as mãos, mostrando que não representava uma ameaça. Nytheris permaneceu dentro de mim, sua presença silenciosa, mas reconfortante.

    Um dos magos se aproximou, sua varinha ainda apontada para mim, mas sua expressão era mais curiosa do que hostil.

    — Uma criança da favela? — ele perguntou, olhando para os outros guardas. — E usando magia… Isso é incomum.

    — Ele pode ser uma ameaça, talvez ele seja um monstro? — o outro espadachim disse, sua espada ainda apontada para mim.

    — Ou pode ser apenas uma criança perdida — o mago respondeu, abaixando sua varinha. — De qualquer forma, precisamos levá-lo sob custódia. O capitão vai querer interrogá-lo.

    Eu soltei o ar que estava preso em meus pulmões, sentindo o peso dos eventos caírem sobre meu corpo, enquanto isso, os guardas já haviam formado um círculo à minha volta.

    — Levante-se devagar — ordenou o espadachim à minha frente, a lâmina ainda apontada para mim.

    Minhas pernas estavam trêmulas, mas forcei meu corpo a obedecer. A exaustão pesava como correntes invisíveis, e cada movimento parecia drenar o pouco de energia que me restava.

    — Qual é o seu nome? — perguntou o mago que havia abaixado a varinha, ele tinha cabelos amarelos.

    — Flügel — respondi, mantendo minha expressão cansada, incapaz de manter uma boa postura.

    O mago trocou olhares com os companheiros. O espadachim que ainda segurava sua espada abaixou-a levemente, mas sem baixar a guarda.

    — Como você conseguiu voar? — ele perguntou, cruzando os braços.

    Pensei em mentir, mas qualquer resposta inconsistente só levantaria mais suspeitas, então o certo é contar a verdade, porém, ocultando certas coisas.

    — Magia do vento — respondi.

    Os guardas se entreolharam novamente, e o mago franziu a testa.

    — Eu nunca ouvi falar sobre uma magia de vento que faça alguém voar.  — Disse o mago que estava calado até agora, com um tom de descrença.

    — Se ele pode usá-la, então já foi treinado por alguém — ponderou o outro espadachim. — mas você está com as roupas da favela…

    — Ele pode ser um aprendiz fugitivo — sugeriu o primeiro espadachim, apertando o cabo da espada.

    — Eu não sou aprendiz de ninguém — cortei rapidamente.

    O mago de cabelos amarelos me olhou por um momento, avaliando minhas palavras. Então, ele suspirou.

    — Vamos levá-lo ao capitão. Se ele for inofensivo, será liberado. Se estiver mentindo…

    Ele não precisou terminar a frase.

    Dois guardas me escoltaram até o portão, onde os olhares dos aventureiros e trabalhadores pousaram sobre mim. Sussurros se espalharam, mas eu me forcei a ignorá-los. O importante agora era manter a calma e encontrar uma forma de sair dessa situação sem me comprometer.

    “Flügel, e se eles tentarem arrancar de você essa magia? E se você for sequestrado e morto por ser um possível perigo para o reino? “Nytheris estava nervoso, eu sentia isso e sua ansiedade também.

    “Está tudo bem Nytheris, provavelmente não irão me matar… provavelmente.”

    Os guardas me conduziram através do portão menor, e eu pude ver melhor a estrutura defensiva do reino. A base dos cavaleiros ficava ao lado esquerdo do portão, encostada na muralha de pedra que cercava Tournand.

    Era uma construção robusta, feita de blocos de granito escuro, com vigas de metal reforçando as paredes e o telhado. A base tinha dois andares: o térreo, onde ficavam os quartéis, o arsenal e a sala de comando, e um subsolo, que servia como depósito de suprimentos e cela temporária para prisioneiros.

    Uma torre de vigia se erguia ao lado da base, conectada a ela por uma passarela estreita. De lá, os arqueiros podiam observar a floresta e o caminho que levava ao portão. A base era pequena, mas funcional, projetada para abrigar cerca de vinte guardas e seus equipamentos.

    Do lado de fora, havia um pátio cercado por uma cerca de madeira, onde os cavalos dos guardas eram mantidos e onde treinamentos de combate eram realizados. O cheiro de terra molhada e metal permeava o ar, e o som distante de vozes e passos ecoava pelo pátio.

    Dentro da base, o ambiente era austero, mas organizado. As paredes eram nuas, exceto por alguns escudos e espadas pendurados como decoração. Um grande mapa do reino e das áreas circundantes estava fixado em uma mesa no centro da sala de comando, cercado por cadeiras desgastadas.

    Alguns guardas estavam sentados, conversando em voz baixa, enquanto outros se ocupavam com tarefas rotineiras, como afiar armas ou organizar suprimentos. O cheiro de óleo para armas e couro envelhecido misturava-se ao aroma de pão fresco que vinha de uma cozinha improvisada no canto da sala.

    O mago de cabelos amarelos, que parecia ser o segundo em comando, me levou até a sala de comando, onde o capitão estava sentado atrás de uma mesa de madeira maciça, examinando um relatório. Ele era um homem alto e imponente, com ombros largos e um bom porte físico evidentes mesmo sob o uniforme pesado.

    Seus cabelos grisalhos, penteados para trás, e a barba igualmente grisalha, bem aparada, denunciavam a idade e a experiência. Sua expressão austera transmitia autoridade e firmeza.

    Usava um casaco escuro com insígnias douradas nos ombros e no peito, decorado com medalhas e condecorações que contavam histórias de vitórias e perdas. A luz fraca das lamparinas refletia nas runas entalhadas na longa espada apoiada à sua direita, cujas inscrições mágicas percorriam tanto o cabo quanto a bainha, brilhando fracamente à luz das velas. A bainha, gasta pelo tempo, sugeria anos de batalhas travadas. Ele era o capitão Garrick.

    — Capitão Garrick — o mago anunciou, fazendo com que o homem levantasse os olhos do relatório. — Trouxemos um garoto. Ele estava voando sobre a floresta e caiu perto do portão.

    Garrick estudou-me com um olhar penetrante, como se estivesse tentando ler meus pensamentos. Sua expressão era severa, mas não hostil. Ele fez um gesto com a mão, indicando que eu devia me aproximar.

    — Voando, você diz? — ele perguntou, sua voz grave e rouca. — E como exatamente um garoto da favela consegue fazer algo assim?

    O mago de cabelos amarelos se adiantou, explicando:

    — Ele afirma ter usado magia de vento. Diz que aprendeu sozinho.

    Garrick franziu a testa, claramente cético. Ele se levantou da cadeira, sua altura imponente fazendo com que eu me sentisse ainda menor. Ele caminhou até mim, cruzando os braços e olhando-me de cima para baixo.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (4 votos)

    Nota