Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo 15 — Família Handels e o Exército
— E é claro, caso seus filhos sejam bons com esgrima ou magia, colocaremos eles em uma escola boa nisso. E também daremos uma casa a vocês, fora das favelas.
— Tudo bem — Aragi disse, apertando levemente os ombros de Sophia, que aparentemente iria se opor.
— Ótimo. Preciso que vocês assinem aqui. Já preparei a papelada da casa e também a aprovação de vocês para Flügel entrar no exército. — Garrick deu a volta na mesa e se sentou, enquanto Eadric colocava uma cadeira que ele buscou do pátio na frente da mesa, para Aragi e Sophia se sentarem e assinarem os papéis.
O som do tinteiro sendo destampado ecoou no silêncio tenso da sala. Aragi pegou a pena que Garrick ofereceu, hesitando por um instante antes de rabiscar sua assinatura nos papéis. Seus movimentos eram firmes, mas eu podia ver o leve tremor em sua mão — um sinal de que, apesar de ter aceitado, ele ainda carregava o peso da culpa que o acompanhava desde que me contara sobre a queda dos Handels.
Quando terminou, ele passou a pena para Sophia. Ela a segurou por um longo momento, os olhos fixos nas linhas do contrato como se procurasse uma última razão para dizer não. Mas então, com um suspiro pesado, ela assinou também, o traço rápido e cortante refletindo a relutância que ainda queimava em seu peito.
Garrick recolheu os papéis com um aceno satisfeito, organizando—os em uma pilha antes de entregá—los a Eadric.
— Tudo certo, então. A casa estará pronta em dois dias. Enquanto isso, mandarei alguém entregar comida e suprimentos básicos para vocês ainda hoje. Quanto a você, Flügel… — Ele voltou seu olhar para mim, e senti um arrepio percorrer minha espinha. — Amanhã cedo, você começa. Esteja aqui ao nascer do sol. Não toleramos atrasos.
Eu assenti, mantendo a voz presa na garganta. O peso daquilo tudo caiu sobre mim como uma pedra. Amanhã. Não havia mais volta agora.
Sophia se levantou abruptamente, a cadeira rangendo contra o chão. — Vamos embora — disse ela, a voz cortante, evitando olhar para Garrick. Aragi a seguiu, colocando uma mão em seu ombro enquanto guiava Elijah e Mael para fora da sala.
Eu fui atrás, mas não antes de trocar um último olhar com o Capitão. Havia algo em seus olhos — não apenas autoridade, mas uma curiosidade afiada, como se ele estivesse tentando decifrar o que eu realmente era.
Do lado de fora, o pátio estava silencioso, exceto pelo som abafado dos cascos dos cavalos e pelo vento que soprava entre as vigas da cerca de madeira. O cheiro de terra molhada ainda pairava no ar, misturado ao metal das armaduras dos guardas que nos observavam de longe.
Sophia não disse nada enquanto caminhávamos de volta pelo portão menor, mas eu podia sentir a tempestade que ela segurava dentro de si. Aragi mantinha Elijah e Mael perto, respondendo às perguntas deles com murmúrios curtos, mas seus olhos voltavam para mim a cada poucos passos.
“Eles estão com medo por você” Nytheris disse na minha mente, sua voz mais firme agora, mas ainda carregada de algo que eu não conseguia identificar. “Mas também estão aliviados. É estranho, não é?”
“É” respondi, apertando o saquinho de moedas no bolso. “Eu fiz isso por eles, mas… parece que estou os abandonando.”
“Você não está” ele retrucou, quase com urgência. “Você está dando a eles uma chance. E eu estarei com você. Sempre.”
O conforto daquelas palavras me ajudou a respirar um pouco mais leve, mas o nó no estômago não desapareceu. Quando chegamos à rua de terra batida, o silêncio da família finalmente quebrou. Elijah correu até mim, agarrando minha mão com uma força inesperada para alguém tão pequeno.
— Você vai voltar pra casa, né? Depois de amanhã, quero dizer — perguntou ele, os olhos arregalados novamente.
— Claro que sim — respondi, bagunçando seu cabelo com um sorriso forçado. — Não vou ficar na base o tempo todo. Só… vou estar ocupado, sabe?
Mael se aproximou, ainda de braços cruzados, mas sua expressão estava menos hostil agora. — Se você vai aprender magia de verdade, tem que me ensinar também. Não é justo você ser o único que voa.
— Combinado — eu disse, sorrindo, enquanto caminhávamos.
Sophia parou de repente, virando se para mim. Seus olhos estavam úmidos, mas ela os enxugou rapidamente com as costas da mão.
— Flügel… — Ela hesitou, a voz falhando por um instante. — Eu não gosto disso. Não gosto de te entregar pra eles. Mas se é o que você quer, e se isso vai nos tirar dessa vida… eu vou tentar aceitar.
Aragi colocou um braço ao redor dela, puxando ela para perto. — Ele é forte, Sophia. E eles também darão um treinamento para ele. Ele vai ficar bem.
Eu quis dizer algo, qualquer coisa para aliviar o que eles sentiam, mas as palavras não vieram. Em vez disso, apenas assenti, sentindo o calor estranho que subia ao meu peito. Eles estavam confiando em mim, mesmo que doesse.
O resto do caminho para casa foi silencioso, mas não tão pesado quanto antes. Quando chegamos, o sol já começava a descer no horizonte, tingindo o céu de laranja e vermelho. Sophia entrou direto, murmurando algo sobre preparar o almoço, enquanto Aragi ficou na porta, me observando enquanto eu hesitava do lado de fora.
— Você fez algo grande hoje, filho — ele disse, a voz baixa, mas firme. — Não sei como você virou isso tudo. Mas estou orgulhoso. Só… tome cuidado, tá bem?
— Tá bom, pai — respondi, forçando um sorriso que ele retribuiu antes de entrar.
Eu passei pela porta atrás dele, mas não fui direto para o quarto. Em vez disso, caminhei até a janela da cozinha, que dava para a rua, o mesmo lugar onde costumava me sentar para contemplar o céu.
Como eu era baixo, puxei uma das cadeiras rústicas da cozinha, que arrastou levemente no chão de madeira, e a posicionei contra a parede. Subi com cuidado, me equilibrando no assento, e apoiei as mãos no parapeito gasto, sentindo a madeira áspera sob meus dedos.
Ergui os olhos para o horizonte, o céu estava limpo e azul. A tarde chegava, e com ela, o peso do que começaria no dia seguinte. Eu sabia que o exército não seria apenas para estudar e treinamento — Garrick deixara claro que, cedo ou tarde, eu seria útil para eles. E o lich… Nae’Zyrael ainda estava lá fora, em algum lugar na floresta. Será que ele sabia que eu estava aqui? Será que viria atrás de mim?
Desci da cadeira e caminhei até o outro lado da mesa, onde Aragi ajudava Sophia a preparar o almoço.
— Pai… — chamei, e ele olhou para mim, parando de cortar os legumes e o único pedaço de carne que tínhamos.
— O que foi?
Coloquei a mão no bolso direito e peguei o saquinho de moedas e a única moeda de ouro que possuía, a mesma que o Capitão Garrick me dera horas antes.
— Aqui… na floresta, encontrei esse saquinho de moedas, e o Capitão Garrick me deu essa moeda de ouro como pagamento adiantado.
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