Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo 18 — O Legado de Aelara Veyris
— Mas não será agora — disse o Capitão Garrick, como se soubesse que, se não avisasse Thalion, ele começaria a me ensinar magia e me testar imediatamente. Aparentemente, Thalion era um ávido amante de ensinar aqueles que têm talento.
Thalion soltou algo como um rosnado para Garrick, como se estivesse com raiva por ele ter interrompido seu momento de felicidade genuína. — Eu sei, vou levá-lo para a academia agora… — Thalion soltou um longo e pesado suspiro, com a decepção de uma criança cujo balão recém-ganhado explode.
— Certo… Venha, Flügel, vou te levar para a academia… Você conhecerá a melhor academia mágica do reino, a Academia Aera Veyris. E é isso mesmo, é a academia criada pela minha família, para ser mais exato, a academia que minha tataravó criou. — Thalion sorria de orelha a orelha ao mencionar o nome da academia.
“Como um cara bobo desses consegue ser membro da Ordem dos Magos de Tournand?”, Nytheris falou com um tom incrédulo.
“Bom, já sabemos que pelo menos ele é bom no que faz; só assim ele conseguiria entrar para a ordem dos magos… ou talvez seja influência da família, ou pode ser que seja algo fácil?”, falei, considerando as possibilidades. No entanto, sabia que nenhuma delas, exceto meu primeiro pensamento, estava correta. Thalion era certamente um mago muito capaz… eu sentia isso de alguma maneira.
— Ela foi a maga mais forte e renomada desde que Tournand existe. Muitos dos livros na Academia Aera foram escritos por ela mesma. — Enquanto eu conversava com Nytheris, Thalion continuava a divagar sobre sua incrível tataravó.
— Ugh! — gemeu Thalion, colocando a mão na lateral da costela e se curvando levemente, uma reação instintiva de quem toma um soco inesperado.
— Cala a boca, Thalion! — gritou Garrick, com raiva. Aparentemente, ele tinha que aturar muitas divagações de Thalion.
— Você ousa?! — Thalion respondeu com raiva, virando-se para Garrick.
“Aparentemente, eles são bons amigos…”, disse Nytheris, quase rindo.
“É…”, respondi, sem saber o que pensar daquela situação. Aparentemente, Thalion era um mago bem importante, e Garrick… Garrick era um capitão; suas habilidades deveriam estar entre as melhores do exército. Com isso sendo um fato, eles deveriam agir assim?
— Capitão Garrick… ontem você disse que mandaria suprimentos para minha casa, mas não chegou nenhuma comida básica para nós — disse, levantando a mão para interromper a briga entre os dois.
— Huh? Ah, é verdade… Devo ter me esquecido, garoto. Desculpa. Vou mandar Eadric entregar lá agora mesmo. — O Capitão Garrick deu a volta na mesa, sentou-se na cadeira, pegou uma folha de papel, molhou a pena no tinteiro e começou a rabiscar a folha. Não demorou muito para ele parar e chamar Eadric, que estava no canto da sala.
— Aqui, Eadric. Você sabe onde é a casa de Flügel, certo? Entregue esses itens lá e coloque no meu nome. Vou pedir para o quartermestre pagar depois. — Eadric apenas acenou positivamente, pegou a folha de papel, leu-a rapidamente, virou-se e saiu da sala.
— Oh, bom, certo, vamos logo para a academia, garoto. Tenho certeza de que você vai gostar do lugar. Afinal, minha tataravó, Aelara, criou uma grande academia, onde os melhores magos do reino foram formados. Ela era realmente uma pessoa grandiosa… até mesmo o rei de sua época a reconheceu como a maga mais forte do reino, tratando-a como um tesouro do reino. Ela até mesmo — uhg! — Thalion gemeu de dor ao receber um soco de Garrick nas costas.
— Leve-o logo! — gritou Garrick impaciente.
Thalion apenas resmungou e, com a cabeça, fez um sinal para que eu o seguisse. Ele saiu da sala do Capitão Garrick, e passamos pelo local onde os guardas trabalhavam. No canto à direita, pude ver um guarda descendo algumas escadas com um baú. Provavelmente levava equipamentos para o subsolo.
Ao sairmos da base militar, deparamo-nos com o portão e a rua de pedra, totalmente diferente da rua de terra batida da favela.
Perto da base, havia uma carruagem claramente de alto nível, com dois belos cavalos na frente. — Venha — disse Thalion, caminhando até a carruagem e abrindo a porta. Assim que ele entrou, eu o segui e também entrei.
— Hm… — fiquei em pé, hesitando se realmente deveria sentar naquele banco que parecia especialmente caro, devido à minha única túnica esfarrapada e roupas desgastadas.
— Sente-se. Com todo o seu talento, você provavelmente será tratado como um nobre no futuro, garoto — Thalion disse com um sorriso, tranquilizando-me.
Com um certo pesar, sentei-me. Thalion instruiu o cocheiro a ir para a Academia Aera Veyris, e os cavalos começaram a nos puxar pela estrada de pedra.
Depois de alguns minutos em silêncio, Thalion decidiu falar: — Você tem um familiar, não é? — Seus olhos fixavam-se diretamente no meu peito, como se ele pudesse ver Nytheris dentro do meu peitoral.
‘Como ele sabe’, meu peito se apertou. A lente de seu monóculo estava azulada agora. Era isso: aquele monóculo devia ser algum item mágico.
“Conte a verdade, Flügel, ele já sabe”, Nytheris cortou meus pensamentos rapidamente enquanto eu tentava inventar alguma mentira.
— Sim… — falei, hesitante, e Thalion me retribuiu com um sorriso enorme.
— Poderia mostrá-lo a mim? — Thalion disse, com os olhos brilhando de excitação; ele claramente estava animado com isso.
— Hm… Tudo bem — falei, amaldiçoando internamente, meu plano era manter Nytheris em segredo.
“Nytheris, saia, mas não demonstre nenhuma expressão nem fale. Não sei se é normal familiares serem sencientes”, instruí. Nytheris apenas assentiu, e então apontei a palma da minha mão direita para frente. Nytheris escorreu do meu peito para a minha palma e saiu de mim.
Sua forma negra, como uma fumaça mais sólida, reverberou até se transformar em um belo garoto de 10 anos, com cabelos longos e negros, olhos negros como o breu de um abismo e pele tão pálida que você o confundiria com um cadáver. Ele já vestia seu hanfu masculino, longo e também negro.
— Incrível… — Thalion disse, com os olhos arregalados, olhando atentamente para Nytheris. A lente de seu monóculo tornou-se transparente. — Ele fala?
— Não — respondi sem hesitação, tentando parecer o mais convincente possível, mas Thalion apenas me lançou um olhar fechado e amargo.
— Você está mentindo — ele disse com convicção, decepcionado com minha mentira.
— O quê?! Eu não estou mentindo! — falei, rindo nervosamente. Sabia que essa minha atuação só aumentaria a suspeita sobre minha mentira, mas era uma reação natural minha. No entanto, Nytheris permaneceu impassível.
Thalion não disse nada; apenas cerrou a mandíbula e me encarou, como se esperasse que eu falasse a verdade. Ele era assustador.
Ele não tinha apenas uma suspeita; ele tinha certeza de que eu estava mentindo… Era aquele monóculo dele; deve ser algum tipo de item mágico.
— Sim, ele fala… pode falar, Nytheris — falei entre dentes, frustrado por não conseguir manter em segredo que Nytheris era um ser senciente.
No entanto, Nytheris permaneceu parado, como uma estátua, mas, ao contrário de antes, quando estava sem expressão, agora seu rosto exibia pânico. Parecia que ele queria se esconder.
— Pra-prazer em… te c-conhecer, s-s-senhor… — Nytheris forçou as palavras a saírem de sua garganta, tão nervoso que mal conseguia falar.
— Por que ele gaguejou? — perguntou Thalion, incrédulo, com o rosto agora relaxado.
— Talvez seja porque ele nunca tenha conversado com ninguém além de mim — falei, também um pouco surpreso, pois Nytheris sempre parecia confiante. Não imaginei que ele também teria problemas de socialização.
Nytheris sentou-se ao meu lado, mas parecia pequeno, como uma criança se escondendo atrás da mãe quando um estranho se aproxima para cumprimentá-la.
— Bom, tudo bem… Elemento escuridão, hein? É raro alguém conseguir ou criar um familiar assim, e mais raro ainda conseguir fazer um familiar que possa falar, pensar e ter sentimentos — Thalion disse, olhando para mim com excitação, ele nem parecia a mesma pessoa ameaçadora de momentos atrás.
— Como você o criou—
— Chegamos, Mestre Thalion — o cocheiro interrompeu Thalion, que estava prestes a fazer mais uma pergunta, para anunciar nossa chegada ao destino.
— Oh, é uma pena que nosso tempo já acabou. Vamos. — Thalion parecia levemente decepcionado, mas abriu a porta da carruagem e saiu. Nytheris rapidamente deslizou para dentro do meu braço e retornou ao meu peito.
Segui Thalion, saindo da carruagem, e o cocheiro rapidamente fechou a porta atrás de mim.
“Você está bem, Nytheris?”, perguntei, preocupado com ele.
“Sim, só é estranho conversar com outras pessoas além de você”, ele respondeu.
Olhei para o edifício da academia: era grande, com belos portões, claramente uma instituição onde a mensalidade seria muito superior ao que eu poderia pagar, mesmo trabalhando por anos.
Instintivamente, olhei novamente para minhas roupas desgastadas e um sorriso depreciativo surgiu em meu rosto, eu certamente seria alvo dos meninos ricos.
— Lindo, não é? — Thalion sorria, com o peito estufado de orgulho, como se estivesse admirando sua própria criação.
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