Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    O sol já estava mais alto quando Thalion me guiou pelos portões da Academia Aera Veyris. A luz refletia nas pedras brancas do pátio, quase me cegando, e o som de vozes ecoava ao longe — risadas e conversas que eu não conseguia distinguir.

    O lugar era ainda mais impressionante de perto, com torres que se erguiam como sentinelas vigilantes e janelas de vitrais coloridos que brilhavam como joias sob o céu limpo. Meus pés hesitaram por um instante na entrada, o peso da túnica surrada parecendo mais evidente contra a grandiosidade ao meu redor.

    O ar trazia um leve aroma de cera polida e algo doce, talvez flores que eu não podia ver, misturado ao frescor da pedra aquecida pelo sol.

    Dentro da academia, era incrível. O pátio interno se abria como uma praça majestosa, um espaço circular cercado por colunas esguias de mármore cinza que sustentavam arcos delicados.

    No centro, uma fonte esculpida em pedra negra jorrava água que não caía, mas dançava em arcos fluidos antes de se dissipar em névoa brilhante. Acima, uma cúpula imponente de vitrais coloridos cobria todo o pátio, filtrando a luz do sol em tons de safira, esmeralda e rubi, que se espalhavam pelo ambiente como fragmentos de um arco-íris.

    Nos vitrais, desenhos intricados roubavam o olhar: à esquerda, a figura de um homem de cabelos longos e esvoaçantes, empunhando uma espada reluzente que parecia capturar a própria luz do sol, seu contorno traçado em linhas douradas que sugeriam força e determinação.

    À direita, outro homem, altivo e misterioso, com cabelos igualmente longos e esvoaçantes, cercado por dragões negros cujas escamas brilhavam em tons de cinza fosco com preto, suas asas esticadas como um manto de sombras vivas.

    De cada lado do pátio, duas escadarias imponentes se erguiam, simétricas e largas, os degraus de alabastro tão polidos que refletiam os tons vibrantes dos vitrais, incluindo fragmentos das figuras — a espada brilhante e as silhuetas dos dragões — como se o chão fosse um espelho de histórias.

    Cada escada levava a portas enormes no segundo andar, enquanto outras, igualmente grandiosas, se abriam diretamente do térreo.

    A madeira dessas portas era de um tom profundo, quase negro, com veios dourados naturais, e ostentava entalhes distintos: à esquerda, folhas entrelaçadas e videiras; à direita, chamas estilizadas que pareciam pulsar à luz.

    — Vamos, Flügel, não temos o dia todo — Thalion disse, o tom misturando impaciência e uma animação que fazia seus olhos brilharem. Ele caminhava à frente, o manto azul-escuro ondulando com cada passo decidido, enquanto eu tentava acompanhar, sentindo os olhares dos outros alunos me perfurarem como flechas.

    Eram muitos deles. Alguns vestiam túnicas bordadas com fios dourados que reluziam como raios de sol, outros carregavam varinhas de madeira polida ou livros encadernados em couro com fechos de prata que pareciam custar mais do que tudo que minha família possuía.

    Um grupo de garotos mais velhos parou de falar ao me ver passar, e um deles — um jovem de cabelo castanhos claros penteado para trás, com um sorriso torto e um pingente de jade pendurado no pescoço — sussurrou algo para os outros. Risadas abafadas ecoaram, e meu estômago se contraiu.

    Mantive o rosto firme, como Aragi me ensinara, mas minhas mãos estavam úmidas, geladas contra os punhos cerrados.

    “Eles estão rindo de você,” Nytheris murmurou na minha mente, a voz carregada de uma mistura de pena e irritação.

    “Eu sei,” respondi em silêncio, apertando ainda mais os punhos. “Mas não vou dar a eles o que querem.”

    Thalion não parecia notar. Ele me levou pela academia, virando à direita no primeiro andar, atravessando uma das portas ornamentadas com entalhes de chamas.

    O corredor que se abriu diante de nós era longo e estreito, o chão coberto por um tapete azul-escuro tão espesso que abafava nossos passos.

    As paredes eram revestidas de painéis de madeira da mesma qualidade das portas, polidos até brilharem como espelhos, refletindo a luz de candelabros flutuantes — globos de vidro com chamas douradas que dançavam no ar, sem nenhum suporte visível.

    O ar aqui era mais quente, carregado com um leve cheiro de incenso e pergaminho antigo, como se cada canto guardasse segredos de séculos.

    — Hoje você vai conhecer a biblioteca — Thalion disse de repente, virando-se para mim com um sorriso que parecia esconder algo. — É lá que tudo começa de verdade. Vamos subir.

    Nós subimos uma escada em espiral que se ramificava para a direita, os degraus de pedra cinza gastos no centro por incontáveis passos. O corrimão era de ferro negro, frio ao toque, com runas minúsculas gravadas que faiscavam levemente quando meus dedos roçavam nelas.

    O ar parecia mais pesado a cada degrau, como se carregasse o peso de toda a magia que já passara por ali. No topo, o corredor se alargava em uma galeria ampla, uma das paredes substituída por uma fileira de vitrais altos que iam do chão ao teto.

    A luz do sol atravessava os painéis, enchendo o espaço com tons de âmbar, safira e esmeralda, enquanto figuras de vidro — magos erguendo cajados, pássaros de fogo voando, rios congelados em pleno fluxo — projetavam sombras coloridas que dançavam no chão de mármore branco.

    Thalion parou diante de uma porta imponente no fim da galeria, maior que as outras, com entalhes de plumas e livros abertos esculpidos na madeira escura. A placa de latão acima dizia “Biblioteca das Eras”.

    Ele girou a maçaneta de bronze, e o som de um clique ecoou antes que a porta se abrisse sozinha, revelando um salão vasto e circular que roubou o ar dos meus pulmões.

    O chão era de mosaico negro e dourado, formando espirais que pareciam girar sob a luz suave que vinha de candelabros flutuantes espalhados pelo teto abobadado.

    Mas o teto… o teto era um espetáculo à parte: cravejado de pequenos cristais que brilhavam como estrelas, ele parecia um céu noturno preso dentro da sala, com constelações que mudavam lentamente, como se o tempo ali fosse diferente.

    Estantes de madeira polida subiam até alturas impossíveis, tão altas que escadas flutuantes de ferro negro se moviam sozinhas, deslizando silenciosamente para alcançar os livros mais altos.

    O ar zumbia baixo, um som que eu sentia na pele, misturado a um cheiro intenso de couro velho, tinta seca e algo metálico, como relâmpagos adormecidos.

    No centro do salão, um garoto estava sentado, lendo um tomo grosso com capa de couro azul sobre uma mesa de carvalho escuro.

    Ele aparentava ter no máximo dezessete anos. Seus cabelos loiros estavam perfeitamente penteados e divididos ao meio, reluzindo sob a luz suave que entrava pela grande janela atrás dele. Usava óculos de armação fina e lentes retangulares, que refletiam o brilho tênue do ambiente, dando aos seus olhos um ar enigmático e quase sobrenatural.

    Vestia um elegante paletó azul-royal sobre uma camisa preta abotoada até o colarinho. Um colar dourado com um pingente detalhado repousava sobre o peito, reluzindo com a mesma intensidade discreta dos brincos longos e dourados que adornavam suas orelhas.

    Luvas pretas cobriam suas mãos, firmes e disciplinadas ao manusear o tomo aberto diante de si.

    Ele ergueu o olhar ao nos ouvir entrar. Os óculos captaram a luz por um instante, e seus olhos nos analisaram com uma expressão serena e precisa — quase fria — como se cada gesto nosso estivesse sendo medido com minuciosa atenção.

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