Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    — Este é Grenhard — Thalion disse, batendo no ombro do garoto com orgulho evidente. — Meu filho. Ele vai ser seu tutor aqui na academia, Flügel. Não se deixe enganar pela aparência, ele é mais habilidoso do que muitos mestres.

    Grenhard fechou o livro com um movimento preciso, o som do couro contra madeira ecoando pelo salão silencioso. Ele se endireitou, os ombros retos, e ajeitou os óculos com um toque leve do dedo indicador, o gesto tão natural que parecia ensaiado.

    — Então você é Flügel — disse, a voz firme e clara, sem traço de hesitação. — Meu pai falou de você. Espero que esteja pronto para trabalhar duro. Não tolero desleixo.

    Seus olhos e rosto eram finos, suas orelhas levemente pontudas deixava sua aparência ainda mais majestosa e o encaixava perfeitamente no padrão de aparência impecável.

    Engoli em seco, tentando manter a voz firme. — Eu vou me esforçar. Não quero desapontar.

    Grenhard inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos estreitando-se atrás das lentes. — Esforço é o mínimo. Resultados são o que importa. Espero que você esteja à altura do que me foi dito sobre você. Não sou uma babá para cuidar de uma criança.

    Thalion riu alto, o som reverberando entre as estantes. — Vou deixar vocês dois se entenderem. Grenhard, não exija demais do garoto no primeiro dia, além do mais, ele é uma criança — Ele piscou para mim antes de sair, a porta se fechando com um clique suave atrás dele.

    Fiquei ali, olhando para Grenhard e o livro, o peso da biblioteca me envolvendo como uma onda. A academia era um labirinto de poder e mistério, e agora eu tinha um guia — um guia cuja perfeição me fazia sentir ainda mais fora de lugar.

    — Certo… Você sabe ler, não sabe? — Grenhard disse, esperando um “sim” como resposta. Ele se levantou do banco, os movimentos fluidos e calculados, como se cada passo fosse planejado.

    — Não, eu não sei ler… Meu pai disse que iria me ensinar quando eu fizesse sete anos — falei, olhando nos olhos de Grenhard. Suas feições eram delicadas, mas masculinas, com uma linha de maxilar firme e sobrancelhas ligeiramente arqueadas que davam a ele um ar de autoridade natural.

    Grenhard parou por um instante, os olhos verdes piscando em surpresa antes de voltarem àquela calma gélida. Ele suspirou, um som curto e controlado, e ajustou os óculos novamente. — Sete anos? Você está atrasado, então. Isso não vai funcionar aqui. Venha comigo.

    Ele começou a andar, o som de seus passos ecoando levemente enquanto atravessava o salão com passos firmes. Eu o segui, sentindo o tapete grosso sob meus pés abafar o som das minhas botas gastas.

    Grenhard gesticulou para as estantes à nossa volta, a mão movendo-se com precisão enquanto falava. — Esta é a biblioteca das eras, o coração do conhecimento da academia. Aqui estão guardados tomos de magia elemental, histórias de Tournand, registros de batalhas antigas e até grimórios que ninguém abriu em séculos. — Ele apontou para uma estante à esquerda, onde livros com capas cravejadas de pedras opacas brilhavam suavemente. — Ali ficam os textos de alquimia. Aquela seção — ele indicou uma área mais escura, com pergaminhos amarelados empilhados em prateleiras curvas — é para encantamentos proibidos. Só mestres têm permissão ali.

    Paramos diante de uma estante menor, perto de uma janela circular que deixava entrar um feixe de luz dourada. Os livros ali eram menores, as capas de couro simples, sem adornos.

    Grenhard estendeu a mão, os dedos longos e pálidos roçando as lombadas até encontrar o que queria. Ele puxou um volume fino, de capa marrom desbotada, e o abriu com cuidado, revelando páginas amareladas com letras grandes e desenhos coloridos de pássaros e flores.

    — Este é o “Primeiro Livro das Letras” — disse, a voz suavizando um pouco. — Foi o primeiro que li. Vamos começar por aqui. Sente-se. — Ele apontou para uma cadeira de madeira ao lado de uma mesa pequena.

    Sentei-me, o assento frio contra minhas pernas, e Grenhard colocou o livro à minha frente. Ele se sentou ao meu lado, o cheiro leve de ervas e cera emanando dele, provavelmente de seu paletó ou das horas passadas entre os livros. — Veja esta página — disse, apontando para uma linha com letras grandes e espaçadas. — Esta letra tem o som de A.

    — Ah — ecoei, sentindo-me um pouco bobo, mas aliviado por ele não ter rido.

    — Bom. Esta é “B”. Diga: “Bê”.

    — Bê — repeti, olhando para o desenho de um pássaro azul ao lado da letra.

    Grenhard assentiu, o menor dos sorrisos surgindo no canto dos lábios antes de desaparecer. — Você pega rápido. Vamos continuar. — Ele virou a página, mostrando outra letra, que se parece mais um desenho para mim. — “Cê”.

    — Cê — falei, a voz mais firme agora.

    Ele me guiou pelas próximas letras, a voz firme mas paciente, como se cada palavra fosse uma peça de um mecanismo que ele estava montando com cuidado. O zumbido da biblioteca parecia diminuir enquanto eu me concentrava, o som das páginas virando e os candelabros flutuantes girando acima se misturando ao ritmo das lições. “Ele não é tão ruim,” Nytheris murmurou na minha mente, quase surpreso.

    Quando chegamos à uma letra até que familiar para mim, Grenhard parou e me olhou, os olhos verdes brilhando sob a luz das estrelas do teto. — essa letra tem o som de F de Flügel. Escreva seu nome aqui. — Ele deslizou uma pena e um pedaço de papel em branco na minha direção, a tinta preta reluzindo no tinteiro.

    Peguei a pena com hesitação, os dedos tremendo um pouco. Ele guiou minha mão, traçando a letra com uma linha firme e curva. — Assim. Agora o resto. Não é nescessário fazer com pressa.

    Escrevi “Flügel” devagar, as letras tortas e desajeitadas, mas legíveis. Grenhard inclinou a cabeça, examinando o resultado. — Não está perfeito, mas é um começo. Vamos trabalhar nisso todos os dias. Você não vai sobreviver aqui sem ler.

    Olhei para o papel, o orgulho misturado com o nervosismo crescendo no peito. A biblioteca ao meu redor parecia menos intimidante agora, como se eu tivesse dado o primeiro passo para pertencer àquele lugar.

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