Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo 29 — Compras em família
Naquela manhã, quando eu voltei para casa,
todos já tinham terminado de comer os pancos. Eu comi algumas frutas misturadas e, logo depois, tomei um banho e me arrumei rapidamente. Vesti uma calça preta e uma camiseta cinza; já nos pés, calcei minhas velhas e boas botas de couro.
Por incrível que pareça, eu ainda assim fui o primeiro a estar pronto, além de Nytheris. Sophia estava ponderando sobre qual vestido usaria, Mael estava arrumando seu cabelo, penteando-o de um lado para o outro. Elijah estava calçando seus sapatos tão lentamente que parecia estar fazendo de propósito. Aragi procurava pelo dinheiro que havia separado especialmente para hoje.
– Gente, vamos logo! – falei impaciente, enquanto coçava a nuca. Nytheris estava ao meu lado, tão impaciente quanto eu.
As ruas estavam movimentadas e havia muitas pessoas transitando pelas áreas comerciais. Como era feriado para muitos, casais e famílias escolhiam passear hoje e curtir o dia enquanto havia tempo.
Passávamos perto de uma loja de roupas, quando Sophia disse:
– Vamos lá rapidinho! – Em seu rosto estava um grande sorriso de orelha a orelha. Ela estava genuinamente feliz por estarmos tendo a capacidade de irmos fazer compras em família. Aragi também tinha um enorme sorriso estampado no rosto. Vendo sua esposa tão feliz, ele não conseguia evitar sorrir feito um bobo.
Dentro, a loja era simples, mas incrivelmente arrumada. A maioria das roupas estava pendurada em cabides. Sophia foi diretamente aos vestidos que estavam em promoção. Apesar de animada, ela ainda estava economizando bastante em todos os quesitos.
A quebra repentina na renda de Aragi e a perda de toda aquela vida estável a deixaram em modo econômico sobre tudo que fosse possível.
— Olá, como posso ajudar? — uma bela moça perguntou, abordando todos nós.
Ela usava um vestido simples, porém elegante, de linho claro, e tinha os cabelos presos em uma trança decorada com pequenos adornos, que pareciam estar ali para manter a trança firme e bem trançada. Seu sorriso era gentil, e os olhos brilhavam com entusiasmo por ter tantos possíveis clientes de uma vez.
— Estamos só dando uma olhadinha, obrigada — respondeu Sophia, quase cantarolando de tão animada.
— Fiquem à vontade. Temos peças novas que chegaram esta manhã — disse a atendente, antes de se afastar para ajudar outro cliente.
Enquanto Sophia examinava os vestidos e fazia Aragi segurar um ou outro à sua frente para imaginar como ficariam nela, eu me encostei em uma parede de madeira polida e cruzei os braços.
Mael foi direto para a seção de camisas com bordados discretos. Elijah andava lentamente pela loja, como se cada roupa fosse um objeto sagrado que ele precisava inspecionar com todo o cuidado do mundo.
— Aquele ali ficaria linda em você — disse Nytheris, apontando para um vestido azul-escuro com mangas longas e detalhes prateados, olhando para Sophia.
– Você acha? – Sophia disse, ponderando sobre a sugestão de Nytheris. Seus olhos varreram o vestido com uma excitação animada.
Ela pegou o vestido com cuidado, como se segurasse algo frágil. Aproximou-o do corpo e girou levemente diante do espelho.
— Acho que vou experimentar — disse ela, já seguindo para o provador com o vestido azul-escuro em mãos.
Aragi a acompanhou com os olhos, sorrindo discretamente. Nytheris, por sua vez, parecia satisfeito com a escolha.
— Você tem bom gosto — comentei para ele, em tom baixo.
— Sempre tive — respondeu, erguendo uma sobrancelha, com um leve tom de orgulho divertido e soberba fingida.
Enquanto isso, Mael vinha caminhando na minha direção com uma camisa dobrada no braço.
— O que acha dessa? — perguntou, estendendo a peça. Era uma camisa de linho cinza-claro, básica e de aparência madura. Talvez Mael estivesse entrando na fase de querer parecer maduro.
— Combina com você — falei, sorrindo.
Elijah, por outro lado, ainda estava parado diante de uma prateleira com cintos, testando as fivelas uma por uma, como se buscasse o elo perfeito entre estética e utilidade. Se fosse qualquer outro dia, talvez eu estivesse entediado. Mas ali, naquele momento comum, cercado por vozes familiares e risos suaves, havia algo reconfortante. Algo precioso.
Quando Sophia saiu do provador, todos se viraram para olhar.
O vestido azul-escuro caía perfeitamente sobre seu corpo, e os detalhes prateados refletiam a luz da vitrine como estrelas discretas em um céu noturno.
— Uau — disse Aragi, como se visse sua esposa pela primeira vez, observando o vestido abraçar todas as suas suaves curvas. Embora Sophia não exibisse as características femininas mais exuberantes, sua beleza era inegável. Seu corpo esguio e delicadamente esculpido conferia-lhe uma aura de perfeição quase etérea.
O vestido que abraçava suas curvas sutis apenas acentuava essa elegância, revelando uma harmonia que desafiava os padrões convencionais de feminilidade. Eu estava muito feliz. Talvez fosse por ela ser sempre tão carinhosa comigo, mas vê-la tão bela me deixou verdadeiramente feliz.
Sophia corou, mas sorriu ainda mais.
— Acho que vou levar este — ela disse, com um sorriso que podia aquecer o coração de qualquer um. Com esse sorriso direcionado a Aragi, seu rosto corou levemente e ele estava com a expressão de um adolescente apaixonado.
‘Bom, qualquer homem se apaixonaria vendo uma mulher sorrir dessa maneira diretamente para ele’, pensei, sorrindo ao ver a cena acontecer na minha frente.
Nytheris assentiu, sério, como se tivesse acabado de cumprir uma missão importante. Aparentemente, sua missão era fortalecer o amor entre Aragi e Sophia. Ele estava sendo o cupido de dois pombinhos já apaixonados. Eu não sabia o porquê de Nytheris estar fazendo isso, já que a relação de Aragi e Sophia nunca pareceu fria. Muito pelo contrário, a cada dia que passava só parecia se intensificar.
Pagamos pelas roupas — ou melhor, Aragi pagou. Apesar dos protestos de Sophia quando viu o preço daquele vestido, os protestos logo cessaram depois que Aragi começou a bajulá-la, dizendo o quão linda ela estava naquele vestido e que seria um investimento para seus olhos.
E então voltamos para as ruas, onde o sol dourava as pedras da calçada e o cheiro de pão flutuava de alguma padaria próxima.
— Qual o próximo destino? — perguntou Mael, animado.
— Eu estava pensando em comprar roupas para mim, então podemos ir a uma loja de trajes mais resistentes — falei, olhando para minhas roupas já um pouco gastas.
— Malho & Linho? — sugeriu Aragi, lembrando do nome com facilidade.
— Essa mesmo — respondi. Era uma loja conhecida entre mercadores e andarilhos, com túnicas reforçadas, capas resistentes à chuva e até camadas internas com proteção leve. Lá também havia muitas espadas, e eram boas, feitas por algum ferreiro habilidoso e desconhecido.
O único problema era que os preços eram tão elevados que apenas pessoas muito ricas conseguiam comprar — ou, por influência de seus cargos, como o major Garrick, que pediu uma espada sob medida para si com a ajuda de sua influência no exército. Não foi tão difícil.
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