Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —


    Três anos se passaram. Agora tenho quatro anos. Nytheris cresceu muito nesse tempo e continuei alimentando-o sempre que estava sozinho. Quando não estava alimentando-o, estava treinando magia.

    A mesma magia que usei para levantar a ponta do cobertor… Nos primeiros seis meses, eu mal conseguia controlá-la para movê-lo. No entanto, depois de um ano inteiro treinando esse simples ato, tornei-me mestre nisso. Tornou-se um hábito, algo tão natural quanto respirar.

    Já não preciso mais me concentrar para erguer o cobertor, e, ao longo desse processo, também me tornei mais proficiente no uso do mana dentro de mim. Não sei se é igual ao mana dos jogos de RPG, mas decidi chamá-lo assim.

    Foi então que percebi algo curioso: a magia que eu estava usando não era telecinese, como imaginava. Em vez de erguer as coisas, eu simplesmente fazia com que levitassem. Era gravidade.

    Com o tempo, eu consegui manter o cobertor ou alimentar Nytheris por mais tempo, embora agora eu só precise respirar normalmente e absorver mana. Não é mais necessário que eu durma para me recuperar.

    E agora Nytheris também consegue se alimentar sozinho enquanto eu durmo. Ele fica sempre drenando aos poucos minha mana, o que talvez tenha ajudado a aumentar minha capacidade, mas não tenho certeza.

    Já faz um ano inteiro que não vejo Nytheris fora de mim. Na última vez que o deixei sair, ele já era um garoto de oito anos.

    Ele tinha cabelos negros longos e pele tão pálida quanto a luz opaca da lua. As pupilas de seus olhos eram bizarramente negras, tão escuras que não refletiam nenhum fio de luz

    Ele estava totalmente nu. Depois de ver sua aparência totalmente humana, decidi que não poderia deixá-lo sair até comprar roupas para ele. E seria muito difícil para meus pais tão verem ele.

    — Atchim! — Meu irmão mais velho, Mael, que agora tem sete anos espirrou enquanto tremia dentro dos cobertores. Seu nariz escorria.

    Eu rapidamente peguei o lenço velho de pano e limpei seu nariz. Pegando também o pequeno pano úmido que estava sobre sua testa. Molhei ele na bacia de madeira e espremi para tirar o excesso de água, e coloquei novamente dobrado sobre sua testa, para baixar sua febre.

    Faço o mesmo com o pano sobre a testa de Elijah. Elijah tem cinco anos agora, e ambos estão gripados, e eu estou encarregado de cuidar deles enquanto Sophia, que é a minha mãe e Aragi, que é o meu pai, saíram para trabalhar.

    ‘Droga… se ao menos eu soubesse como usar magia de cura…’

    Em todos esses anos, eu treinei principalmente magia de gravidade e vento. A gravidade foi a primeira que descobri e, naturalmente, a que mais pratiquei. Mas o vento… o vento se tornou minha segunda especialidade.

    Comecei tentando criar brisas fracas, controlando o fluxo de ar ao meu redor. Nos primeiros meses, era difícil fazer até mesmo uma leve corrente de ar circular pelo quarto. No entanto, depois de muito esforço, aprendi a manipular o vento de forma mais precisa.

    Agora consigo concentrá-lo em rajadas diretas e até mesmo dissipá-lo para criar pequenas áreas de vácuo por breves instantes. Ainda não consigo manter isso por muito tempo, mas sei que posso melhorar.

    Se fosse fogo, eu poderia acabar colocando fogo na casa. Se fosse água, poderia acabar me molhando e ficando gripado. Minha família é muito pobre, não sou bem nutrido e provavelmente seria perigoso eu pegar uma gripe com meu corpo ainda infantil.

    “Nytheris, você não pode lançar magias de cura neles ou me ajudar a fazer isso?” Perguntei a Nytheris, nós nos aproximamos tanto que confio nele mais do que confio em mim mesmo.

    Ele foi uma companhia inestimável enquanto eu ainda não conseguia entender ninguém neste mundo e nem conversar com alguém.

    E ele também sabe que eu sou um reencarnado, ou seja, ele é o único com quem puder compartilhar esse segredo, e provavelmente será o único a saber.

    “Desculpe, mas também não tenho conhecimento sobre magia além do que você conhece e do meu elemento. Mas… por que você não tenta fazer como nas novels e animes que você lia?”

    “Tentar fazer igual? Mas não sei por onde começar, agora eu tenho uma certa ideia de como funciona, provavelmente se eu sentir essa sensação uma vez, talvez eu consiga reproduzir… mas não tenho ideia de como alguém se sente quando é curado com magia de cura.” Respondi suspirando pesadamente.

    — Desculpe te fazer cuidar de nós, Flügel… — disse Mael assim quando escutou eu suspirar, provavelmente pensou que eu estava de saco cheio por cuidar deles doente.

    — Hã? Não, tá tudo bem. — respondi rapidamente, com um pouco de dificuldade em pronunciar as palavras da língua deste mundo.

    Depois de um momento, eu paro e reparo que Nytheris conversa comigo na minha língua nativa, e também falou sobre animes e novels.

    “Nytheris, como você conhece novels e animes? E como você sabe português?!”

    Pergunto espantado, incrédulo agora que a ficha caiu sobre Nytheris ter falado de coisas de meu antigo mundo.

    “Eu consigo ver suas memórias, e como não há nada para fazer enquanto você dorme, eu fico assistindo suas memórias, apesar de eu já ter visto tudo, e saber de tudo sobre a sua vida.” Respondeu Nytheris, como se fosse algo óbvio.

    “Tudo… você realmente quer dizer tudo?”

    Falo com vergonha. Não é totalmente agradável saber que alguém viu cada momento da minha vida, mas com toda a confiança que construí com Nytheris, não acho isso tão ruim. Também prefiro não ficar pensando sobre isso.

    “Sim, tudo. A voz dele soa dentro da minha mente, como sempre. Inclusive… sua morte.”

    Meu coração aperta por um instante. Essa palavra, “morte”, nunca me incomodou tanto quanto agora, subitamente sinto o aperto da corda em meu pescoço, aquela horrível sensação de estar sem ar ainda me atormenta, até mesmo em pesadelos. Ainda assim, faço um esforço para ignorar o desconforto e volto minha atenção para Mael e Elijah.

    Ambos estão febris, respirando com dificuldade, e isso me deixa inquieto. ‘Eu preciso tentar alguma coisa’

    Fecho os olhos e me concentro no que Nytheris disse antes. ‘Fazer igual nas novels e animes…’

    Se fosse um jogo, eu só precisaria usar um feitiço chamado heal e pronto, problema resolvido. Mas não é assim que funciona aqui.

    Começo tentando sentir minha mana. Ela flui dentro de mim, como um rio invisível. Sempre a usei para gravidade, mas e se eu mudasse sua natureza?

    Aproximo minha mão do peito de Mael e imagino um fluxo suave e morno, algo que não pressione nem puxe, mas sim envolva e restaure. Imagino um brilho verde em minha mão.

    Nada acontece.

    Tento novamente, forçando mais mana para fora de mim. Ainda nada.

    — Droga…  digo em voz alto por reflexo, frustrado com o meu fracasso.

    “Você está tentando forçar algo que não entende. Tente pensar diferente.”

    Nytheris tem razão. Eu preciso de uma abordagem melhor.

    ‘Curar… O que significa curar?’

    Lembro-me de quando minha mãe cuidava de pequenos cortes em minhas mãos. O toque dela era quente, suave, confortante.

    ‘Talvez seja isso.’

    Respiro fundo e coloco minha mão sobre a testa de Mael. Em vez de tentar empurrar a mana para fora, imagino-a como um calor gentil, como um abraço.

    Dessa vez, algo acontece.

    Uma leve luz azulada brilha em minha palma, tão fraca que mal ilumina o quarto escuro. Mael estremece levemente, mas sua respiração parece se acalmar um pouco.

    ‘Não é uma cura completa, mas… funciona.’

    — Flügel…? — Mael murmura, abrindo os olhos por um instante.

    — Estou aqui — respondo, sentindo meu corpo um pouco mais cansado.

    E então, enquanto Mael volta a dormir, eu faço o mesmo sobre a testa de Elijah.

    “Heh, conseguiu. Você aprendeu seu primeiro feitiço de cura.”

    Sorrio levemente. “Isso significa que eu posso melhorar. Se treinar o suficiente, posso realmente aprender a curar as pessoas.”

    Ajeito os cobertores sobre meus irmãos e me sento confortavelmente exausto, me sento no chão mesmo, pois eu já estava no chão, Mael e Elijah não possuem camas.

    Observo Mael e Elijah por um tempo. O quarto está silencioso, exceto pelo som suave de sua respiração.

    Então, fecho os olhos e murmuro com todo o meu coração para Nytheris: “Obrigado, Nytheris.”

    Então um sentimento de timidez se espalhou pelo meu peito, mas sei que não é meu, e sim de Nytheris.

    “Hehehe, tá com vergonha? O que você é, uma garota do colegial apaixonada?” Não perdi a oportunidade de provocar Nytheris.

    “Bastardo, pare de sentir meus sentimentos!” Nytheris rapidamente ocultou seus sentimentos de mim, ele também consegue fazer isso, porém, se eu tentar me concentrar em sentir ele, conseguirei sentir como ele se sente e provavelmente até seus pensamentos.

    A porta range, e passos pesados ecoam pela casa. Reconheço imediatamente o som das botas de couro desgastadas de meu pai, Aragi. Ele entra no pequeno quarto, exalando o cheiro de vento frio e madeira, provavelmente do trabalho.

    — Estamos de volta — Sua voz soa cansada, mas ainda carregada de calor. Minha mãe, Sophia, surge logo atrás, carregando um pequeno saco de pano.

    Ela se abaixa ao lado de Mael e Elijah, tocando suas testas com preocupação. Eu observo atento, esperando sua reação.

    — Eles ainda estão quentes, mas parecem um pouco melhores… Você cuidou bem deles, Flügel. — Sua mão pousa suavemente sobre minha cabeça, bagunçando meus cabelos.

    Eu apenas aceno, sem saber exatamente como responder.

    Aragi suspira aliviado e se senta no chão, apoiando as costas na parede. Ele me observa por um momento e, então, com um pequeno sorriso, dá dois tapinhas no espaço ao lado dele.

    — Vem cá, garoto.

    Eu hesito por um instante, mas acabo me aproximando e me sentando ao seu lado.

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