Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    A viagem de volta a Tournand foi rápida, impulsionada pela urgência e pelo peso da batalha recente. Ao se aproximarem dos portões da cidade, os guardas os observaram com cautela, notando suas armaduras amassadas e o olhar assombrado de Flügel. 

    Mas logo perceberam que era Major Garrick com seu grupo, os dois guardas que estavam no portão bateram continência, enquanto um terceiro entrou para a base de cavaleiros para avisar o capitão Eadric. 

    O grupo seguiu para dentro da pequena base de cavaleiros, o cheiro de pão exalava da cozinha improvisada no canto, Eadric estava na entrada, esperando Major Garrick, colocando os olhos na situação do grupo, ele entendeu que eles encontraram a fonte do problema. 

    — Major — Eadric cumprimentou com um aceno firme, mas sua voz carregava uma nota de preocupação. — Conseguiram?

    Garrick não respondeu de imediato. Desabou numa cadeira de madeira no pátio, o metal da armadura rangendo contra a superfície áspera. Ele esfregou o rosto com as mãos calejadas, como se tentasse apagar o cansaço que lhe seguiu da floresta.

    — Cinco guardas na floresta, monitorando tudo — ordenou, a voz rouca, cortando qualquer formalidade. — Mais cinco patrulhando os arredores. E arrume uma carruagem para nos levar ao quartel principal. Agora.

    Eadric ergueu uma sobrancelha, mas não hesitou. Com um gesto rápido, chamou um dos cavaleiros mais próximos e começou a distribuir as ordens. A base ganhou vida: botas ecoaram contra o chão de pedra, vozes se ergueram em comandos curtos, e o som de uma carruagem sendo preparada veio do estábulo. Enquanto isso, Flügel finalmente desmontou, mas seus movimentos eram lentos, quase mecânicos. Ele se sentou na cadeira reprimindo a sua vontade de deitar ali mesmo e dormir por um dia inteiro. 

    O peso do cansaço o esmagava. Não havia mais força. A exaustão, alimentada pelo enorme gasto de sua mana e pela dor lancinante do atropelamento do monstro, havia vencido. Ele forçou seu corpo além do limite, e agora cada fibra muscular gritava em protesto. 

    Sua mente também não estava bem, o peso de que a floresta estava sendo consumida pela sua magia negra a todo momento, fazia todo o cansaço dele dobrar. 

    A carruagem partiu sem demora em direção ao quartel-general. Lá dentro, o silêncio era quebrado apenas pelo ritmo das rodas. Flügel, exausto, dormia profundamente apoiado em Nytheris, que o sustentava com cuidado.Do outro lado, Dellia não escondia sua irritação. 

    Seus olhos fuzilavam a cena, mas Nytheris encontrou seu olhar, sustentando-o com uma calma gélida. A provocação a fez bufar, e ela passou a respirar com mais força, inflamada pela audácia dele. Aqueles olhos negros como o abismo lhe causava estresse, talvez fosse medo ou cautela, mas ela não se sentia bem ao ser encarada por Nytheris. 

    Koto olhou para os outros no balanço da carruagem. Flügel, exausto, havia apagado. Ele, Garrick e Thalion, no entanto, continuavam alertas, a tensão da viagem marcando seus rostos. Koto olhou pela janela, conferindo a carroça que os seguia. Era tranquilizador ver a massa de Borghen ali, mesmo que o gigante precisasse de um veículo de carga só para ele.

    Conforme a viagem chegava ao fim, Flügel começou a despertar. Seus olhos, pesados de sono, piscaram lentamente até focarem na figura à sua frente: uma mulher encarava algo. Seus cabelos cacheados emolduravam um rosto de traços fortes, o olhar era penetrante e as bochechas, levemente infladas, denunciavam a impaciência que ela sentia.

    A luz que entrava pela janela da carruagem dançava sobre seus cachos marrons e realçava o tom bronzeado de sua pele, conferindo-lhe uma aura indomável. Seus olhos, de um âmbar vívido, por trás da beleza daquela cor, ardia uma chama de pura teimosia.. 

    Seguindo o olhar dela, ele caiu com os olhos no rosto de Nytheris, encarando a bela mulher a sua frente, seus olhos tão fundos que você poderia jurar que eles iriam sugar a sua alma, olhavam fixamente para Dellia. 

    Flügel encarava o rosto sombrio de Nytheris, incapaz de discernir o que se escondia ali. Era uma barreira contra o mundo, escondendo suas emoções, ou a tensão de quem se sabe observado por um predador? Para Flügel, a face de Nytheris era um mistério.

    Ao erguer a cabeça do ombro de seu familiar, ele esfregou o rosto e os olhos com força, numa tentativa de espantar o torpor que ainda o dominava.

    Com um gesto gentil, Nytheris tocou o ombro de Flügel.

    — Conseguiu descansar?

    A resposta de Flügel veio na forma de um sorriso caloroso e um aceno afirmativo ao se virar para o amigo.

    — Sim, pelo menos um pouco… — respondeu Flügel. — Mas preciso de muito mais para ficar totalmente descansado — Seu olhar desviou de Nytheris e pousou em Garrick. O homem olhava fixamente pela janela, com o maxilar cerrado e a expressão perdida, uma imagem nítida de preocupação e estresse.

    Thalion, por sua vez, mantinha o olhar pregado no assoalho da carruagem. Seus ombros caídos e a expressão ausente denunciavam que ele também estava mergulhado em seus próprios pensamentos, consumido pelo mesmo cansaço que abatia o grupo.

    — Chegamos! — avisou o cocheiro, no exato momento em que a carruagem parava suavemente. Flügel abriu a porta e foi recebido por uma onda de luz solar. Ele saiu, piscando com força, os olhos ardendo com a claridade repentina após a penumbra do cochilo.

    Com a mão em pala1 sobre os olhos, Flügel deu um momento para que sua visão se ajustasse à claridade. Logo em seguida, olhou para trás e viu Borghen desembarcar da carroça de carga. O enorme machado em suas costas parecia menos um fardo do que o cansaço visível em sua postura, enquanto o gigante se aproximava com passos pesados e lentos.

    Agora que a imagem de um ‘gigante anão’ não era mais tão estranha, Flügel pôde analisar melhor o físico de Borghen. Seus ombros eram largos e poderosos, e os braços, longos e tão grossos que Flügel apostaria que poderiam arrancar árvores. Havia uma barriga proeminente, mas não era a gordura flácida de um homem sedentário; era a massa sólida de alguém robusto. 

    O rosto era um mapa de traços fortes: um nariz grande e sobrancelhas grossas se perdiam em uma barba cheia. Acima de tudo isso, os cabelos eram pretos e curtos, e os olhos, de um castanho escuro. Era uma face intimidadora, mas que, de alguma forma, transmitia gentileza.

    1. mão em concha[]

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