Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo 60 — Império Guardião
— Mas não está tudo perdido, conversei com a torre dos magos e provavelmente eles possuem poder o suficiente para acabar de vez com essa mana negra — Garrick se sentou na última cadeira das sete cadeiras que adornavam a mesa retangular.
— Certo… — Flügel disse com um encolher de ombros. — Eu acho que isso é ao menos um pouco tranquilizador. Aliás, antes do Lich se desintegrar, eu consegui cortar um de seus braços e peguei esses cinco anéis de seus dedos. — Flügel esqueceu totalmente dos anéis, lembrando deles só quando ele foi colocar sua calça nas roupas sujas.
Colocando os cinco anéis na mesa, o tilintar macabro do metal, osso e cristal contra a madeira escura chamou a atenção de Garrick, que se levantou e caminhou para o seu lado. Os cinco anéis eram visivelmente distintos.
— Você usou eles? — Garrick perguntou, a voz baixa e séria, sem ainda tocar em nenhum.
— Não, eu não os coloquei em momento nenhum — Flügel disse balançando a cabeça. Ele sabia como artefatos mágicos eram feitos, e que isso requer muita aptidão mágica e alquímica, assim como ferraria. Ele não sabia nem por onde começar, por isso decidiu que quanto menos tocasse, melhor seria, ainda mais sendo um artefato criado por um Lich.
Garrick assentiu, satisfeito com a resposta, e finalmente estendeu a mão para examinar o primeiro.
O anel que ele segurava era forjado em um metal negro e liso. Em seu topo, uma pedra branca leitosa fora perfeitamente esculpida no formato de um olho humano, com uma íris cinzenta e uma pupila escura que parecia seguir quem o observava. Uma aura de vigilância sinistra emanava dele.
Seus olhos então varreram os outros quatro que repousavam sobre a mesa, cada um uma promessa diferente de poder e perdição.
Havia um anel que parecia ter sido esculpido em obsidiana pura, mas sua superfície não era perfeitamente sólida; ela ondulava suavemente, como se fosse fumaça negra solidificada. Finos filetes de sombra pareciam se desprender de suas bordas e se dissipar lentamente no ar.
Ao seu lado, um anel de bronze antigo e polido era perpetuamente quente ao toque. Seu aro era gravado com o padrão de chamas estilizadas que lambiam a base de uma opala de fogo. Dentro da gema, pequenas labaredas pareciam dançar eternamente, presas em um balé silencioso.
Em contraste direto, outro anel era feito de uma platina pálida, e sua superfície metálica estava coberta por uma fina camada de geada que não derretia com o calor da sala. Sua pedra era uma safira impecável, tão clara que parecia um fragmento de gelo.
O último anel era o mais robusto. Feito de granito escuro reforçado com veios de ferro, não possuía uma gema. Em seu lugar, a face do anel era uma superfície plana onde um sigilo geométrico complexo estava gravado. Garrick notou que, apesar de seu tamanho modesto, ele parecia ter um peso desproporcional, como se contivesse a densidade de uma montanha.
Garrick pousou o anel do olho de volta na mesa, o rosto pensativo. — Você fez bem em não usá-los, Flügel. A natureza exata de seu poder é um mistério, mas a alma de seu criador está impregnada em cada um deles. Tocar é uma coisa… mas reivindicar seu poder é outra bem diferente.
— Você consegue saber o que eles fazem? — Flügel perguntou, curioso sobre o efeito ou a magia que os anéis mágicos continham.
— Não, levarei eles a um alquimista de artefatos mágicos, ele irá saber nos dizer o que cada um faz e se é seguro ou não usá-los. Manterei eles comigo por enquanto — Garrick disse pegando cada um dos anéis e guardando eles em seu bolso. — Vamos esperar que todos cheguem agora.
Assim que todos ocuparam seus lugares à longa mesa, Garrick finalmente quebrou o silêncio: — O Reino de Tournand solicitou oficialmente o apoio do Império Guardião. Ainda não houve resposta, mas esperamos a ajuda em três dias. No pior dos cenários, chegarão em uma semana.
— O pior dos casos não seria se eles não vierem? — questionou Nytheris, com o cenho franzido em genuína confusão.
— Ajudar-nos significa contrair uma dívida com o império, o que é um grande trunfo para eles — Garrick fez uma pausa, seu olhar percorrendo a mesa. — E é por isso mesmo que eles virão. Não há lógica em recusarem.
— E então? O que faremos sobre o desgraçado na floresta enquanto esperamos? — perguntou Dellia, recostando-se na cadeira com um ar despreocupado.
— Nossa prioridade agora é outra, e a Torre dos Magos já foi designada para a tarefa. Portanto, nosso papel é simples: vigiar a floresta e aguardar os reforços. Assim que eles chegarem, no entanto, a espera acaba. Atacaremos com força total, vasculharemos cada palmo daquela floresta e mataremos esse maldito Lich.
O silêncio que se seguiu à declaração de Garrick foi pesado, denso com as implicações de seu plano. A lógica era fria e inegável, mas a ideia de permanecer passivo com uma ameaça como o Lich à espreita era difícil de engolir.
Borghen coçou a barba espessa, o olhar percorrendo o grupo. — E quanto a nós? Qual será a função de cada um?
— Certo. Alguns de vocês já têm uma missão e não precisarão continuar na reunião. Thalion, Flügel e Nytheris, seu foco será a Torre dos Magos, onde ajudarão a deter o avanço da mana corrompida. Flügel, sua situação é particular, como já adiantei. Apresente-se ao Mestre da Torre. Eles precisam analisar o risco de sua magia e deixar claro o que estará em jogo se você voltar a usá-la.
— Bom, então vamos indo logo moleque, eu estou cansado e não quero perder meu tempo participando de uma reunião que não terá utilidade para nós — resmungou Thalion, ao se levantar da cadeira. Sua aparência confirmava suas palavras: o velho parecia ter envelhecido dez anos em um único dia.
Flügel assentiu e se levantou, prontamente seguido por Nytheris. Em silêncio, os dois deixaram a sala para acompanhar Thalion.
Do lado de fora do quartel-general, a carruagem que aguardava Thalion era a mesma na qual Flügel viajara anos antes. Uma pontada de nostalgia o atingiu, mas foi fugaz, rapidamente engolida pela torrente de preocupações que lhe pesava na mente.
— Nunca esteve na Torre dos Magos, não é? — perguntou Thalion. Seus olhos perscrutavam Flügel, mas com um brilho distante, e por um instante, Flügel teve a nítida impressão de que o velho compartilhava da sua nostalgia.
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