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    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    — Não, eu nunca sequer me aproximei da torre dos magos — admitiu Flügel. A verdade é que a estrutura lhe causava um arrepio. Uma agulha de pedra branca que dominava a paisagem em seus voos, um lembrete constante e sinistro do poder que os magos tinham naquele mundo.

    A construção rivalizava em importância com o próprio castelo real de Tournand. Fisicamente, era vizinha da morada do rei. Em espírito, sua presença austera sugeria um poder mais antigo e fundamental que o da própria coroa.

    — Estou ansioso por isso — disse Thalion, com um brilho divertido nos olhos.

    O comentário mal foi registrado na mente de Flügel. Durante a viagem, o balanço constante da carruagem serviu como um bálsamo para os seus nervos. Pela primeira vez desde o incidente, o nó em seu estômago pareceu afrouxar, e ele se permitiu respirar fundo.

    A esperança era uma âncora frágil, mas ele se agarrou a ela. Garrick tinha razão. Em Tournand, haveria poder suficiente para consertar a catástrofe que ele causara. Afinal, o reino estava cheio de magos talentosos. Magos, possivelmente mais talentosos que ele, admitiu para si mesmo.

    Eles tinham que ter uma solução para a mana negra. E se não tivessem, com tantos gênios reunidos, seria apenas questão de tempo. Era nisso que ele se esforçava para acreditar. 

    Essa frágil esperança era a única barreira que impedia a insanidade de reivindicá-lo, a única coisa que o distanciava da verdade esmagadora: fora ele quem assinara a sentença de morte do mundo.

    — Senhor Thalion, chegamos — Anunciou o cocheiro, abrindo a pequena janela que permitia ao cocheiro falar diretamente com quem estava dentro. 

    — Obrigado, jovem. — Thalion agradeceu o cocheiro e lhe entregou uma moeda de gorjeta. 

    Flügel não prestou atenção na interação de Thalion com o cocheiro e saiu da carruagem, o sol da manhã lhe deu as boas vindas esperadas, aquecendo sua  pele com um calor reconfortante. 

    Ele ergueu o olhar para a construção que se erguia à sua frente, a Torre dos Magos. Era ainda mais impressionante de perto, com sua estrutura de pedra clara, polida até brilhar sob o sol da manhã, refletindo tons brancos e prateados. 

    A torre havia sido construída em uma espiral perfeita, suas linhas sinuosas subindo em curvas elegantes que desafiavam a lógica da arquitetura comum, como se a própria magia a tivesse moldado. 

    Janelas estreitas, dispostas em intervalos regulares ao longo da espiral, emitiam um suave brilho azulado, como se a energia mágica pulsasse em suas veias. Flügel sentiu um arrepio, não de medo, mas de uma mistura de admiração e curiosidade. 

    — Imponente, não é? — Thalion parou ao lado dele, também contemplando a torre. — Dizem que ela foi erguida pelos primeiros magos que chegaram a Tournand, moldada em espiral para canalizar a mana do céu diretamente ao coração da terra. Há quem diga que ela é mais do que pedra, que é um artefato mágico vivo. 

    Flügel assentiu, incapaz de desviar o olhar. A mana no ar era densa, vibrante, como uma corrente invisível que fluía em direção à torre, seguindo suas curvas espiraladas. Era diferente da mana sombria que ele conjurara em busca de poder,  aquela era fria, corrosiva, cheia de malícia. 

    Aqui, a energia era quente, quase acolhedora, mas com uma intensidade que fazia sua pele formigar.

    — Vamos entrar? — Thalion perguntou, já caminhando em direção à grande porta de pedra, com um pequeno buraco no meio. Flügel hesitou por um instante, seus pensamentos voltando à culpa que o consumia. 

    E se os magos da torre não tivessem uma solução? E se ele tivesse condenado Tournand ou até o mundo  com seu erro? Ele balançou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos.

    Ele seguiu o velho, subindo os degraus largos que levavam à entrada. Thalion retirou um brasão de dentro de um bolso interno em sua túnica, ele levou até o buraco na porta de pedra e a porta se abriu com um rangido baixo, como se estivesse esperando, com veios de mana saindo do brasão perfeitamente encaixado pelo restante da porta.

    O interior da torre era tão impressionante quanto a parte de fora. O conceito de “andares” não se aplicava ali. Ao invés disso, o espaço era um único e vasto vão aberto que se erguia até o pico invisível da torre. 

    No centro, onde deveria haver um pilar de sustentação, havia uma coluna colossal de pura luz azulada e dourada, a mesma que emanava das janelas.

    Ela pulsava com uma energia calma e constante, e dentro de seu brilho, Flügel podia ver veios de mana pura fluindo como água em um rio, subindo do chão e ascendendo para o céu. Era o coração vivo da torre, canalizando o poder necessário para manter a Torre. 

    Contornando essa coluna de poder, uma rampa lisa de pedra opaca subia em uma espiral contínua, sem corrimão ou qualquer tipo de proteção, grudada à parede interna da torre. 

    Ao longo da parede, em diferentes alturas, havia inúmeras alcovas e plataformas, cuja disposição guiava o olhar de Flügel para cima, em um caminho espiralado que parecia não ter fim. 

    Em algumas, prateleiras de madeira escura, entalhadas com desenhos mágicos que brilhavam suavemente, subiam até alturas impossíveis, repletas de tomos e pergaminhos.

    Em outras, o propósito era mais prático e intimidador. Numa plataforma, flutuava uma esfera de escuridão perfeita e silenciosa, contida por um campo de força dourado que zumbia baixo, coberto de círculos mágicos complexos, lembrando um pequeno planeta cujos belos anéis se moviam lentamente. Flügel presumiu ser uma célula de contenção, guardando um artefato perigoso ou talvez uma entidade capturada. 

    Mais acima, viu uma forja mágica, onde um mago moldava uma espada não com fogo, mas com raios de pura mana, e ferramentas de luz dançavam ao seu redor. Eram estações de trabalho, laboratórios e cofres, cada um uma demonstração do domínio absoluto sobre a magia.

    O ar vibrava, denso com a mana pura, e o som predominante era um zumbido baixo e harmonioso, como um motor da incrível torre, misturado ao cheiro peculiar de pergaminho antigo, metal encantado e do poder bruto contido.

    Sem palavras diante daquela imensidão, Flügel olhou para Nytheris, seu familiar, que tinha o queixo caído, os olhos arregalados como os de uma criança que vê o oceano pela primeira vez. 

    — Impressionante, não é? — disse Thalion com um sorriso conhecedor, claramente satisfeito com o efeito que a torre sempre causava. 

    — Quem é o criador dela? — perguntou Flügel, seu olhar percorrendo a imensidão, tentando absorver cada detalhe daquela arquitetura impossível. 

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