Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    Diante do mestre da torre, Thalion encolheu-se sob o olhar afiado de Siegmeyer. Não havia necessidade de palavras, a punição era evidente no silêncio do olhar, e Thalion compreendeu o sermão mudo por seu atraso.

    Após alguns segundos encarando Thalion, Siegmeyer desviou o olhar para Flügel, a voz seca e direta.

    — Certo, cadê o formulário que eu lhe pedi? — Siegmeyer perguntou, os olhos percorrendo a armadura surrada de Flügel com uma análise cautelosa.

    — Aqui — Flügel tirou o formulário da mochila. Ali, guardava alguns pertences e o restante de suas moedas, ele não esperava que um ferreiro consertasse sua armadura de graça.

    Siegmeyer pegou o papel, lendo as linhas preenchidas com rapidez.

    — Peste Sombria? Um bom nome. Tem certeza que vai usar o seu nome mesmo? — Ele ergueu os olhos do formulário, fixando o olhar nos buracos vazios do elmo sujo de Flügel.

    — Sim. — Um leve sorriso brotou sob o capacete de Flügel, apesar de uma ponta de insegurança sobre o nome da mana negra. 

    Em sua vida passada, ele era fascinado por história e se interessava genuinamente em estudar o passado. Lembrava-se de ter lido, em algum lugar, que as vítimas da peste bubônica — a famosa peste negra — desenvolviam manchas escuras, o que deu origem ao nome durante a pandemia.

    Foi essa assimilação que o levou à escolha do nome, mesmo que a grama não ficasse negra ao ter sua mana consumida pela “Peste Sombria”. Além disso, ele não tinha cabeça para pensar muito em um nome para uma magia que, honestamente, nunca mais pretendia usar.

    — Certo, parabéns, Flügel. Você registrou sua primeira magia com sucesso. — Siegmeyer esboçou um leve sorriso, carimbando o canto da folha e adicionando-a a uma pilha de papéis. — E essa sua armadura? Não me diga que você vai com ela para lá…

    Ele se levantou, caminhando em direção à porta. Seu destino era claro: os guiaria até a floresta.

    — Na verdade, da primeira vez que vim aqui, vi uma forja. Estava pensando em conversar com aquele ferreiro para ver se ele conseguiria arrumar essa armadura para mim. — Flügel ajustou a mochila no ombro, o tilintar das moedas deixando claro que estava pronto para pagar.

    — Você deve estar falando do ferreiro mágico, Timur. Se essa for uma bela armadura, ele ficará feliz em pôr as mãos em algo assim. — Ao contrário de Thalion, Siegmeyer só conseguia concluir que a armadura era uma peça rara, não haveria motivo para Flügel comprar uma armadura naquele estado se não fosse valiosa.

    Abrindo a porta, a rampa mágica que flutuava entre os andares da Torre dos Magos permaneceu à frente, aguardando uma nova ordem. Assim que todos subiram, Siegmeyer declarou o destino:

    — Forja de Timur!

    Flügel sentia a curiosidade crescer a cada instante diante da tecnologia da Torre dos Magos. Era fascinante como um comando verbal era o bastante para a rampa compreender seu destino e se mover. Uma tecnologia tão comum em sua vida passada parecia inacreditável em um mundo de reinos e costumes medievais.

    Ainda que fosse uma construção, em sua mente, a Torre dos Magos era um artefato mágico colossal. Ele simplesmente não conseguia se convencer de que era apenas pedra sobre pedra com um sistema peculiar de magia.

    Eles se aproximaram da forja. O martelo e as ferramentas de Timur flutuavam pelo ar, o martelo translúcido descendo com força inabalável, amassando um lingote incandescente a cada golpe. Embora uma forja fosse tipicamente um lugar barulhento, os impactos do martelo de Timur contra o metal não emitiam som algum. Ou assim parecia.

    No momento em que Flügel e os outros adentraram o espaço de Timur, foram imediatamente envolvidos pelo calor quase insuportável e pelo barulho estridente do metal sendo moldado.

    — Timur! — Siegmeyer chamou.

    Do lado oposto da forja, um vulto parrudo se virou, emergindo da fumaça e do calor. Timur era um anão, mas com um toque selvagem. Sua pele era morena e áspera, quase como casca de árvore, e a barba, preta e revolta, emaranhava-se com mechas grisalhas, parecendo ter sido queimada em algumas pontas. 

    Olhos pequenos e intensos, de um castanho escuro, brilhavam sob sobrancelhas espessas, sempre fixos em algo, ou talvez em tudo ao mesmo tempo. 

    Ele tinha ombros largos, um torso musculoso e pernas curtas e fortes, que o moviam com uma energia surpreendente para sua constituição. 

    Vestia apenas um avental de couro, o peito nu coberto de pelos densos e algumas cicatrizes antigas, marcas de uma vida dedicada ao metal e ao fogo.

    Um rosnado baixo escapou de sua garganta. 

    — Mestre Siegmeyer. O que o traz à minha forja? E trouxe estes… turistas? — A voz de Timur era como o atrito de duas pedras, um estrondo grave e constante, mas com um tom de pura impaciência. 

    Ele nem mesmo olhou diretamente para Flügel no primeiro momento, sua atenção dividida entre o metal que trabalhava e a interrupção.

    Siegmeyer apontou para Flügel. — Timur, este é Flügel. Ele precisa da sua perícia com esta armadura.

    O anão finalmente fixou seus olhos curtos na armadura surrada de Flügel. Ele a encarou, não com reverência, mas com um olhar prático e ligeiramente desdenhoso.

    — Isso? — Timur resmungou, sem sequer se aproximar. — Parece um monte de sucata. O que esperam que eu faça com isso? Deveriam comprar algo novo. É mais fácil.

    Flügel sentiu uma ponta de desânimo. A reação de Timur era exatamente o que ele havia temido. Siegmeyer, percebendo a frustração de Flügel, interveio:

    — Dê uma olhada mais de perto, Timur. É mais do que parece.

    Com um suspiro audível de impaciência, o anão resmungou algo incompreensível e se arrastou em direção a Flügel. Ele retirou a manopla da armadura de sua mão  com um aperto firme e ríspido, sem a delicadeza que Flügel esperava. 

    Seus olhos pequenos e inquisitivos se aproximaram, examinando as rachaduras e amassados. O cheiro de metal queimado e suor impregnava a forja.

    Os dedos grossos de Timur percorreram a superfície do metal. Ele passou por cima das imperfeições, sentindo a textura, as falhas. Então, ele fez algo mais. O anão bateu a manopla levemente contra sua bigorna de ferro, produzindo um tilintar que era diferente de qualquer metal comum. 

    Ele então ergueu a manopla contra a luz da forja, quase a cheirando, buscando a ressonância interna do material. Seus olhos semicerraram, e a ponta de sua língua roçou o canto dos lábios enquanto sua mente anã avaliava a composição.

    Lentamente, uma expressão de surpresa começou a apagar a impaciência de seu rosto. As sobrancelhas se ergueram, e um murmúrio quase inaudível escapou de seus lábios. Ele soltou a manopla, mas imediatamente a pegou de novo, agora com um cuidado diferente.

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