Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo — 76 A Engenharia da Magia: Matrizes
— Espera um pouco… — A voz de Timur era agora um tom abaixo, mais baixa e cheia de uma nova e crescente fascinação. Ele tocou a armadura como se visse traços de desenhos mágicos ou de runas ali, mas não tinha nada além de amassados e sujeira. — A forjadura… essa textura… E a mana que ainda ressoa aqui…
O anão se aproximou ainda mais de Flügel, rodeando-o, os olhos miúdos perscrutando cada rachadura e marca de combate. Com a ajuda de um banquinho, sua mão pesada traçou o contorno de um dos ombros da armadura, sentindo a vibração sob a crosta de sujeira.
Lentamente, uma expressão de surpresa começou a apagar a impaciência de seu rosto. As sobrancelhas se ergueram, e um murmúrio quase inaudível escapou de seus lábios.
— Por todos os deuses da forja… — A voz de Timur estava cheia de surpresa. Ele tocou um ponto específico no ombro da armadura, depois uma reentrância na cota de malha.
Ele se levantou, seus olhos fixos nos buracos do elmo de Flügel. Desceu com um pulo e passou a palma da mão sobre um dos joelhos da armadura, sentindo a vibração antiga.
— Isso… isso não é apenas uma armadura. É uma obra-prima! — A voz de Timur irrompeu em um grito de assombro e excitação, sua voz ressoando pela forja. — Onde… onde você conseguiu isso, jovem? É… é uma relíquia! Digna de um rei anão! Eu não vejo uma forjadura assim desde… desde as lendas!
Flügel sentiu um misto de alívio e uma estranha pontada de orgulho. Ele explicou: — Ela sofreu alguns danos. Eu gostaria de saber se é possível restaurá-la. E quanto ficará…
Timur mal ouvia, sua mente já absorta na peça. Ele balançou a cabeça vigorosamente, os olhos faiscando como carvões incandescentes. — Restaurar? Não! Não é apenas restaurar! É devolver a vida! Isso será uma honra!
Ele olhou para Flügel, e pela primeira vez, havia um respeito genuíno em seu olhar, embora ainda misturado com a euforia. — O custo? Não há custo para a verdadeira arte. Mas exijo que você me deixe trabalhar nela. Deixe-me trazê-la de volta ao seu verdadeiro esplendor! Será o maior trabalho da minha vida!
Antes que Flügel pudesse responder, Timur já estava puxando uma banqueta baixa com o pé. — Tire-a! Deixe-me vê-la por inteiro! Preciso dela aqui!
Flügel, surpreso pela intensidade do anão, começou a desabotoar as fivelas e desapertar as tiras da armadura. O tilintar das moedas em sua mochila foi rapidamente esquecido. Peça por peça, a armadura foi sendo removida, e Timur as recebia com um cuidado quase reverente, inspecionando cada parte.
Assim que a última peça saiu, o anão a arrastou para uma bancada próxima, sua paixão pela obra eclipsando qualquer outra preocupação. Ele resmungava para si mesmo, os olhos fixos na armadura, os dedos correndo sobre ela como se estivesse lendo um mapa antigo.
— Voltem amanhã. — Timur disse, sua voz abafada enquanto já começava a preparar suas ferramentas, o som do martelo translúcido parecendo agora um mero acompanhamento para sua nova obsessão. — Ou até depois de amanhã. Isso não é trabalho de algumas horas. Preciso de tempo e concentração para algo assim. Não me incomodem!
Siegmeyer acenou para Flügel, um sorriso discreto no rosto. — Certo. Vamos. Enquanto Timur trabalha, temos que ir até a floresta.
Flügel sentiu o peso da armadura diminuir de seus ombros, substituído por uma centelha de alívio e esperança, agora ainda mais forte.
A paixão de Timur pela forja era contagiante, e talvez este mundo, com suas magias e seus mestres inusitados, realmente tivesse as respostas, não apenas para sua armadura, mas também para o fardo que ele carregava.
Do portão menor de Tournand, Flügel já era capaz de ver um enorme domo circulando grande parte da floresta, sua cor era translúcida, com um tom amarelado, como magia da luz.
Mesmo parecendo próximo, ele certamente estava longe. Mas não tão longe quanto Flügel gostaria que ele estivesse.
— O que é aquilo? — perguntou, curioso sobre o enorme círculo e magia que pendia no ar, prometendo ser uma grande magia.
— A matriz de Luz, uma relíquia dos tempos em que os magos forjavam luz contra a escuridão. É uma grade de sigilos. Cada sigilo é um pedaço de luz pura, tecido com mana estelar, capaz de aprisionar a mana negra e purificar o que ela corrompeu.
Flügel franziu o cenho, confuso com todas aquelas informações, afinal, ele nunca havia sequer escutado algo do tipo. — E como isso funciona?
Siegmeyer sorriu, um brilho astuto nos olhos. — Pense nisso como uma teia, Flügel. Uma teia de luz, com o Núcleo Estelar no centro, atraindo a mana negra como uma aranha atrai sua presa. Sigilos como o Sol Ardente e a Chama Purificadora queimam a corrupção, enquanto outros, como o Círculo de Sal e o Espelho de Cristal, formam barreiras que ela não pode cruzar. A Torre dos Magos está alimentando a matriz com mana.
Flügel engoliu em seco com a grandiosidade da magia, e então conforme eles chegavam mais perto, mais pasmo e desconfortável ele ficava. Ele não tinha dúvidas que aquela magia era de nível reino, se ela fosse ofensiva, não restaria nada de um reino médio.
Quando eles estavam próximos, Siegmeyer ordenou que Flügel criasse um pilar de terra para eles subirem, agora próximo e alto o suficiente, Flügel conseguiu ver aquele emaranhado de matrizes trabalhando.
— Quantas matrizes tem ali? — A voz de Flügel saiu hesitante, mais fraca do que ele gostaria enquanto ele via o que era preciso para conter a sua peste sombria.
— Quatro matrizes primárias e treze matrizes secundárias, totalizando dezessete matrizes ao mesmo tempo.
— Dezessete? — Flügel perguntou incrédulo.
— Sol Ardente: É o círculo com raios flamejantes, ele está canalizando a mana bruta da torre para incinerar a corrupção. Núcleo Estelar: É a esfera brilhante cercada por anéis no centro, o coração da matriz que atrai e aprisiona a mana negra — disse Siegmeyer, sua voz firme, mas carregada de reverência. Ele apontou para a cúpula, onde os dois sigilos brilhavam com intensidade. — Esses são dois dos quatro pilares da Matriz de Luz Arcana. Os outros dois são tão cruciais quanto.
Flügel virou-se para ele, os olhos arregalados. — Quais são os outros?
Siegmeyer gesticulou para um ponto onde a luz parecia girar em espirais furiosas, como um redemoinho de estrelas. — Veja aquela espiral girando ali. Aquela é a terceira matriz primária: o Vórtice de Luz. Ele puxa a mana negra para o Núcleo Estelar, como um rio arrastando detritos para o mar. Sem o Vórtice, a praga poderia se espalhar antes de ser contida, corroendo tudo ao redor. Embora o Núcleo Estelar seja o maior chamariz da Peste Sombria pela sua mana abundante, a existência do Vórtice de Luz é indispensável.
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