Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo 79 — A Risada de Severus
O vento leve acariciava os cabelos castanhos claros da bela garota à sua frente, uma visão que fez o coração de Mael acelerar e um calor inebriante subir-lhe às bochechas. Ele não conseguia desviar os olhos dela, hipnotizado.
Apertou a rosa levemente em sua mão, sentindo o desconforto de sua própria vestimenta casual diante do deslumbrante vestido branco que a jovem usava. O sorriso levemente torto dela era radiante, seus olhos quase fechados pela alegria, cativantes. As covinhas em suas bochechas, aos olhos de Mael, eram a coisa mais adorável que já vira.
Mael estava completamente apaixonado por Melissa. Sentindo esse turbilhão de emoções, ele finalmente compreendeu por que seu pai sempre parecia tão bobo na presença de sua mãe. Ele queria impressioná-la, fazer tudo para arrancar um sorriso dela, ser a razão de sua felicidade. E o riso dela… para ele, soava como um cântico dos anjos.
— Isso é para mim? — Melissa perguntou, os olhos fixos na rosa na mão de Mael. Um rubor delicado espalhou-se por suas bochechas ao notar o olhar intenso dele, tornando-a ainda mais adorável. A pele morena e bronzeada dela ficava deslumbrante sob o tom rosado.
Antes que ela pudesse formular a pergunta hesitante que começava a brotar em seus lábios, Mael a interrompeu:
— Você está linda, Melissa. E sim, é para você… Uma rosa, para combinar com o seu sorriso. — Ele estendeu a flor, um sorriso hesitante adornando seu próprio rosto. Tinha visto seu pai usar aquelas exatas palavras com sua mãe e esperava que o efeito fosse o mesmo.
O sorriso de Melissa se alargou, radiante. Com cuidado, ela pegou a rosa e a levou ao nariz, aspirando o cheiro doce da flor recém-desabrochada. Em um gesto terno, inclinou-se e abraçou Mael, depositando um beijo suave em sua bochecha.
— Obrigada, eu adorei! — Melissa se afastou, ainda sorrindo de orelha a orelha. Colocou a rosa delicadamente em sua orelha, então pegou a mão de Mael e a apertou com carinho.
Uma gargalhada áspera rasgou o ar, um som gutural e assustador que não pertencia àquele mundo, fazendo Mael congelar. A mão ainda estava entrelaçada com a de Melissa, mas o calor do momento foi engolido por um arrepio súbito. A rosa nos cabelos dela tremia com o vento, agora mais forte, e os olhos castanhos de Melissa se voltaram para o sul, onde o brilho pulsante das Matrizes iluminava o horizonte, visível mesmo a quilômetros de distância, como um grande domo de luz.
— O que foi isso? — ela perguntou, a voz baixa, mas firme, apesar do medo que transparecia em seus olhos.
Antes que Mael pudesse responder, uma sombra colossal cruzou o céu ao longe, suas asas imensas batendo com um som que ecoava como trovões abafados. Era uma criatura alada, tão vasta que, mesmo daquela distância, parecia dominar o horizonte, suas escamas brilhantes com reflexos dourados sob a luz moribunda do dia.
Mael sentiu o coração disparar. Ele já ouvira histórias da criatura sagrada do Império, mas nunca imaginara vê-la tão de perto — ou tão longe, ainda assim imponente.
— É… um Severus? — murmurou Mael, os olhos arregalados, quase incrédulos. O brilho das Matrizes tremeluzia, como se lutasse para se manter ativas, e a silhueta da criatura alada parecia dançar contra aquele fulgor distante.
Melissa apertou a mão dele com mais força, o rosto pálido. — Algo está errado, Mael. Esse som… e as Matrizes… elas não deveriam estar assim.
— Mas não há motivo para um Severus do Império estar nos atacando! Estamos em paz com eles, Melissa! Ele deve estar aqui para nos ajudar — Mael tentou tranquilizá-la, mas a voz tremia. A princípio, ele pensou que era um dragão, mas nenhum dragão possui uma cabeça de águia como aquela.
Ainda atordoado e com um zumbido em seu ouvido causado pela morte súbita e pela presença das entidades que não via há tanto tempo, Flügel precisou de um segundo precioso para assimilar completamente o que estava acontecendo.
Mas o bater de asas da imensa criatura alada, fazendo as árvores se curvarem novamente, arrancou-o de seu estupor e o colocou em alerta máximo. Ele não deu sorte ao azar: pegou um goblin pela cabeça e o esmagou contra a árvore mais próxima, sentindo o crânio da criatura ceder sob o impacto.
— Nytheris! — gritou desesperado, correndo na direção de seu familiar, que, impressionado, observava a fonte da forte ventania. Antes que Nytheris tivesse a chance de falar, Flügel cortou o espaço entre eles como uma bala, agarrando-o e subindo subitamente para o céu, impulsionado pela magia do vento para ganhar mais velocidade.
‘Por favor, aguente, matriz!’ ele orou em seus pensamentos. Havia usado mana demais, talvez perigosamente perto das matrizes já danificadas. Um erro poderia causar uma desestabilização e uma explosão de mana, e ele não fazia ideia do que faria se isso acontecesse.
Ele estava quase ultrapassando a altura das árvores quando aquele som, como o alarme de uma destruição iminente ecoou.
GHYA-ZZRR-GYA-KRAA
Aquela risada distorcida fez o próprio chão tremer, e o ar pareceu vibrar com uma malevolência palpável. Era como um demônio rindo da destruição que ele estava prestes a causar.
Flügel forçou os olhos, o vento chicoteando seu rosto. A névoa escura se adensava sob eles, e ele pôde ver o Severus no alto. A criatura sagrada pairava, os olhos azuis faiscantes fixos nos goblins. Um rugido de pura fúria e confusão escapou de seu bico, um som que prometia obliteração.
— Vórtice de Mnemosyne! — A voz de Aleksander Oblivayne, Primeiro Mago da Legião Carmesim, ecoou do dorso do Severus, alta e imponente.
O Severus inclinou as asas abruptamente, e do vácuo de sua garganta, jorrou não luz, mas escuridão invertida: um feixe de anti-luz púrpura e prateada que descosturava a realidade. As árvores no caminho do ataque simplesmente deixando de existir.
Flügel, que voava desesperadamente para longe da área da matriz, sentiu o ar se rasgar atrás de si, um presságio da destruição iminente. Aquela sensação de proximidade forçou-o a concentrar-se ainda mais mana, impulsionando sua velocidade ao limite. Contudo, o bater colossal das asas do Severus gerava uma turbulência avassaladora, tornando impossível para Flügel ascender aos céus sem se concentrar em manter-se estável.
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