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    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    Encostado na árvore jazia o cadáver de um homem de cabelos castanhos claros, olhos abertos e assustados, seu cabelo pregava em sua testa, com o suor e sangue. Sua boca e nariz estavam cobertos por uma bandana, mas ela estava toda suja com sangue seco. Sua garganta tinha um buraco, faltava um pedaço de sua garganta.

    Como se algo tivesse mordido e arrancado parte de sua garganta. O sangue escorreu sobre seu peitoral, molhando suas roupas. Em seu peitoral, havia um corte de garras, que foi tão profundo que dava para ver as costelas do homem. O sangue escorreu para a sua cintura. 

    — É muito pior ver pessoalmente do que por uma tela… — falei, olhando para Nytheris, querendo ver o quão abalado ele estava com isso. Mas Nytheris estava com os mesmos olhos de sempre, relaxado, seus olhos negros estavam frios, como se aquela visão não o afetasse. 

    Eu decidi não falar nada sobre isso. Afinal de contas, apesar de ser algo brutal de ser visto, eu não estava particularmente sendo muito afetado pelo corpo estar daquela maneira, então eu não poderia julgar a indiferença de Nytheris. 

    — Não faz muito tempo que ele morreu — falei, analisando o corpo, olhando para suas mãos. Em sua mão direita, tinha uma adaga que se parecia com uma adaga jambiya, com a lâmina levemente curvada conforme chegava na ponta, e seu fio ficava na parte de dentro da curva.

    E em sua cintura, no cinto, tinha um livro relativamente grosso, com a capa marrom. E também um saquinho, que se parecia muito com os saquinhos de moedas que eu vi em jogos medievais.

    Eu rapidamente peguei tanto a adaga quanto o livro da cintura do homem morto, e, por último, mas não menos importante, o saquinho de moedas do homem. 

    E também peguei a bainha da adaga de ponta curvada do homem. Ela não era muito grande, então era perfeita para o meu pequeno corpo. 

    — Flügel…  — Nytheris me chamou em voz baixa, enquanto olhava para o lado em que estávamos indo. Tinha uma silhueta negra, ao seu lado era perceptível que havia algo como um animal quadrúpede sentado igual a um cão.

    — Foi aquilo que matou esse cara? — perguntei, levantando-me, ficando de frente para a silhueta que tampava o caminho de onde achamos que é a saída da floresta. 

    — Talvez… — Nytheris deslizou um pouco seu pé direito para trás, como se estivesse armando uma base. Não perdendo tempo, fiz o mesmo. 

    — Vamos tentar evitar uma luta aqui, Nytheris… se ele fez isso com aquele cara, provavelmente vou morrer… não sei o que acontecerá com você caso eu morra, mas você provavelmente vai morrer também. 

    Eu tornei a bola de fogo que flutuava sobre a minha mão direita um pouco maior, tentando fazer com que a iluminação dela chegasse até a criatura e a iluminasse para eu vê-la completamente, mas também não a fiz muito grande com medo do que quer que aquilo seja se sinta ameaçado e acabe tentando nos matar primeiro. 

    Quando eu fiz isso, um som como se fosse o de um animal agonizando percorre toda a floresta, e parece estar vindo do animal quadrúpede ao lado da figura humanoide. 

    — Você… Você é uma existência que não deveria existir neste mundo…

    Nytheris não respondeu. Seu olhar negro e profundo apenas encarava a criatura diante de nós. Eu, por outro lado, senti um calafrio percorrer minha espinha. 

    — O que você quer dizer com isso? — perguntei, tentando não demonstrar meu nervosismo. 

    A silhueta humanoide se moveu levemente, e a luz fraca da minha chama revelou um rosto coberto por algo semelhante a um capuz feito de sombras vivas. Debaixo dele, duas pequenas luzes vermelhas cintilavam como brasas no escuro. 

    — Você e essa coisa ao seu lado…  — A voz era rouca, distorcida, como se várias vozes falassem ao mesmo tempo.  — Vocês são aberrações neste mundo. 

    O ser quadrúpede ao lado dele emitiu um som baixo, um misto de rosnado e choro. Eu o vi se mexer, um vulto escuro, mas quando a luz da chama finalmente o iluminou, senti meu estômago revirar. 

    Era um lobo. Ou pelo menos algo que um dia foi um. Seu corpo estava coberto de feridas abertas, como se tivesse sido rasgado e costurado várias vezes. Partes de sua carne estavam expostas, e sua pele parecia queimada em alguns lugares. Mas o pior eram seus olhos  — vazios, sem alma, refletindo apenas a luz da minha chama como duas órbitas mortas. 

    — Que merda é essa…? — murmurei, instintivamente dando um passo para trás. 

    Nytheris permaneceu imóvel, mas pude ver seus punhos cerrados. Ele estava tenso. 

    — Quem é você? — perguntei, tentando manter a calma. 

    A figura humanoide riu, um som seco e perturbador. 

    — Eu sou um dos muitos olhos que te observam. E você… deveria estar morto. 

    Antes que eu pudesse reagir, o lobo se lançou contra mim. 

    Meu corpo se moveu por instinto — joguei a bola de fogo em sua direção e saltei para o lado. A explosão iluminou a floresta por um segundo, e eu senti o calor da labareda passar perto demais da minha pele. Mas o lobo… ele continuou vindo. 

    Mesmo em chamas, mesmo com a pele queimando, ele avançava. E, naquele momento, percebi a merda em que eu tinha me metido. 

    Nytheris finalmente se moveu. Num instante, ele estava ao meu lado. No seguinte, uma sombra negra se estendeu de sua mão, como uma lâmina feita de pura escuridão. Ele cortou o ar, e o lobo se partiu em dois. 

    Pelo menos era o que deveria ter acontecido.

    O lobo não foi cortado. Ao invés disso, sua forma se distorceu como fumaça, e ele se reconstituiu no mesmo instante. A risada do ser encapuzado ecoou pela floresta. 

    Meu coração disparou. No momento em que eu vi isso, eu soube que seria impossível eu ganhar dessa coisa aqui e agora.

    — Nytheris… corra. 

    Nytheris olhou para mim, e por um segundo, achei que fosse recusar. Mas então, ele assentiu. E nós disparamos pela floresta, fugindo daquele pesadelo que parecia nos seguir como uma sombra viva. 

    Eu corri com a máxima atenção possível. A luz da bola de fogo não estava ajudando muito. Nytheris estava correndo ao meu lado. Sei que ele poderia muito bem correr mais rápido do que eu, graças ao seu corpo mais desenvolvido, mas ele estava se forçando a ficar ao meu lado. 

    O livro quase caía debaixo da minha axila, a adaga sem a bainha estava na minha mão esquerda, a bainha dela caiu enquanto corria.

    Eu usava a magia gravitacional para me ajudar no meu equilíbrio. Não era necessário usar uma mão para usar magia gravitacional em mim mesmo, porém, não era tão forte sem o auxílio de uma mão. 

    Aparentemente, os feitiços percorrem o braço e saem só pelas mãos, mas consegui de alguma forma ativar a gravidade em mim mesmo sem usar as mãos depois de treinar isso por dias.

    Corremos até não escutarmos mais os passos do lobo, e então paramos. Eu estava todo suado. Nytheris, por outro lado, não soltava um pingo de suor, talvez fosse por ele não precisar beber água, mas estava visivelmente cansado. 

    — Eles estão aqui ainda, Nytheris. — falei, soltando o livro no chão, trocando a adaga de mão. Não conseguia mais correr. 

    Das sombras, um lobo apareceu. Ele estava vindo em minha direção. Apesar de estar com o corpo cheio de buracos, ele era incrivelmente rápido. Eu estava conjurando uma bola de fogo na mão livre, mas Nytheris foi mais rápido.

    Ele rapidamente avançou contra o lobo. Uma lâmina negra apareceu em sua mão, mas, ao invés da que ele fez antes, que era parecida com uma adaga medieval, essa parecia mais com um stiletto, que era usado mais para estocar. 

    Ele enfiou a lâmina toda dentro do lobo, e algo parecido com espinhos saíram do corpo do lobo. O lobo virou algo como uma fumaça novamente e se retorceu, se materializando ao lado de onde ele estava empalado pelo stiletto de Nytheris e seus espinhos. 

    Coloquei mais mana na bola de fogo, sentindo seu calor pulsar contra minha palma. Mas, antes de lançá-la, condensei uma pequena esfera de ar entre minha mão e as chamas. A pressão dentro da esfera aumentou rapidamente, como se o próprio ar tentasse escapar da prisão invisível que criei.

    No instante em que soltei ambas, liberei a compressão da bola de ar. Ela explodiu com um estrondo seco, gerando uma onda de choque que impulsionou a bola de fogo para frente como um disparo de besta. A explosão deformou levemente a chama, tornando-a mais alongada e instável, mas a força adicional compensava a perda de controle.

    O projétil disparou em alta velocidade, cortando o ar como um meteoro incandescente, indo direto em direção ao ser de silhueta humanoide.

    A bola de fogo explodiu e iluminou toda a floresta por um instante, batendo contra o ser, pegando fogo na árvore da qual ele estava ao lado, e a figura continuou intacta depois da explosão. 

    — Que porra você é?! — perguntei com raiva. Aquele ser continuava imóvel, como se nada tivesse acontecido. Chamas pegavam em seu manto negro, mas rapidamente apagaram. 

    — Te contarei, já que sua existência será apagada em breve… Eu me chamo Nae’Zyrael, um arcanista proibido… mais conhecido como lich. 

    Nesse momento, eu sabia que não tinha chances de ganhar contra esse ser. Se ser considerado um lich for o mesmo que vi nas novels de minha vida passada, ele era uma pessoa que dedicou a vida à magia. 

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