Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    O pensamento da armadura restaurada era um conforto tépido em meio à crescente ansiedade que o consumia. Após a experiência na floresta, a urgência de entender e controlar seu poder latente se intensificara. A conversa com Nytheris na noite anterior rondava sua mente, um eco silencioso de possessividade e medo que ele ainda não sabia como lidar completamente.

    Na manhã seguinte, Flügel deixou o quarto antes mesmo que os primeiros raios de sol conseguissem romper as cortinas. 

    Terminada a refeição, Flügel seguiu diretamente para a Torre dos Magos, seu objetivo final sendo a forja de Timur. Ele queria fazer certos testes com a sua armadura antes de ir para a batalha final, e ele também queria tentar se acostumar antes de vesti-la em combate. 

    O caminho até a forja era familiar agora, e a cada passo, a expectativa de ver sua armadura renovada crescia. Ele estava um tanto desgastado por causa da batalha de ontem e das inúmeras perguntas de sua família, tanto sobre a presença de Severus quanto sua batalha na floresta e todo aquele sangue em suas roupas e corpo quando chegou. 

    Após uma noite exaustiva de perguntas sobre a presença de Severus e o sangue que cobria suas roupas, Flügel se sentiu aliviado por não ter precisado mentir muito. Seu único risco real de morte tinha sido nas mãos de Severus, o que era a parte mais fácil de omitir. Sua mente agora se mantinha ocupada pensando em como entrar na Torre dos Magos sem o brasão que Thalion usou.

    Ao se aproximar da Torre, os olhos de Flügel foram inevitavelmente atraídos para o majestoso castelo do rei de Tournand. A tentação era forte. Ele se imaginou revelando seus poderes, sendo aclamado como um tesouro nacional, recebendo títulos de nobreza e vastas terras. A curiosidade o puxava para lá, oferecendo um caminho fácil e glorioso.

    O pensamento foi rapidamente reprimido. Flügel sabia que um caminho assim era perigoso demais. Ele não podia se vincular a um único reino. Seus planos para o futuro exigiam flexibilidade e a liberdade de buscar conhecimento em todos os reinos e impérios. As respostas para os mistérios que o cercavam estavam espalhadas por todo o mundo, e Tournand jamais poderia dar a ele tudo o que precisava. A tentação de se tornar uma celebridade e um tesouro real foi esmagada pela fria lógica da sua ambição.

    Flügel finalmente desviou o olhar do castelo, voltando-o para a imponente torre que se erguia como o coração do reino. Apesar de já a ter visto inúmeras vezes, ele não conseguia evitar a admiração. A grandiosidade e a engenhosidade por trás da construção eram fascinantes, assim como a quantidade massiva de mana que ela parecia conter.

    O medo constante de que as matrizes de mana da torre pudessem colapsar e destruir todo o reino já não o assombrava. Assim que acordou, impulsionado por uma necessidade repentina, ele voou aos céus para buscar o brilho das matrizes e, ao não encontrar nenhum, uma conclusão se formou em sua mente. Se seu pensamento estivesse correto, uma batalha crucial já tinha sido vencida. A ameaça da peste sombria, que outrora devorava toda a mana do mundo, parecia ter sido extinta.

    Ele subiu os degraus que levavam à porta pesada de pedra, imaginando como faria para que alguém a abrisse para ele. No entanto, antes que pudesse pensar em algo, o rangido da porta ressoou, e ela se abriu sozinha. Flügel deu um passo para o lado, esperando que alguém saísse, mas não havia ninguém do outro lado.

    — Alguém abriu para nós? — Nytheris comentou, a voz cheia de confusão. A porta havia se aberto sozinha, e ele sabia que até mesmo Thalion, um membro de alto escalão da Torre dos Magos, precisava de um brasão para entrar.

    Flügel ficou em silêncio por um momento, a mente tentando processar a anomalia. Não era um sistema de segurança comum; parecia que a própria torre reconhecia sua presença. Com cautela, ele e Nytheris cruzaram o portal de pedra, entrando no grande hall da Torre dos Magos.

    O eco de seus passos era o único som na imensa câmara circular. A rampa mágica, que ele se lembrava de ter usado antes, estava parada no chão, perto da parede, um pedaço de pedra polida que desafiava a gravidade. Nytheris, ainda confuso, olhava para os andares que se estendiam acima deles, cada um com uma função e um propósito que ele mal podia imaginar.

    — O que você acha que foi isso? — Nytheris sussurrou, a voz baixa ecoando sutilmente nas paredes da torre. 

    — Não sei — Flügel respondeu. — Mas não vamos pensar muito sobre…

    Ele se aproximou da rampa, sentindo o familiar tremor de mana subir por seus pés.

    — Forja de Timur — disse em voz alta, lembrando-se do comando que Siegmeyer havia usado.

    A rampa estremeceu suavemente e começou a subir, levando-os para cima em um movimento suave e controlado.

    A rampa mágica parou com um solavanco suave, e Flügel e Nytheris saíram, entrando diretamente na forja de Timur. O lugar era um turbilhão de atividade controlada. Ao avançarem, foram imediatamente envolvidos pelo calor intenso e pelo barulho estridente do metal sendo moldado. Chispas translúcidas dançavam no ar, e o forno irradiava uma luz quase cegante. Timur estava lá, o corpo musculoso banhado em suor, os olhos fixos em uma peça de metal que era chocada contra sua bigorna. O martelo etéreo descia com golpes precisos, moldando a matéria com uma força invisível.

    O anão não notou a chegada de Flügel de imediato, completamente absorto em seu trabalho. Flügel ficou em silêncio, observando a maestria com que Timur manuseava a magia e o metal, uma dança complexa que resultava em criações de poder inigualável. 

    Finalmente, ao depositar a peça trabalhada em uma bancada com um suspiro de satisfação, Timur ergueu os olhos e viu Flügel parado na entrada. Uma carranca breve cruzou seu rosto, mas foi substituída quase que instantaneamente por um brilho de reconhecimento.

    — Garoto! Já está aqui? Pensei que demoraria mais — A voz rouca de Timur ecoou sobre o chiado do metal resfriando. Ele limpou a testa com o dorso da mão, deixando uma mancha escura de fuligem em sua pele morena. — A sua… obra-prima está quase pronta. Nunca vi nada igual. A liga, a forma… é antiga, muito antiga.

    Timur gesticulou com a cabeça para um canto da oficina, onde, sob um pano grosso e surrado, repousava algo que Flügel mal reconheceu. A poeira e a sujeira haviam desaparecido, revelando uma armadura de um aço negro, com a superfície fosca e escura como a noite. As rachaduras e amassados haviam sido desfeitos, mas o que mais o assustava e o impressionava era a sua silhueta. As peças tinham linhas simples, mas exalavam uma presença pesada e antiga, como se guardassem segredos de uma era de escuridão.

    Flügel caminhou lentamente até a armadura, o coração batendo um pouco mais rápido. Ao se aproximar, ele pôde ver os detalhes intrincados na superfície do peitoral, agora limpos e brilhantes, irradiando uma aura sutil de poder. A manopla que Timur havia examinado no primeiro dia estava ali, reluzente, com cada detalhe da sua forjadura ancestral revelado.

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