Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    — Handels… — A voz murmurou alto o suficiente para Elijah escutar, o nome parecia lhe trazer respostas. 

    — Então é você. Não se culpe pelas vidas que você tirou, é melhor que eles estejam mortos  do que vivos — Apesar de assustadora e bizarra, a voz não carregava nenhuma malícia ou hostilidade, o que deixava Elijah um pouco aliviado, mas a voz era estranha demais para ele conseguir relaxar. 

    — Eles não estavam fazendo mal a ninguém, por que eles mereciam morrer? — perguntou, sua voz embargada e mais alta do que o esperado. Ele precisava de alguma resposta que tirasse aquela sensação ruim de ter arruinado a felicidade dos outros.

    — Você salvou vidas matando eles. Aqueles goblins muito provavelmente já mataram pessoas. É isso que um herói faz: protege vidas, mesmo que para isso precise tirar a vida de outros. — A voz soou calma, e uma figura coberta por um longo manto negro surgiu da escuridão da floresta.

    — Eu vou te ajudar a sair daqui em segurança, Elijah — disse a figura.

    Elijah recuou o pé, pronto para correr. — Quem é você? Por que me ajudaria? —

    — Meu nome não importa. O que importa é a sua alma, o que ela realmente carrega. — A figura continuou, aproximando-se lentamente. A escuridão do manto parecia engolir a pequena esfera de luz que flutuava ao lado de Elijah.

    — Eu vou te ajudar porque você é uma peça. Uma peça necessária em um jogo muito maior. Você é o oposto: a luz que se manifesta onde há escuridão. E a escuridão se manifestará. Um dia, o mundo será engolido pelo caos, e a calamidade está mais próxima do que você imagina. — A voz ressoou, parecendo mais próxima do que realmente estava.

    — Com você por perto, sei que, mesmo se eu falhar, você cuidará do que virá. Com o tempo, você vai entender o que estou dizendo. Ainda há aqueles que o reconhecerão pela cor de seus cabelos dentro dos muros. Eles o saudarão assim que souberem quem você é e se prepararão para o que está por vir. Saberão que o verdadeiro problema que caminha por estas terras não sou eu. — A voz, carregada de frustração e um cansaço profundo, tinha uma determinação que fez Elijah se arrepiar.

    Elijah encarava o ser encapuzado, o coração acelerado enquanto a floresta de Tournand parecia se fechar ainda mais ao seu redor. A esfera de luz que flutuava ao seu lado tremia, como se sentisse o peso da presença do estranho. As palavras sobre luz, escuridão e um “jogo maior” o deixavam inquieto, mas ele não conseguia desviar o olhar do rosto escondido sob o capuz.

    — Você fala de destino, mas eu não quero isso — disse Elijah, a voz carregada de frustração. — Eu não sou forte o bastante para isso e não quero ter que matar mais seres vivos. Não pedi para ser parte de nenhum jogo!

    O ser inclinou a cabeça, sua voz fria ecoou novamente, como se muitas pessoas falassem ao mesmo tempo. — O destino não pede permissão. Você já foi escolhido, queira ou não. Venha. Há algo que você precisa, quer você aceite ou não.

    Antes que Elijah pudesse protestar, o ser estalou os dedos, e o mundo se dissolveu em um turbilhão de sombras e faíscas. Ele sentiu seu corpo sendo arrastado por uma força invisível, o ar crepitando com energia crua. Quando a realidade se estabilizou, ele estava em uma caverna. Cristais negros nas paredes pulsavam com uma luz vermelha, como se a caverna tivesse vida própria.

    — Como… Onde estou? — perguntou Elijah, os olhos fixos no orbe, que parecia pulsar com uma energia que fazia sua pele arrepiar.

    — Podemos chamar esse local de minha casa, guardo minhas pesquisas, artefatos e relíquias aqui  — disse o ser aproximando de uma estante. Ele apontou para um orbe — Ele será seu, quer você queira ou não.

    Elijah deu um passo para trás, o estômago embrulhado. — O que é isso?

    — Um olho mágico retirado de um caçador, o olho do Caçador de Sombras — disse o ser, a voz cortante como uma lâmina. 

    — Ele se fundirá ao seu olho direito. Com ele, você verá as fraquezas de qualquer inimigo, como rachaduras brilhando em sua forma. Poderá sentir a essência de qualquer ser vivo a quilômetros, como um pulsar em sua mente. E, em momentos de desespero, poderá liberar um golpe de mana pura, um raio de luz que pode atravessar até a armadura mais resistente. É o que você precisa para o que está por vir.

    Apesar da promessa de poder, Elijah só conseguia lembrar dos gritos de dor dos goblins que matara. Ele balançou a cabeça, o medo tomando conta. — Não! — exclamou, recuando. — Não quero isso! Não quero perder meu olho, não quero esse poder! Me deixe em paz!

    — Você não entende. O que vem aí não espera por sua vontade. — Sua voz carregava uma urgência fria, quase cruel. 

    — Sem isso, você morrerá, e com você, a esperança de muitos. Você é uma boa criança, tão pura que não deseja matar nem mesmo goblins, mas você não poderá permanecer assim por muito tempo. Graças ao seu sangue, você carrega uma enorme responsabilidade. 

    Elijah tentou correr, mas seres rápidos demais para seus olhos acompanharem saíram das sombras e agarraram seus braços, mantendo ele preso no lugar.

    Ele lutou, gritando, esperneando, mas o encapuzado ergueu o orbe, murmurando palavras em uma língua gutural. Chamas douradas explodiram com intensidade do olho mágico, e os cristais da caverna rugiram com uma luz vermelha. 

    Elijah sentiu uma dor lancinante em seu olho direito, como se uma lâmina de fogo o cortasse por dentro. Ele gritou, caindo de joelhos, as mãos pressionando o rosto enquanto a dor parecia rasgar sua alma. O mundo escureceu por um instante, e então, silêncio.

    Quando abriu os olhos, o mundo era outro. Seu olho direito ardia com uma luz dourada, e ele via traços de energia pulsando ao redor da figura negra, revelando pontos frágeis em sua silhueta, como rachaduras brilhantes. 

    Ele também sentia algo novo: um pulsar distante, como se pudesse perceber a presença de outros seres vivos além das paredes da caverna,  humanos, animais, até mesmo o leve brilho de magia em objetos com uma quantidade considerável de mana próximos. O peso daquele novo sentido era esmagador.

    — O Olho do Caçador de Sombras é seu agora — disse o mistérioso senhor, sua voz suavizando, quase como se estivesse sentindo piedade do garoto. 

    — Ele é sua arma e seu novo fardo. Você verá o que está escondido, sentirá o que se aproxima, mas também carregará o preço disso.

    Elijah, ainda ofegante, tocou o rosto, a sensação do novo olho como uma corrente de energia contida. — Você… me forçou a isso — murmurou, a voz tremendo de raiva e desespero. — Por quê? Quem é você para decidir meu destino?

    — Alguém que já viu o que você ainda não compreende — respondeu a entidade, impassível. — Eu vou te enviar para Tournand. Aconselho que não mencione nada sobre mim, não estou em boas relações com o reino neste exato momento.

    Com um gesto, o ar se contorceu, e Elijah foi tragado por uma torrente de magia. Quando piscou, estava diante do portão menor de Tournand. Seu olho direito, agora o Olho do Caçador de Sombras, revelava o mundo em uma nova luz. 

    Sentia o pulsar dos guardas, o brilho fraco de suas armas encantadas, e até o voo silencioso de um pássaro a centenas de metros de distância. A nova percepção era um peso esmagador, uma força que ele não desejava, mas que agora fazia parte de sua própria carne.

    Dominado por um arrependimento profundo, ele caiu de joelhos. Um grito de pura dor e desespero irrompeu de sua garganta, a plenos pulmões, até que o som se tornou um choro rasgado e inconsolável.

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