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    Na jornada em busca dos destemidos gêmeos, três dias se passaram enquanto avançavam em direção ao sul da cidade e, faziam pausas para descansar. Apesar dos inúmeros demônios encontrados pelo caminho, nenhum ousou atacar.

    Na quarta noite, decidiram acampar. Idalme preparava a fogueira quando Max, intrigado com a recente mudança em sua relação, aproximou-se para ajudar e perguntou:

    — Está acontecendo algo?

    O corpo dela congelou por um instante. Ela acreditava estar disfarçada bem, mas, aparentemente, não estava conseguindo. Um sorriso forçado se formou em seus lábios enquanto ela olhava para seu alvo.

    — Do que você está falando?

    Max observou cada movimento dela com atenção. Ao perceber o sorriso forçado, sua desconfiança só aumentou.

    — Desde que você retornou para o seu clã, seu comportamento mudou — disse ele, jogando mais lenha na fogueira. — O seu clã… eles não aceitam o nosso relacionamento?

    Idalme apertou a lenha com força, seu coração apertado, enquanto um turbilhão de pensamentos passava por sua mente.

    Você… você não entende o que me fez? Essa dor… esse sentimento que me corrói… dói demais… gostar de você… Eu te odeio!

    — Idalme?

    Ela o olhou por um momento, a expressão distante, antes de responder com um tom que não convencia ninguém, nem a si mesma.

    — Não se preocupe, não é nada.

    Ele não aceitou aquela resposta. Segurou sua mão, envolveu-a nos braços e a levou para outro lugar. No entanto, estando em um campo aberto, onde o capim mal ultrapassava os joelhos, era difícil encontrar um esconderijo.

    — O que você está fazendo?

    — Você? Não sei se notou, mas estás agindo de forma diferente. Achei que íamos superar as desavenças entre nossas famílias.

    Ela, ao ouvir, acalmou-se. Os outros membros apenas observaram enquanto o casal se afastava em direção a uma área onde o capim crescia um pouco mais alto que o restante. A lua, intensa naquela noite, ainda os iluminava, mesmo longe da fogueira.

    Max a colocou no chão e se aproximou. Seus olhos ficaram próximos aos dela, presos no fascínio do olhar verde que tanto o cativava. O olhar deslizava dos olhos para os lábios, e, pouco a pouco, os próprios lábios se aproximavam.

    Aguente firme, Idalme, é só um beijo… é só um beijo… pensou, enquanto seus olhos se fechavam e, tentava silenciar o turbilhão de emoções que a consumia.

    Max, sentindo que havia recebido permissão, tocou os seus lábios suavemente. No entanto, no exato momento em que os dois lábios se cruzaram, Idalme virou o rosto para o lado e, evitou o contato. Dentro de si, ela pensava:

    Droga… eu não consigo beijar… agora ele vai perceber o meu disfarce… eu preciso cumprir minha missão… mas… mas ele ainda… me excita demais.

    Ela com rosto virado por alguns segundos. Max nada disse, tampouco se afastou. Pouco depois, ela girou a cabeça novamente e encontrou seu olhar. Algo nele parecia diferente. O homem que antes a fitava com paixão já não estava mais ali.

    — Me diga, Idalme. O que seria isso? — perguntou, com um olhar sério e, exigiu uma resposta sincera.

    Cada vez mais insegura, tentou manter a calma, mas sua atuação estava falhando.

    — Não é nada… Eu nem sei o porquê fiz isso.

    Com um aperto firme no braço dela, respondeu, sua voz cheia de desconfiança.

    — Achas que sou idiota?

    Idalme, nesse momento, sentiu que Max havia se transformado diante dela — ou talvez, ele estivesse mostrando sua verdadeira face. Um sorriso amargo se formou por dentro enquanto ela pensava:

    Isso, esse é o você de verdade… um hipócrita que engana suas presas e as torna submissa. Eu cansei de você!

    Ele não deixou o silêncio durar muito.

    — Responda, o que seria essa rebeldia?

    Ela, forçando-se a controlar suas emoções, não deixou transparecer o que pensava.

    Obrigado, você me mostrou quem és. Agora, não terei mais pena do que farei. Senhor Max!

    Max a observava, seu olhar se tornava mais intenso.

    — Não vais responder?

    Ela desviou o olhar, tentando lutar contra a sensação de fraqueza que o corpo dela demonstrava.

    — Às vezes… o sentimento não é o suficiente para ter uma relação. Tens que seguir o teu caminho, e eu vou fazer o mesmo. — Ela havia decidido rejeitá-lo, mas seu corpo parecia traí-la.

    O que é isso, Idalme? Não tinhas acabado de decidir? Meu corpo… reaja!

    A observou em silêncio por um momento antes de se levantar de cima dela. Ele sorriu, um sorriso seguro, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.

    — Entendo. — Ele fez uma pausa, seu olhar ainda fixo nela. — Se o sentimento não é o suficiente, então farei você me amar perdidamente! — Ele estendeu a mão, oferecendo-lhe uma chance de ceder, mas com uma confiança implacável.

    Ao vê-lo, corou. Negava para si mesma, mas seu coração ainda pertencia a ele. Continuava perdidamente apaixonada, embora acreditasse que esse sentimento era apenas um efeito da droga do esperma que consumiu. Esse pensamento a fazia odiá-lo, mesmo amando-o.

    Tudo bem, vou jogar o seu jogo e te matar!

    Ela segurou sua mão e usou de apoio para levantar, ao andar em direção à fogueira e parou e disse com um olhar serio enquanto olhava para trás:

    — Tudo bem, vou jogar o seu jogo. Tente me deixar perdidamente apaixonada por você.

    — Eu prometo! — declarou, um sorriso seguro surgindo em seus lábios, como se já tivesse vencido.

    Ao retornarem para a fogueira, Max começou a cogitar se a família Zura se opunha ao relacionamento dos dois. Embora ambas as famílias tivessem firmado um acordo de paz e seu próprio pai houvesse se casado com a líder deles, algo parecia fora do lugar. A dúvida o corroía: haveria outro motivo para a forma como Idalme agia?

    No entanto, sem informações suficientes e sem a possibilidade de voltar à cidade naquele momento, restava-lhe apenas esperar.

    Ao chegarem, Dam permanecia próximo à fogueira, enquanto Izumi estava mais afastado, sentado sobre um pequeno monte. Ui repousava a cabeça em sua coxa, adormecido.

    Pouco depois, ele ergueu uma das mãos. Ui não reagiu, imerso no sono. Observando as próprias mãos com um olhar inquieto, refletiu consigo mesmo:

    Eu não consigo melhorar… a minha energia negativa, cada vez mais, me consome.

    Desde a luta contra Camion, a energia negativa dele dominava cada vez mais sua aura. Quanto mais utilizava suas habilidades, mais acelerava esse processo. Mesmo com o treinamento voltado para o controle, a mudança permanecia irreversível.

    A preocupação existia, mas não em um nível alarmante. Sempre viveu apenas com energia negativa desde aquele acontecimento tragico, porém, agora não queria perder essa nova parte de si. Percebeu que equilibrar ambas as forças tornava suas habilidades “Iz” mais poderosas. 

    No entanto, suas técnicas demoníacas, como “Sen To Ichi”, embora fortalecidas, não alcançavam todo o potencial devido à influência de sua aura.

    Os demônios, que normalmente o atacariam sem hesitação, agora o evitavam. Desde sempre, possuíam um instinto aguçado, diferente dos humanos, que não sentiam sua energia negativa na forma normal. Mas algo parecia diferente agora.

    Diante disso, Izumi iniciou uma meditação para compreender melhor essa conexão com os demônios. Acreditava que, ao desbloquear essa percepção, poderia até localizar aqueles que ocultavam sua presença.

    Apesar das preocupações com sua aura, um entusiasmo crescia dentro dele. Ficar mais forte era uma possibilidade real. Com os olhos fechados, um sorriso surgiu em seus lábios antes de gritar:

    — Mais forte ficarei!

    Dam, ao ouvir o grito, olhou para Idalme, confuso. Ela, rapidamente, colocou um dedo sobre a cabeça, indicando que Izumi estava louco. Sem trocar palavras, Dam compreendeu o gesto.

    Max, ao observar, balançou a cabeça em negação, desapontado com a atitude deles, mas não pôde evitar um sorriso discreto no canto da boca.

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