Índice de Capítulo

    O terreno ao redor havia sido consumido por uma explosão avassaladora, deixando para trás apenas barro e cinzas secas, como restos de uma terra antes sólida, agora reduzida a poeira.

    No centro daquela devastação, um homem jazia imóvel. Faltava-lhe uma perna e um braço, e seu corpo, dilacerado, mais se assemelhava a um amontoado de carne retorcida do que a um ser humano. 

    A pele, esfolada em várias partes, deixava à mostra músculos expostos e ossos fraturados. Sangue e barro se misturavam ao seu redor.

    Ainda assim, seu coração pulsava. Fraco, mas resistente, recusava-se a ceder à morte. Gradualmente, cortes se fechavam, músculos se recompunham, e a pele, antes rasgada, começava a se reconstituir. A cada instante, a figura antes irreconhecível adquiria traços mais nítidos.

    A pele, de um tom pardo, começava a se regenerar, e fios de cabelo emergiam pouco a pouco de seu couro cabeludo até revelarem um tom esverdeado. As vestes, embora em frangalhos, ainda deixavam pistas de sua resistência. 

    A jaqueta preta, agora retalhada, exibia marcas de destruição, enquanto as calças, feitas para permitir movimentos rápidos, estavam tão perfuradas e queimadas que levantavam uma questão: o que poderia ter reduzido a trapos tecidos capazes de suportar chamas extremas?

    À medida que o rosto se reconstituía, os traços voltavam a se definir, permitindo identificar quem era. Quando finalmente abriu os olhos, uma dúvida surgiu em sua mente:

    Estou vivo?

    Forçou a cabeça na tentativa de olhar ao redor, mas a dor ainda castigava cada movimento. Virou-se para a esquerda, encontrando somente o vazio de um cenário devastado. Com esforço redobrado, moveu o pescoço para o outro lado e, ao enxergar o que ali se encontrava, seus lábios se curvaram em um sorriso. 

    Um riso rouco escapou, fraco no início, mas ganhou força à medida que sua regeneração avançava, restaurando sua voz junto ao restante do corpo.

    — Eu venci!

    Embora seu corpo parecesse curado por fora, ainda faltavam partes essenciais. Com um impulso, ergueu o tronco, e então sua perna e braço ausentes começaram a se regenerar. A carne se formava do nada, como se estivesse sendo esculpida pelo próprio ar.

    Na extremidade, chamas ardentes dançavam enquanto a reconstrução prosseguia. Ao observar o processo, ele fixou o olhar na ferida em chamas e murmurou:

    — Lento, a aura desse jovem está atrasando demais.

    A energia negativa interferia no processo de cura e impediu que ele ocorresse normalmente. O mesmo se aplicava à aura impregnada nos demônios — quanto mais intensa, mais difícil se tornava a regeneração.

    Com essa compreensão, desviou o olhar para o corpo ao seu lado. Um sorriso discreto surgiu no canto de sua boca.

    — Se não fosse por isso… terias ganhado.

    O outro corpo jazia no chão. A pele, marcada por queimaduras irregulares, não parecia ter sido consumida pelo fogo comum, mas sim dilacerada por uma força que explodiu de dentro para fora. Ainda assim, as marcas eram menos numerosas do que as que cobriam o homem ao seu lado.

    O demônio, agora com o braço e a perna totalmente regenerados, ergueu-se. Seu olhar recaiu sobre Max, e, com a voz firme, declarou:

    — Poderia ter vencido se tivesse me finalizado, mas, cá está você.

    Ele observou por um instante o rosto de seu rival. A princípio, a felicidade tomou conta de sua expressão, mas, em seguida, a melancolia se instalou.

    — Uma pena que acabou assim. Lutar com você foi esplêndido! Orgulhe-se. No entanto…

    A mão de Léo começou a se incendiar, a pele vermelha como brasas, e chamas crepitavam ao redor de seus dedos. Ele se agachou lentamente, apontou para o rosto de Max, e, com a voz firme, disse:

    — Bom, é isso aí.

    No entanto, antes que o golpe fatal destruísse a cabeça de Max, algo inesperado aconteceu.

    — Você… — disse, incrédulo.

    A pessoa que o havia interrompido soltou sua mão e, encarando-o com firmeza, ordenou:

    — Afaste-se!

    Por instinto, Léo recuou, o corpo tenso, como se uma pressão invisível o forçasse a dar um passo para trás. No fundo, soube que, em seu estado atual, não teria a força necessária para vencer aquele ser. 

    A pessoa que havia chegado se aproximou de Max com uma calma desconcertante, seus olhos, frios e impassíveis, não demonstravam o mínimo sinal de emoção.

    Com uma suavidade delicada, ele pegou-o pelos braços. Ignorava o demônio completamente, como se sua presença fosse irrelevante, uma simples interrupção sem importância.

    Léo, no entanto, não podia tolerar aquele desprezo. Sentiu-se ofendido, como se sua existência e sua força fossem desconsideradas por completo. Aquela atitude, como se o inimigo dissesse que, mesmo sem os braços, ele nunca conseguiria derrotá-lo, o enfureceu profundamente. 

    Seu orgulho estava em jogo, e a raiva queimava em sua garganta. Com um grito silencioso, reuniu toda a coragem que podia e se preparou para lutar, determinado a não deixar que aquele insulto ficasse impune.

    Mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, o homem de olhos amarelos parou. Lentamente, virou-se, e os olhos penetrantes, encarou o destemido.

    — Tem certeza?!

    Naquele instante, Léo foi invadido novamente pela sensação opressora, uma pressão tão esmagadora que parecia que sua vida se esvaía só de estar na presença daquela pessoa. 

    A sensação de sufocamento aumentava a cada segundo, como se o simples fato de respirar perto dele fosse um desafio impossível de suportar. Sem conseguir lutar contra o peso daquela presença, ele abaixou lentamente a mão, a força que antes ardia em seus músculos agora desaparecia, substituída pela aceitação amarga da derrota.

    Em sua mente, um pensamento surgiu, claro e inevitável:

    Sozinho… eu não venceria.

    Léo, com o olhar distante, fixou os olhos na fortaleza ao longe. A dor e a frustração ainda o consumiam, mas a visão daquele refúgio o impulsionou a correr. Seus pés batiam forte no chão enquanto ele se aproximava, cada passo mais rápido, como se quisesse fugir da sensação de fracasso que o perseguia.

    Quando chegou, Idalme o avistou à distância. Seu coração apertou. Em sua mente, o pior cenário começou a se formar, uma série de pensamentos sombrios que ela tentava desesperadamente afastar.

    Max morreu?

    Idalme, que até aquele momento havia decidido abraçar seus sentimentos, se viu tomada pela dúvida mais uma vez. O amor que sentia por Max ainda queimava em seu peito, mas a realidade de sua situação a forçava a confrontar uma escolha difícil. 

    Com a morte dele, sua própria vida poderia ser poupada, assim como a de sua chefe e dos membros da linhagem secundária. A balança entre o que desejava e o que precisava fazer pesava enormemente em sua mente, deixando-a paralisada, sem saber qual caminho seguir.

    Isso quer dizer que minha missão foi concluída? Não é Idalme? Fique feliz… fique feliz…

    Léo olhou para ela, seus olhos fixando-se na expressão de medo que dominava o rosto de Idalme. O pavor estava evidente em seus traços, como se ela estivesse à beira de um colapso. Apesar da tensão e da angústia que sentia, o destemido não conseguiu evitar um sorriso. Com uma leveza que contrastava com a situação, ele lamentou:

    — Uma pena mesmo.

    Idalme, que o fitava com um olhar carregado de dor e confusão, não conseguiu mais controlar suas emoções. As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, caindo sem aviso, sem que ela tivesse a força para impedi-las. 

    Ela mesma se surpreendeu com a fraqueza de seu corpo, com a fragilidade da situação que a envolvia. A dor era tão grande que parecia sufocá-la.

    Max… a única pessoa que ela havia amado. E, ao mesmo tempo, a pessoa que ela sabia que teria que matar. O peso de sua missão, salvar mais de cem vidas, colocava a escolha à sua frente de forma cruel e implacável.

    Mas, no fundo, de seu coração, naquele instante, a ideia de perdê-lo a dilacerava de tal maneira que ela desejava, por um momento fugaz, que não houvesse escolha, que pudesse simplesmente escolher o amor. Mesmo que soubesse que tal escolha poderia condenar a todos.

    Max… eu… sinto muito…

    Idalme queria ter dito tudo o que sentia antes, queria perguntar sobre os sentimentos de Max, mas sentia que já era tarde demais para isso. As palavras ficaram presas em sua garganta, imobilizadas pela dor e pelo medo da escolha que precisava fazer.

    De repente, um estrondo cortou o silêncio, e Léo, olhou em direção ao som, não conseguiu acreditar no que via. Sua irmã estava estatelada contra a parede, o corpo completamente destruído, com uma ferida profunda na barriga que parecia devastadora. Seu coração disparou, e ele correu até ela, desesperado.

    Com a voz trêmula, ele se aproximou, ainda tentava entender o que havia acontecido:

    — Como assim? Você perdeu?

    Loi olhou para ele com raiva e, com uma voz carregada de frustração, respondeu:

    — Ela jogou sujo, eu não perdi.

    — Você com essa ideia de novo? Na luta, tudo vale! — explicou, um tanto impaciente.

    — Cala a boca… Eu não sou você! — Loi retrucou.

    — Deprimente — Léo comentou, mas foi ignorado.

    A destemida, agora focada, observava Ui se aproximando lentamente, com um sorriso arrogante no rosto.

    — Escute, Léo… Ganhe tempo. Ela é forte! — ordenou, os olhos fixos na adversária.

    — Sério? Não parece — respondeu com ironia.

    — Cuidado. Seus golpes têm veneno, podem te deixar lento… Enquanto isso, vou drenar todo o veneno imbuído em mim — Loi explicou, com uma expressão séria.

    — Entendo… Um que funciona em você, interessante — falou, sorrindo.

    Ui, que caminhava em direção a eles com calma, parou abruptamente e perguntou:

    — Já acabou?

    Léo, que estava mais perto, se aproximou de Ui. Com sua altura imponente, olhou para ela de cima e declarou:

    — Sua energia… Você é um demônio?

    — Ham? — respondeu com desdém.

    — Não é isso? — questionou, e então, com um olhar mais atento, perguntou: — Você é uma mestiça?

    Ui, com um sorriso rápido e malicioso, acumulou força em seu braço, como costumava fazer com as pernas. Num movimento ágil, golpeou o rosto de Léo com uma precisão brutal. Ele caiu no chão instantaneamente, atordoado, sem conseguir entender exatamente o que aconteceu.

    Olhando de cima, Ui exibia um sorriso arrogante, seu olhar cheio de desdém. Com uma calma fria, respondeu:

    — Sim! Eu sou uma mestiça!

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