Índice de Capítulo

    Os gêmeos se encontravam todas as noites, em segredo. Pela manhã, Loi mostrava-se mais alegre, e com isso, a mãe deixava de sentir culpa. Aos poucos, passou a sorrir mais.

    Duas semanas se passaram. Durante os treinos com o irmão, ela revelou maior domínio de suas habilidades. Era capaz de lançar rajadas de vento, ainda que inofensivas. No entanto, ver o olhar admirado dele, bastava para deixá-la contente.

    — Se continuar assim, você vai ficar mais forte! — declarou ele, levantando a mão para o alto.

    — Sim, vou ficar mais forte! — respondeu ela, imitando o gesto do irmão.

    Ambos riram juntos, mas logo depois, uma leve tristeza tomou o semblante de Léo. Loi, ao notar a mudança, perguntou com preocupação:

    — O que foi?

    — Amanhã, não vou poder vir. Meu pai disse que preciso estar presente numa reunião, e vai ter muita gente. Não sei se vou conseguir aparecer.

    Loi, com a mão no ombro dele, olhou-o com um sorriso tranquilo.

    — Tudo bem, eu aguento um dia sozinha.

    — Sério? — perguntou ele, a dúvida refletida no olhar.

    — Sim! — respondeu ela, sorrindo com confiança.

    — Promete?

    — Prometo. 

    Léo sorriu antes de partir. No dia seguinte, o tempo passou sem novidades, até que Liliete, que costumava voltar para casa à tarde, começou a demorar. Preocupada, saiu em sua busca. Vagou pelos arredores, mas não encontrou vestígios dela. A fortaleza parecia mais vazia do que de costume.

    Ao subir mais um andar, ouviu gritos vindo do alto. Curiosa, avançou pelas escadas. Perto das plantações, as vozes tornaram-se mais claras. Havia um grupo, e entre os gritos, ouviu-se repetidamente o clamor por morte.

    Ao atravessar as plantações e alcançar o jardim, Loi avistou uma figura sendo contida por dois homens. A cabeça da pessoa erguia-se enquanto gritava por perdão. Mais adiante, seu pai permanecia imóvel, segurando o irmão que chorava e lutava contra a cena diante deles.

    Do ponto onde estava, Loi não conseguia ver o rosto da condenada, mas aquela voz lhe era inconfundível. Sem hesitar, começou a correr. Ao notá-la de longe, o pai gritou:

    — Matem aquela criação nojenta!!!

    Lágrimas escorriam pelos olhos de Loi ao ouvir o grito. Vários membros do clã a notaram se aproximando e, com olhares sedentos de sangue, correram para capturá-la.

    Tomada pelo desespero, ela recorreu às próprias habilidades. Num impulso de vento, alçou voo. Do chão, todos a viram elevar-se, avançando em direção ao altar.

    — Quente? — perguntou uma das anciãs presentes.

    — Mãe!!! — gritou Loi.

    Liliete a fitou com lágrimas nos olhos e gritou para que fugisse. Mas sua filha já havia decidido — não deixaria a sua mãe para trás.

    Antes que conseguisse tocar o chão, uma lâmina de fogo atravessou o altar.

    Loi caiu. Ao levantar o olhar, viu o sangue escorrer sobre as pedras e a cabeça tombar. Não houve paralisia. Apenas fúria.

    Um vento violento irrompeu ao redor, como se respondesse ao grito silencioso em seu peito. Tudo ao redor foi lançado ao ar. Os membros do clã mais próximos foram arremessados para longe, como folhas em tempestade.

    Léo, ainda contido pelos braços do pai, explodiu em chamas. Naquele instante, todos presenciaram o fogo ascender ao seu redor, ao mesmo tempo que o vento que Loi despertou aos céus.

    Juntos, os dois avançaram com fúria cega em direção ao homem que executou Liliete. Gritavam, consumidos pela dor e pela raiva.

    O carrasco não teve tempo de reagir. Léo, veloz como um raio em chamas, o atravessou como uma lâmina de mãos nuas. O corpo tombou, inerte.

    Mas antes que Loi pudesse atacar, mãos a agarraram por trás. Foi contida — a vingança ainda incompleta em seus olhos.

    — Matem aquela criação! — gritou Leonardo.

    Léo ouviu os gritos, queria reagir, mas o corpo já não o obedecia. Caiu no chão, desmaiado.

    Enquanto isso, Loi era arrastada até o altar. Forçaram sua cabeça contra a mesma pedra onde ainda escorria o sangue da mãe.

    Com os olhos cerrados, aceitou o fim que se aproximava. Ao redor, as vozes clamavam por sua morte.

    Mas então, de repente, o silêncio caiu. Os gritos cessaram como se arrancados do ar.

    — Anciã Lai? — perguntou Leonardo.

    — Hehe! Uma habilidade interessante… — disse Lai, com um sorriso enigmático. — Abra os olhos, menina.

    Ao ouvir o silêncio repentino, abriu os olhos. Lágrimas ainda escorriam sem cessar, turvando sua visão. Diante dela, uma velha sorria — um sorriso sereno.

    — Menina, mostre-me sua habilidade novamente.

    — A minha habilidade… — Loi respondeu, a voz vazia, os olhos sem vida.

    — Sim, me mostre, e eu prometo que salvarei sua vida.

    — Eu quero morrer… — ela murmurou.

    — Tem certeza? O seu irmão ainda está vivo.

    — Irmão? Léo… Léo!

    Ela se levantou rapidamente do altar e correu em direção ao irmão. O coração batia acelerado, mas, ao vê-lo no chão, uma dúvida cruel a consumiu: não sabia se ele ainda estava vivo.

    — Então, menina…

    Loi se levantou, os olhos cheios de dúvida, e perguntou:

    — O meu irmão está vivo?

    — Sim, ele está, mas o efeito da sua habilidade o deixou assim. Logo ele acorda.

    — Verdade? — Loi perguntou, a incerteza ainda presente em sua voz.

    — Sim — respondeu à anciã.

    Sem dizer mais nada, usou a sua habilidade de vento ao redor do seu corpo. Lai curiosa, aproximou e colocou a mão no seu ombro e sorriu.

    — Lamentável, Leonardo — disse a velha, e, com um movimento rápido, nocauteou a menina, golpeando sua nuca.

    — Lamentável? Não entendi. Anciã Lai…

    — Ela é sua filha biológica.

    — Hahaha! Não sabia que a anciã Lai fazia piadas. Impossível, ela não pode ser minha filha. O sangue daquele clã asqueroso corre em suas veias.

    — Tem certeza, Leonardo? Você, que foi um dos poucos a enfrentar um membro daquele clã, deveria notar as diferenças.

    — O que estás insinuando, anciã Lai? — perguntou ele, a voz agora séria.

    — Os do clã do vento, eles manipulam o vento através de suas auras. Porém, essa menina… ela não tem a mesma peculiaridade. Nunca vi algo assim, mas é fascinante como ela consegue usar vento sendo do clã de fogo.

    — Membro do clã de fogo? Responda minha pergunta, anciã Lai.

    — Como és burro, Leonardo… ainda não percebeu? Não sentiu nada de diferente entre ela e os do clã do vento?

    — Diferencial? Não tem nada. Ela usa vento, assim como os daquele clã.

    — Agora entendi. Vocês, que têm facilidade em aprender habilidades simples, realmente não compreendem a complexidade das habilidades complexas.

    — Anciã Lai, mesmo sendo a senhora, não tolerarei essa falta de respeito. Esqueceu quem sou? Eu sou o líder deste clã, e o próximo a herdar as Leis.

    — E daí? No momento, sou uma das duas mais importantes do clã. Quem é você na fila? Um zé-ninguém, substituível por qualquer outro. Não se compare a mim, moleque. Enquanto você mamava, eu já estava batendo nos seus pais.

    Leonardo, em um momento de arrogância, abaixou a cabeça ao ver Lai aquecer o solo com suas habilidades, a terra abaixo dela fervia à medida que ela se concentrava.

    — Me desculpe. Poderia me explicar como ela é realmente minha filha? — perguntou, abaixando a cabeça.

    — Agora sim, se comportando como alguém abaixo de mim — respondeu à anciã, a voz carregada de desdém.

    Por dentro, ele fervia de raiva e desejava matar aquela velha. No entanto, sabia que não tinha poder algum para fazer algo contra.

    — Continuando. O diferencial dela em relação aos membros do clã do vento, é que o vento dela é quente.

    — Quente? — perguntou Leonardo.

    — Sim. Eu tinha minhas dúvidas, mas no momento em que toquei a sua pele e senti a circulação da sua aura… Ela não criava vento com a sua aura.

    — Impossível! — ele gritou, os olhos se arregalando de surpresa. — Não tem como fazer isso!

    — Por isso és burro — ela respondeu com desprezo. — Não tenho uma explicação exata para a sua habilidade. Mas pude sentir claramente as suas chamas sendo usadas. Minha teoria é que as suas chamas afetam o ar ao redor, controlando-o. Fascinante, não é?

    — Eu não acredito em você. Você deve estar mentindo… — disse Leonardo, os olhos agora cheios de arrependimento, como se tivesse começado a duvidar de si mesmo.

    — Tem certeza? Podemos fazer mais testes, ou você mesmo pode tentar.

    — Não pode ser… — ele murmurou.

    Leonardo, um homem de respeito, possuía habilidades com o fogo que eram verdadeiramente refinadas. Ele podia moldar suas chamas, tornando-as tanto frias quanto quentes, e o mais impressionante: podia torná-las palpáveis. Suas vestimentas, feitas inteiramente de suas próprias chamas, eram a extensão de seu poder.

    No entanto, naquele instante, uma memória o atingiu com força. Lembrou-se de quando sua filha tocou sua túnica. Naquele momento, sentiu um leve e fraco calor, algo quase imperceptível, mas, consumido pela raiva, não o havia processado. Agora, com clareza, ele percebeu o erro monumental que cometeu.

    — Leonardo — disse Lai. — Você a matou injustamente.

    Ele desabou no chão, incapaz de acreditar no erro terrível que cometeu. Seus olhos, agora nublados de dor, se fixaram na cabeça de sua esposa. Com mãos trêmulas, aproximou-se, a pegou e, com lágrimas ferventes, implorou para que ela voltasse. Mas sabia, lá, no fundo, que a morte era imutável, sem retorno.

    Um ano depois, consumido pela culpa e pela dor insuportável, Leonardo tirou sua própria vida.

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