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    Num movimento rápido e imperceptível, o exorcista desaparece da linha de visão de Azaael, esquivando-se das chamas negras lançadas em sua direção. Elas cortam o ar como uma meia-lua flamejante, engolindo o espaço à sua frente e marcando o início do confronto.

    A besta, imóvel por um breve instante, lança um olhar ao redor, movendo-o de um lado para o outro. Busca rastros de energia espiritual, qualquer indício que revele a localização de seu oponente.

    Rápido como um pirralho…

    No entanto, não encontra nada — nem mesmo um vestígio.

    Isso vai ser divertido!

    Sua mente ressoa em pensamento, enquanto as chamas que conjurou continuam a arder em volta, grudadas nos destroços espalhados pelo solo.

    O som crepitante que emitem é uma melodia sombria, um cântico do abismo. O ar que exalam é tão gélido que queima, rivalizando com a essência primordial das chamas da criação.

    — Ei!

    Finalmente se revela. Ele flutua no horizonte, sustentado sobre o vazio, de costas para o demônio. Seu dedo indicador está estendido, apontando diretamente para as costas do demônio. O vento sopra ao seu redor, brincando com os fios de seus cabelos, enquanto seu rosto exibe uma expressão audaciosa, uma eloquência carregada de despreocupação e desafio.

    Na mira!

    E com um único disparo, desencadeia sua ofensiva. Foi no exato momento em que o demônio se vira para encará-lo, que uma pressão violenta de vento irrompe de seu dedo, empurrando o ser para trás. Seus cabelos são lançados ao ar, e ele luta para manter o equilíbrio, cravando os pés em um esforço para não ser arremessado.

    Detritos voam em todas as direções, atingindo até mesmo o entorno de Gabriel, que observava a cena com olhos semicerrados, e o peso da dúvida crescendo em seu coração.

    Droga! Será que fiz a escolha certa? Esse maluco vai acabar se matando!

    As palavras quase escaparam de sua mente.

    Ele usou a ventania que gerou… para criar um feitiço…

    Azaael murmura em seus pensamentos, quase em descrença.

    Pela primeira vez, sente a humilhação de perder o equilíbrio. Porém, não se permite fraquejar. Forçando as pernas contra o solo, finca os pés com força, resistindo à pressão do vento que começa a ceder.

    E então, sua energia negra desperta. Ela flui de cima para baixo, um rio de trevas tão denso que parece dobrar a luz. No ritmo das ondulações, formas imponentes começam a surgir — dragões negros, forjados no caos absoluto. Suas silhuetas serpenteiam e rugem, carregando consigo a promessa de destruição.

    O caos manifesta sua essência, e ele, envolto por sua aura de trevas, se prepara para revidar com toda a força que o define como demônio.

    Então, como um míssil, dispara para frente, movendo-se com velocidade implacável. Sua figura é refletida nos olhos do exorcista, que encara a aproximação feroz dele.

    Em questão de milésimos, o impacto acontece. O punho da besta avança como um meteoro, mas, em um reflexo sobre-humano, Masaru ergue os braços para bloquear o golpe. O contato é devastador. O som de ossos se quebrando reverberou pelo ar como um trovão, enquanto o chão sob eles estremeceu violentamente, reagindo ao poder descomunal.

    Foi lançado como uma bala disparada, cortando o ar até ser arremessado aos confins do distrito.

    A explosão do impacto criou uma onda de choque que varreu tudo em seu caminho, destruindo estruturas e levantando poeira como um furacão.

    Gabriel, ainda assistindo à cena, sentiu seu coração pesar. A tensão em seu rosto revelava o conflito interno que o consumia.

    Por que estou deixando isso acontecer? Justo eu…

    Seu corpo deu um passo involuntário, mas hesitou, lutando contra o impulso de interferir. Afinal, aquele garoto, aquele maluco, era a única pessoa que conseguia dobrar sua determinação. Para ele, era mais do que um parceiro — era como um irmão mais novo.

    O silêncio foi quebrado com o som estrondoso de uma colisão à distância. O corpo do tal atingiu o que restava de um edifício, e a estrutura inteira desabou em questão de segundos.

    Uma montanha de escombros surgiu do desmoronamento, enquanto uma nuvem densa de poeira se espalhou pelo ar, envolvendo o local em uma atmosfera sufocante.

    — Azar o seu por ser apenas um humano! — Aterrizando.

    Estava certo de que o havia encurralado, até que percebeu uma fagulha de energia emergindo dos escombros. Num instante, a energia explodiu, reduzindo o amontoado de concreto a pó, desintegrando-o como se nunca tivesse existido.

    Surgiu ileso. Seus braços, antes quebrados, estavam praticamente restaurados, com apenas alguns arranhões. Uma luz intensa emanava de sua aura, conferindo-lhe uma presença imponente enquanto seus olhos se fixavam novamente na besta.

    — Belo soco! Mas agora é a minha vez!

    Suas palavras alcançaram os ouvidos da criatura, que as sentiu como um zumbido incômodo, perturbando levemente sua concentração.

    Como imaginei… Ele pode gerar luz e, com isso, se curar…, sua mente fria avaliando o oponente.

    E mais uma vez, o som de um crepitar ecoou no ar. Uma pequena chama negra começou a dançar nas pontas dos dedos da mão direita da entidade. Que sorriu com um ar predatório e lançou seu desafio:

    — Me acerte… antes que eu reduza você a cinzas, moleque!

    A aura dele fervia. E em um movimento sutil, quase imperceptível ao olhar de um mortal, Masaru agiu. Antes mesmo que o demônio pudesse completar seu próximo gesto, um raio de luz cortou o ar, indo em sua direção com velocidade implacável.

    Por reflexo, inclinou-se para a esquerda, escapando por um fio. Ainda assim, o calor do ataque roçou seu ombro, queimando sua pele e deixando uma marca corrosiva.

    Quando?

    O pensamento relampejou em sua mente enquanto seus olhos buscavam acompanhá-lo.

    E que, num piscar de olhos, já estava sobre ele, percorrendo uma distância inimaginável em questão de segundos. Um sorriso provocador estampava seu rosto enquanto o punho, envolto em energia cintilante, preparava-se para desferir o golpe.

    — Fortis et magnificatus! — bradou, e suas palavras ecoaram como um comando. A energia ao redor de seu punho irradiava força.

    O impacto foi devastador. Ao atingir o alvo, raios de energia explodiram em todas as direções, e uma onda de choque colossal varreu o distrito. Os edifícios ao redor tremeram, o solo rachou e, lentamente, o ambiente começou a derreter sob o calor e a pressão descomunais, como se todo o local estivesse prestes a sucumbir à tempestade que se formava.

    Percebendo a força do impacto, Gabriel saltou para trás, erguendo as mãos. Uma barreira de pura energia espiritual surgiu instantaneamente, envolvendo o carro e impedindo-o de tombar sob a pressão destrutiva do ataque.

    Eles liberam energia como loucos!, pensou, enquanto a intensidade do embate fazia o ar vibrar.

    À medida que a neblina começava a se dissipar, Masaru notou algo impressionante: seu golpe havia atravessado o braço dele. O demônio cerrava os dentes em fúria ao perceber que sua carne e ossos tinham sido evaporados, deixando um vazio grotesco.

    Mas aquele gesto, aquele momento de ferir o predador, era mais do que um ataque; era um desafio. E Azazel respondeu à altura.

    Naquele breve instante, uma visão terrível surgiu diante dele: o dragão. Suas escamas reluziam com um tom vermelho-sangue, cada detalhe emanando majestade e perigo. As asas imensas se abriram, imponentes, enquanto sua presença parecia preencher todo o espaço.

    Então, tudo desapareceu.

    Com um movimento ágil, o membro regenerou-se diante de seus olhos, como se o tempo retrocedesse.

    No instante seguinte, chamas negras irromperam do braço restaurado, explodindo como uma fera libertada de sua jaula. A intensidade era abissal, e as labaredas cresceram, alcançando os céus. Era como o rugido de uma besta, ameaçando consumir tudo ao seu redor. Pego de surpresa, sentiu o calor opressivo e a força das chamas o envolverem, forçando-o a reagir rapidamente enquanto o fogo se espalhava, devorando o ar e escurecendo o horizonte. Mas, saltando para trás, escapou por pouco, mas as chamas astutas alcançaram as pontas de seu sobretudo, deixando seus dedos queimados. A carne exibia marcas enegrecidas pelo breve contato, um chamuscar que se extinguiu tão rapidamente quanto começou.

    Sua aura brilhou mais uma vez, e com um salto, ele evitou um novo ataque: um enxame de chamas negras que devorou tudo no lugar onde estava há instantes.

    Desta vez, porém, ele sentiu a diferença. As queimaduras em seus dedos não cicatrizavam.

    — Chamas negras são o ápice do domínio das trevas. Não há como regenerar o que foi atingido, rapaz!

    Observando-o com um olhar perscrutador, Azazel sorriu, convencido.

    Um silêncio carregado preencheu o ambiente, mas logo foi rompido por uma risada insana que escapou do exorcista. O som de sua diversão distorcida ecoou no ar.

    — É mesmo? Que coisa fascinante! Então acho que vou precisar mudar minha estratégia.

    Deu alguns passos para trás, seu olhar afiado como uma lâmina, enquanto o sarcasmo cedia espaço para uma faísca de determinação.

    Eu não fazia ideia de que essa coisa era tão poderosa!

    — Estratégia? — Ironiza com um tom desdenhoso. Em resposta, ergue a mão e conjura mais uma vez as chamas negras. Mas desta, as chamas se moldam, solidificando-se em uma espada abissal.

    — Mostre-me o que você tem, porque eu certamente mostrarei tudo o que *sou* capaz! — Arqueando as costas, enquanto empunha a arma sombria com um sorriso cruel.

    — Certo! — Exclamou, soltando um suspiro profundo, como um boxeador prestes a enfrentar o próximo round. Ele firma os pés no chão e ergue os punhos à frente do rosto, em postura defensiva.

    O vento agita seus cabelos, levantando detritos no ar. O zumbido do ambiente é quase contemplativo, um prelúdio silencioso. Então, sem hesitação, os dois se lançam um contra o outro.

    Azaael, empunhando a lâmina formada pelas trevas — uma espada longa, de lâmina profunda e cortante, reminiscente das espadas medievais.

    Cada golpe que desfere é um arco mortífero de destruição, capaz de partir qualquer coisa ao meio.

    Mas o exorcista, com agilidade sobre-humana, desvia. As trevas que se desprendem da espada cortam o ar perto de seu rosto, deixando rastros mortais.

    A luta se transforma em uma dança, uma coreografia onde cada investida demoníaca ameaça esgotar o fio de sua vida. Ainda assim, mantém a concentração, os olhos atentos, buscando desesperadamente uma brecha no turbilhão sombrio que o cerca.

    Desfere socos e chutes, mirando o peito e o rosto da entidade. Contudo, cada ataque é bloqueado pela lâmina sombria da entidade, que responde com contra-ataques, explorando cada abertura deixada pelo exorcista.

    Até que, em um instante de vantagem, Azaael encontra a oportunidade perfeita. Com um movimento ágil e letal, sua lâmina finalmente rompe a defesa. A espada penetra a carne do exorcista, rasgando músculos e ossos, até ser interrompida pela rigidez de sua estrutura, impedindo que atinja a cabeça ou o peito.

    — O que foi? Perdeu a adrenalina? — Zomba, um sorriso cruel curvando seus lábios. Ele pressiona-a com força, empurrando-a ainda mais. — Vou te partir ao meio, como um animal abatido!

    Suas veias se destacam, pulsando com energia sombria, enquanto reúne toda a força que possui para o golpe final. O ambiente parece tremer sob o peso de sua intenção, enquanto a luta atinge um momento crítico, cada segundo carregado de tensão.

    — Grr… — rosna, enquanto a lâmina se aproxima perigosamente. Num movimento desesperado, ele ergue a mão esquerda próxima ao braço quase partido. Com destreza e maestria, utiliza o controle sobre a água presente em seu próprio sangue para criar um jato que perfura seu corpo de dentro para fora, atingindo diretamente o rosto da besta.

    — O que foi que você disse? — Saltando para trás, escapando do alcance do inimigo.

    O sangue escorre de seu corpo, tingindo o chão e os destroços ao redor de vermelho vivo. Seu braço, fraturado e quase arrancado, balança inutilmente ao lado do corpo.

    E o demônio também recua por um momento, com metade de sua face desfigurada pelo ataque. Mas um sorriso selvagem e manchado de sangue logo se forma em seus lábios. Firmando sua lâmina com vigor renovado, ele avançará novamente.

    — Maldito pirralho!

    Mas enquanto a batalha prossegue, sente uma nova energia emanando de seu oponente, um adversário digno começando a se revelar diante de seus olhos.

    — Você é dos bons! Não ouvi um único lamento de dor! Me diga, qual é o seu nome, hein?

    O garoto suspira; o cansaço e a adrenalina se misturam em seu semblante. Mas um sorriso perturbador toma conta de seu rosto, e seus olhos brilham com uma loucura desafiadora.

    — Não precisa saber meu nome! Só que eu sou o exorcista mais forte!

    O embate é entre os únicos que encontram prazer na realidade distorcida deste mundo. Um duelo de suicidas, amantes da demência que a própria existência insiste em proporcionar.

    Já no distrito de Saisho, o primeiro…

    Do outro lado de Nova Tóquio, uma van cinza-escura, um modelo antiquado e discreto, mas ainda comum nas rodovias da vasta metrópole, estacionou em frente a um prédio abandonado. O edifício, desgastado pelo tempo, tinha suas paredes cobertas por videiras e marcas da decadência urbana.

    — Sete mil ienes… — murmurou Romero, saltando da porta traseira do veículo com agilidade, uma mala pendendo de seu braço direito.

    — Foi o máximo que consegui neste distrito, chefe. Os outros pediam informações demais… — respondeu outro, de cabelos roxos, vestido como um gótico, que saiu do banco do motorista para acompanhar o exorcista. Seu tom carregava um traço de nervosismo. — Você odiou, não foi?

    Seu chefe lançou-lhe um olhar rápido, quase indiferente, antes de responder:

    — Está bom, Sr. Milk… — Ergueu os olhos, observando o prédio do térreo ao terraço. Sua voz assumiu um tom pensativo e enigmático. — Assim como este mundo, é temporário…

    Sem dizer mais nada, avançou em direção ao prédio. O homem de cabelos roxos hesitou por um momento, encarando-o com algo que ia além da admiração, quase uma paixão silenciosa, antes de segui-lo para dentro da estrutura decadente.

    Estavam tramando algo…

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