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    Na noite passada, Amai suspirou pesadamente ao entrar na sala de reunião improvisada. O cheiro de poeira misturava-se ao leve aroma de suor impregnado nos tatames desgastados daquele antigo dojo escolar. A iluminação era fraca, com uma única lâmpada piscando no teto, projetando sombras inquietantes nas paredes de madeira rachada.

    Contra a parede, seriam as camas para mais sobreviventes, se houvesse…

    Ali estavam Mohamed, Rimuru e Matteo, postados como estátuas, a expressão de cada um moldada pela tensão e preocupação.

    Caras feias…

    Pensou a garota.

    Esses três eram a Neo Ordem, outra resistência contra o genocida. E que ao lado deles, um pequeno grupo de exorcistas se uniram — oito destemidos, desertores de uma verdade que já não lhes oferecia esperança.

    O silêncio pesava como um véu sobre o ambiente, denso e sufocante, até ser rompido pela voz hesitante, quase um sussurro da ruiva:

    — Pai…?

    Rimuru ergueu o olhar na hora, seus olhos carregando o peso dos problemas. A fadiga transparecia em cada traço de seu rosto, em cada fôlego que parecia mais pesado que o próprio corpo.

    Não dormia há dias…

    — Fale… meu amor.

    Ela mordeu o lábio, hesitou por um instante e, então, se jogou sobre um sofá empoeirado, sentindo a poeira subir.

    — Ehr… não trago boas notícias — Seu olhar vagou pelo chão, buscando palavras que não pareciam querer sair. — Aija está em pedaços. Está difícil achar até mesmo insetos vivos! — E então, ganhou força. Ergueu os olhos para os demais, as palavras se transformando em um fio de desespero. — Não há quem salvar…

    E, mais uma vez, o silêncio se instalou — sufocante, cruel. Esse visitante indesejado que insistia em permanecer nas conversas, espreitando entre as palavras não ditas, tornando tudo ainda mais pesado.

    Discussões difíceis demais, vidas entrelaçadas, sonhos suspensos no fio da incerteza. No fim, tudo dependia de palavras, de perguntas que talvez não tivessem resposta.

    E por fim, inspirou fundo, os ombros subindo e descendo como se carregassem o peso de uma geração inteira.

    — Eu sei! — Admitir doeu.

    Mas no mesmo instante Mohamed apertou os punhos, a mandíbula trincando. E Matteo, ao fundo, manteve a expressão tensa.

    — E o pior é que isso tudo não terá fim… não tão cedo — prosseguiu, o tom grave. — Segundo um informante, Seiji atacou Yokohama. Dizimou milhares. Tomou o império e agora… está enviando assassinos para cá.

    — Como assim? — Se endireitou no sofá, o coração disparando. — Assassinos? Enlouqueceu?

    — Não! — Matteo finalmente se manifestou, cruzando os braços. — Ele está lúcido até demais. Somos inimigos, desertores. E os únicos capazes de detê-lo!

    E fez uma pausa, inclinando a cabeça ligeiramente para ela.

    — É como pensar em um tigre diante de outro grande predador… um leão. Apenas um dos dois pode comandar.

    — Mas nós não queremos liderar nada! Né?

    Mais perdida que cego em tiroteio.

    — Não, mas essa não é a questão — Mohamed interveio, a frustração escorria — Ele cometeu um genocídio. Foram milhares… não apenas mortos por energia negra, mas no meio dos combates. Assassinados a sangue frio!

    A raiva transparecia em cada sílaba, quase um grito.

    Mas ainda sim clamava por calmaria!

    — Parece que estou olhando novamente para o inferno…

    Comentou baixo.

    Aquela realidade — guerras incessantes, um ciclo sem fim de sangue e cinzas — apertava seu peito como um laço invisível, sufocando-o.

    — E com a gente fora do jogo… O que seria de Regnum e Shamo…? Seiji teria o mundo aos pés!

    — Não teria! — interrompeu.

    Seu olhar se perdeu por um instante, como se analisasse peças de um tabuleiro.

    — Na verdade, estaria à beira de um colapso. O apocalipse está batendo à porta… Esse bosta está tramando algo além disso. Não faria algo assim sem um propósito!

    Todos o olharam como se tivesse perdido o juízo.

    — Como assim!? — Matteo riu, nervoso, passando a mão pelos cabelos desgrenhados.

    — Um embate entre nós só serviria para enfraquecer o que já está fraco. Ele acabaria com o que restou da Ordem e pronto! Os demônios só precisam conquistar os destroços!

    Somente as lascas flutuando sobre o mar.

    — Seiji aliado dos demônios? — zombou, mas havia mais hesitação em sua voz do que dúvida. — Quando? Ele é o líder da Igreja de Elum!

    — Parece absurdo — seu fiel colega concordou, rangendo os dentes. — Mas faz sentido!

    — Faz sentido demais… — subitamente pálida. Seu coração bateu forte, uma conclusão se formando antes mesmo que conseguisse verbalizá-la. — Ele teria que ter planejado tudo!

    O silêncio na sala ficou insuportável.

    — A morte de Kyotaka… — sua voz fraquejou. — A invasão…

    Seus olhos se arregalaram.

    — A maldita invasão…

    Xeque-mate.

    Foi como um clarão que dissipou a névoa.

    — Invasão?

    — Sim. Quando Rasen invadiu a zona de contenção, esse maldito, ainda estava no comando, e reduziu em menos de um terço o número de exorcistas em guarda. Deixou corredores inteiros sem vigilância. No exterior, apenas quatro guardas… e todos os dispensados eram grau IV ou superiores. Não é estranho?

    — Pensando agora…

    — Além disso, reduziu as buscas pelos grupos dos Iluminados e deixou tudo nas mãos de Hugo, que, como esperado, não fez nada! — indagou-o, franzindo o cenho. — Mas… como isso se conecta com os demônios?

    — O ataque. Não estou dizendo que os Iluminados fazem parte do mesmo grupo dos demônios, pai, mas pense bem… uma ferramenta só é útil quando está sendo usada, não? — A voz dela tinha um peso cortante, e a pergunta martelou em sua própria mente. — Quem sobreviveu? Quem pegou o Cubo?

    — Rasen… — O nome que foi pronunciado quase como um sussurro, carregado de inquietação pelo seu pai. — Ehr… isso tudo parece um jogo… muito grande, imenso…

    Houve um momento de hesitação, antes que ele murmurasse:

    — Me sinto como uma barata tentando entender…

    — E o que somos, então? — Matteo se jogou na cadeira, atrás da mesa, exausto, passando as mãos pelo rosto. — No fim, se tudo isso for real… tudo o que fizemos foi dançar no baile que ele orquestrou. Ele já matou Kyotaka, já venceu em Aija, e agora…

    — Podemos vencer! — interrompeu, com determinação no olhar. — Se conseguirmos alertar os cães dele… ainda há uma chance. O que acham? Devemos falar com o grupo de Zuri?

    Ficou no ar até que Rimuru ergueu-se, firme, e consigo uma decisão.

    — Acho que não há plano maior ou melhor! — declarou, hasteando a bandeira da resistência. — E você, meu amigo… será quem irá avisá-la!

    Deu um tapa firme nos ombros do escolhido, um gesto mais de encorajamento do que de imposição. Precisavam manter o ânimo, mesmo que fosse por pura teimosia.

    — Ehr… eu? — A seriedade do momento esvaiu-se no choque.

    — Isso mesmo! Vai falar com sua idola!

    A piada atravessou a tensão como uma lâmina afiada, arrancando risadas de ruiva, que há tempos não ria.

    Mas hora ia e hora voltava… E os líderes saíam um de cada vez… até que… quando todos se dispersaram, restaram apenas pai e filha.

    Finalmente, poderiam falar sobre… suas vidas. Afinal, quanto tempo ainda teriam?

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