Capítulo 274 - Os cavaleiros negros
E como tudo foi?
Um dia antes.
Assim que os pombos trouxeram notícias de seu informante fantasma.
No calabouço do palácio, Seiji estava diante de oito exorcistas, dos quais dois seriam futuramente enviados. Ele os havia convocado para uma reunião estratégica.
— Miyazaki não vem? — perguntou a um dos jovens, um rapaz de pele parda e cabelos cacheados, tão claros que seu castanho quase parecia loiro. Ele era um dos poucos que suportava seu filho e, na maioria das vezes, o acompanhava.
— Não, senhor… Ele me pediu para contar quando tudo terminasse… O importante…
Aquilo arrancou mais um suspiro de decepção, mas ele já estava acostumado — seu filho lhe dava mais dor de cabeça do que alegrias. A verdade era que, entre os dois irmãos, ele era inegavelmente o escolhido, o menos pior.
— Certo…
Olhou ao redor. Seus rostos estavam iluminados pelas tochas penduradas na parede, já que não havia mais usinas de energia em funcionamento. Estavam em um salão amplo, com sofás confortáveis e, pelas garrafas de vinho nas prateleiras, parecia servir como uma espécie de sala de degustação.
Um espaço que pertencera ao imperador anterior ao agora deposto de seu trono, onde realizava suas orgias e festas hedonistas.
— Bem, para começar, gostaria que mantivessem em sigilo tudo o que direi a seguir…
Todos ficaram apreensivos no momento em que ele falou, mas sabia que acabariam ignorando essa ordem. Afinal, eram oito de seus alunos e nem todos eram fiéis a ele. Embora, para ser justo, Gabriel e Romero também fossem seus alunos — e justamente os que mais o odiavam.
— Quero eliminar a corja que se ergue como meus opositores! — declarou com fervor. — Dizem que são a resistência, mas resistência contra o quê? Contra um mundo livre do mal? A favor dos imperadores que só pensam em ouro?
Sua mão bateu firme contra o peito, reforçando sua convicção.
Alguns estavam de acordo. Afinal, se matavam por algo, que fosse por um ideal… ou talvez fossem apenas seus cães fiéis, lobotomizados.
— Mas, senhor… — resmungou uma garota de cabelos pintados de azul e olhos escuros. — E as leis da ordem? Vamos ignorá-las? Um desertor não é um inimigo… e se uma resistência, não apelar para uma força maior, ainda é…
— Acha que vou esperar que ataquem primeiro? — Seu olhar era como o de uma águia, velha e calejada pelas experiências da vida. — E, além disso, do que adianta todo esse esforço e matança, se no final nada mudar? Eles estão presos ao passado, minha querida. E nós não podemos deixar isso continuar!
— Mas… matar? — esbravejou um jovem regniano. Seu cabelo era branco como seus olhos. — Nossos… irmãos?
— Mas todos nós somos irmãos… Não sejamos hipócritas. Matamos homens hoje, não cachorros… e continuamos matando. Assim como foi feito com os Iluminados. Ou eles não foram mortos? — O questionamento pairou sobre todos, pesando como uma lâmina prestes a cair.
Ele então continuou:
— Pois bem, quem concorda ficará e será chamado de Cavaleiro Negro.Não é o melhor dos títulos, mas esta será uma era sombria… como tantas outras que já tivemos. E vocês terão de eliminar os rebeldes. Se saírem agora, estarão se tornando desertores!
Ele esperou após dizer isso. E nenhum deles saiu.
Covardia? Talvez. Loucura? Talvez.
— Ótimo… — Ele começou a caminhar entre eles, pousando a mão sobre os ombros. — Por favor, não pensem nisso como algo nobre. É um fardo… mas vale a pena.
Com essas palavras, encerrou. Ou talvez apenas prorrogasse o inevitável. Dividiu-os em quatro grupos, os que seriam enviados para Nova Tóquio.
Eles sabiam que não tinham chance contra três Celestes.
Por isso, sua estratégia foi baseada no reconhecimento… e na covardia. Dois contra um — o método mais eficaz para anular uma vantagem de força.
Quer dizer, na maioria dos casos. Era nisso que apostavam…
As coisas iriam ferver. Mas o caos não se limitava a um só lugar…
Alguém já avançava pelas terras geladas.
Fazia menos três graus naquele dia — o mais quente em mais de novecentos ciclos. Um tempo em que o mundo era mais bárbaro… e menos “fácil” de sobreviver.
E das águas profundas, Arthur emergira, encharcado, alcançando o litoral de seu país natal. Seus pés afundaram na areia enquanto carregava consigo a morte de inúmeros peixes, que eram arrastados pelas ondas até a costa.
A água do mar fervia…
Seus punhos estavam firmes. Agora, ele não era mais uma esponja que absorvia a dor. Era aquele que a devolveria.
Tão decadente é o herói que finalmente enxerga o mundo como ele é…
Novamente ali, em Reichsburg.
A terra das pessoas de cabelos dourados e olhos azuis como um lago puro. Onde ele era apenas mais um…
E, diante da imponente paisagem dos arranha-céus à beira-mar, onde apenas os ricos e afortunados chamavam de lar, viaturas da polícia avançavam com sirenes cortando o silêncio. Helicópteros rasgavam o céu, suas luzes varrendo as ruas. Ele fora um intruso.
Pois era a lei. Aijianos, exorcistas… Todos agora eram rotulados como terroristas ao cruzarem a divisa marítima.
Boas ou más intenções não faziam diferença. Para eles, uma única laranja podre bastava para macular seu mundo “perfeito” — e isso, simplesmente, não seria tolerado.
Pena que…
Ergueu o olhar para o céu, a expressão fria e inabalável. Não viera para passear nem para se maravilhar com os belos pontos turísticos.
Apenas viria para reviver seus traumas.
E, enquanto refletia, a imagem da dama de cabelos vermelhos cravou-se em sua mente como uma droga viciante—sua dopamina para fazer mal ao mundo.
Estava a instantes de ser dilacerado por uma metralhadora ponto 50. Os oficiais, protegidos atrás de carros e muretas, viram os habitantes soltarem gritos desesperados ao se lançarem em fuga pelas ruas.
O azar era que a velocidade do exorcista era um abismo intransponível.
Num piscar de olhos, um vendaval tomou forma em suas mãos, e o helicóptero foi lançado pelo ar como um mero brinquedo. Mal houve tempo para que caísse ou tentasse se estabilizar.
Desviou dos tiros… um por um.
Em questão de segundos, todos estavam desarmados.
Foi sutil. Vil. O mundo ao seu redor desacelerou, como se tudo se movesse em câmera lenta.
Um rastro de fogo se estendeu da areia até a grande via praiana. Vinte e sete oficiais assistiam, impotentes, enquanto suas balas caíam inofensivas aos seus pés e suas armas eram lançadas à areia.
— Foi mal, mas não tenho tempo! — bradou, o olhar fixo no horizonte.
Seguiria adiante. Mesmo que, no fundo, estivesse retrocedendo…
Mas, espera… essa avalanche de sentimentos… por quê?
Por que ele era assim?
Como um herói podia carregar um sentimento tão retorcido? Tão profundo que nem o amor conseguiu curá-lo—apenas varreu-o para debaixo do tapete.
E agora? O que estava prestes a tirar…?
Quando atravessou metade da cidade e chegou à adega da família, viu a pessoa que mais odiava. Mais do que o próprio demônio que matou sua amada.
— Pai…
A palavra fez Morgan Lewys paralisar. Por um instante, viu novamente o garoto que assassinara.
— Arthur?
Estava atrás do balcão, como sempre. Ainda gerente, caixa e dono. Um pão-duro miserável. Ninguém o suportava, e a ausência de qualquer um de seus irmãos ali só confirmava isso.
— O que está fazendo aqui? Já não disse que não te quero mais nesse lugar? Cacete! — A voz saiu grossa, carregada de desprezo, mas fraquejou ao vê-lo dar um, dois, três passos—e já estar em cima de si.
— É? Pensei que estivesse com saudades. Não estava?
Foi a única coisa que conseguiu dizer. Mas seus olhos… seus olhos eram os de um assassino—gélidos, implacáveis, carregando uma fúria que o tempo não apagou, apenas refinou.
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