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    Os dois desapareceram de sua frente, como se tivessem sido levados à completa inexistência.

    Diante desse evento, Romero caiu de joelhos, incrédulo, e soltou um suspiro profundo.

    — Que diabos aconteceu aqui?

    Suas palavras inundaram sua mente com uma torrente de perguntas: por quê, quem eram… Então, uma luz irradiou. E ele estava vivo — não por causa de seu anjo da guarda, mas por um demônio…

    Aquele demônio.

    E, diferente do iluminado — abençoado com a salvação da inconveniência —, Hideki caiu sobre a terra de um deserto frio, sem qualquer sinal de vida, nem mesmo resquícios de vegetação morta, debatendo-se contra o chão. Surgiu de uma fissura no espaço-tempo, junto a Asmael, aquele que o havia trazido até ali.

    Sua mente levou alguns instantes para se recuperar da viagem, na qual haviam atravessado inúmeras dimensões espaciais e tempos distintos.

    Uma sequência brutal de informações o golpeou.

    Com a vista turva, viu aquele instante se projetar como uma imagem instável, enquanto sentia a realidade desabar sobre seu ser.

    E, com esforço, ergueu-se do chão.

    Sangue escorria de seus lábios e olhos.

    — Merda! — praguejou, com os joelhos e as mãos ralados. Ao abrir a boca, o ar lhe faltou, e seus olhos se encheram de veias.

    Onde estava, não havia oxigênio. Tentando compreender o local em que se encontrava, notou a ausência de um firmamento. Viu um céu negro e profundo, o espaço claramente visível, com ilhas flutuantes na infinitude e brilhos intensos no horizonte.

    — Onde… você… me trouxe… — murmurou, com as mãos apertando o próprio pescoço. Veias pulsavam por todo o seu corpo, e suas palavras saíam entrecortadas pela asfixia.

    Então, começou a cambalear.

    Suas mãos agarraram com força o terreno, duro como diamante, enquanto tossia violentamente.

    — Onde? Ora, estamos a bilhões de quilômetros de Crea… duzentos e oitenta e um ciclos atrás… — respondeu com tranquilidade, pisando a poucos centímetros de distância. Em seguida, agachou-se e segurou o queixo dele. — Sei que foi você… o humano que fez pacto com Bezeel. Você não faz ideia da merda que causou ao libertá-lo de seu castigo! — determinou, repleto de ódio.

    — Be… zeel? — tentou dizer.

    — Por sua causa… minha filha… foi vítima da fúria de Luciel. Minha princesa, presa em um tempo ao qual mal consigo alcançar sem sofrer! — O olhar outrora sereno ardia em ódio. Então, desferiu um soco, liberando todo o estresse contido. A pressão do golpe fez o espaço ao redor tremer — esse era o poder de um rei demônio.

    Ondas de choque reverberaram pelo vazio, poderosas o bastante para influenciar outros astros, empurrando-os levemente em suas órbitas distantes.

    O sangue do humano jorrou sobre o deserto. Hideki desmaiou, com o maxilar quebrado, quase arrancado, e começou a agonizar. Seu corpo por pouco não foi desintegrado, mas as trevas de seu demônio interior o salvaram de uma morte instantânea.

    — Sua sorte é que esse bastardo dentro de você vai te manter vivo.Pelos meus cálculos, infelizmente, vocês dois só vão desaparecer daqui a centenas de anos! — determinou, com desprezo. Virou-se de costas, e um suspiro de alívio escapou de seus lábios. — Aproveite bem… e não se esqueça de agradecer a ele por tê-lo separado de sua filha…

    Então, um portal surgiu à sua frente. Não precisou entoar palavra alguma para conjurá-lo — uma espiral negra que se formou, e, com um único passo, atravessou-a e desapareceu.

    Era uma manifestação conhecida como ligação mútua: ao viajar no tempo, pelos galhos da grandiosa existência multiversal, criava-se uma conexão permanente com o mundo visitado, permitindo transitar entre espaços-tempos de forma natural.

    O limite? O tempo seria sempre o presente da última ramificação visitada.

    Dali, deu mais um passo adiante — e logo estava sobre outra ilha deserta, cercada por um litoral belíssimo, digno de um cartão-postal, não fosse o véu nublado que cobria os céus.

    Ali, outro demônio o aguardava: possuía escamas verdes nas costas, uma cauda de peixe acima do cóccix e chifres longos e pontiagudos. Estava voltado para o mar, contemplando aquele paraíso isolado, tão distante dos três continentes.

    — Romero está salvo. Bezeel está em seu novo castigo. Agora é só aguardar, meu irmão… você e Gael serão os próximos a agir!

    — Próximos…

    Seus sussurros eram como os cânticos das gaivotas. Incômodos…

    — Acha que está pronto?

    Foi então que o fitou de lado, com os olhos vermelhos.

    — As marés estão boas, então… se a natureza me diz que sim, sim!

    Suas palavras soaram como um ultimato — como um protesto lançado diante do prédio da Ordem Espiritual.

    Milhares de vozes ecoavam em uníssono, erguidas por mãos calejadas que tremiam de dor e raiva. As placas balançavam como bandeiras de guerra — ‘A Ordem não me serve’, ‘Genocídio não é exorcismo’, ‘Queremos humanidade!’ — cada palavra, um grito sufocado por décadas de silêncio.

    Yami e Amai chegaram após dobrarem na Avenida Mae e, ao estacionarem o carro diante da multidão que bloqueava a Avenida Ekibyō, rapidamente leram as mensagens estampadas nas placas.

    Ódio. Um sentimento de injustiça…

    Tudo convergia para a importância daquele ato. Por mais que protestos fossem comuns ao longo das passagens, aquele carregava um peso diferente.

    Helicópteros da mídia e das autoridades cortavam os céus. Velhas discussões ressurgiam, escritas em giz no asfalto ou pixadas em paredes e carros: “A Ordem protege monstros, não pessoas!”, “O que aconteceu com a promessa de paz?!”

    — Cacete… quanta gente…

    Aquele amontoado era sufocante. Claustrofóbico, para ele…

    O ambiente era o mais incômodo possível.

    “Segundo as autoridades, o protesto já conta com mais de 27 mil aijianos…”

    Ecoava uma voz feminina no rádio do carro. Mas a garota o desligou imediatamente.

    — Caramba… a coisa está feia, hein? Aquele moleque do Masaru… foi tudo culpa dele! — disse a ruiva, saindo do carro logo em seguida.

    Imediatamente, foram alvejados por olhares de ódio e indiferença. Eram olhares de pessoas comuns, unidas pelo sofrimento, reunidas diante do caos que se instaurara.

    — Assassina! — gritou uma mulher, arremessando um tomate em sua direção.

    Que ergueu a mão, e, no mesmo instante, o vegetal desintegrou-se ao contato com sua aura. Um gesto simples, mas suficiente para fazer todos ao redor recuarem, tomados pelo medo.

    — Masaru… então foi ele que causou tudo isso? — perguntou, meio sem jeito, tentando ignorar o alvoroço ao redor.

    Ou foi aquele anúncio na internet?

    Ele pensou, mas não disse. A certeza dela era, de alguma forma, uma implicância da qual não queria se meter.

    Se eu pudesse… mataria todos eles… que irritante! Desabafou, enquanto ela pouco se importava com a atitude, não se deixando levar facilmente.

    — Foi… enfim, acho que nem mesmo Gabriel pode reverter essa situação!

    Dando um passo adiante. Imediatamente, todos abriram espaço ao redor.

    — Hm… é aquele careca que virou político, né? — perguntou, logo atrás, assustando ainda mais a multidão apenas com sua presença.

    Ela apenas assentiu com a cabeça.

    — Ele que destruiu a academia esportiva de Hiragana… — resmungou um senhor para uma moça ao seu lado.

    — Ah? Eles são todos uns monstros! Como o governo deixou esses delinquentes com tanto poder!? — respondeu, indignada.

    — Acéfalos… — resmungou o exorcista, irritado.

    Estava tão emburrado que mal percebeu quando, à sua frente, ela parou de repente.

    Acabou esbarrando levemente nas costas de Amai e, meio sem jeito, segurou seus ombros.

    — Foi mal… Mas por que você parou, hein?

    Ele olhou adiante… e então viu Masaru Jigoku à sua frente — acompanhado de uma bela moça, mais alta e mais velha que ele.

    — Olha a minha antítese aí!

    — He! He! Se não é a número dois, Amai Shirasaki! — gracejou, a única figura ali que não estava séria.

    Como sempre…

    Ao seu lado, a mulher do hospital, Zahira, estava visivelmente animada, com as mãos nos bolsos da calça moletom. Sua presença era imponente, capaz de fazer qualquer um se curvar em respeito.

    — Hã? Sério que você está me zoando com um braço só? — disse, meio emburrada ao perceber o que havia acontecido. Suas vestes agora eram imponentes, com asas costuradas em ouro nas mangas. E por isso respondeu com acidez: — Está se achando todo pela promoção, né?

    — He! He!

    — Bullying? Pensei que você não fosse fazer isso… — comentou a celeste, sem se importar com o protesto ao redor, que parecia parar diante do encontro. — Dizem que Amai Shirasaki é o exemplo da geração…

    — É que ele é um chato! Total! Senhorita…

    — Eu, chato? Meh… — riu, não conseguindo negar. — Vocês, mulheres… que… são!

    E então parou ao perceber a figura de Yamasaki, afastando-se lentamente de trás da garota e parando a seu lado.

    — Está animada, hein? Vejo que o passeio com o namorado não foi nada entusiasmante! — continuou, recebendo um tapa de Elizabeth no mesmo instante. — Ai! O que deu em você, hein, mulher? — exclamou, virando-se imediatamente.

    — Para de gracinha, o conselho deve querer sua cabeça ainda hoje! — o alertou enquanto Amai soltava uma risada suave. Logo percebendo o que havia dito: — Foco, rapaz! Ou a filha do Shirasaki vai pedir sua cabeça em bandeja! — ordenou.

    A ruiva, então, acabou esbarrando sem querer em Yamasaki, visivelmente nervosa.

    — Namorado? — respondeu ele, sem jeito, mudando de direção e virando-se para a entrada do prédio.

    Que pirralhos… Eles não ajudam em nada! Nem parecem… da mesma idade… que eu!

    Pensou Yamasaki, observando a confusão ao seu redor. Todos pareciam desacreditados, convencidos de que os exorcistas não passavam de moleques inconsequentes. Assim como ele…

    São sim! Iguais a você!

    Azazel provocou, fazendo o garoto morder os lábios de raiva, tentando controlar a vontade de responder, mas…

    — Yami? — perguntou Amai, puxando sua manga. — A fobia social atacou, foi, azedinho? — disse, meio convencida.

    Tentando compensar o vexame.

    — Ah, atacou? O quê? Hein, ah… nada… — distraído.

    A celeste e o mais novo se olharam, e ambos riram da situação.

    — Nada? Então vamos logo! Antes que o encosto nos atrapalhe mais ainda! — dando passos adiante e o puxando.

    — Ei… ei…

    Isso fez o “encosto” sorrir de orelha a orelha.

    — Olha lá… marido e mulher…

    — Ehr… — a celeste riu sem jeito, observando nele seu amado e, então, se viu refletida ali, na garota. — Marido e mulher…

    Os dois passaram pela porta de vidro, seguidos pela dupla — a casada e o sem braço — que logo entrou atrás deles.

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