Capítulo 20 – Passatempo, desilusão, e emoção
[ 26 de abril de 1922, Toryu, Asahi. ]
Akemi Aburaya dedicou seu tempo à sala de estar de sua casa. Ele explorou uma estante de livros empoeirados na tentativa de encontrar algo interessante para ler, e entre várias opções descartadas, retirou uma antiga enciclopédia intitulada: “Raízes da Altivez: A Enciclopédia das Nobres Famílias de Asahi – 51ª Edição”, um presente escolar confiscado por seu avô.
Sentado no sofá, o jovem folheava as páginas, imerso no cheiro característico de papel envelhecido. A curiosidade era sobre os Miyazaki, uma família de shihais ígneos frequentemente mencionada por seu avô, entretanto, encontrar artigos dedicados àquela família estava difícil.
Primeiramente, artigos detalhados sobre outras famílias nobres foram alcançados, como os Ichikawa, ricos donos de terras e multimilionários que viviam nas regiões montanhosas de Asahi; suas terras férteis e minerais preciosos contribuíam para a riqueza dos integrantes ao longo das gerações.
Pulando mais seções, informações da família Miyamoto foram vistas. Um artigo revelava sua origem associada a um espadachim lendário, que com seus feitos, elevou a fama do sobrenome, moldando uma linhagem nobre de inteligentes samurais, guiados por princípios que transcendiam a habilidade na espada.
Após uma busca longa, Akemi finalmente localizava a seção dos Miyazaki, mas descobria páginas rasgadas, especialmente as que teriam detalhes sobre o matriarcado da família.
Intrigado, Akemi lia. “‘Desde meados do século VIII, ao ser fundada pela áurica ígnea Hidori, a família Miyazaki conta com o compromisso de seus membros em se casarem somente com pessoas de mesma aura, mantendo assim o sobrenome em ambos do casal, transmitindo apenas a clássica aura ígnea aos seus descendentes…’”
Naquela enciclopédia, o passado dos Miyazaki os posicionava como peças cruciais na evolução do Exército Asahiano, conquistando um respeito imensurável pelo seu poder, espírito de batalha e patriotismo…
“Onde está a parte sobre o matriarcado? Hmmm… Oh, tá aqui! ‘O matriarcado da família é marcado por…’ Ué? Cadê o resto da página? Tá toda rasgada! Ah, não me diga que o vovô fez isso! Por quê?”
Ansioso ao passar rapidamente para a próxima página, Akemi chegou na introdução de Naomi Miyazaki, uma mulher de origens misteriosas, cuja força e habilidades excepcionais moldaram o destino da família.
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“Olha, lembro que li um pouco da história dessa shihai… Talvez tenha algo interessante aqui… ‘… Apenas como sargento, Naomi se destacou na guerra contra Medved em 1904 devido à sua aura flamejante altamente abundante. Juntamente de seu estilo de combate único e técnicas excepcionais, ela chegou a desenvolver habilidades de liderança para os seus companheiros de batalha…’
Passados inúmeros registros dos consecutivos feitos heroicos de Naomi, o artigo contava como ela foi promovida à marechala, e logo após a morte de Himeko Miyazaki, adquiriu o posto de quadragésima matriarca da família.
“Quando essa Naomi desapareceu, apenas trocaram de matriarca novamente e nunca informaram ao certo o que aconteceu. O que será que houve com ela? Deve ter algo que diz sobre neste artigo…”
No entanto, lacunas nas próximas páginas ocultavam o desfecho na história, alimentando sua suspeita de que Isao havia as rasgado e ocultado informações propositalmente.
“Que raiva! Como eu suspeitava, o vovô deve ter arrancado algumas páginas, mas qual a razão dessas omissões? Enfim, vou continuar lendo isso aqui, quero ver se estão escondendo mais coisas de mim. Aliás, esse livro me interessou muito, e como o velho não trabalha hoje, já deve ter caído no sono”, apesar daquilo, a leitura despertou em Akemi um interesse crescente pelas histórias de outras famílias e seus feitos: famílias de médicos, clãs ninja, habilidosos ferreiros, fazendeiros, monges, espadachins, e uma diversidade de outras classes.
Era um momento leve que entretinha…
Toc-toc
Interrompendo o silêncio, um som nítido desviou a leitura de Akemi. Foi uma batida na porta.
Curioso, o garoto espiou pelo “olho mágico” da fechadura da porta e avistou um homem de uniforme e quepe branco. “Com certeza é da ASA, mas o que tem nessa maleta na mão dele?”
Quando a porta foi aberta, o homem de modo misterioso e voz grave cumprimentava o garoto. — Boa tarde. Akemi Aburaya?
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— Sim, eu mesmo!
— Sou um enviado da Academia Shihai de Asahi. Venho lhe entregar o equipamento inicial da instituição, itens que você não pode adquirir em outro lugar além dos estabelecimentos da academia. Então, cuide bem disso.
O uniformizado entregou a maleta para Akemi. O peso do objeto dava a entender que provavelmente não haviam apenas roupas dentro.
— Muito obrigado, senhor. Estou realmente empolgado para começar!
— … Espero que esteja preparado — disse o homem, sem reações apesar da demora na resposta.
Akemi curvou-se em agradecimento. — Muito obrigado, senhor!
O entregador se virou e seguiu em direção ao seu carro de mesmo modelo encontrado nos estacionamentos da ASA…
O rapaz mal podia esperar para abrir a maleta; ele fechou a porta, e no quarto, sentou-se na cama com o que recebeu: uma maleta de elegância sem igual, de couro preto, fechamento seguro e alças de prata.
Os fechos metálicos foram deslizados sem que o dono pensasse duas vezes, revelando um interior com compartimentos separados, forro de qualidade e detalhes de metal. Tudo sustentava as características ideais para profissionais e estudantes que buscavam estilo e praticidade.
O primeiro item destacado: um papel disposto sobre os itens organizados.
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“Uma carta? Bom, vamos ver.”
Concluída a leitura, novas dúvidas inundavam a mente do jovem.
“… Subtenente Masaru Miyazaki – Conselheiro…” Calma aí… Meu conselheiro é… o pai da Miya?! Qual o significado disso?! Foi uma escolha deliberada? E por que há um ‘01’ no lugar de onde estaria o meu nome…? Ah, depois eu penso nisso, parece que tem muita coisa legal aqui!”
De volta à maleta, um livro didático com conteúdos avançados, cadernos pequenos para anotações, tinteiros e penas, foram retirados. Entretanto, esvaziar a maleta fez Akemi vislumbrar dois uniformes distintos dobrados e plastificados no fundo da maleta.
A empolgação atingiu um novo patamar.
Sem hesitar, o rapaz desembrulhou o primeiro conjunto: uma jaqueta preta estilo gakuran, natural da moda acadêmica masculina asahiana. Aquela peça superior de mangas longas possuía cinco botões brancos com uma esfera vermelha ao centro; já nas laterais dos ombros, era exibido o brasão da ASA.
“Tem uma calça preta também… O material parece muito resistente e está impecável, tenho que cuidar bem disso.”
Akemi dobrou as roupas e pegou o próximo conjunto embrulhado: um uniforme de atividades físicas composto por uma camiseta preta de manga comprida, com uma listra vermelha entre a cor branca que, estendida de uma manga à outra, cruzava o peito, e no superior das costas, formava o topo da letra “A” de cabeça pra baixo. Outra listra vermelha partia de baixo das axilas até os calcanhares da calça longa e preta. Apesar de justo ao corpo, o uniforme parecia incrivelmente confortável, com uma textura resistente nunca antes vista pelo garoto.
Bem no centro do peito da camisa, havia um espaço preto em meio ao branco, onde destacava-se o símbolo da ASA. Logo abaixo, em branco com bordas vermelhas, estava o número “01”, e sob ele, o nome “Aburaya”.
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“Pelo menos essas roupas escondem as minhas cicatrizes…”
Por fim, a ficha caia.
“Enfim, agora sou oficialmente um novo membro da tão almejada ASA. Desde o meu acidente, sinto que vivi mais neste período do que em toda sua vida passada. Tantas coisas aconteceram em tão pouco tempo… Bom, vou guardar tudo isso em algum lugar pra evitar que o vovô faça alguma loucura. Também preciso me preparar, tenho apenas mais uns dois dias até as aulas da ASA começarem…”
[27 de abril de 1922, Toryu, Asahi, às 2h da tarde.]
Akemi aproveitou a ausência do avô para praticar suas habilidades elétricas no quintal, e sob o céu claro, concentrou-se em sua aura, a disposição era para retomar o controle tão desejado. “Faz um tempo que não uso a minha aura… Estava ansioso para agora. O que posso fazer? Já sei, começarei apenas com a manifestação áurica, depois tento algo melhor.”
A princípio, exercitar-se em fazer a aura surgir e desaparecer de acordo com a própria concentração mostrava-se um domínio básico simples.
“Até que não é tão difícil, porém não posso ficar só nessa.”
Determinado, Akemi mirava na cerca de madeira, ajustando o poder e o tamanho de suas descargas elétricas.
Fzip!
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O som de uma descarga fraca e inofensiva fez-se ouvir.
— Hmmm, esse foi muito fraco…
Fzzzzzip!
A descarga seguinte mostrou-se mais forte, mas a cerca seguiu totalmente intacta.
— Eu posso fazer melhor, dá pra ser muito mais potente! — Com ambas as mãos segurando firme o braço direito, Akemi concentrava toda a energia do corpo naquele ponto, buscar algo mais poderoso era o objetivo.
Porém, o acúmulo de demasiada energia resultou em preocupações.
“Espera… Ai, caramba! Acho que eu errei na dose! Assim meu braço vai explodir! É muita energia! O que eu faço?!”
O desespero tomou conta enquanto uma solução era buscada.
“Tenho que expelir isso! Mas pra onde?!”
Um olhar mirou o céu.
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“Ok, vai ter que ser assim!” Num movimento brusco, Akemi ergueu a mão direita e deixou sua aura manifestar-se de forma explosiva. Um clarão intenso dominou a visão.
Zzzt-CABRUUUUUUM!!!
Um intenso raio amarelo cortou os céus, acompanhado de um estrondo que ecoou pelo bairro.
Atordoado, Akemi caiu sentado por conta do impacto, e após alguns segundos no chão, levantou-se enquanto tocava o próprio corpo na tentativa de entender o que acabara de acontecer. “O-o que foi isso? Foi… um raio? Isso saiu… da minha mão? Mas… era pra isso ter estourado os meus tímpanos!”
Toda a energia que percorreria seu corpo desapareceu. A sensação familiar de vazio retornou, junto às dúvidas que sempre atormentavam.
“De novo… eu não sinto mais nada! O que eu fiz?! Eu não entendo, acabei com todo o meu poder nessas brincadeiras? Sinto como se essa aura tivesse algum tipo de armazenamento… mas como isso funciona?!”
Apesar das tentativas de recuperar a aura, todo o esforço era em vão. Como na última vez, o poder parecia ter sumido.
“Não adianta. Toda vez que tento usar isso, faço algo errado ou perigoso. O jeito é esperar que me instruam. Pelo menos não quebrei nada”, resignado, Akemi olhava para a cerca intacta enquanto o vazio em sua aura persistia.
[28 de abril de 1922, Toryu, Asahi, às 6h30 da manhã.]
O tão aguardado dia chegou.
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Com o toque do despertador, Akemi levantou-se animado. O barulho também despertou Isao, que ainda sonolento, foi até o quarto do neto e bateu na porta.
— Akemi? Você está acordado? — perguntou o avô, cansado e com sono.
— Oh! Sim! Bom dia! — respondeu Akemi, empolgado.
— Posso entrar?
— Er… pode sim, claro.
Enquanto abria a porta do quarto, Isao comentava: — Você não costuma acordar tão cedo, o que está acontecendo? — Mas seu foco foi tomado quando viu o neto vestido com um gakuran em frente ao espelho de chão. — Jovem… esse é…
— O uniforme da ASA — completou Akemi, ajustando-se com uma cara mais séria — só não te mostrei antes por certos motivos, mas essas roupas são bem elegantes.
— Você… ficou bom nelas — Isao observou algo em cima da cama arrumada. — E essa maleta?
— Também foi enviada pela academia, é onde veio todo o meu material. Terei de levá-la comigo hoje.
— Ho-hoje? — Isao espantou-se com a informação.
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— Pelo que li numa carta que recebi na maleta, hoje começa o primeiro dia de lá. A gente não comentou sobre isso nesses últimos dias, né?
— Quando você sairá de casa?
— Vou comer alguma coisa e já partirei. Pelo visto, antes das oito horas eu já tenho que ter chegado.
— E como pretende chegar até lá?
Com um sinal positivo na mão e um sorriso, o garoto tentou passar tranquilidade. — Não se preocupe com isso, já tenho tudo organizado!
[ 6h51 da manhã. ]
Do lado de fora e de frente com seu avô entre a porta de casa, Akemi estava pronto para despedir-se.
Isao olhava para o neto com a preocupação de mil mães em seu rosto enrugado; ele segurava as mãos do jovem com ternura e sentia um aperto no peito ao imaginar o que o futuro reservava. — Por favor, prometa-me que tomará cuidado.
Com seriedade, Akemi encarava o avô. — Eu não quero te preocupar. Apenas saiba que estarei sempre pensando em você, em cada passo que der.
Lágrimas escapavam dos olhos do senhor, um abraço apertado no neto era o remédio para a dor emocional que vinha à tona.
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Akemi retribuia o abraço do avô, segurando as emoções que ameaçavam escapar.
— Meu querido neto, não importa o que aconteça, lembre-se de que você é tudo o que me resta. Mas antes, tenho que lhe avisar de uma coisa.
— O que?
— Mantenha distância do diretor da ASA.
— Fala do Marechal Ichikawa? O que tem nele?
— Apenas… tenha cuidado. Não só com ele, mas com todos os militares e alunos daquela instituição. Preste atenção nas pessoas que realmente querem te ajudar.
“Ele nunca vai parar de suspeitar dos outros assim? Eu sei com quem converso! Até quando ele vai me tratar como uma criança?”
— Eu entendo, mas… tenho que ir agora — repentinamente, Akemi foi invadido por um sentimento de gratidão, fazendo-o olhar com mais ternura para os olhos do avô. — De qualquer forma, muito obrigado por cuidar de mim até aqui. Prometo que voltarei para casa, sei que aqui é o meu verdadeiro lar.
Enfim, os dois separam-se para que o rapaz pudesse seguir o seu caminho.
Com os olhos marejados, Isao observava o neto afastar-se.
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A luz do sol, filtrada pelas folhas das árvores ao redor, iluminava suavemente o caminho de Akemi, que com incerteza e coragem, seguia na direção contrária de sua casa.
A cena era um quadro de sentimentos entrelaçados que se distanciavam pela primeira vez.
Já sentindo uma pontada de saudade, Isao gritava com todo o amor e esperança que carregava em seu coração: — Tenho muito orgulho de você, meu garoto! Torne-se a pessoa que sempre sonhou ser, e seja feliz! Saiba que sua mãe tem o maior orgulho de você!
Akemi virou-se por um instante para que seus olhos encontrassem os de Isao, um último adeus estava por vir. Então, com um suspiro e um aceno final, o garoto carregava consigo a força das palavras finais do avô e a certeza de que nunca estaria sozinho.
De coração pesado, Isao fechou a porta e ficou ali, sozinho, perdido em pensamentos intrusivos enquanto o sol nascente iluminava o horizonte do menino que ousou sonhar…
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