Índice de Capítulo

    Onde mais Liliel poderia estar?

    A pergunta se espalha como um sussurro sombrio, assombrando a mente daqueles que notam sua ausência. Para onde teria ido a princesa demônio?

    Seu destino só poderia conduzi-la a um único lugar…

    Sim, é claro… Ela persegue aquilo que lhe foi brutalmente arrancado, algo tão precioso que jamais poderia ser deixado ao alcance de mãos impuras.

    Seu amor proibido! O mesmo que a condenou ao exílio e a marcou como traidora aos olhos de seu próprio reino… mas que, mesmo com o passar do tempo, jamais a libertou.

    Seria o amor, afinal, algo realmente atemporal?

    Sim, para ela, que se agacha na moldura da janela como uma gárgula, sua figura cortando a noite como parte da própria escuridão. Uma fusão de graça e letalidade, como um predador que espreita pacientemente antes do salto mortal. Seus olhos vermelhos, ardendo como brasas eternas, percorrem o apartamento de Yamasaki, capturando cada detalhe com uma acuidade inumana. Seus lábios pálidos e finos tremem, não por hesitação, mas pela fome de paixão profunda que se agita dentro dela, crescendo, pulsando. O ar em torno vibra com o aroma denso e intoxicante das trevas, um cheiro vivo, primal, que a arrasta de volta ao presente.

    Há uma ressonância no ar, uma pulsação escura que ecoa em cada sombra, guiando-a com a precisão de um bisturi, como se as próprias trevas estivessem puxando-a para a origem daquele chamado – um chamado tão poderoso e irresistível que a arrancou da dimensão temporal, arrastando-a para este momento predestinado.

    — Azaael!? Está aí? — Sua voz ecoa no ambiente, suave e hipnotizante como uma brisa paradisíaca.

    Enquanto sua presença se impõe, ela retrai lentamente suas grandes asas negras dracônicas, dobrando-as até se moldarem ao seu corpo esguio. A cauda demoníaca, longa e serpenteante, se encolhe com a mesma suavidade, acompanhando o movimento gracioso de sua entrada. Seus pés descalços tocam o chão com uma leveza mas certo descuido.

    Ela não espera surpresas — apenas a confirmação daquilo que suas expectativas sombrias já haviam previsto.

    O contato com o chão traz consigo uma sensação quase elétrica — a energia de Azaael vibra sob sua pele, percorrendo seu corpo como uma corrente invisível e viva. Cada fibra sua responde a essa pulsação, uma ressonância íntima que ecoa na profundidade de sua existência.

    A essência de seu amado está ali, oculta, sutil, mas inegável. Impregnada em cada partícula de ar, em cada sombra do ambiente, sua presença está gravada na assinatura espiritual que permeia o lugar, como se ele fosse uma parte intrínseca daquele espaço. Ela pode sentir, não com os sentidos comuns, mas com algo muito mais profundo — uma conexão que transcende o físico, um laço forjado além do tempo e da matéria.

    Está por toda parte…

    — Sinto seu cheiro… sua presença… sua energia! — murmura ela, sua voz vibrando no ar como um feitiço. As mãos deslizam pelas paredes, dedos pálidos tocando a superfície onde sombras escuras se dissolvem ao seu contato. O som das unhas afiadas arranhando a parede ecoa pelo ambiente, um ruído dilacerante que corta o silêncio profundo.

    Essas tais energias negras… elas sempre estão lá, escorrendo de Yami, especialmente quando Azaael perturba sua frágil paz. Agora, essas trevas dançam ao seu redor, envolvem-na como uma cortina de fumaça, persistentes e tentadoras, mas voláteis como o vento. Mesmo com sua presença dominante, elas eventualmente se dissipam, incapazes de manter sua forma por muito tempo.

    Ela começa a se mover em direção ao corredor quando, de repente, a luz da cozinha se acende, quebrando o mistério da penumbra com um “click”. O exorcista surge aparentemente alheio ao que o rodeia, com uma expressão entediada, segurando um copo de água. Ele não percebe a presença do demônio, que se imobiliza por um instante, absorvendo a cena diante de si. O contraste entre sua aura ameaçadora e a indiferença do exorcista parece quase cômico, mas Liliel sabe que isso não durará… ou pensa!

    — Ehr… — Coçando a nuca com uma expressão de irritação. — Caramba… dormir cedo é um saco! — resmunga, segurando o copo que ainda nem teve tempo de levar à boca. Já que, antes que pudesse beber, um arrepio percorre sua espinha ao sentir os dedos gélidos do demônio roçando seus ombros suavemente.

    Ele se endireita de imediato, a mente ainda turva, tentando, em um lapso de consciência, tomar controle da situação. Mas sua visão vacila, o mundo ao seu redor começa a perder nitidez, e ele a vê com uma pacificidade involuntária, incapaz de reagir como deveria.

    Ela, por outro lado, apenas ri, uma risada baixa e cheia de malícia brincalhona. Seus olhos brilham com um prazer perverso enquanto caminha lentamente em direção à sala, movendo-se como se já fosse a dona do lugar.

    — Sério? Você está aqui, mas preso num pirralho…? — Seus olhos brilhando com um misto de frustração e desejo reprimido. A presença dele, embora inegável, ela sente como uma prisão, suas raízes profundas e entrelaçadas na alma de Yamasaki, mantendo-o cativo. Ela franze a testa, percebendo a ausência do demônio tagarela — uma lacuna inquietante em sua mente que a incomoda profundamente. — Que foi? Não esperava por isso? — Sua voz tingida de um desafio provocativo, quase como se esperasse que a resposta brotasse das sombras.

    O silêncio que se segue a faz hesitar, o que intensifica sua irritação, mas também aguça seu desejo. É um embate entre a ânsia e a frustração, entre o que deseja e o que a realidade lhe oferece.

    Yami, por um instante, parece congelar em choque, seus olhos arregalados enquanto tenta se recompor ou decidir como reagir. A sonolência o envolve, mas ele sente a adrenalina correr nas veias; talvez, se estivesse mais acordado, a atacaria, mas o bocejo que escapa de seus lábios quebra a tensão no ar, como um eco distante.

    — Uma demônio… hm… você não é muito esperta, né? Invadindo minha casa assim — A voz arrastada, enquanto observa Liliel com um olhar que se torna cada vez mais atento, sua percepção aguçando a cada instante, embora vacilasse no final. Os cabelos vermelhos dela, parecendo feitos de fogo vivo, dançam suavemente sob a luz, criando um espetáculo hipnótico. Sua beleza é inegável, mas a sombra dos dentes afiados, que brilham como lâminas cortantes, contrasta de maneira perturbadora. O corpo esbelto delal é ao mesmo tempo provocante e ameaçador, emanando uma ferocidade que permeia cada fibra de seu ser… ela era um demônio diferente dos demais. — Você chamou pelo Azaael, não é? Conhece o tal, interessante… — ele continua, sua voz agora tingida de desdém, como se estivesse avaliando um adversário. Ele se aproxima um pouco mais, a confiança crescendo à medida que se sente mais desperto.

    — Talvez…

    — O que foi? Não esperava que ele estivesse preso a um contrato comigo? — O desafio em suas palavras reverbera no ar, tentando criar uma tensão entre eles. No entanto, ela não sentia ameaça.

    — Ah, me pegou de surpresa, né? — ela ri, com um tom zombeteiro, jogando-se para trás no sofá e cruzando as pernas de forma provocante, o que realmente o deixa surpreso. — Que foi, gatinho? Eu notei que você não emite nenhuma ameaça. Não tem fetiche por exorcizar demônios? Que humano estranho, hein, para quem Azaael se filiou!

    — O que você quer? — Yami a interrompe, a voz cansada e os olhos quase se fechando de sono. — Vamos logo, fala o que tem para falar, porque eu vou acabar dormindo de qualquer jeito… e não estou com saco para joguinhos. — Um arrepio percorre seu corpo ao ouvir as palavras dela; o tédio que sentira por tanto tempo era, pela primeira vez, reconhecido por alguém.

    Enquanto ela sente um frio na espinha ao ouvir sua resposta, confiante de que nada de ruim aconteceria, mesmo com a estranheza da situação — um exorcista provocando um demônio, como se fosse algo banal.

    — Falar com o Azaael, seu moleque atrevido… — Revirando os olhos com uma mistura de desprezo e diversão.

    — Falar? — Yami ri, mas não há humor em seu riso. — Nope, esse cara já bagunçou demais minha vida. Se quiser falar, fala, mas ele não vai assumir nada; eu não vou cair nessa! — Ele se mantém firme, recusando-se a dar qualquer espaço ao demônio.

    Depois do caos que Azaael propagou, manter o ser aprisionado em seu corpo era a única decisão sensata, mesmo para alguém considerado louco.

    — Irritante… só um pouco, vai? — insiste, um sorriso predatório se formando em seus lábios, como se soubesse que sua persistência poderia provocar uma reação.

    — Esquece. Seja lá o que for, eu não cairei nas mentiras dele! E… nem nas suas! — Yami mantém sua postura inabalável. Ao se virar para sair da cozinha, sente a mão dela em seu ombro novamente, desta vez mais hesitante.

    — Tá… — a voz dela perde a malícia por um momento, revelando uma fraqueza inesperada.

    — Hm… — ele responde, a palavra saindo mais como um sussurro.

    “Cadê esse imbecil? Azaael? Cadê você, cara?”

    Afastando-se, os olhos dela refletem um sentimento que Yami não consegue decifrar, envolto pelo cansaço e pela confusão que a situação lhe traz. O ar entre eles se torna denso, carregado de uma tensão que vai além das palavras.

    — Azaael… se estiver aí, saiba que eu te amo, viu? — ela murmura, quase envergonhada. — Luciel está tramando algo grande… talvez nosso futuro não dê certo, mas… fico feliz de saber que você continua vivo! — Sua voz soa sincera, e um brilho melancólico percorre seu rosto enquanto suspira profundamente.

    — Que drama… — Estreitando os olhos de cansaço, tentando disfarçar a inquietação que suas palavras provocam.

    — Posso… — ela começa a dizer, a voz trêmula. — Hein?

    — Pode…? — Yami arqueia uma sobrancelha, confuso. Ela parecia uma garota… enfim, era estranho.

    — Beijá-lo? — As palavras escapam rapidamente, revelando uma vulnerabilidade inesperada, quase humana.

    Ele pisca, perplexo, e depois ri abruptamente.

    — Ahn? Nada disso! Eca! Se eu o liberasse, vocês dois iriam… sei lá, profanar meu corpo com dois ou três beijos estranhos! — ele zomba, cruzando os braços de maneira defensiva. — E se sim, provavelmente sairia traumatizado!

    Ela revirou os olhos e bufou, claramente frustrada, mas não conseguiu evitar o sorriso travesso que surgiu em seus lábios enquanto se afastava, desfrutando da tensão no ar que um pensamento intrusivo lhe trazia… O risco que corria, falando com um humano tão casualmente, era uma loucura, digna de uma das entidades demoníacas mais poderosas.

    Mas… e se?

    A pergunta que ecoa em sua mente é rapidamente respondida de forma brutal. Com uma rapidez surpreendente, a mão da criatura atravessa o peito do exorcista com uma precisão mortal; ela apenas ergue e perfura, e o sangue jorra em seu braço, quente e vívido. O sorriso de Liliel se amplia, misturando-se à satisfação e ao deleite do momento.

    — Quero o Azaael! Foi mal, pirralho… — ela zombou, a voz um sussurro carregado de sarcasmo, enquanto seu rosto se banhava no líquido escarlate.

    Daria isso, certo?

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