Índice de Capítulo

    Enquanto muitos sucumbem ao egoísmo desenfreado, e outros se jogam na ilusão do altruísmo, há aqueles que permanecem “inabaláveis”, leais a seus deveres, movidos por uma fidelidade quase cega que os torna imperturbáveis frente ao caos ao redor.

    — Então agora vou me ocupar de babysitting? — murmura Elizabeth, com um desdém velado na voz. O olhar dela se fixa no jovem que acaba de cruzar a porta de seu escritório. O espaço exala autoridade, com estantes de mogno carregadas de troféus de competições de karatê e muay thai conquistadas em primeiro lugar, revelando a guerreira voraz que é, e alguns livros e caixas embrulhadas — presentes de casamento de tempos remotos, que agora servem apenas como lembretes de um passado, algo que ela sempre observa quando precisa de uma injeção de alegria.

    Mas focando no instante, diante dela está um dos mais promissores jovens que já viu: Jacir Cairu. Apenas 14 anos, pele marcada pelo vermelho característico de seu povo, cabelos castanhos despenteados e um olhar dividido entre timidez e determinação. Ele é um nativo das tribos de Shamo, a terra mais independente e rebelde entre os três continentes, cujas batalhas com o exército de Regnum ainda ecoam nas histórias dos sobreviventes… ele é um deles.

    — Ah, senhora… é… — começa ele, tentando conter o nervosismo que transparece no modo como segura o papel em mãos. — Fui designado para ser acompanhado pela senhora até me tornar apto ao Grau IV…

    — Senhora? Está me chamando de velha? — interrompe, arqueando uma sobrancelha, o olhar penetrante. À sua frente, a mesa está coberta por documentos, e seis xícaras de café vazias parecem zombar de seu estresse e da exaustão que começa a se acumular. — Não responda! — acrescenta, antes que ele se explique, pegando o documento e examinando-o.

    — O documento…

    — Sei, sei… — murmura, vasculhando as linhas com uma precisão quase sobrenatural. — “Talento inato… especialista em armas espirituais…” Então, é por isso que querem que eu te avalie? — O ceticismo em seu tom é inconfundível.

    — Hã? Como assim? — Jacir franze o cenho, tentando entender.

    A exorcista recosta-se na cadeira, cruza as pernas, o olhar novamente penetrante fixo nele.

    — O que estou dizendo, pirralho, é que o sistema de promoção entre os graus tem exigências muito específicas. Burras, admito, mas são exigências. Vamos do básico… Um exorcista de Grau I deve saber o fundamental: feitiços, escudos, revitalização. Grau II precisa entender e aplicar com competência. Grau III… — ela pausa, mantendo o olhar fixo nele — precisa compreender o momento certo de usar sua energia, de ajustar sua conexão com os elementos naturais para economizar poder. E o Grau IV? Esse é o nível onde você precisa dominar profundamente suas habilidades inatas e, acima de tudo, saber expandi-las. Algo que, ao que parece, eles acreditam que você ainda não sabe fazer… Especialmente por depender tanto das suas armas espirituais. Elas funcionam como uma bengala, entende?

    Um silêncio denso paira no ambiente, como se o próprio ar se recusasse a se mover enquanto o garoto assimila a dura verdade.

    — Não! — protesta ele, seus olhos faiscando. — Não é uma bengala… é… questão de tradição! No meu povo, as armas são nossa história, nossos ancestrais nos deixaram essa cultura de usar lanças, machadinhas, arcos. Usá-las é minha forma de honrá-las!

    Elizabeth ri baixinho, cruzando os braços, jogando o encosto da cadeira para trás, como se estivesse estudando a autenticidade em cada palavra dele.

    — Honra é bom, garoto. Mas sabe de uma coisa? Eu até tentaria te ajudar com isso discretamente, te dando um carimbo no documento de aprovação, etc… Mas o Kyotaka tem me pressionado para seguir as normas à risca. Então, que tal você mostrar esse talento numa missão real? Assim, matamos dois coelhos: você ganha experiência e eu me livro das formalidades! — Ela se levanta, tentando disfarçar a tensão que a consome. Talvez uma missão ajude a tirar um pouco da pressão de suas costas.

    “Isso vai ser um bom escape”

    Pensa, sentindo o alívio de quem está prestes a se libertar de um fardo, ainda que por um instante.

    O peso das responsabilidades e do trabalho se acumula, pressionando-a com um sufocante senso de angústia. A vida parece ter perdido o brilho desde que Gabriel, seu parceiro e confidente, sucumbiu a uma tristeza profunda. Há uma conexão única entre eles, algo que transcende palavras, um amor que os liga de maneira visceral. Esse elo invisível faz com que o sofrimento dele reflita diretamente nela, criando uma inquietação que se enraíza fundo em seu peito.

    Enquanto vagueia entre pensamentos, perdida em porquês e dúvidas, Jacir hesita, tomando fôlego antes de falar. Ele engole em seco, claramente desconfortável, mas sabe que essa é uma oportunidade rara.

    — Ah… tudo bem. Quer dizer, por mim, está bem… só… sem armas? — Ele titubeia, incapaz de esconder o incômodo.

    Elizabeth o olha, um brilho de ironia nos olhos.

    — Pode levar, mas terá que provar que sabe lutar sem depender delas o tempo todo. Vamos começar com um demônio, que tal? Será seu primeiro teste. — A exorcista lança um olhar para o bolso dele, e Jacir capta a mensagem.

    — Certo… — responde, resignado. Sente que discutir com Elizabeth, especialmente sobre questões de combate, seria inútil e talvez imprudente.

    Em um gesto meio hesitante, agarra seu smartphone e, sem jeito, consulta uma lista de missões, lançando olhares tímidos para Elizabeth entre cada toque na tela.

    — Encontre uma missão de nível elevado. Grau IV, entende? Estarei lá para garantir que você não se perca, ou morra — diz ela, com uma confiança quase altiva. É óbvio o respeito que sua presença impõe; ela é uma exorcista renomada, considerada uma das mais poderosas de sua geração.

    E ele, ainda tenso, finalmente se depara com uma missão. Seus olhos se fixam na descrição enquanto lê em voz baixa, quase como se tentasse decifrar um enigma.

    — Distrito três… um prédio abandonado após um vazamento de gás. Parece que uma entidade de nível de calamidade resolveu fazer do lugar sua morada. A presença dela atrai outras entidades, criando um verdadeiro pandemônio. Quem está solicitando a limpeza é D. João, que se intitula como empresário e herdeiro, cujas operações em Nova Tóquio estão temporariamente interditadas! Aceito?

    Ele mostra a tela para Elizabeth, que lê rapidamente e abre um sorriso de satisfação.

    — Uma infestação de demônios? Interessante… Aceite a missão! — exclama, um toque de entusiasmo e provocação na voz. — Parece que você não será um fardo tão inútil, pirralho. Vamos nos divertir um pouco com essa bagunça, o que acha?

    — Ehr, verdade, senhorita… — responde ele, tentando manter a postura.

    Apesar do tom desafiador — ou até zombeteiro — Jacir sabe que Elizabeth está sendo sincera. Ou talvez não… mas, no fundo, quem realmente se importa com isso?

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