Índice de Capítulo

    A tensão paira como um presságio. O caos se desenrola entre raios e ventania, como um palco de destruição à beira do colapso. 

    Os moradores daquela rua e dos arredores, mergulhados no pânico, assistem impotentes ao avanço da tempestade que já envolvia do sexto andar até o último o grandioso edifício.

    Então, de repente… tudo congela. Os destroços suspensos no ar, o vento cortante interrompido como se por um comando absoluto.

    — Sério? — uma voz ecoa, reverberando pelas ruínas com a força de um trovão grave e zombeteiro, dissipando a poeira que envolvia a cena. O ar ao redor parece ceder, distorcido por uma força invisível e opressiva que desafia as leis da natureza. — Qual é a obsessão de vocês por reduzir tudo a escombros?

    No mesmo instante, Elizabeth perde a sustentação, a tempestade que antes a mantinha em equilíbrio, desaparece sem aviso diante de seus olhos. Ela se segura na beira do que resta do sexto andar, antes de se lançar para cima, lutando para não ser arrastada pela gravidade. Enquanto, mais abaixo, Jacir não tem a mesma sorte e desaba com violência sobre os escombros, apenas para se deparar com uma situação que faz seu sangue gelar.

    “Droga…”

    O pensamento passa rápido, ofuscado pela dor aguda que irradia de seu ombro, atravessado por uma viga enferrujada. 

    Ele tenta se mover, mas seu corpo não obedece. E a sombra imensa e sorridente ao lado dele é inconfundível: a entidade, agora se erguendo devagar, seu semblante marcado por uma sede incontrolável de vingança.

    — Vocês destruíram nossa colônia! Mantínhamos a ordem, não éramos uma ameaça aos humanos! — vocifera a criatura, a voz carregada de um rancor acumulado ao longo dos séculos. Jacir lança um olhar inquieto para Elizabeth, buscando alguma orientação, mas ela permanece impassível, os olhos fixos em um ponto distante, alheia à agonia dele que se contorce. Ele se debate, os músculos tensos em uma tentativa desesperada de escapar, mas a criatura apenas exibe um sorriso sinistro, como se o sofrimento fosse um espetáculo prazeroso. — Agora, vou acabar com vocês dois, seus miseráveis!

    “Caramba… em que encrenca fui me meter?”

    Ele pensa, o coração acelerando ao ver a entidade se aproximar com um olhar de fúria. Antes que possa reagir, um chute brutal atinge seu rosto, quase o lançando à inconsciência. O impacto arranca dois dentes, e o sangue lhe preenche a boca.

    — Vou esmagar você! — rosna a criatura, a voz carregada de uma malícia mortal.

    Elizabeth, no entanto, permanece impassível, alheia ao horror que se desenrola diante de si. Algo continua a puxar seu olhar, a presença que cresce, cada vez mais opressiva, uma força invisível, mas inegável. Ela sente, no fundo, que algo está prestes a se manifestar. 

    E então, finalmente, aquilo que a atraía revela-se diante dela…

    — Exatamente, Orpheth! — a outra figura responde, sua voz baixa, carregada de um desdém que reverbera pela ruína. Ele desce lentamente do alto, como uma divindade implacável, flutuando entre os destroços suspensos, seu olhar penetrante e distante percorrendo o cenário devastado. As vítimas, os postos demônios, são pequenos focos de breu naquele espaço, sombras de um fim inevitável. — Fomos vinte e três almas perdidas, tentando encontrar nosso caminho neste mundo cruel e indiferente… agora somos apenas dois. Vocês nunca nos deixam em paz, mesmo quando permanecemos à margem, sem interferir em nada!

    Finalmente, ele pousa. Mas não no chão; seus pés pairam sobre uma superfície invisível, como se o ar o sustentasse em um pedestal reservado para deuses. A figura é estranha e perturbadora: pele acinzentada, sem os tradicionais chifres demoníacos, apenas sombras escuras envolvendo suas seis mãos. Magro, quase esquelético, ele parece leve como uma pluma, mas emana uma presença densa e sufocante. Seus olhos brancos brilham com uma intensidade sobrenatural, e um manto arcano ondula à sua volta como uma aura sombria.

    “Que tipo de abominação… é essa? Uma calamidade?”

    Ela pensa, um sorriso cínico dançando em seus lábios, a mente imersa em uma avaliação calculada da situação.

    “Será que Gabriel seria assim, demônio? Não, acho que seria maior e mais forte…”

    Nem sempre… 

    Nesse instante, ele concede finalmente a atenção que ela desejava, seus olhos fixos nela, carregados de interesse ou ódio…

    — Então, você consegue controlar ventanias, demônio? — pergunta, sua voz carregada de curiosidade, enquanto tenta decifrar o enigma que anulou seu feitiço.

    — Me chamou de calamidade? — responde ele, como se estivesse lendo seus pensamentos, com um sorriso sardônico. — Não! Sou algo que vai muito além. Alguns chamam de manifestação suprema, mas prefiro… entidade superior.

    É como se o território ao redor fosse um reflexo da sua vontade; ele manipula tempo e espaço, sonda mentes, dobra a realidade ao seu comando.

    “Então, é isso… um demônio ancestral, uma força primordial…”

    Ela suspira, enquanto ele abre as seis mãos diante do peito, absorvendo uma energia negra que emana de cada canto do local, como se o ambiente lhe rendesse oferendas de escuridão.

    — Eles eram meus amigos… — murmura ele, a tristeza se mesclando com uma fúria contida. A energia se condensa em torno dele, suas sombras pulsando com uma vitalidade quase viva, sinistra. — Agora, não passam de lembranças, trevas sem consciência… é isso que vocês chamam de escuridão, não é?

    — Éeeeeee!

    Ela tenta atacá-lo com velocidade feroz, mas ele desvia com um gesto desdenhoso, como se pudesse ler cada intenção dela antes que ela própria as formulasse.

    — Posso ouvir seus pensamentos, exorcista. Como se fossem gritos incessantes! — ele declara, sua voz ecoando pelas ruínas, enquanto a expressão dela endurece. Por um instante, ele parece falhar em sua magnitude, não prevê ou não observa o suficiente, jogado para trás graças à técnica inata da exorcista.

    O choque é violento; ele bate na parede, abrindo uma fenda, enquanto ela rola para baixo.

    Pagando o pacto, ela canaliza toda sua energia em uma conjuração de chamas, um brilho furioso que ilumina o campo sombrio, mirando o demônio que está prestes a desferir o golpe final sobre o jovem quase finalizado. As chamas arremessadas avançam como serpentes famintas, mas o demônio, com uma habilidade ágil e quase sobrenatural, desvia-se ao alçar voo, um movimento veloz que o afasta do impacto incandescente.

    No entanto, por um momento breve, ele sente o calafrio gélido e iminente da morte, como se o próprio fim estivesse à espreita.

    — Maldita… — ele rosna, a voz preenchida com desprezo e cansaço, como se aquela caçada houvesse ultrapassado sua paciência. — Não cansa de tentar? — ruge, preparando-se para um contra-ataque feroz.

    Mas antes que possa lançar seu ataque, outro calafrio o percorre, forçando-o a voar para cima mais uma vez, desviando-se de uma enxurrada de flechas. Cada flecha cintila com chamas nas pontas, o corpo reto como uma lança, a ponta de metal ressoando com o som do impacto.

    Essas tais flechas foram criadas por uma transmutação de energia, dardos flamejantes que assobiam pelo ar.

    Elas ficam presas nas paredes, enquanto o demônio luta para planar, o bater de suas asas destruídas ecoa pelo ar.

    “Droga… meu estoque de energia negra está abaixo do necessário se eu for regenerar, mas… que escolha tenho?”

    No chão, Jacir, o corpo encharcado de suor e tremendo de exaustão, ainda segura o majestoso arco espiritual. Sua postura é vacilante, como se o peso da batalha estivesse prestes a consumi-lo, mas há um brilho feroz em seu olhar, uma determinação inabalável. 

    Ele transforma seu próprio sofrimento em um ataque letal: usa os fragmentos de ferro que haviam sido cravados em sua carne como material para as flechas, transmutando-os em projéteis mortais, afiando suas pontas com partículas de concreto espalhadas ao redor. O arco, uma criação espiritual, é fruto de um pacto mortal, capaz de amplificar e complementar os feitiços de Jacir, desde que ele ceda uma parte de sua vitalidade como sacrifício.

    — Isso aí, Jacir! — grita ela, cheia de determinação ao vê-lo de pé, firme e armado.

    O demônio morcego pousa acima de ambos, seu rosto uma máscara de fúria e descrença. Suas asas, agora regeneradas, batem pesadamente no ar, um sinal de que ele está pronto para a batalha final.

    As posições se invertem num estalo, mas uma voz fria e sem pressa ecoa ao redor deles, seguida de um impulso de energia que faz o chão aos seus pés tremer.

    — Serei breve, juro!

    O ser desaparece enquanto o outro demônio o encara, seus olhos vazios de brilho.

    “Ainda sinto uma energia excessiva emanando desses seres… O que faremos? Fugiremos, ou…”

    Ela cerra o punho, os olhos faiscando com uma intensidade que beira o desespero.

    — Lutaremos! — responde o líder com firmeza, saindo da parede como se não houvesse barreiras físicas. Sua presença é serena, mas exala uma aura de puro ódio, enquanto várias esferas de trevas flutuam ao seu redor, cada uma pulsando com o desejo de vingança de seus aliados falecidos.

    — Ótimo! Eu já fui pacifista demais com vermes, com eles, humanos… — ele pronuncia, cheio de desprezo e de uma intenção assassina. — Se assim desejar, Chokhmael, meu líder! Aniquilaremos esses exorcistas!

    Finalmente, um nome… a entidade que representa o medo do conhecimento, desde as eras antigas, está à frente.

    ÚLTIMO CAPÍTULO ESCRITO AQUI!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota