Índice de Capítulo

    Longe da muralha leste da cidade, o campo estava repleto de corpos de demônios, espalhados em meio à terra ensanguentada. Muitos estavam dilacerados por mãos nuas, com marcas profundas de força bruta, enquanto outros tinham ferimentos de espadas que também jaziam abandonadas entre os cadáveres.

    No centro do caos, destacava-se um ser caído no chão, inconsciente. Mesmo em seu estado de torpor, sua mão esquerda ainda agarrava firmemente o pescoço de um demônio. Apesar dos gritos e insultos que ecoaram, o alvo não conseguira escapar do aperto.

    — Acorda seu filho da puta! Eu vou te matar cuzão de merda! Não pense que terminará assim! Sua aberração!

    O corpo caído no chão começou a dar sinais de vida, como se despertasse de um sono profundo que parecia ter durado dias. Aos poucos, os sons ao seu redor tornaram-se perceptíveis, mas confusos. Gritos ecoavam em seus ouvidos, incompreensíveis, como um eco distante de algo aterrador.

    Seus olhos abriram-se de repente, agora completamente alerta. Ele olhou ao redor, confuso, e murmurou, quase em um sussurro rouco:

    — Onde… estou?

    Ele ergueu o tronco lentamente, enquanto os sons ao seu redor se tornavam mais claros. Foi então que percebeu o grito ensurdecedor da presa em sua mão, que somente tinha a cabeça. Sua expressão se contorceu em confusão ao notar que os dedos apertavam o pescoço da criatura com uma força brutal.

    Tentou soltar o aperto, mas seu braço não obedecia. Movia-se como se tivesse vontade própria, alheio à sua consciência e mantinha-o imobilizado.

    — O que é isso?

    Ele se esforçou para controlar, mas foi em vão. Desesperado, tentou arrancar a cabeça do inimigo de sua própria mão, mas seus esforços foram inúteis.

    Enquanto isso, os gritos estridentes e as ofensas incessantes ecoavam cada vez mais alto em seus ouvidos. A paciência se esgotava rapidamente, e uma raiva crescente começava a fervilhar dentro dele.

    Não tenho escolha!

    A energia negativa do alvo começou a fluir para o braço de Izumi, e absorvia o que restava da criatura. O inimigo, antes barulhento e ofensivo, começou a perder a força. Suas palavras transformaram-se em murmúrios fracos até que, com um último suspiro, ele sucumbiu.

    No mesmo instante, sentiu o controle de seu braço retornar. Com um movimento brusco, balançou a cabeça do demônio no ar e libertou-se finalmente daquele peso.

    Ele então se levantou lentamente, os olhos percorrendo o campo de batalha à sua volta. A lembrança emergiu, fragmentada, mas clara o suficiente para trazê-lo de volta à realidade do que havia acontecido ali.

    — Aquele destemido… ele me lançou para longe, destruiu minha espada. Depois disso… é um borrão. Será que fui eu? Será que tudo isso é minha culpa?

    Confuso com o que acabara de vivenciar, Izumi decidiu deixar as perguntas para depois. Com passos rápidos que logo se transformaram em uma corrida, ele retornou à cidade. Ao cruzar os portões, ficou atônito diante da destruição que o cercava. Ruínas e destroços estavam por toda parte, enquanto o cheiro de sangue e fumaça impregnava o ar.

    Apesar do caos, algo dentro dele reacendeu. Ele sentiu uma empolgação crescente ao imaginar a possibilidade de enfrentar novamente Camion, o inimigo que tanto desejava derrotar. Porém, essa empolgação desfez-se instantaneamente ao avistar Max que estava ajoelhado ao lado do corpo sem vida do destemido.

    — Não me diga que…

    — Hum? Izumi. Chegaste tarde.

    — Foi você! — declarou, emanando sua intenção assassina.

    — Calma, não fui eu. Quando cheguei já tinha terminado.

    — Quem foi?!

    — Acho que foi essa mulher ao lado — disse, enquanto apontava para Kena.

    — Mulher? — questionou e depois desativou sua intenção assassina ao olhar para a mulher desmaiada no chão.

    — Onde você estava, irmãozinho?

    — Cala boca.

    — Ok — respondeu sorrindo.

    Izumi inalou o ar ao seu redor e percebeu algo incomum: seu olfato estava muito mais aguçado do que antes. Foi então que ele sentiu o cheiro familiar de Idalme misturado ao de cinzas, indicando que ela estava caída no chão ao lado de um demônio completamente queimado. 

    De repente, outro cheiro capturou sua atenção: o odor inconfundível de um demônio próximo. Um sorriso feroz tomou seu rosto, e, com sua habilidade Speed Iz, ele se moveu em alta velocidade e recuperou suas antigas espadas gastas, mas ainda funcionais no armário de sua casa.

    Ao seguir o rastro, ele encontrou o inimaginável. Diante de si estava o destemido Aaron, que ele acreditava ter sido morto por Max. A visão o surpreendeu, mas não o deteve.

    Empunhou as espadas com determinação, ele avançou em um ataque veloz. As lâminas cortaram o ar enquanto ele utilizava o Speed Iz e cruzou as espadas contra Aaron em um movimento feroz.

    — Que rápido! 

    — É somente o aquecimento! — Com força, arremessou Aaron para longe, sem hesitar.

    O sorriso dele se alargou ainda mais. Preparando-se para o próximo ataque, ele concentrou sua energia e ativou o Speed Iz Brute Force, quarta forma, Kotxi Veloz. Com uma explosão de velocidade e força, ele lançou um corte devastador, cortando a cabeça do demônio com uma precisão letal.

    Mas, ao olhar para trás, Izumi parou abruptamente. Seus olhos se arregalaram ao perceber que o cenário havia mudado completamente. O que antes era um campo de batalha agora estava envolto por densas nuvens.

    — Que porra é essa?!

    — Outra dimensão, meu caro cobaia.

    Ele sentiu o peso da queda tomando conta de seu corpo, a velocidade com que descia o fazia perceber que não tinha a menor ideia de como se salvar. A sensação de pânico o invadiu por um momento, já que voar não estava em suas habilidades. No entanto, antes que pudesse sequer pensar em uma forma de escapar, a situação se complicou ainda mais.

    De repente, os destemidos apareceram, surgindo ao seu redor como uma tempestade. Eles atacaram todos de uma vez, suas lâminas e garras cortava o ar em direção a Izumi.

    Com um movimento rápido, ele ativou seu Kotxi Giratório e girou como um furacão, suas espadas cortava a carne dos demônios em um movimento fluido e mortal. Cada golpe foi certeiro, e os destemidos foram derrubados, dissipando-se no ar como se nunca tivessem existido.

    Quê? Clones de nuvens? Então aquele Max estava dizendo a verdade?

    Durante uma das reuniões forçadas por Max enquanto treinava, ele ouviu falar sobre aquela pessoa. Naquele momento, ele achou difícil que alguém desse nível alcançasse tal feito, uma vez que ninguém do grupo tinha habilidade para voar. 

    Por um instante, considerou maneiras de aprender a voar, mas logo descartou a ideia como algo fora de alcance.

    — O que vai fazer agora, minha preciosa cobaia? Enfrentar centenas de clones de sombras enquanto despenca para o abismo?

    — Pode vir! Matarei todos!

    Vários clones do demônio surgiram, correndo em direção a Izumi com a intenção de esmagá-lo em uma ofensiva mortal. Mas, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, ele não demonstrou o menor sinal de desespero. Pelo contrário, um sorriso confiável se formou em seu rosto, como se tudo aquilo fosse apenas mais uma diversão.

    — Super Speed Iz!

    Os clones atacaram de todos os lados, uma verdadeira onda de ferocidade que não dava trégua. Izumi, no entanto, não hesitou. Com uma habilidade impressionante, ele cortou um após o outro, suas espadas dançava no ar como lâminas de morte. Mas, por mais que derrubasse os clones, novos apareciam sem fim.

    No entanto, após alguns minutos de luta intensa, a distração se tornou fatal. Em um movimento traiçoeiro, um dos clones conseguiu acertá-lo com um golpe preciso na barriga. O impacto o destabilizou momentaneamente, fazendo-o vacilar.

    — E agora o que vais fazer?! Não podes usar a sua cura enquanto se move em alta velocidade!

    Ao ouvir isso, sorriu e gritou:

    — Super Speed Cure Iz!

    As feridas começaram a cicatrizar enquanto ele se movia em alta velocidade. Com um olhar determinado, ele declarou:

    — Chupa essa!

    — Interessante! Vejo que evoluiu bastante desde a última vez!

    Durante a luta, Izumi concentrou nas vozes ao seu redor, tentando identificar de onde elas vinham, mas não conseguia. As vozes ecoavam de vários pontos e criou uma confusão em sua mente. Ele viu que os clones podiam falar, mas estavam escondidos entre outros.

    Mesmo com seu olfato aguçado, ele não conseguia distinguir qual deles era o destemido. Era como se toda a energia negativa do demônio tivesse sido dividida entre os clones, impossibilitando identificar o verdadeiro alvo.

    — Está confuso, não é? Como pode ver, com a evolução de Fuma, os clones também evoluíram. Agora, eles são mais letais… e bem mais reais.

    — Destemido de merda!

    — Como podes ver, não vais vencer sem evoluir novamente! Vamos cobaia, evolua! Alcance o potencial que já possui!

    Continuou a lutar com intensidade, mas a situação parecia se complicar a cada momento. Ele pensou em usar sua habilidade mais poderosa para paralisar todos os clones ao seu redor e acabar com a batalha de uma vez por todas. 

    No entanto, havia uma limitação que o impedia: voar, uma habilidade essencial para manter o controle total do campo de batalha, era impossível para ele.

    — Voe cobaia especial! Sei que consegues!

    Voar? Isso é impossível para mim… Nem asas eu tenho! Como vou vencer esse destemido desse jeito?… Não pode ser… eu vou perder para alguém tão insignificante assim?

    — Ou será que não consegues?! És tão fraco assim, cobaia especial! Caahahahahaha!

    Os clones começaram a rir, suas vozes ecoava ao redor, zombando de sua situação precária. Cada risada inimiga parecia alimentar ainda mais sua fúria. A frustração o consumia, e embora não soubesse como vencer, sua raiva o mantinha em pé.

    O seu sorriso, que antes refletia confiança, havia desaparecido, substituído por uma expressão de pura ira. Ele estava no limite, mas não iria recuar. No último ato de aflição, Izumi gritou com toda a força:

    — Intenção assassina! Super Speed Brute Force Cure Iz!

    Ao gritar, liberou uma onda de energia tão intensa que paralisou todos os clones e tudo ao seu redor, deixando o campo de batalha em um silêncio absoluto. No entanto, algo o impediu de dar o golpe final. 

    Ele caía em uma dimensão sem fim, onde não havia mais nada além dos céus distantes e a queda interminável. A sensação de estar preso naquela vastidão o fazia sentir-se impotente, como se estivesse perdido em um pesadelo sem saída.

    Enquanto caía, uma memória se infiltrou em sua mente, tão vívida e dolorosa que o fez estremecer. Ele se lembrou da sua mãe, da tentativa inútil de salvar o que já estava perdido. Ele se lembrava de vê-la morrer diante de seus olhos e de ser descartado pela cidade, como se fosse nada.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota