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    — Qual será o próximo passo, Milorde? — indagou o príncipe, sua voz ecoando pelas paredes sombrias do salão do trono, enquanto seus olhos fitavam a figura imponente à sua frente.

    O rei ergueu-se de sua postura quase imóvel, sua presença ofuscante tomando conta do ambiente. Sua voz ressoou como um trovão que assola os mortais, carregada de autoridade e um tom de malícia cuidadosamente calculado.

    Até então, suas verdadeiras garras não haviam tocado nem arranhado o tabuleiro.

    — A caça às bruxas!

    Essas palavras fizeram o príncipe endireitar-se abruptamente. Uma sensação gélida percorreu sua espinha, e logo sentiu, como um fardo inevitável, a energia negra que parecia emanar do próprio trono, pulsando como o batimento de um coração maligno. Atrás dele, duas figuras familiares emergiram das sombras. Leviel, agora completamente curado, mantinha uma expressão severa, enquanto Mael exibia um sorriso forçado, quase cínico, como se tentasse esconder uma tempestade interior.

    Enquanto o rei descia lentamente do trono, cada passo ressoando como o prelúdio de um desastre, e se aproximou, seus olhos carregando uma luz repleta de propósito.

    — Vocês vão eliminar os celestes. Verdadeiramente, confio essa missão a vocês, mas ouçam bem — sua voz tornou-se mais cortante, como uma lâmina prestes a rasgar a carne. — Não poderão morrer. Suas forças servirão para o retorno de Bezeel, entenderam?

    A sala pareceu se fechar em torno deles, como se a própria arquitetura tivesse vida e respondesse à autoridade do rei. O peso de suas palavras não era apenas uma ordem; era uma sentença.

    — Se falharem, saibam que a morte será a menor de suas preocupações. Fuga não é uma opção. Vocês vencerão ou perecerão em desonra!

    O ar estava pesado, como se cada partícula tivesse sido tomada pela escuridão que emanava. O rei dos reis malignos parou por um instante, seus olhos fixos no horizonte invisível à frente.

    Estava loucamente decidido.

    — Traremos dias ruins para a humanidade. Cada suspiro, cada momento de paz que ainda ousam ter… será esmagado!

    Então, se virou para encarar os três diretamente, sua expressão endurecendo ainda mais.

    — E eu, por fim, farei meu primeiro movimento!

    Com essas palavras, desceu dos alicerces que sustentam sua posição, sua figura nobre se inclinando para a prática de um jogo muito mais perigoso. Quando pisou no chão desenhado como um campo de xadrez, seu semblante era de alguém que não mais comandaria apenas com sua mente, mas com o suor e o sangue de seus próprios esforços.

    O príncipe sentiu-se sufocado pela aura que o cercava, mas não ousou demonstrar fraqueza. Leviel e Mael trocaram olhares rápidos, como se já compreendessem a gravidade, enquanto o rei fitava o tabuleiro invisível de um jogo que estava apenas começando.

    — Convocarei uma cruzada. Com minhas próprias mãos, abrirei uma brecha na realidade, imaterial e material. Será um ataque anunciado. Então, faremos a humanidade dar nome aos bois. Nós seremos o mal. Assumiremos esse papel, e isso fará o sentimento de fim apertar os corações! — Sua voz ecoa atravessando os salões infernais, cada palavra carregando o peso de um decreto inevitável. — Cortaremos as gargantas dos melhores soldados, para, enfim, anunciar a derradeira guerra!

    Mas Asmael, que até então mantinha um semblante controlado, sente algo mudar dentro de si. O que presenciava não era apenas um discurso, mas um marco. Este não era o mesmo líder que conhecera. Não, algo mais terrível e absoluto desperta naquele momento.

    Esse não é um peão. Não é um estrategista silencioso falando com o renegado. É o rei dos reis, aquele cuja lâmina aponta diretamente para o impossível.

    — Sim, senhor! — responde seu filho com reverência, ajoelhando-se diante da autoridade incontestável. Um a um, os demais seguem o gesto, prostrando-se como peças de um tabuleiro. Até mesmo Asmael, cheio de ódio, tristeza e amargura, encontra-se forçado a dobrar os joelhos. Mas sua mente fervilha. Ele é um demônio antigo, conhecedor de segredos e trilhas ocultas. E, no entanto, agora se sente pequeno diante do monarca que proclama seu domínio sobre o destino.

    Maldição… o que ele está fazendo? Engolindo o orgulho.

    Mas então ousa perguntar:

    — Meu senhor… então, mudou os planos?

    O silêncio que segue é ensurdecedor. E o imperador vira lentamente a cabeça.

    — Não! Não mudei. Apenas acrescentei! — Sua voz é afiada como o gume de uma espada. Ele se aproxima de Asmael, seus passos pesados, e completa com um tom que faz até as sombras estremecerem: — Não me julgas como tolo, não é?

    O demônio mantém a cabeça baixa, mas sua garganta apertava.

    — Nunca…

    — Então por que perguntas? Se não sois tolo, não há por que questionar minha razão. Sou teu rei. Sou teu dono. Eu sou a razão de sua vida!

    Enquanto fala, cada alma negra naquele salão concorda, mesmo que não ousasse erguer a voz. Há uma força maior, algo que transcende a lógica ou mesmo o medo. É a aceitação de um poder absoluto, uma força que não deixa espaço para dúvidas ou arrependimentos.

    Até os demônios mais miseráveis e desafortunados engolem suas dores, forçados a reconhecer a verdade cruel daquele momento. Ali se marca o dia em que as amarras da falsa ignorância são quebradas. O monarca não é mais apenas uma sombra entre os seus. Ele veste, enfim, o manto da realeza com garras e a autoridade de um militar implacável.

    — Sim, senhor, perdoe-me… — em seu rosto, escapou a frustração. O que ele havia deixado passar? O inimigo estava à frente, mas quando?

    Ali, naquela hora, não saberia dizer… pois Luciel não é um rei como Luís da França, preso em intrigas palacianas ou na vaidade de um trono dourado. Ele é um monarca de ferro e fogo, um líder forjado para a guerra, cujo trono é erguido sobre ossos e sangue.

    Belo como o anjo caído, mas traiçoeiro como a serpente do paraíso, era o modelo mais vil que já existiria: escravizar para libertar, condenar os vivos por tudo e modificar o estado natural do mundo.

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