Capítulo 289 - Estou farto... Mas o que isso significa? Do que adianta?
Cruzando os dedos, Magnus fez o celeste sentir um calafrio percorrer-lhe a espinha.
— O que foi? — O tom de provocação carregava uma pitada de deboche, mas seus olhos revelavam que ele sabia exatamente o que aquilo significava.
No instante em que os descruzou, seu corpo disparou para frente como uma fera libertada, e o solo cedeu sob seus pés. O impacto do avanço fez o chão rachar em um rastro. Seu aliado não perdeu tempo—seguiu o fluxo da batalha e investiu contra com tudo que tinha.
— Você… — O celeste bloqueava os golpes com uma facilidade irritante, desviando e rebatendo cada investida com movimentos mínimos. A disparidade de velocidade era gritante. — Tentou me enganar?
— Acha que sou imbecil? — Resmungou, sentindo a pressão esmagadora de estar diante de alguém tão superior, mas em domínio de combate, ele tinha sua vantagem. Seu corpo se movia com precisão, girando no ar, alternando os pés com maestria. Deslizando para o lado, executou um martelo — um chute giratório lateral, que ao atingir o solo abriu uma cratera no impacto. Em seguida, lançou um meia-lua de compasso, o pé riscando o chão em um arco perfeito, rachando o concreto como se fosse vidro.
O celeste saltou para trás, evitando a destruição que se espalhava pelo campo de batalha.
— Não consigo te superar em uma disputa de domínios… — Ele rangeu os dentes, seu corpo abaixando, preparando-se para um novo ataque. Suas técnicas não dependiam apenas de força bruta—era um especialista em capoeira, mestre da fluidez e do ritmo, técnica vinda das terras natais do próprio celeste.
Isso significava que sabia como transformar cada movimento em algo imprevisível.
Ele girou no ar, o corpo se dobrando em um movimento antes de desferir o golpe. Mas este não era um ataque comum.
Quando o impacto veio, o celeste instintivamente ergueu os braços, canalizando sua aura para conter a força absurda do chute. O som de ossos cedendo ecoou no ar. Seu antebraço absorveu a carga, mas a pressão era demais—uma fratura percorreu seu braço como uma fissura em vidro prestes a estilhaçar.
Evoluiu tanto…
A dor pulsava, mas não tanto quanto o orgulho misturado ao peso da realidade. Ele havia protegido aquele homem antes. Em missões passadas, lutaram lado a lado. Agora, estavam divididos por um abismo que só crescia. Seus ideais…
Atrás de si, os resquícios da batalha eram aterradores. A energia do golpe quebrou o solo, rasgou construções e, ao longe, uma montanha se partiu ao meio. E ainda assim… o que sentia não era choque. Era angústia.
— Por que não desiste? — sua voz carregava algo entre súplica e desafio. — Você sabe que ele não está fazendo o certo!
— Eu sinto medo, cara… — murmurou. — Mas… é meu dever!
Sem hesitar, se abaixou, as palmas pressionaram o chão. Um brilho percorreu seus braços, símbolos se acendendo em padrões antigos. A jura foi feita.
O próximo golpe viria com poder amplificado, aprimorando o fluxo de energia em seu corpo. Cada fibra de seu ser queimava em sincronia, otimizando sua habilidade mística e potencial de combate ao máximo.
Não haveria volta.
A voz dele cortava o ar como um trovão, mas era engolida pela devastação.
No instante seguinte, jogou o corpo para cima com a força dos braços. O chute rasgou a atmosfera, criando uma onda de choque tão brutal que tudo ao redor foi varrido. Árvores se despedaçaram antes mesmo de tocar o solo, a terra se rachou, e o que antes era uma floresta agora era um deserto, estendendo-se por 180 mil km².
O celeste se manteve firme em meio ao caos, sentindo o gosto amargo da poeira no ar.
— Que dever? Que deveres tem? Pense! — Ele quase gritou, tentando romper a barreira invisível que separava razão e convicção.
Mas a resposta veio calma. Sem hesitação.
— Você deveria entender… gratidão é parte de quem sou. Isso… se chama honra!
O mais impressionante que tinha a oferecer… sequer seria suficiente. E sabia disso.
Mas ainda assim, estendeu a mão uma última vez.
Será que estou demonstrando o quão forte fiquei?
O pensamento ecoava em sua mente, misturado à adrenalina que pulsava em suas veias. Seu coração batia em um ritmo incerto…
Não sentia ódio de seu inimigo. Assim como sabia que o outro também não sentia dele.
Mas isso não mudava nada.
— Por isso te dei a opção… de se render! — declarou, a voz firme, mas sem crueldade.
Uma última oferta. Um último aviso.
— Eu sei… — murmurou, quase como uma confissão. — A mesma que te fez reagir… quando tentei matar Yoruichi.
A memória era um peso sufocante para o cavaleiro negro, impregnado em sua história e postura.
Porque, apesar de serem companheiros, a forma como Seiji via o mundo—e a eles—era cruel demais.
O Celeste temia que essa visão distorcida tivesse enraizado nos alunos.
O mesmo mal que havia consumido Romero.
E se isso fosse verdade… então o que eles realmente haviam se tornado?
Mas não.
Havia esperança.
Ele via algo neles—um reflexo de si, uma centelha ainda intacta. Talvez houvesse um caminho diferente para ele… talvez até para o outro.
Mas não agora.
Não enquanto aquele lixo ainda respirava.
— Mas não posso recuar, nem me render, até ele estar morto! — Gabriel declarou, e não havia hesitação.
— E eu não posso recuar até você não desejar mais isso!
Suas vozes carregavam algo além da determinação. Algo pesado.
Uma lágrima escorreu por seu rosto, evaporando antes mesmo de tocar o chão, consumida pelo calor de sua aura.
— Então…
Ele queria perguntar.
Por que é sempre assim?
Por Elum, por tudo que já viveu…
Ele estava farto.
Farto de estar do lado contrário da arma.
E, pior que isso… farto de sempre ter seus amigos na mira.
E, no fundo de seu coração…
Almejava que aquela fosse a última vez.
A última batalha contra aqueles que um dia chamou de aliados.
A última vez que ergueria uma arma contra um amigo.
A última vez que sentiria o peso da escolha entre o dever e a verdade.
Mas o destino raramente era misericordioso.
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