Índice de Capítulo

    Todos estavam ocupados, mergulhados em seus próprios dilemas, em suas próprias batalhas.

    A guerra dos tronos estava em seu ápice, e cada um, em seu canto, sabia que a única chance de sobrevivência era salvar a si.

    Não havia mais tempo para heróis ou alianças. Apenas a ânsia pelo próprio destino.

    A carnificina parecia interminável. Não havia mais sobreviventes, ou pelo menos ninguém que restasse para ser resgatado.

    E, no meio daquela ordem caótica de destruição e desespero, algo ainda mais profundo se escondia, aguardando o momento certo para se revelar. Um mal antigo, que se alimentava do medo e da dor interminável no plano físico.

    Algo que as próprias trevas temiam, que fazia até os demônios reis tremerem em silêncio.

    O Conselho das Trevas.

    O nome carregava um peso insuportável. Aqueles que o pronunciavam jamais o faziam sem um estremecimento na alma.

    Não eram simples sombras, mas entidades de pura corrupção e manipulação, de uma antiguidade que desafiava a compreensão.

    Os servos mais leais ao imperador do abismo, os mais poderosos de todos, aqueles que haviam sido forçados a descansar, ocultos no limbo até que a verdadeira guerra começasse… agora surgiam.

    Em meio aos vermes bestiais, aquela criatura horrenda se destacava.

    Quatro braços musculosos se erguiam como colunas de força, enquanto seus chifres retorcidos serpenteavam, ameaçando rasgar o ar. Oito na cabeça, escamas de dragão que pareciam refletir a própria escuridão, três caudas se agitando furiosamente e olhos rubros que queimavam com ódio.

    Cada movimento era uma demonstração da monstruosidade em sua forma, um pesadelo que se materializa no campo de batalha.

    A criatura saltou com uma velocidade absurda, tentando acertar Yami com suas garras afiadas como lâminas. Mas que se moveu com uma fluidez assustadora, cada desvio parecendo mais uma dança com a morte. Mesmo que a criatura estivesse além da luz, em um lugar onde o tempo parecia dobrar, ele estava além dela.

    Seus olhos, que pareciam vazios, observavam o monstro como se fosse apenas mais uma distração, uma simples manifestação das trevas tentando testar sua paciência.

    — Que velocidade! Você… é impressionante, garoto! — a criatura bramou, seu grito ressoando como um trovão, mas ele não se intimidou. Apenas sorriu, cada vez mais, desafiando a besta com uma expressão cínica. — E ainda me olha com essa cara de defunto!

    A criatura investiu mais, e mais, e mais… o chão foi fatiado em milhares de fendas, mas, com a precisão de um predador, desviava com um movimento tão natural quanto respirar.

    Exatos trezentos trilhões de cortes em um instante. Que fatiaram as inúmeras bestas ao redor. A sorte? O ataque foi reduzido a menos de um raio de cinco metros.

    A entidade, insaciável, não desistiu, e com uma explosão de poder, apagou até mesmo o solo sob seus pés, lançando uma carga de trevas tão densa que rasgou o espaço-tempo ao seu redor, distorcendo a realidade.

    Mas, para o protagonista, foi apenas mais um golpe do “mesmo de sempre”.

    — Que exagero… — até brincou, — Por que não tá dando tudo de si?

    Expelindo a técnica em cores arco-íris. Tolos, até quando mais iriam aprender que ele podia desfazer a energia negra? Ele conhecia a estrutura, e quanto mais desesperado, menos complexa se tornava a densidade da conjuração de maldição.

    E pior, não parecia impressionado. Como se estivesse lidando com algo trivial, algo que ele já havia enfrentado inúmeras vezes. Em sua mente, a luta parecia se arrastar como uma repetição, como um ciclo inquebrável de desafios que já conhecia de cor.

    — Você quer mesmo lutar comigo?

    Se ergueu, encarando a criatura com um olhar de desdém.

    O som de suas palavras parecia engolir o ambiente, um eco de desconfiança, mas também de algo mais. Algo que o demônio, por mais poderosa que fosse, talvez nunca entendesse completamente.

    Ele era superior.

    Soou arrogante, mas era.

    — O cara que exorcizou Liliel? Claro! — Ele então ajeitou a postura. — Sou um dos irmãos dela, Naamahel, considerado um dos mais poderosos seres do abismo! — Seus dentes eram afiados como os de um dragão, e, em um elevar de trevas, suas auras se distorceram.

    Detalhe: quando isso aconteceu, ele recuou instintivamente.

    — Que foi? — O garoto riu, endiabrado.

    — Você…

    A cratera se abriu com um rugido ensurdecedor. Mas ele, sereno, se manteve flutuando, sua presença inabalável, sustentada pela manipulação natural do ar. Ergueu uma barreira invisível ao seu redor, uma força que o mantinha firme, desafiando a enorme pressão da explosão de energia.

    A entidade, por outro lado, estava em completo choque, uma sensação de incompreensão tomando conta dela.

    Os olhos da besta brilharam com uma mistura de incredulidade e terror. Era claro que aquilo era mais do que ela havia previsto. O ser à sua frente não era apenas uma ameaça física, mas uma força, uma turbulência caótica de emoções e intenções, algo que desafiava a própria essência do que era capaz de compreender.

    — Tem tanto poder… e ainda possui uma aura tão confusa! — disse o demônio, suas palavras se arrastando como se o choque a estivesse deixando sem fôlego. — Vejo… ódio, anseio de vingança, tédio, esperança… é um misto! Diria que você tem duas, não, três consciências dentro de si!

    Mas manteve-se calmo, não se dando ao luxo de se defender das palavras da criatura.

    — Até consigo ver além… Mas tudo isso é só uma fachada, não é?

    A entidade continuou, sua voz ganhando um tom mais grave.

    — Sente medo?

    Ele, porém, não reagiu. Apenas o olhou com uma expressão vazia, como quem já conhecia o jogo que estava sendo jogado.

    A besta tentou avaliar sua situação, e em um momento de clareza, um frio percorreu sua espinha.

    Ele iria me matar com sua aura? Aliás, por que esse breu? Pensou. É como… eu enfrentasse um rei demônio em minha frente…

    — Não vai atacar?

    O silêncio carregado de tensão foi quebrado pelo estalo seco do ar se convertendo em fogo. Num instante, o oxigênio virou combustível e um vórtice incandescente surgiu nas mãos do ex exorcista.

    — Grr… — rosnou a besta, os olhos faiscando.

    Ela segurava a investida com esforço, os músculos pulsando, as escamas rugindo sob o calor crescente.

    Mas antes que pudesse lançar um contra-ataque, fez um gesto sutil — e o ar à volta simplesmente ferveu. O calor foi tão intenso, tão escaldante, que o fogo evaporou em pleno vórtice, desfeito antes de sequer existir por completo.

    A criatura arregalou os olhos, surpresa.

    E manipula a matéria com maestria… não o vi entoar nenhuma palavra — será que está tentando compensar alguma coisa? Se eu resistir… terei vantagem depois! Isso!

    Foi quando pensou ter uma abertura para contra-atacar — mas teve que bloquear, às pressas, com os braços inferiores, um chute devastador vindo de baixo.

    Não estava para brincadeira.

    Desapareceu logo após o impacto, e no lugar onde estava, o chão se ergueu em uma parede de espinhos de pedra e eco, forçando a besta a saltar, desequilibrada.

    Não tô gostando disso…

    Pobre rato.

    Acima, uma sombra cresceu repentinamente — era ele. E antes que a criatura pudesse reagir, um golpe envolto em chamas a atingiu com uma força absurda, esmagadora.

    Inicialmente, acreditava que resistiria. Suas escamas, forjadas nas profundezas do abismo, jamais haviam sido perfuradas por fogo comum.

    Mas…

    — Auxilium flammarum nigrarum!

    Chamas negras surgiram, vivas, famintas, e então… seu braço, bem, ele simplesmente se foi.

    A criatura salivou de dor, um urro gutural escapando de sua garganta enquanto recuava em um salto torto, desesperado.

    O cheiro de carne queimada se espalhou.

    O príncipe demônio que o habitava recuou dentro de si, os olhos arregalados, tomado por uma verdade incômoda.

    Aquele ali… não era alguém que se enfrentava duas vezes.

    O seu braço caiu no chão com um baque seco, queimado até a medula. As escamas haviam sido desintegradas. Era definitivo: aquele braço nunca mais se regeneraria.

    — Cacete… teu braço caiu! — disse, ao pousar com um estrondo que rachou o solo ao redor.

    A besta mal teve tempo de assimilar a dor. Em um impulso desesperado, lançou um ataque surpresa — por onde passou, deixou um rastro de trevas vivas, moldadas para empalar seu adversário como um macaco preso num barril.

    Mas já havia percebido.

    Mesmo que o ataque tivesse sido refinado, mesmo que as lâminas tivessem sido fragmentadas em pedaços menores que um átomo, quase imperceptíveis à realidade…

    Ele simplesmente balançou a mão.

    E o movimento se desfez, a energia solidificada se desintegrou no ar como uma vela apagada por um sopro.

    — É sério? Que desgraça… eu achei que você fosse forte, mas assim? — encarou o monstro com olhos vazios de empatia.

    Havia cansaço ali… e um certo desprezo seco, como quem já viu essa cena mil vezes e perdeu o interesse no meio do caminho.

    Mas… não era só isso.

    Havia algo mais por trás daquele olhar. Um peso. Dava para sentir — estava sendo consumido por seu outro eu. A verdade cruel era que sua própria bipolaridade o limitava. O lado estressado, sarcástico e debochado… esse era o que realmente tomava conta. Isso era ele, inteiro. O lado frio, calculista, dramático? Menos que um terço de si. Um reflexo distante de quem tentou ser um dia.

    — Quer ver meu poder!?

    O silêncio após a indagação durou um segundo, espesso como chumbo no ar.

    — Quero…

    E então sua voz veio mais baixa. Mais grave. Mais perigosa.

    — Terei que ir com tudo, né? Pois bem…

    Não havia mais espaço para brincadeiras. Nem para misericórdia. Nem para redenção.

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