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    Convencido de que Akemi passaria por mais momentos de descoberta, Masaru tomou admitiria respostas negativas. Ele tinha um plano. — Você está mesmo disposto a isso?

    — Não sei se “disposto” é a palavra certa, mas quero entender o que está acontecendo comigo.

    Kurori riu de canto e arrastou uma das unhas pintadas sobre a beirada metálica da maca. — Que gracinha, não tem medo dos procedimentos? Bem, depois de saber o que você já passou, nada daqui pra frente passará de cócegas… Ou talvez não.

    — Este garoto precisa relaxar — comentou Masaru — ele depende da reação do corpo dele com o calor da aura, não da sua promiscuidade inútil.

    A doutora somente revirou os olhos, um gesto que não impediu o homem de se posicionar ao lado da maca, próximo ao ombro direito do pupilo.

    Mãos começaram a moldar um fogo alaranjado, brando e oscilante como uma vela ao vento, e numa jogada rápida, as chamas, suspensas no ar como uma grande auréola, começaram a rodear o tronco de Akemi.

    “Oh! Por essa eu não esperava… Pelo menos ele não está tentando um ataque”, pensou o garoto, aliviado enquanto contemplava o resplendor ao seu redor.

    Kurori observava. “Sim. Posso ver o corpo deste rapaz canalizando a energia da aura de Masaru… O núcleo dele ainda está instável, mas há outras irregularidades bem acentuadas”, ela estreitou as pálpebras. — Nunca vi um núcleo áurico responder desse jeito, me lembra um animal faminto que não teve um criador para ensiná-lo a se alimentar.

    O professor fechou os olhos por um segundo, e quando os abriu, as chamas se intensificaram, girando em espirais rápidas e hipnotizantes. Era uma técnica controlada que seguia um ritual que poucos ainda conheciam. — Vamos começar. Você, registre o que vê em tempo real. Aburaya… mantenha-se concentrando no que sente e nos informe o necessário.

    O calor aumentou e atingiu com um abraço sem contato. Músculos desacostumados tencionaram-se por instinto: o corpo frágil com a pele do torso exposta, curvou-se levemente.

    “Calma… eu preciso suportar isso.”

    As chamas mudaram o fluxo; o objetivo: infiltrar diretamente no catalisador de aura.

    Assim que a primeira onda de calor atravessou o campo áurico de Akemi, algo dentro dele acordou.

    Kurori abriu a mente. — Bingo! O núcleo foi reanimado.

    Akemi irradiou pequenas faíscas. Linhas finas de eletricidade traçavam caminhos bifurcados sob as cicatrizes da pele, iluminado o peito, braços e pescoço.

    Masaru deu um passo para trás, mantendo as mãos erguidas e guiando suas chamas. — Impressionante. Ele recebe essa energia com uma facilidade inimaginável. Não há nenhum sinal de que essa absorção o danifica.

    Acompanhando sua reação de surpresa, Kurori soltou um assovio baixo. — Então ele converte fogo em carga elétrica?

    O calor ficou absurdo. As faíscas e correntes que contornavam, ao mesmo tempo que impressionavam, preocupavam o jovem.

    “Essas chamas realmente fomentam a minha aura? Então é esse o segredo? Mas, estou começando a me sentir… descontrolado?!” 

    A eletricidade intensificou-se, uma onda estática correu pela sala, eriçando os pelos de todos os presentes. Pequenos objetos metálicos tremeram nas prateleiras. Um frasco de vidro estourou sozinho.

    — É o suficiente — disse Kurori, e embora a voz calma, havia um pedido velado. Masaru entendeu de imediato, e sem dizer uma palavra, apagou as chamas.

    O fogo desapareceu, mas faíscas amareladas continuavam como uma verdadeira fonte de luz.

    Atenta, a médica analisava. — Você é um capacitor humano… que energia maravilhosa.

    — Capacitor…? — Akemi suava, mas estava vívido, carregado de poder.

    — Enfim, acho que estou precisando de mais respostas. Já se sentiu assim antes, garotinho?

    Akemi permanecia sentado, respirando com dificuldade, ofegante por conta do calor corporal. As pupilas castanhas pulsavam reflexos da eletricidade recém-despertada. — Já.

    — Já? — repetiu Kurori, irônica como se duvidasse do que ouviu.

    — Ontem… quando tentei me exercitar, eu… desmaiei, lembra? Também senti esse calor por dentro. Não era do ambiente, era meu corpo mesmo… parecia que eu ia explodir.

    “Se não fosse a Nikko me ensinando sobre aquela respiração áurica, eu nunca teria ido tão longe naquelas seções de exercícios. Porém, o que essa médica tem em mente?”

    Kurori suspirou de leve. — Haah. Levanta da maca.

    — Quê?

    — Eu disse: levanta.

    — Ok…! E-e agora?

    — Se exercite.

    Akemi ficou claramente em dúvida se tinha escutado certo. Seus olhos correram para Masaru, que apesar de calado, compactuava com a ordem dada pela mulher. “Treinar? Agora?! Eu mal consigo ficar em pé, e ela quer o quê… flexões? Polichinelos?” Pensamentos o faziam desconfiar, mas contestar ordens na frente de dois superiores? Nem pensar. — Ok… tentarei — ele puxou o ar, levantou os braços e rapidamente os abaixou em sincronia com o abrir e fechar das pernas. Os sons dos passos no chão seco marcavam o ritmo de polichinelos. “O Major Yura é um instrutor meio impiedoso, mas ao menos consegui aprender alguma coisa… mesmo que tenha sido por baixo de gritos.”

    Kurori estendeu uma das mãos, os dedos esguios cintilaram um brilho imperceptível; em resposta, uma cadeira de madeira encostada no canto da sala tremeu, despertando-se de um cochilo inanimado. Sem que ninguém a tocasse, as pernas rangeram contra o piso branco: o móvel lentamente deslizou-se em linha reta até parar exatamente atrás da mulher, confirmando-se assim uma manipulando as vibrações moleculares do objeto, ela o forçava a atravessar microespaços de atrito, como se a realidade ao redor se curvasse para obedecer. Kurori apenas arqueou uma sobrancelha, satisfeita, e se sentou com a elegância de quem está acostumada a dobrar o mundo ao seu toque.

    — C-como você fez isso?! — indagou Akemi, sem parar os exercícios.

    Kurori sentou-se de pernas cruzadas: a elegância de alguém acostumado a dobrar o mundo ao seu toque. — Chamo isso de Faseamento Localizado. A posso manipular as vibrações moleculares do objeto e forçá-lo a atravessar microespaços de atrito. A realidade ao redor se curva para me obedecer, huhu!

    “Que mulher estranha…” concluiu Akemi, sem deixar de se impressionar. “De todas as habilidades que eu vi, essa realmente é diferente. Mas pera aí…”

    — Ei, você consegue fazer isso com pessoas-

    — Nah-ah, sem perguntas a mais. Foque no exercício.

    Sem sanar suas dúvidas, o jovem apenas podia continuar os movimentos, repetindo um após o outro.

    “Impressionante”, analisava Kurori “o núcleo ainda está sendo alimentado… mas não tem aura externa no ambiente. Isso é só energia corporal… Energia metabólica.” Intrigada, ela apoiou o queixo sobre o punho fechado. “Isso muda tudo. Pelo o que parece, ele não depende exclusivamente de aura elemental, então, o núcleo pode ser… flexível. Talvez seja um organismo por si só. Uma adaptação? Não. É algo mais sofisticado.”

    Energizado, Akemi continuava. “… dez, onze, doze…” O suor escorria no corpo marcado por cicatrizes. 

    Algo se acendia com cada repetição. A pulsação disparava, uma descarga interna e tênue percorria a espinha e os braços.

    Kurori levantou-se e aproximou-se devagar até que chegasse a menos de um metro do paciente. — Pode parar.

    O garoto congelou no meio do décimo oitavo polichinelo, arfando com as mãos no alto. — Hã… já? — O suor evaporava mais rápido que o normal. Partículas elétricas sutis escapavam das palmas.

    — Consegue controlar essa energia?

    — A-acho que sim, aliás, posso contê-la por enquanto.

    Sob efeito de uma concentração, as faíscas foram reduzidas e aprisionadas em um depósito instável: o núcleo áurico de Akemi.

    A doutora deu um pequeno sorriso. — Então você tem o mínimo de controle. Agora está claro, seu núcleo não depende de aura externa, ele também se ativa com a sua própria energia, algo que nunca vi antes em um retrator. Talvez… você tenha o primeiro núcleo autossuficiente.

    — E isso é bom?

    Masaru, que até então só observava, decidiu expressar seu fascínio pela possível descoberta, mas como sempre, sem se abrir demais. — Se isso for verdade, significa que você pode crescer mesmo num campo neutro, sem depender de nada e ninguém.

    — Na verdade, não é bem assim. A energia que esse garoto absorveu através das chamas é exorbitantemente superior ao que ele extraiu exercitando-se. Talvez o esforço tenha sido insuficiente? Difícil dizer. Mas isso pouco importa, pois se ele se exaurir completamente, o corpo não terá nenhuma fonte externa para ajudá-lo, e daí, pode ser que acabe se complicando.

    Ainda eletrificado e tentando recuperar o fôlego, Akemi sentou-se novamente na beirada da maca. — Uff… Então, eu sou tipo uma bomba que se recarrega sozinha? — Ver o aceno positivo da doutora o fez abaixar a cabeça para entender tudo aquilo. “Minha aura pode ser alimentada pelo fogo… Mas a energia que gasto ao me movimentar também conta como uma fonte. Só que… quando sofri aquele acidente, meu corpo também ficou energizado pela carga absurda de eletricidade que recebi de uma só vez. Ou seja… se eu tenho três formas de conseguir energia, existiria mais?”

    — O que está pensando, Aburaya? — questionou Masaru.

    Akemi permaneceu em silêncio por instantes, encarando o vazio. — Energia elétrica… térmica… cinética, potencial, magnética… radiante, química, sonora, mecânica, elástica, e até mesmo, a nuclear… Será que essas energias têm reações em mim?

    Kurori tomou um ar de interesse. — Huh… Chegou sozinho neste questionamento?

    — Mesmo assim não deixa de ser uma boa pergunta. Onde aprendeu esses conceitos, rapaz?

    Akemi olhava para os próprios tênis balançando enquanto lembrava do passado. — Aprendi algumas coisas como estagiário de uma usina. Não foi muito, só o suficiente pra entender como as reações das energias funcionam. Eu não tinha muita escolha, era isso ou continuar trancado em casa, hehe. Passei mais tempo perto de cabos de alta tensão do que pessoas nesses últimos tempos, mas pensando agora, se meu corpo reage a essas energias, será que a aura também? E se essas energias alimentam minha aura de formas diferentes?

    Cutucado pela questão, Masaru coçou seu queixo fino, contudo, deixou que Kurori assumisse a linha de raciocínio.

    — Suas dúvidas são muito mais válidas do que parecem. Dizem que a aura é moldada pela alma, mas acredito que o corpo seja o verdadeiro instrumento.

    — E se o corpo dele converte energia, então a sinfonia que você toca pode variar conforme a fonte — completou Masaru.

    — O que isso quer dizer exatamente? — indagou o garoto.

    — Imagine suas células como pequenas usinas — iniciou Kurori — cada uma delas pronta para converter energia em eletricidade. Quando o calor atinge seu corpo, essas usinas entram em atividade. Elas transformam esse calor em energia elétrica, que então é canalizada para sua aura. Não é absorção direta como vemos com áuricos típicos, está mais para uma transformação. Metabolismo áurico. Creio que por isso você não precisa de fontes externas como outros áuricos.

    Compreender as comparações alegrava Akemi.

    — É um caso curioso — disse Masaru, mais para si do que para os outros — se esse rapaz despertou poderes áuricos há tão pouco tempo, então o corpo dele deve ter passado por uma adaptação violenta até conseguir canalizar uma aura crescida na escassez, mas que aprendeu a sobreviver de restos.

    “Isso explica por que senti aquela descarga durante os treinos… e por que, mesmo sem a aura elemental do fogo por perto, ainda consegui ativar minha energia. Significa que quanto mais tipos de energia meu corpo entrar em contato, mais meu núcleo pode aprender? Não, eu preciso provar essa teoria!”

    — Todas as formas de energia que mencionei… são possíveis catalisadores?

    — Teoricamente, sim — respondeu Kurori — mas isso ainda é só especulação. Precisamos de testes, experimentos, análises… Cada tipo de energia interage com a matéria em níveis diferentes. A cinética, por exemplo, depende de movimento. A sonora atua nas vibrações. São estruturas completamente distintas, talvez algumas se ajustem melhor à sua aura. E sinceramente, suas emoções instáveis são uma variável bem mais perigosa. Um desequilíbrio emocional seu pode causar estragos muito piores que qualquer uma dessas energias. Há exemplos disso por toda a parte.

    Akemi empolgou-se por dentro. “Há um quebra-cabeça escondido dentro de mim, se eu descobrir qual peça encaixa melhor, posso transformar meu corpo num gerador perfeito!”

    De mãos recuadas atrás da cintura, Masaru ampliou o tom sério. — Aburaya.

    — Senhor!

    —  A partir de agora, você tem uma missão.

    Pés animados pararam de balançar; olhos arregalaram-se de surpresa.

    — Missão? Do tipo oficial!?

    — Do tipo vital… Preste bem atenção, daqui pra frente, garoto, você deve testar todas as reações que você tem diante das energias que você conhece. A cada situação adversa, a cada batalha, a cada pequeno contratempo, quero que observe o comportamento de sua aura perante todas as energias presentes, seja lá qual for. Você deve estar sempre conectado ao seu núcleo, saber o que ele sente, o que ele consome, e o que ele retribui. No momento oportuno… teste, arrisque, reaja com o que for melhor.

    “Ele… está confiando isso a mim?” O sentimento escasso de honra e reconhecimento encontrou Akemi, mas uma pergunta estava prestes a escapar. — Por que está me dando essa missão…?

    — Porque você é o único com um núcleo instável, adaptativo e imprevisível o suficiente pra isso. Ninguém mais poderia conduzir essa análise, e… eu preciso entender o que exatamente é você.

    A frase pesou, mas não de um jeito ruim.

    “Ele realmente está interessado em mim? Mas por que? O que ele quer? O que ele está vendo? Calma, se no final o intuito é me ajudar, eu não devo fazer nada além de aceitar!” Akemi sentiu os ombros erguerem um pouco: sua coluna ficava ereta por conta própria e seus punhos se apertavam. — Eu farei isso! Pensarei sobre o tempo todo, no amanhã e no além!

    — Huhuu! — Surpresa pela repentina determinação, Kurori deu dois passos à frente e inclinou-se devagar até alcançar o nível dos olhos do rapaz. — Você é um ratinho de laboratório bem animado, não é mesmo? Pois saiba que se caso você acabar se machucando demais no processo, pode contar com meus cuidados. 

    — E-eu não sou um rato! — O envergonhado desviou o próprio rosto avermelhado.

    Kurori ignorou a tentativa de defesa e se aproximou mais um pouco, de propósito. — Só não tenta morrer pelo menos, tá? Eu sei muito bem as loucuras que um homem pode fazer em cenários inimagináveis — após utilizar de toda sua voz sedosa, ela recuou para o lado de Masaru.

    Com as bochechas em chamas, só restava olhar o chão. “Que tipo de cuidado ela quer dizer? Me matar? Ela acha que sou idiota…? Bem, acho que depois de algumas coisas, possa ser que ela talvez tenha razão.”

    — Obrigado, doutora. Tentarei me manter vivo.

    Masaru soltou um pigarro. — Ahém. Isso é tudo por hoje. Os experimentos já renderam mais do que eu esperava. Na verdade, me fizeram pensar bastante.

    — Vai escrever um artigo sobre isso? — perguntou Kurori, de braços cruzados.

    A grosseria passou pela cabeça do homem, mas a resposta veio sem provocações.

    — Penso em começar rascunhos.

    — Ah, sim, cientistas adoram isso, huhu.

    Era certo que Masaru claramente não queria dar bolas para a ajudante, seu interesse estava em outro lugar. — Continue me informando sobre sua aura, rapaz. Se preciso, mande relatórios, observações. Me encarregarei de administrar o que puder.

    Akemi levantou-se da maca e prestou uma continência espontânea. — Entendido, senhor! Me esforçarei para trazer tudo detalhado! — Irradiando pelas cicatrizes, a eletricidade rapidamente o percorreu, mas logo, aquietou-se em definitivo… pelo menos por ora.

    — Muito bem — respondeu Masaru, esboçando um leve aceno de cabeça.

    Com os pensamentos em direção ao descanso que aguardava no quarto, Akemi virou-se em direção à porta de correr. Sua mente, embora carregada de informações demais para um só dia, tentava se animar com o que poderia acontecer a seguir. “Esse dia nunca acaba, hein…?”

    Mas então, antes de dar o primeiro passo para fora…

    — Aburaya.

    A voz de Masaru o fez parar no ato e virar a cabeça só o suficiente para mostrar que estava ouvindo.

    — Hiromi, minha filha, disse que está te esperando no setor 7 do Campo de Treinamento 3.

    O coração de Akemi falhou um compasso. — Hã? Mas por quê?

    — Não faço ideia. Achei estranho, inclusive. Parece até que ela já sabia que você viria procurar-me. Ela não me disse o motivo, apenas que espera você lá.

    “Setor 7, Campo 3…? Por que num lugar tão aleatório e desconhecido por mim? E por que agora?!” Apreensivo, Akemi mordeu o lábio inferior; mas rapidamente retomou a compostura. — Pode deixar, vou providenciar isso. Obrigado pela informação, senhor! — Mais uma continência, dessa vez mais séria.

    — Ultima coisa. Já que irá falar com a minha filha, trate-se de ao menos recolocar o seu uniforme completo.

    — C-claro! M-mas onde elas estão!?

    — Aqui — com suas habilidades áuricas, Kurori levitou as roupas até o dono delas.

    — O-oh, valeu!

    As vestimentas foram pegas e vestidas com a pressa de quem queria desaparecer dali, o que realmente fazia sentido, já que o jovem apressadamente se vestia enquanto se afastava. — Obrigado pelas orientações!

    A porta foi deslizada e os passos apressados se distanciaram pelo corredor.

    Kurori ainda sorria, e Masaru, apenas encarava o nada.

    — Huhu, que garotinho desconcertado — comentou a mulher, ajeitando os curtos cabelos atrás da orelha.

    — … Prevejo mudanças…

    — Ah, é? E por que acha isso?

    — Aquela aura é uma das manifestações mais voláteis e imprevisíveis que já catalogamos. Pelo o que temos de referência no passado, a eletricidade, quando desperta em um corpo humano, devasta, queima, rompe e devasta.

    — De todos áuricos elétricos, só da pra se espelhar em um. Mas é preciso muita personalidade. Não sei se aquele corpo franzino e desconfiado seria capaz.

    — O que me surpreende no Aburaya não é a aura. Ao contrário de muitos outros áuricos, vejo nele algo incomum: um coração genuinamente puro, sem um pingo de orgulho inflamado ou veneno nas intenções, e mesmo com todos os medos que o paralisam, há ali o mínimo necessário de vontade, a fagulha que qualquer um precisa para evoluir. Se ele for guiado pelos caminhos certos, longe da escuridão que engole tantos poderosos, pode ser que talvez estejamos novamente diante daquele raio que caía e alterava tudo ao seu simples toque…

    Kurori entendia as previsões de Masaru. Um áurico com ideais nobres, firme em seus princípios e imune a desvios, com certeza poderia se tornar um grande herói… ao menos, na teoria, pois na prática, os mais espertos sabiam isso era só um rótulo: para eles, a palavra “shihai” não passava de um título para medir poder, e Kurori, uma dessas pessoas safas, optou pelo o que mais lhe importava no momento. — Que lindo ver você todo orgulhoso do seu pupilo — comentou ela, inclinando levemente o corpo e com um sorriso de canto — mas agora me diz… posso receber o meu pagamento?

    — … Você tem poucos minutos…

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