Capítulo 41.1 - Possessão
Algumas horas antes…
O beco estava úmido. Escuro. Impregnado pelo cheiro de óleo velho e abandono.
Ali entrou o detetive mais famoso de Nova Tóquio — o único com coragem de investigar os desaparecimentos.
Quase todos eram crianças. Idades entre sete e nove anos. Predadores. Tráfico humano.
A podridão que o governo tradicionalista fingia não existir.
Mas o azar dele… é que justiça e bondade não definem o destino.
Passos o levaram até os fundos de uma antiga fábrica. Um prédio corroído pelo tempo — e por algo pior.
Ali, onde antes corpos haviam sido encontrados… e provas evaporaram misteriosamente…
Ele viu.
Leviel.
O tempo parou.
Um som ecoava no silêncio: o gotejar de algo quente e vivo escorrendo no concreto.
A criatura à sua frente parecia saída de um delírio febril: pele escamosa, pingando sob a luz trêmula, olhos afiados de sadismo…
E, de forma quase absurda, um ar envergonhado. Tímido.
— Desculpa… — murmurou, com um sorriso desconcertante — Mas você vai ser a vítima do dia!
O detetive girou nos calcanhares, reflexo treinado pela sobrevivência.
Mas as pernas… travaram.
Um frio cortante subiu-lhe a espinha como se a coluna fosse um rio congelando de dentro para fora.
E então — um toque.
Lábios secos roçaram seu ouvido.
— Seja minha peça…
Foi a última coisa que ouviu antes de apagar.
Mas aquilo…
não foi uma simples possessão.
Não.
Foi uma invasão íntima.
Uma cirurgia de alma sem anestesia.
Um espelho estilhaçado… em que o reflexo assumiu o controle.
E quando despertou, estava nu. Submerso.
Engasgando.
Emergia em águas negras, densas como óleo.
Não sabia se era real. Mas doía.
— O-onde estou…? — perguntou, ofegante, tentando respirar o impossível.
Uma risada ecoou.
Vinha de todos os lados.
De dentro também.
E então viu.
Uma figura… parecida com ele mesmo.
Ou com o que ele fora.
O demônio vestia seu rosto como se fosse uma máscara arrancada de um cadáver quente.
— Está no fundo do poço.
— Dentro de si.
— A parte que esconde… a inveja. A inveja de ser sempre menos, mesmo fazendo mais. A essência humana.
Crua. Sem máscara.
Foi essa a maçaneta girada por dentro.
A porta que o Diabo só precisava atravessar para estar no controle.
E agora… não iria embora.
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