Capítulo 160 de 11 – Eu sou melhor!
Sabia que errava, mesmo quando o erro se restringia ao pensamento mais íntimo. Aquele lado apodrecido, sombrio e oculto dentro de si não lhe era estranho, embora jamais aceitasse sua existência.
Negava-o com uma rigidez que quase doía, enquanto, em segredo, continuava a alimentá-lo, como quem finge não ver a própria sombra. Contudo, ali, agachado, sem força para resistir, tudo o que por tanto tempo ocultou — rancores, dúvidas, culpas e medos — rompeu-se de uma vez na mente, invadindo cada canto escuro de sua consciência.
Chorava como nunca, murmurando desculpas a todos — especialmente a Izumi e Idalme.
Vai. Quebre-se. Quebre totalmente e torne-se o que sempre almejou!
Com um sorriso diabólico no rosto, a cópia caminhava em torno de Max, silencioso em seus pensamentos. O cenário mudou mais uma vez e diante deles surgiu um quintal vasto, onde conjuntos de flores amarelas se estendiam sob a luz morna do entardecer.
Porém, eles não estavam ali, apenas observavam de longe, como sombras distantes. À distância, alguém via uma criança de riso aberto, cheia de vida e inocência, correndo alegremente ao lado de uma mulher esbelta.
— Olhe Max.
Ele ergueu o rosto sem perceber e fitou o jardim. As lembranças vieram como brisa leve, conduzindo-o há dias felizes, quando sua maior preocupação era não molhar a cama.
— Consegue perceber a podridão? Aqui nasceu sua inveja.
— Qual o problema de invejar… — murmurou, quase se entregando.
— Não tem problema invejar uma família feliz. Mas você, Max, que tinha tudo, queria roubar o que não tinha. Até a mãe do seu irmão queria possuir. Você é egoísta, podre desde pequeno.
— Cala a boca… eu… só queria… uma mãe…
— E pra isso tiraria a felicidade de outra criança? Além da inveja, é ganancioso demais. Mesmo tendo tudo que uma criança sonha, queria mais. Sim, ganância.
— …
— Inveja, ganância… mas não para aí. Você e sua família têm algo em comum. Consegue me dizer qual é o outro pecado, Max?
Max, ainda em aparente recuperação, deixou-se levar pela dúvida: a que pecado sua outra parte se referia? Mas estava tão abatido que a própria mente se voltou contra si.
— Não consegue dizer? Sua inteligência despencou, e vocês ainda se acham os fodões de tudo.
— Luxúria…
— Exato, luxúria! Mas sabe, Max, não é disso que eu realmente quero.
— Hum?
A cópia surgiu diante dele, segurou suas bochechas e falou:
— Desejo o seu orgulho!
— Quê? — Max perguntou, surpreso.
Ele se afastou um pouco, com um sorriso frio:
— Mesmo sendo do clã mais orgulhoso, você, Max, tem um orgulho fraco demais!
— Do que está falando?
O cenário mudou outra vez, agora para um espaço fechado, onde muitas pessoas se encontravam reunidas.
— Lembra deste lugar? — perguntou a cópia.
— O auditório. E daí?
— Não lembra? Foi aqui que descobriu que vocês eram irmãos.
Max, se recuperando aos poucos, perguntou:
— Diga logo.
— Não se apresse. A resposta é simples: você se perguntou, não foi? Se são irmãos, por que sou tão mais fraco?
— …
— E o meu poder demoníaco? Eu não sou mestiço? Sou um fracasso? Izumi é mesmo meu irmão?
— Tantas perguntas… não me diga que já tem as respostas.
— Tenho.
Max surpreendeu-se com a resposta inesperada. Aquela cópia, que até então o lançava em profundezas de verdades cruéis para fragilizá-lo, agora mostrava-se disposta a dissipar suas dúvidas — gesto que parecia tão estranho quanto uma mentira disfarçada.
Lentamente, o corpo começou a sofrer uma transformação. A aparência continuava a mesma, porém o tom da pele mudava gradualmente.
— Não me diga…
— Sim. Eu sou a resposta!
Ainda surpreso, Max esboçou um sorriso verdadeiro, raro e sincero. A dor e a aflição que o consumiram momentos antes pareciam agora distantes, quase esquecidas diante daquela revelação que, enfim, dava resposta às suas inquietações mais profundas. Era aquilo que ele mais desejava: fortalecer-se — até superar o próprio irmão.
— Um demônio! — declarou Max.
A pele escureceu lentamente, adquirindo a tonalidade exata do irmão, como se uma sombra se espalhasse por todo o corpo. Os dentes, antes comuns, transformaram-se em lâminas serrilhadas, afiadas e ameaçadoras.
O cabelo mudou, tingindo-se numa estranha mistura de preto e branco, entrelaçando as cores como uma tempestade prestes a explodir. Ao erguer o rosto para sorrir, a cópia exibiu um sorriso inquietante.
— Agora me responda, Max. Essa podridão dentro de você… aceita esse fardo?
Ele sorriu, firme:
— Não me importo mais. Não me arrependo do que fiz. Enquanto tiver força, nada mais importa. Não ligo para o que os outros pensam. Essa podridão, aceitarei se for preciso para ser forte.
— E o orgulho?
Naquele instante, imagens do irmão, sempre admirado em cada momento da vida, cruzavam a mente dele. Fechou os olhos e a admiração se fez mais viva. Ao reabri-los, mostrou-se convicto, enquanto pensava:
Adeus, admiração… Adeus, eu.
— Eu sou o melhor!
— Hahahahaha! Melhor que o seu irmão? Melhor que o Izumi? Me diga, Max!
— Sim! Não importa quem seja, não importa se são os mais fortes do mundo, não importa se são mais fortes que eu! Serei sempre o melhor!
O demônio, que até então sorria largo, parou de repente, ergueu a mão em direção a Max e perguntou:
— Aceitas, esse seu lado?
Max caminhou em sua direção, enquanto os fragmentos que antes despedaçavam sua mente começavam a se alinhar. As dúvidas que o afligiam dissolviam ao encarar aquele reflexo, aquela outra face de si.
Serei melhor de mim mesmo!
A mente dele parecia concentrada naquele instante, enquanto a cópia o fitava, sorrindo, pronta para aceitar a nova forma do original.
Ele segurou firme a mão do demônio e declarou:
— Eu aceito!
— Hahahahahaha! Então o pacto está feito!!!
O corpo do demônio dissolveu-se, fundindo-se pela mão de Max. Uma energia imensa percorreu-lhe o corpo, algo jamais experimentado. O sorriso alargou-se, tomado por êxtase puro. A aura negra explodiu para fora, vibrando com intensidade até penetrar por completo em seu ser.
Quando a energia negativa consumiu-se por inteiro, sorriu de canto e soltou uma gargalhada, preparando-se para lançar sua nova frase de efeito:
— Eu sou melhor!
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