Índice de Capítulo

    Nem tudo precisa de um motivo.

    Dizem que o universo em que vivemos é um acaso.

    E nós… somos um grande acaso.

    Mas, afinal, quão grande é um acaso que não pode ser explicado?

    A resposta… está na cena de abertura deste capítulo.

    Pois, de um grande acaso, ressurge pela última vez… Anastásia.

    Seu corpo, antes silenciado pelas mãos da morte, é tomado por uma explosão súbita de energia.

    Outra deidade emergia — tomando forma, respirando… consciência.

    O chão vibrou, profundo, como se um trovão tivesse se partido sob seus pés.

    Energizada, emanava uma força crua — energia espiritual que se infiltrava nas paredes e pilares, corroendo até as fundações do palácio, como se buscasse derrubar sua própria espinha dorsal.

    E então, alcançou o maldito que a decapitara.

    — Maldição…

    O sobretudo negro que o cobria se infla e se agita como uma bandeira rasgada diante de um vento de guerra.

    Seus olhos, antes opacos, agora estão arregalados — um terror lúcido, carregado de um brilho que não se via há muito.

    Adrenalina era injetada em suas veias.

    — Você… acendeu? Não… impossível… que truque foi esse?!

    — Me tornei uma celeste… — sua voz é calma, como se recitasse um veredicto.

    Lentamente, a cabeça, que antes jazia caída, retorna ao corpo, num encaixe grotesco, enquanto uma luz densa e pulsante se expande como as pétalas de uma flor de lótus feita de vidro incandescente.

    — Tá na hora de acabar com isso!

    Antes que pudesse entender o movimento, ela já se deslizava pelo campo de cadáveres, tão silenciosa quanto uma lâmina cortando a água.

    Então…

    — Acabar? — Mal teve tempo de reagir.

    Sentiu algo vindo, rápido e certeiro, e num instante sua mão foi arrancada, pintando o ar com vermelho.

    Enquanto pele dela cintilava sob uma camada translúcida, quase cristalina; sua técnica inata transbordava.

    Droga! Havia uma potencial celeste entre nós!?

    Sua reação foi pura sobrevivência.

    Sem pensar, ergueu o braço restante e conjurou fios invisíveis, finos como teias, tensos como cordas de aço.

    Mas quando o sangue respingou sobre as próprias vestes, o grito veio com a acusação:

    — Você é… um demônio!

    — Um demônio tão belo assim? — o sorriso dela, pequeno, cortava mais que qualquer lâmina. Os fios tentavam prendê-la, mas eram despedaçados assim que tocavam o manto de vidro que a cercava — Me sinto protegida por algo… que nem sei se é meu. É quase… como ter um anjo protetor.

    E então… ela cortou. E ele nem viu.

    Não teve tempo para rezar ao suposto anjo assassino diante de si.

    Puxou os fios restantes, cruzando-os como muralhas frágeis contra a brisa de lâminas cortantes que vinham em sua direção.

    Imagine… uma tempestade de vidro.

    Vindo sem freios.

    — Gosta de cortar carne, não é?

    Provocou, aproximando-se novamente, sem esforço, movendo-se como quem dança sobre estilhaços.

    Mas não se cortava nem se estivesse descalça; era intocável.

    Naquele campo de morte e estilhaços, era quem ditava as regras — outrora só mais uma e agora uma das celestes desta geração.

    Um vestido de cristais moldava-se ao seu corpo, refletindo a luz em brilhos… gélidos.

    Será que eu dou conta?

    Ele chegou a pensar, a dúvida ecoando como um sussurro abafado no meio do caos.

    Enquanto, o sorriso dela se alargava de leve — tão sutil quanto um corte de vidro que só se percebe quando o sangue começa a escorrer.

    — E o que acha… de se ver fatiado?

    — Grr…

    Seu corpo já era um mapa de feridas, um tecido bordado por centenas de cortes finos.

    Seu sangue escorria em fios e quentes, tendo pingado e respingado sobre ela, tingindo de rubro o vestido translúcido que refletia luz como um vitral.

    Ela era a rainha sangrenta naquele instante… Dizem os antigos que, quando a morte se veste de beleza, chamam-na Cruenta.

    Sustentava-se nas linhas do destino como quem caminha sobre um fio — uma linha tênue… frágil… estendida entre um fim e outro.

    Entre dois destinos que não poderiam coexistir.

    E ali, no balanço dessa linha, era ela quem decidia qual cairia primeiro.

    E sua vítima?

    — Anastásia!

    A ardência queimava-lhe a visão, turvando os contornos do mundo, afundando em um lago de névoa vermelha.

    Cruzou os dedos, cuspindo sangue entre as palavras.

    Os nós de suas articulações estalavam sob a pressão, como se aquele gesto fosse sua única tábua de salvação.

    Um com a dor, por maior que fossem seus pesares, e…

    — Expansio energiae: Contusio manicae stipulae!

    De repente… junto às palavras, o mundo ao redor se distorceu.

    Cada fragmento de sua energia se expandiu, como ondas rompendo todas as fronteiras, até tomar todo o espaço ao redor deles.

    A noite escura desceu sobre os céus — não como tempestade, mas limpa, serena… o tipo de silêncio que só existe no final perfeito.

    Do horizonte nebuloso, um milharal seco e apodrecido se ergueu, e nele, centenas de corvos grasnavam, espalhando-se como fumaça.

    As penas negras riscavam o ar, o som das asas misturando-se ao farfalhar do milho morto.

    O campo se fechava, estreitando-se, forçando-os a encarar um ao outro.

    Bastou ele se virar e, num instante, a energia dela se entrelaçava com a dele.

    Assim como os fios, tão finos quanto cabelos, grudavam-se nas suas articulações e deslizavam até um boneco de palha que surgia no centro do milharal — seu reflexo.

    — Personificatio simulacri stipulae!

    Ativando sua técnica ativa, que exigia uma indagação para despertar — uma pergunta feita não ao inimigo, mas ao próprio destino — começando a tingir o espaço ao redor com as cores de seu domínio.

    Ao menos… poderei ir com tudo! Será que sou capaz… como o velho falou?

    Mas a pergunta não ecoava apenas na mente — ela pesava no peito, arranhando cada batida do coração.

    Sua insegurança emergia como uma sombra, inevitável, diante de um problema muito maior do que ele mesmo.

    As sombras se contorceram como serpentes, o ar se tornou denso a ponto de pesar sobre os ombros, e cada detalhe do cenário parecia moldado pela sua vontade.

    Sua restrição não apenas alterava o espaço — ela o adaptava, distorcendo o que via para refletir seus próprios conflitos internos, transformando cada forma, cor e som em um reflexo cruel de suas dúvidas e medos mais íntimos.

    Tudo se tornou cinza…

    Assassina, vazia… como um milharal abandonado de um filme antigo, onde o vento geme entre as hastes secas.

    O lugar perfeito para um psicopata caçar suas vítimas.

    E partir desse momento, não sofreria mais danos… ou melhor, não seria vítima de ferimentos. Pois, naquele campo, cada golpe recebido deixaria de ser só seu para ser compartilhado com o boneco de palha.

    — Vamos jogar do jeito mais difícil!

    Ele não apenas falou.

    Apostou com o destino, entregando-se a um jogo onde cada movimento poderia ser o último, e cada acerto, a diferença entre existir… ou desaparecer.

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