Índice de Capítulo

    Quando a luta entre Max e Slother começou, Dam ergueu-se com esforço. Ao notar a esfera de fogo que crescia no ar, compreendeu de imediato que seria alvo. Tomou Loi nos braços e avançou penosamente, mas ambos foram atingidos.

    As chamas queimaram-lhe o corpo, ainda assim prosseguiu até romper o círculo incandescente. Exausto, tombou e perdeu os sentidos. Mais tarde, ao recobrar a consciência e observar-se melhor, percebeu que foi curado por mãos desconhecidas.

    Ergueu-se e examinou o corpo. Notou a ausência de um dedo, sem recordar o momento em que o perdeu. Lançou o olhar ao redor e encontrou Loi próxima, enquanto, diante dela, um casal discutia.

    De súbito, uma dor latejou-lhe a cabeça. Sem ânimo para suportar os gritos que ecoavam ao redor, murmurou em voz baixa:

    — Acalme-se… — disse ele, mas parecia ter sido ignorado. Talvez tivesse falado baixo demais. — Max não tem culpa.

    Apesar dos desaforos de Idalme, desejava pôr fim àquilo e aliviar a dor que lhe consumia a cabeça. Enquanto limpava e vestia Loi, sentiu certo alívio, sem notar que a sensação vinha da excitação provocada pelo corpo da irmã. Julgou, então, que a dor se atenuou.

    Depois de convencerem Loi a curar os mestiços, o clima pareceu apaziguar-se, mas o incômodo em sua mente apenas se agravava.

    A jovem pousou as mãos sobre o peito dos mestiços e concentrou a aura para desativar o sistema de defesa das Leis. Nesse ínterim, Max observava atento, desconfiado de qualquer novo ardil.

    — Pronto… hum…

    De repente, o corpo dela tombou, inerte. Do chão erguia-se uma energia maligna, densa como névoa negra, que tornava o ar pesado e sufocante. O silêncio que se seguiu foi cortado apenas pelo arrepio que percorreu cada espinha. Nenhum corpo resistiu: todos tremiam, como se mãos invisíveis os prendessem pelo medo.

    — O que está acontecendo? — questionou Max.

    Uma mão ergueu-se lentamente e pousou sobre o peito de Ui. Os ferimentos cerraram-se como se a própria dor fosse sugada, e a mão que os curava tremia, exalando esforço e sofrimento, sem jamais ceder.

    Izumi, mesmo com o peito rasgado, permanecia sem sangrar. O corpo ergueu-se com lentidão inquietante, enquanto a energia negativa que dele emanava se adensava, quase sufocante, comprimia o ar e pesava sobre cada presença ao redor.

    Ao ficar de pé, o rosto sério voltado para trás, a aura que irradiava parecia dobrar o espaço em torno dele. Ao abrir os olhos, uma rajada de intenção assassina varreu o ambiente. Dam desabou inconsciente, e os outros se curvaram involuntariamente, dobrados pela força que os esmagava.

    Slother sentindo aquela energia opressora, logo pensou:

    Essa opressão… é como se fosse… não pode ser… o escolhido?

    O peito perfurado começou a fechar-se lentamente. Mas antes que pudesse recompor-se por completo, o corpo cedeu e tombou no chão. Num instante, a energia opressora que o rodeava dissipou-se.

    — O que foi isso? — Idalme perguntou, ainda ofegante. — Por um instante, achei que fosse morrer.

    — Sim… foi totalmente diferente do habitual.

    Max aproximou-se e examinou os corpos, sentindo um alívio contido. Os corações ainda batiam. Pensou que talvez Izumi, mesmo inconsciente, havia tentado curar Ui ao seu lado. Um sorriso sutil surgiu em seu rosto.

    Ele voltou o olhar para trás, encontrou Idalme e disse:

    — Estão bem.

    A peituda sorriu e um resquício de lágrimas deslizou pelos lábios. Logo desabou ao chão, sentindo alívio. Ao erguer os olhos ao redor, percebeu Dam caído, inconsciente.

    — Dam?

    Ela aproximou-se e o examinou. Não havia ferimentos aparentes, mas resolveu aplicar a cura geral. Mesmo assim, ele não despertava. Como o coração ainda batia firme, julgou que estava bem.

    — Bem… não sabemos por quanto tempo vão permanecer assim.

    Max ergueu Izumi e Ui nos braços, pronto para partir. Mas uma intenção opressora pairava sobre ele, consumindo-o com olhos invisíveis.

    — Coloque a Ui no chão! — ordenou Idalme.

    — Sim… desculpe.

    O mestiço ergueu Izumi e Dam nos braços, enquanto Idalme carregava Ui. Léo decidiu levar a irmã junto com Slother. Corriam por horas quando, de repente, o atirador despertou.

    — Coloque-me no chão.

    — Acordou, Dam?

    — Sim…

    Léo aproximou-se dele e apoiou-lhe a cabeça de Slother. Dam lançou um olhar estranho à situação, mas não contestou. Continuaram avançando, e a noite começou a cair. Foi então que Loi despertou.

    — Onde estou?

    Léo, que já havia curado a irmã, depositou-a rapidamente no chão e prosseguiu correndo. Confusa, ela correu atrás e perguntou o que aconteceu. Ele explicou-lhe, entre passos apressados.

    A noite caiu pesada e silenciosa. O líder determinou que descansassem até o amanhecer. Idalme e Max ergueram tendas separadas; ele ficou com Izumi, peituda com Ui.

    Preocupado com Slother, Max amarrou-lhe um pano firme na cabeça e cercou o local com sinos. Fez o mesmo com Léo, apesar do aperto no coração. Qualquer movimento dispararia os sinos, e o estalo metálico ecoaria pelo acampamento, rompendo o silêncio como um aviso de perigo iminente.

    O vento soprava frio entre as árvores e cada sombra parecia espreitar, tornando o descanso tenso e vigilante. Nenhum dos presentes se permitia relaxar por completo, pois a sensação de estar observado não os abandonava.

    Loi relutou, mas percebeu não haver escolha senão aceitar. Na tenda, ficou encarregada de vigiar os outros. Dam montou uma própria, e assim o grupo se dividiu.

    As horas passaram e a chuva começou leve, aumentando gradualmente em intensidade. Max, na tenda com Izumi, pressentiu que algo interessante poderia ocorrer, capaz de quebrar a monotonia da noite solitária, e manteve-se acordado.

    Dam, como de costume, ocupava-se na própria tenda, cuidando de suas pequenas criações e mantinha-as em forma, mesmo com dores de cabeça. De repente, a tenda começou a abrir-se sozinha. Em alerta, ele apontou Diana e perguntou:

    — Quem é?

    Um braço avançou pela abertura da tenda, e logo a silhueta de uma mulher encharcada pela chuva tornou-se visível. O tecido de suas roupas colava-se ao corpo, revelando contornos que tremiam sob o peso da água. Os olhos, ardentes e sedentos, fixavam Dam com intensidade quase predatória.

    Ela avançava devagar, quase deslizando sobre o tecido grosso, enquanto Dam recuava, firme e tentava afastá-la sem sucesso. O cheiro da chuva misturava-se ao suor e ao frio da noite. 

    — Me ajude… — murmurou, olhando para ele. — Ham… eu não aguento mais… — sussurrou, quase em seu ouvido.

    Dam percebeu que a dor de cabeça havia diminuído. Ao observar o corpo encharcado à sua frente, sentiu-se estranhamente vulnerável. Cada movimento dela parecia ampliar a fragilidade que o envolvia, deixando-o à mercê da situação.

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