Índice de Capítulo

    — Maldito! — bradou Luciel do leito de seu trono, rindo da própriadesgraça — Como ele pode perder assim? A essência…

    — A essência está com Alum, meu senhor — Asmael interrompeu, reverente — Se esqueceu?

    — Me esqueci?

    — Sim, — arfou, quase sem ar — Faz tempo… Mas esse seu plano se concretizará de uma forma ou de outra. Você pode encarnar Dádivas através de Alum, não pode?

    — Posso… — um nervosismo lhe subiu à face — …Mas não acha que será perigoso?

    — Tem medo de ter a essência roubada? — Asmael inclinou-se, as garras quase tocando a própria face zombeteira, oculto atrás da sombra que vestia — Como? Alum não pode ser roubado. Ele existe além dessa dimensão. Na verdade… mal consigo visualizar o que ele é.

    — Nem mesmo ao vê-lo! — Se ergueu, irritado — Sua forma só pode ser entendida através da percepção de Lucis. Ela pode ver, através de sua onisciência absoluta, tudo no fluxo presente.

    — Hm… — Asmael levantou-se dos joelhos, cauteloso — O que foi?

    — Hã?

    — Você… está diferente, desde que saiu do trono.

    — Ah… — riu, tocando o próprio peito como quem encontra algo novo — Percebeu?

    — Senhor?

    — O único! — disse, olhando ao redor com desprezo — Que irritante… ter um corpo tão fraco!

    Soltou um bocejo, como se nada ali o impressionasse.

    — O-qué…?

    — Não se preocupe… — estalou os dedos — Eu só vim eliminar Bezeel. Sinto que Luciel nunca iria até o fim com ele no caminho.

    — Como?

    — Esperava que você me dissesse — sorriu, afiado — Afinal, quem pode criar ramificações e prender outro demônio no tempo… é você.

    — Já sabe?

    — Já. Eu percebi ele derrubar sua infinitude de tempos. Onde o escondeu?

    — Escondi? Não… — abriu a palma. Uma pequena árvore cósmica emergiu, do tamanho de um bonsai, com galhos que cintilavam como linhas de universos — Ele perdeu a essência que absorveu, então… dei camadas temporais pra ele comer. Quando absorveu o suficiente, eu criei um Multiverso de bolso. Legal, né?

    — Criativo — os olhos se estreitaram — Mas desfaça.

    — Tá… — Asmael o olhou pela última vez — Mas onde?

    — Presente.

    — Onde?

    — Onde o corpo estava da última vez.

    — Tá… — Suspirou, reunindo energia na palma — Dĭlábere, lūx.

    Se abriu como um corte na própria espinha do tempo.

    E daquela ordem, rasgada, convulsa, inevitável, renasceu o único que nunca deveria voltar.

    No exato ponto onde enfrentara o Idealista, brotando como espinho da terra, o corpo esguio emergiu em pura escuridão, suas formas arrancadas do silêncio primordial.

    — M… mundo…?

    A voz não soou — foi sentida.

    Em cada pedaço daquele plano.

    Nos pares em êxtase, nos guerreiros em batalha, nos sonhadores em devaneio, nas mães em prece…

    Tudo vibrou. Tudo estremeceu.

    — M-mun… undo!

    Ao se levantar, sua natureza sombria começou a desfazer a realidade, como tinta preta derramada sobre uma pintura que ainda tentava existir.

    — Caramba! — Alum desceu do céu pousando no corpo do próprio servo como um meteorito sorridente — Você… absorveu a escuridão de bilhões de mundos! Está… terrivelmente lindo!

    — I-irmão…?

    Mas quando falou, a intenção assassina, selada dentro dele desde antes do verbo, se liberou como um relâmpago faminto de pura escuridão.

    Alum não conseguiu desviar.

    O golpe veio rápido demais.

    O braço voou… arrancado no mesmo instante.

    Sangue púrpura caiu aos seus pés como pequenas noites recém-nascidas.

    — Você… — Ergueu o rosto, mais fascinado do que assustado — …absorveu energia suficiente para isso? Uau…

    Ele deu um passo.

    O ser, monstruoso, renascido, incompleto… desviou por instinto, mas não adiantou:

    foi agarrado pelas costas, erguido como uma criança pelas mãos do Senhor do Abismo.

    — Isso vai ser um saco! — reclamou — Você deve ser capaz… de superar aquele idiota do Luciel e a tranqueira do Asmael!

    Jogou-o para cima com desprezo, simples, mas que rasgou o ar, quebrando a barreira entre mundos.

    E o ser foi arremessado para outra realidade.

    — Vou ter que acabar com o multiverso para te dar um fim…

    Suspirou, cansado.

    Como quem reclama da faxina do dia, enquanto o tecido da criação se desfazia atrás dele.

    Bastou olhar para cima e já reaparecia em meio a um jogo de basquete.

    O som dos tênis no chão, o apito distante, o giro da bola… tudo congelou ao redor quando o rasgo dimensional se abriu no teto invisível da quadra.

    — Ainda estamos no mundo original…

    Ele segurou um disparo de trevas que teria aniquilado aquela variação inteira da realidade.

    A palma da mão deformou a escuridão em curva, como quem segura o dente de um animal raivoso.

    Como sabia?

    Aqui, a Ordem se manifestava como uma organização espiritual de basquete. Quadras sobrepostas, regras metafísicas, equipes que treinavam o equilíbrio dos mundos.

    — Tsk!

    — P… pai?

    A voz tremeu atrás dele.

    O demônio o encarava como quem vê um ponto final voltar a ser vírgula.

    Ele virou o rosto devagar.

    — Agora notou? Mas… Luke…

    Transformou a destruição em matéria, e da matéria criou uma ponte: um arco cintilante que atravessava o espaço para outro plano.

    Ele ficou à frente da abertura,

    impedindo a passagem.

    — Eu não sou seu pai, merda!

    E então veio o som.

    Um estalo surdo.

    As asas.

    Asas… centenas, milhares brotaram das costas do ser renascido, cada pena um fragmento do nada, cada batida uma anulação de sentido.

    O ser tentou agarrá-lo, mas já caía para fora do Megaverso, arrastado por gravidades contrárias, indo além das histórias conectadas àquela.

    — Alum?

    Ele estava atrás. Passos lentos. Pacientes. Cruéis.

    — Sinceramente… eu não quero estragar nada antes que eu seja o Deus.

    O olhar percorreu o tecido infinito: Eco, 1969, O Lorde do Abismo, linhas, obras, universos, tudo aberto diante dele como um livro desentranhado.

    — E você… é um problemão.

    Acumulou energia na mão, o suficiente para criar OUTRO Leviel, e disparou contra o ser,

    que voava entre as raízes daquela dimensão como um inseto fugindo de um incêndio.

    O impacto explodiu silenciosamente, jogando-o para linhas adiante, desalinhando eras, empurrando-o para a fronteira dos primórdios.

    — Agora estamos onde todas as histórias começam…

    A luz atrás tremia.

    — Isso… é a razão de eu odiar este mundo.

    Ele saiu daquela realidade como se fosse uma vidraça, pulando sobre os cacos do universo, vendo a ficção por dentro como costuras expostas.

    — Acho que esse é o limite do meu avatar…

    Bezeel freava no ar. Seu corpo chocou-se contra outro multiverso: uma bolha infinita,

    um cosmos fechado, que se estilhaçou com o impacto.

    Mas ele emergiu do outro lado… imenso. Monstruoso. Radiante de destruição.

    Sua risada rasgava as dimensões adjacentes, quebrando histórias, trincando enredos, engasgando trilhas de destino.

    — Tá gostando, seu filho da puta?

    Ecoou, abrindo fissuras onde nenhuma linguagem deveria entrar.

    — Por que eu… to odiando essa futilidade!

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