Capítulo 351 - Meta-real transcendente
— Ah… — murmurou, freando um por um dos disparos de Meta-escuridão que Bezeel lançava.
Cada projétil era uma mancha viva, um anti-conceito: tentáculos surgiam das costas do monstro, absorvendo o breu de vários outros mundos e cuspindo-o de volta como negação pura.
— Você é um covarde!
As explosões se espalhavam em arco. Cada impacto aniquilava uma realidade inteira, apagando eras, memórias, narrativas, como seimar cinzas de livros que nunca foram escritos.
— Se continuar assim… aquele bosta vai me frear! — rosnou Alum, irritado.
E então deu um passo.
Um único.
E imediatamente estava maior que qualquer outro mundo já narrado, escrito ou cantado.
Uma silhueta divina subindo sobre o tecido das histórias
como um eclipse que cobre todas as metáforas de uma vez.
— Vem cá…
Com apenas a mão, o segurou. O ser cabia na palma, uma criatura de pesadelo comprimida na mão de um Ser entediado.
E o lançou longe.
O ar de múltiplos mundos se rasgou com o impacto, e Bezeel foi projetado contra a parede que dividia:
o Caos, a Casa das Ideias, o campo criativo do humano, e o domínio autoral da ficção.
A parede vibrou como espelho líquido.
Mas não se quebrou.
Ela se readaptou na hora, mudando seus limites para além, rearranjando suas fronteiras com a elegância cruel de quem está habituada a conter deuses irritados.
A infinitude ao redor se movia lentamente , tão lentamente que parecia imóvel… mas Alum era mais rápido que todos os conceitos que tentavam contê-lo.
Sua presença distorcia o tempo,
esticava as regras, reorganizava a hierarquia da narrativa como quem troca móveis de lugar.
— Eu deveria te apagar como personagem… deveria!
A voz atravessou mundos como um trovão branco de pura energia criativa.
— Mas… — mordeu o lábio com um ódio impaciente — esse humano aí me impede de atuar onde a Ordem precisa agir!
Veias brotaram de seus olhos, ondulando como relâmpagos.
Ele enfim abriu as asas, não duas, mas incontáveis, asas que arrasaram todos os mundos ao redor, infinitos se desfazendo como vidro ao calor.
— Vamos! — bradou — Lá! Roube! Evolua!
Quando disse isso…
Bezeel já estava em cacos.
Um fragmento vivo de destruição, sentindo a pressão dos dedos que o criavam, o matavam, o definiam… o Autor-Deus apertando seu destino como quem molda argila com raiva.
Sobre a tela…
Sobre a página…
Sobre a realidade…
— Vamos! — repetiu, agora sem paciência.
Ele pegou um multiverso inteiro com uma mão.
Fechado, cheio de histórias, regras, cronologias e cosmologia.
— Nunca curti… a Marvel mesmo…
E o esmagou.
Transformou tudo, todas as linhas editoriais, eras, eventos, retcons e reinícios em energia em potencial, luz crua, sem narrativa.
Sem vida.
— Grr…
E lançou aquilo como uma bola de basquete.
O impacto foi brutal.
A esfera de energia atravessou a parede da ficção, rasgou a fronteira da Casa das Ideias atingindo Bezeel em cheio.
Metade do corpo do demônio
foi aniquilada num clarão púrpura.
Ele caiu, rastejando, esfregando a carne líquida nas paredes que já o haviam abandonado na mesma hora.
— Vamos! — ordenou outra vez, como treinador de um time.
Bezeel obedeceu.
Ele lançou seus tentáculos, trevas vivas, raízes de antimatéria, línguas do nada primordial e quando tocaram a barreira outra vez…
já absorviam parte da essência.
A Casa das Ideias tremeu, como se tivesse sido tocada por algo
que não deveria existir nem em conceito.
Bezeel evoluiu.
E a ficção gritou.
— Boa, garoto! — Vibrou, abrindo os braços como um técnico enlouquecido dirigindo o fim do mundo.
Ele esticou a mão e absorveu outro cosmos inteiro.
— Agora a DC Comics! — gritou com entusiasmo genuíno — Eu amo o Batman!
A energia condensou-se na palma dele, contorcendo-se em ângulos que não respeitavam física, mito ou lógica editorial.
A substância se moldou… escura, elegante, afiada.
Um batarang cósmico, cintilando como uma assinatura.
O lançou.
O projétil atravessou a ficção como um cometa negro, rompeu a dimensão como quem rasga papel de seda, e foi o suficiente para quebrar o véu entre mundos.
Os dois caíram… não num universo, nem numa história, mas na Casa das Ideias.
O ser se debateu no ar abstrato, tropeçando em conceitos meta-narrativos, palavras flutuando como poeira viva, enquanto seus tentáculos recuavam, assustados com a natureza do espaço onde estavam.
Ali, tudo existia apenas como intenção.
Ali, qualquer erro era ontológico.
Ali, qualquer pensamento era canon.
— Aqui você acaba!
Deu um estalo.
A escuridão do Caos recuou como uma besta ferida, abrindo um corredor de luz crua entre ambos.
A Casa das Ideias reagiu… a luminosidade tomou forma,
transformou-se em páginas, fragmentos narrativos, protótipos, arquétipos, erros de rascunho, tudo vibrando ao redor.
— Absorva tudo — ordenou,
erguendo o braço — E morra com o excesso de informações!
Sua voz ricocheteou pelos corredores metafísicos, pelas gavetas onde histórias não nascidas cochilavam, pelos esboços de personagens descartados, pelas frases apagadas que ainda desejavam existir.
— Vamos! — a voz dele quebrou o ar… um comando, um decreto, um veredito para o fim.
Bezeel não hesitou.
Ele abriu a carne negra, e os tentáculos se esticaram de novo, agarrando os conceitos à sua volta, absorvendo verbos, cenários, arcos, enredos, teorias, universos, fundamentos estéticos, leis ficcionais, até os limites da própria linguagem.
A Casa das Ideias tremeu.
A Ficção começou a entrar em colapso.
E alguém ou algo, virou a página.
A energia era expelida do corpo do demônio em quase cinzas, fragmentos vibrantes, restos de histórias, ecos arrancados da ficção.
Ele estava sendo consumido pela força que existia além de qualquer ser fictício, além de mito, além de autor, além de tudo que um personagem deveria suportar.
Mas…
— P-pai!
O grito atravessou o vazio como uma lâmina.
E o som… apenas o som, o devolveu à vida.
Alum arregalou os olhos.
Por um instante, o Abismo o viu hesitar.
— Então… você… absorveu… e se adaptou?
As palavras mudavam, os conceitos estremeciam, tudo à volta reajustava seu próprio significado.
O nome “Bezeel” se distorcia,
tentando acomodar-se à nova forma que ele tomava.
Mas ao menor estalo de Alum… uma piscada do mal, a absorção foi freada.
A narrativa contraiu-se.
E Bezeel foi lançado para longe como quem joga um inseto contra o véu da realidade.
— Você quer mudar tudo? — rosnou — Ser o autor de todas as histórias? Dominar a mente do Autor?
Riu.
Um riso rasgado, faminto,
contorcendo espaços entre camadas da metaficção.
— Está tomado pela sede de poder… — Alum murmurou — Gula…
Uma pausa.
Um sorriso lento, cruel.
— Esse pecado combina com você… mas…
Ele se agachou.
Aproximou a boca do ouvido do monstro, e o lugar inteiro pareceu inclinar-se para ouvir também.
— Há milhões de planos acima deste…
A voz era baixa, quente e venenosa.
— Você pode vê-lo… destruir seu mundo… caminhar além…
e ainda assim…
A mão apertou a nuca do demônio.
— …ainda assim, estará abaixo daquele filho da puta.
Bezeel tremeu.
Alum sorriu como quem entrega uma sentença.
— Elum.
O nome caiu como granizo ardente. Uma verdade proibida.

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