A partir desse capítulo vou reduzir a postagem de capítulos para três por semana, sendo postados segunda, quarta e sexta as quatro da manhã. Com isso vou poder tentar melhor a qualidade dos capítulos, além de que tenho que fazer certas pesquisas sobre como certas máquinas funcionar e isso leva tempo.
Capítulo 50 - Ministra da Economia
No Mocambo do Tatu, Carlos estava em sua casa de alvenaria ouvindo Aqua sorridente falar o segundo relatório mensal da economia do mocambo.
— Ao todo a venda de roupas deu 400 mil réis! Graças a máquina de costura pudemos fazer muito mais roupas para vendermos.
Carlos sorria ao ouvir isso, afinal dá última vez deu apenas 150 mil réis, foi um aumento de quase 150%!
Infelizmente o sorriso de Aqua desapareceu quando ela mudou de página.
— Agora vamos aos gastos, primeiro 200 mil vão para Ganga Zala, 50 mil para a compra de ferro, 25 mil foi gasto em bebidas para a festa da vitória da batalha, além de mantimentos para as novas lojas que você abriu, por falar nelas, quase que me esqueci algumas deram lucros.
“Pelo menos ganhei mais uma fonte de renda, por falar nisso tive que abrir mais restaurantes para todo mundo comer bem, ainda bem que com o poder de Tassi construir qualquer coisa é bem fácil. Afinal construir casas demora, tem 200 trabalhadores nisso mas muitos estão na produção e mineração dos itens necessários para fazer cimentos e tijolos. Só minha casa foi feita até agora e no momento estão fazendo a prefeitura, estou auxiliando em tudo mas mesmo assim estão demorando, até porque a prefeitura vai ficar bem maior que a minha casa. Pelo menos a construção das ruas e calçadas está indo muito bem, a rua do centro da cidade já está pronta e a da zona industrial também está quase pronta.”
— Nos restaurantes as refeições estão sendo cobradas a 1 rei por refeição e como a vasta maioria dos trabalhadores come nos restaurantes e atualmente não pagamos nada na compra dos alimentos o lucro bruto deles sem descontar o salário dos funcionários dá 13.470 réis.
Carlos suspirou e disse:
— Não é muito mas não tem como cobrar caro para pessoas que tem o salário de apenas 100 réis, esse é um salário de semi escravidão mas não há muito que possamos fazer no momento, se aumentarmos o preço das roupas e tecidos então os comerciantes não irão querer vir aqui fazerem acordos.
Aqua deixou os papéis na mesa e disse:
— Nesse ponto devo discordar, acho que deu um valor considerável, com isso entendi o que você falou de como pagar um salário daria retornos, este valor aí foi apenas dos restaurantes se adicionar as demais lojas como a de sorvete e de roupas o valor chega até quase 50 mil réis! As roupas estão vendendo muito bem no mocambo e o sorvete e o recém lançado picolé estão vendendo que nem água!
Ouvir isso abriu um sorriso no rosto de Carlos.
— Só temos que cuidar para ninguém sair vendendo essas roupas para fora do quilombo, afinal as roupas que custam de 100 a 200 réis aqui dentro custam 1000 a 2000 fora, digo é o preço que vendemos aos comerciantes mas temos certeza que eles vendem a muito mais do que isso.
Aqua pensativa disse:
— É uma preocupação razoável, mas as roupas ainda não venderam muito, as pessoas ainda não se atrevem a parcelar como você diz, o que mais vendeu na realidade foi o sorvete a 20 réis é caro para a maioria dos trabalhadores, mas não é como se eles gastassem com muita coisa além disso.
Carlos estava feliz mas sua felicidade logo foi substituída por confusão.
— Espera aí, nós apenas gastamos 45.900 réis com salários dos trabalhadores, como tivemos um retorno de 50 mil réis?
Aqua riu um pouco antes de pegar um papel e dizer:
— Falei quase 50 mil réis, o valor mais exato é de 49.784. E quanto aos valores a mais, não se esqueça que você pagou um salário maior para mim, seus guardas incluindo Quixotina e Tassi, aliás ela foi a primeira a comprar um vestido, já Quixotina gastou todo o salário dela com sorvetes.
— Agora faz sentido, pelo visto o povo do quilombo não gosta de economizar, mas isso é bom significa que temos um bom retorno pelos salários, ainda bem porque agora iremos pagar mais salários ainda neste mês.
Carlos pensativo pegou outro papel da pilha antes de continuar a falar:
— Por falar em salários, tivemos um aumento de trabalhadores de 208 incluindo os ferreiros que se mudaram para o mocambo, também teve um aumento de trabalhadores na produção de pólvora. Além disso, a prefeitura ainda não foi construída, mas já tem funcionários e passamos a pagar os guardas que me protegem e ficam protegendo a fábrica de pólvora, também tem os funcionários das lojas e restaurantes. Totalizando 687, pagando o salário deles dá 68.700 mais o salário de funcionários que ganham a mais dá 79.100.
Vendo a coinfusão de números e papéis Carlos resmungava internamente.
“Aqua ainda não sabe como organizar bem as informações… Devo ensinar a ela, além disso ela precisa de mais ajuda.”
— Sabe, acho que devo fazer de você minha ministra da economia! Você está me ajudando demais, e precisa de mais ajuda, contrate mais pessoas para te ajudar, tenho certeza que deve ter pelo menos mais alguma pessoa que sabe ler e escrever no mocambo. Aliás quando vier aqui poderia organizar as informações da seguinte forma para mim:
Carlos pegou uma pena e mergulhou na tinta antes de desenhar num papel uma tabela.
Lucro Bruto
Exportação de produtos: 400 mil réis.
Comércio interno do quilombo: 49.784
Lucro bruto total: 449.785 réis
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Gastos
Imposto Ganga: 200 mil
Importação de produtos: 75 mil
Salários: 79.100
Total: 354.100
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Lucro líquido (Lucro bruto menos gastos)
95.684
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— Dentro de casa um desses itens tem que me fazer uma tabela semelhante, por exemplo dentro de importação de produtos escreva quando foi gasto com cada coisa.
Aqua prestava atenção em cada fala e anotação de Carlos, ela não parecia cansada, parecia até houvesse animação dentro daquele corpo velho.
— Entendo chefe, acho que vou precisar de mais ajudantes para finalizar tudo isso todo mês.
Carlos olhou as tabelas que fez e notou que este mês tiveram um lucro de 95.685 réis que sobrou, mas não por muito tempo.
— Sem problemas, afinal você será a ministra da economia, claro que precisa de mais funcionários, mas to vendo aqui que temos dinheiro sobrando, ainda bem porque preciso de mais trabalhadores, primeiro quero mais 200 pedreiros, precisamos aumentar a velocidade com que construimos casas, e como sempre iremos aumentar a quantidade de pessoas na fábrica têxtil… Tomara que os lucros continuem aumentando, ainda bem que iremos pagar eles só no final do mês, quando cair de novo o lucro das vendas.
Aqua suspirou e disse:
— Não conte os ovos que ainda não sairam da galinha!
“Infelizmente não tem muito o que fazer, as coisas estão demorando demais… Sem contar que aposto que não vai demorar muito para sermos atacados novamente.”
— Lembre-se que quase todo salário pago teve retorno, por falar nisso acho 100 réis é um salário muito baixo, vamos duplicar os salários esse mês, temos dinheiro sobrando para isso.
Aqua abriu a boca para refutá-lo mas Carlos continuou:
— Sabe, no discurso que fiz os agricultores do mocambo pareciam bem infelizes e com certa inveja, a última coisa que precisamos é de conflito entre as pessoas do mocambo, por isso vamos duplicar o salário e fazer um mercado onde todo alimento será cobrado, e com isso não precisamos pagar um salário para os agricultores, vamos apenas pagar pela comida que produzem, o mesmo vale pelos alimentos que os restaurantes pegam, assim como para o exército, para festivais, vamos pagar por tudo! Assim eles não vão se sentir lesados e vão ganhar dinheiro, que usarão para comprar no mocambo gerando mais renda.
A senhora ouviu em silêncio pensando em uma forma de refutá-lo, mas acabou sendo convencida em parte:
— Mas e porque o aumento?
O chefe pegou um papel e começou a fazer contas nele enquanto falava:
— É bem simples, cada funcionários ganha 100 réis atualmente, e gasta vamos dizer que 30 réis no restaurante por mês, isso já foi 30% do salário, se passarmos a cobrarmos por toda comida que consomem isso facilmente pode custar-lhes mais da metade de todo seu salário. Apenas imagine, um estranho vira chefe do mocambo rapidamente, e antes você não se preocupava se tinha que comer, agora isso virou uma preocupação real, e vamos imaginar que você perca o emprego e passa a fome! Isso geraria uma revolta enorme, por isso quero que ninguém nesse mocambo gaste dinheiro demais com comida, aliás vamos comprar os alimentos pelo mesmo preço que a vendermos, não vamos ter lucro na venda de alimentos, talvez até prejuízo já que teremos que pagar o salários dos funcionários dos mercados…
A ministra fez suspirou pesadamente antes de concordar com a cabeça.
— Ainda bem que entende… Porque vamos dar mais um aumento para todo funcionário que saber ler e escrever, eles ganharão 200 réis a mais que os outros, claro que eles tem que trabalhar numa função que usem essa habilidade, e quem trabalha fazendo contas básicas no caixa também merece ganhar 100 réis a mais e quem mexe com ambos, como seus futuros ajudantes ganharão no total 500 réis.
Aqua pensou um pouco sobre se esses aumentos seriam uma boa idéia, mas sozinha chegou a conclusão que sim pois poucas pessoas tinham essas habilidades e isso atrairia as pessoas dos outros mocambos que também sabem ler e escrever, mas vendo que Carlos tinha muita preocupação com a alimentação do povo do mocambo, resolveu questionar algo.
— E quanto aqueles que não podem trabalhar, como idosos e crianças? Apesar de não tem muitos idosos no mocambo.
Essa questão passou despercida pela mente do chefe do mocambo, mas já pensou em uma solução.
— As crianças podem comer de graça no restaurante, e os idosos ganharam uma aposentadoria, um dinheiro para viverem, e quem possui deficiência que as impeça de trabalhar também ganhará auxílios. Ninguém vai passar fome sob a minha gestão.
Vendo que ela não o questionou, Carlos continuou a falar:
— Isso me leva ao projeto desse mês que começou, vamos fazer uma escola fundamental para ensinar o básico como ler, escrever, biologia e higiene. E vamos dar aulas à noite para os adultos que quiserem, e muitos vão querer afinal quem saber ler e escrever irá ganhar mais. Com isso abrirei um novo ministério, o da educação, que será liderado por Quixotina, mas logo teremos que contratar mais professores, afinal ela não pode dar aula sozinha.
— Além disso, quero ver se consigo fazer aço dentro do mocambo, se der certo poderemos fazer máquinas com uma qualidade maior, além de poder fazer canhões para ajudar na defesa e no ataque! E poderemos exportar aço também!
Aqua organizou os papéis e se preparou para levantar e sair:
— Estou prevendo muito mais gastos e trabalho!
Carlos riu ao ouvir isso.
— Não posso discordar, mas acrescento que teremos muito mais lucro também!
Aqua saiu com os papéis deixando Carlos sozinho, sem perder tempo pegou os papéis que foram importados para o mocambo, era um papel bege, com algumas folhas meio cinzas, também não era muito liso. Depois pegou uma pena e pôs na tinta e começou a fazer anotações.
“Como vamos começar a dar aulas, precisamos de livros e para isso uma prensa de Gutenberg seria essencial para copiar os livros, temos a maioria dos materiais para fazer a prensa no quilombo, só vai faltar o metal antimônio, óleo de linhaça e verniz para a tinta, tudo isso dá para importar sem problemas e enquanto os comerciantes não trazem esses dá para deixar Nia e Vicente produzindo a máquina, só uma dela deve bastar.“
“Também gostaria de fazer papel, o ideal seria fazer papel a base de celulose, mas para isso eu precisaria de pinheiro ou eucalipto, nada disso tem no Brasil… Talvez dê para fazer com araucárias, são próximos do pinheiro, pena que só ficam no sul, mas melhor do que importar de outro lugar. Será que um comerciante consegue uma muda delas, seria perfeito se conseguíssemos fabricar papel no quilombo..”
Animado, começou a estudar como poderia fazer o papel, mas se lembrou de um pequeno problema.
“As araucárias não devem crescer aqui no clima do nordeste, mas com o poder da Tassi, talvez dê para fazer crescê-las e quem sabe crescer trigo, tô cansando de ter que comer bolo de fubá no café da manhã, com trigo poderíamos fazer pão, pastel, bolos. Isso… é uma excelente idéia! Tenho que falar com ela depois! Agora tenho que terminar os esquemas da prensa de Gutenberg”
Depois de pensar nisso, se focou completamente no trabalho, de um lado da mesa ficava um livro que mostrava em detalhes a prensa de Gutenberg, do outro lado Carlos copiava os desenhos da prensa para repassar para os artesãos, depois de terminar isso partiu para o próximo desafio, produção de aço, no papel anotava os próximos passos.
“Usar o Processo Bessemer para a produção de aço, para isso também vou precisar de ferro-gusa e spiegeleisen.”
“Primeiro devemos fazer ferro-gusa, para fazê-lo é necessário minério de ferro, coque e calcário num alto-forno, resultando numa liga de ferro com alto teor de carbono…”
— Isso é até bom, porque poderemos parar de importar ferro, e importaremos o minério que é mais barato, apesar de Portugal proibir isso… Talvez eu tenha que falar com a Papisa para ver se ela nós da mais apoio, mas vou ter que dar algo em troca…
— E que bom que vivemos num mundo com magia afinal o coque é necessário para fazer o forno atingir altas temperaturas, conseguir coque é difícil tem que aquecer o carvão a altas temperaturas num ambiente sem oxigênio, felizmente não preciso dele para fazer meu forno alcançar altas temperaturas, só preciso da gema do fogo! Apenas substituído o coque com carvão em pó para fazer com que o ferro tenha alta porcentagem de carbono.
“Depois vou conseguir spiegeleisen uma liga de ferro com manganês e carbono, para fazê-la só preciso de carvão, minério de ferro e minério de manganês.”
— Eita nomezinho difícil, certeza que é alemão, o que importa é que precisa dessa liga para fazer aço.
“O ferro-gusa deve ser colocado num conversor bessemer.”
— Graças a Deus tenho um esquema dessa conversor, pena que ele é gigante e feito de aço, por sorte só isso que é o mais caro, por dentro é revestido de argila.
— E para fazer aço é bem fácil, colocar a liga de ferro-gusa depois disso só tem que jogar ar, aposto que com a gema do vento deve ser possível, e adicionar spiegeleisen e pronto, aço prontinho para fazer canhões e vender dando lucros absurdos, afinal o aço nesse tempo é muito escasso e caro, as melhores armaduras são feitas de aço.
— Pena que o forno é muido grande e pesado e para fazer ele girar vou ter que usar uma máquina a vapor… Vou ter que pesquisar ela também, vai ser uma noite longa.
Carlos ficou a tarde até noite escrevendo e planejando como seria o forno, agora podia ficar até tarde porque comprou muitas velas dos comerciantes. Ele ficou até altas horas e só dormiu quando o sono venceu e se viu obrigado a dormir.
Assim que Carlos adormeceu, uma figura saiu da escuridão, ela estava lá invisível o tempo todo o observando, a figura ficou mais um tempo antes de sair pela porta, apesar de ser invisível, não era imaterial.
Depois de algum tempo, a mesma figura apareceu no Mocambo da Serra dentro do quarto de Espectro, que sentiu a figura no mesmo instante.
— Então o que ele fez hoje?
— Depois de andar por todo mocambo como sempre, voltou para sua casa e ficou apenas falando com Aqua sobre as finanças de seu mocambo, aliás acho que ela imaginou que eu estivesse ouvindo, ela lançava olhares sob minha direção, mesmo eu estando invisível e imóvel, ela tem mesmo um sexto sentido.
— Depois disso ele ficou lendo livros difíceis, falando consigo mesmo sobre coisas complicadas, mas resumidamente, ele quer ganhar mais dinheiro para o mocambo e fabricar mais armas para lutarmos.
Espectro suspirou antes de dizer:
— Me sinto até mal espionando fazendo você espionar ele desse jeito, pois realmente parece que se importa com o futuro do quilombo, um líder que vale a pena ser seguido.
A figura na escuridão finalmente apareceu, era um homem alto e músculoso, cheio de cicatrizes em seu corpo.
— Não vá me dizer que o famoso Espectro que apenas menção de seu nome causa medo em senhores de engenho está sentindo remorso por ser cauteloso?
O chefe do mocambo riu de forma sarcástica antes de responder.
— Apenas sou famoso assim, por conta de vocês que me apoiam nas sombras.
O homem desapareceu nas sombras novamente.
— Falou como se não fosse você que libertou eu e minha irmã daquela vida torturante no engenho, mas isso não importa, vou dormir agora.
Depois de falar isso, a figura desapareceu novamente do quarto.
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