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    Seus testículos explodiram. Fragmentos de carne, pele e sangue despencaram ao redor, tingindo o chão com a brutalidade do momento. O som agonizante do membro se retorcendo lentamente, consumido pela espiral, mesclou-se ao estalo seco da porcelana se partindo ao atingir a escadaria — e seus restos, assim como os seus, foram tragados pela escuridão.

    Foi como se o fio de sua vida se rompesse junto…

    — Então é assim! A matéria se desfaz em um impasse, sem a necessidade de medir força ou velocidade… Incrível! — exclamou, a voz agitada, carregada de fascínio.

    Seus olhos, penetrantes e cruéis, fixaram-se no estado deplorável do miserável à sua frente. Ainda vivo, mas ofegante, agarrava-se aos últimos instantes antes de uma morte inevitavelmente brutal. Suas pernas estavam submersas em uma poça de sangue, espessa e escura como o mais concentrado dos vinhos.

    Havia sido castrado pelo feitiço expansivo — a selvagem Desfragmentadora —, que, em um único movimento, devorava a matéria sem piedade, como um divisor implacável de partículas materiais e imateriais.

    O sangue escorria de seus lábios secos enquanto seu corpo convulsionava, os olhos arregalados fixos na figura aterrorizante do messias — um olhar carregado de medo e dor.

    Sua presa havia se tornado o caçador… Os papéis se inverteram!

    — Você não entende, seu velho idiota…

    E quem, naquele estado, poderia entender? Do maldito, restavam apenas gemidos de dor e súplicas por piedade.

    Era prazeroso sentir-se superior — mais honrado, mais inteligente — parte de seu narcisismo herdado. Afinal, apenas seu próprio reflexo em um lago seria digno de pena e compaixão.

    — Exorcizar é neutralizar energia negativa com energia neutra. Mas, dependendo da profundidade e complexidade dessa energia, é necessário compensar com potência e velocidade. É por isso que muitos exorcistas preferem perfurar essa densidade com inúmeros golpes. No entanto, a pele humana — como a sua — sucumbe em um único entoar, como papel diante de um jato d’água. Será…

    Enquanto isso, envolveu a mão com sua aura, concentrando-a até que brilhasse intensamente. A luz se manifestou, reluzindo em sua palma enquanto seus olhos se fixavam no quase morto à sua frente.

    — Não… O que estou fazendo?

    Hesitou por um instante, mas logo sua expressão se contorceu em desprezo.

    — Você é um lixo, não é? Deixá-lo viver, mesmo que por um ato cruel, seria bondade demais!

    Estreitou o olhar, fixando-o diretamente na cabeça dele, enquanto o silêncio pesava no ar.

    Mate-o! Mate-o! Mate-o!

    Apenas esse gatilho disparou em sua mente, e tudo, de repente, acabou.

    Um sorriso frio se formou em seu rosto num piscar de olhos. No instante seguinte, a cabeça do velho explodiu ao ser atingida por uma rajada de luz capaz de erradicar até mesmo um grandioso prédio, encerrando sua vida com uma violência inclemente.

    Os miolos caíam pelos degraus, o sangue fervido jorrava pelas paredes. Não restava nada do pescoço para cima após o feixe.

    O primeiro morto por suas mãos, a primeira vida que o messias tomava. Naquele instante, ele, que sempre contemplou o anjo da morte à distância, sentia sua presença cada vez mais próxima, como uma sombra que o envolvia.

    Santificava-se pelo sangue… batizava-se pela morte!

    O diabo nasce. Entre os homens…

    E então, tudo se encerrou naquele salão. O corpo despencou para trás com um baque, e o sangue se espalhou pelo chão apodrecido. O único som que restou foi a respiração ofegante do assassino, que, com um último suspiro, completou o fim de sua técnica inata, drenando um terço de sua energia restante.

    Cai como vidro se quebrando; cacos se espalham e, em instantes, desaparecem…

    Enfim… após tanto tempo com ele me atormentando, sinto-me mais leve!

    Tal pensamento surge como uma chama em sua mente. E, ao se virar, dá um adeus — talvez definitivo, talvez não — ao seu passado, agora reduzido a uma poça de sangue e carne.

    Sem distinções, não apenas superou o obstáculo, mas o destruiu por completo.

    Ao menos, pensou… até aqui, são meras afirmações das quais me arrependerei.

    Dando passos para fora, segue pelo ideal que o trouxe até ali, pela verdade que o move neste instante e que o guiará até o fim dos três atos que permeiam sua mente.

    Quando finalmente deixa o recinto, a luz da manhã envolve seu rosto. Contempla o firmamento, sentindo-se agraciado após um grande e “bondoso” ato.

    — A meu senhor, obrigado. Sua luz finalmente brilhou após a queda maldita!

    Sente cada fissura de sua pele louvar aos céus, como se todo o seu corpo estivesse em comunhão com o divino.

    E enquanto ele encerra um ciclo de sua vida, outros iniciam os seus. Amai desce do veículo que a conduziu ao destino. Seu olhar se eleva diante do próximo passo: o imponente edifício de registros da ordem.

    E sim, é um bom nome!

    Mas… voltando ao assunto, está ali para oficializar sua parceria com o vulgo “azedinho”.

    Enquanto avança, observa o antigo prédio sob um véu cintilante, que lentamente se dissolve para revelar o setor administrativo da ordem, em Saisho. Essa estrutura, erguida há mais de cem anos, impõe-se com sua majestade e história.

    Pois, na entrada, uma estátua imponente de Akiko Shirasaki, seu bisavô e líder supremo do conselho e de toda a organização espiritual em uma era passada, há mais de duas gerações, dá as boas-vindas a todos que chegam. Acima da grande porta, esculpida em resistente madeira de teca oriunda das terras férteis de Aija e com quase dez metros de altura, ergue-se uma base octogonal que sustenta uma imensa cúpula. Colunas antigas, homenageando as primeiras grandes construções humanas, sustentam-na, conferindo-lhe um ar de atemporalidade e reverência.

    Velharia que os homens amam preservar, sua cultura…

    Tal exala uma atmosfera de contemplação, servindo como o centro onde os exorcistas resolvem suas pendências legais de maneira pacífica. Ao redor, murmúrios preenchem o ar enquanto exorcistas e servidores entram e saem, imersos em trocas de informações e novidades.

    — Não é a filha do líder do conselho? — pergunta um rapaz ruivo, dirigindo-se a uma jovem de cabelos castanhos e olhar sério.

    — Sim, é ela. Dizem que é a melhor exorcista de sua geração… você acredita? — responde, desviando o olhar, evitando encará-la diretamente.

    — Talvez seja sorte… ou uma habilidade herdada que facilita as coisas. Esses nobres… — comenta novamente o rapaz, com uma ponta de desdém.

    Mas ela, no entanto, ignora os olhares e as fofocas, mantendo a cabeça erguida. Seu sorriso confiante permanece enquanto sobe os degraus da entrada.

    Idiotas…

    Ao chegar ao topo da escadaria, repousa as mãos sobre a porta ornamentada com as faces dos mais importantes exorcistas da história. Com um suspiro breve, mas decidido, empurra-a com força, revelando lentamente o interior do local que tão bem conhece.

    A visão desperta memórias vívidas de sua infância, quando acompanhava seu pai, então diretor administrativo do local e, agora, um dos nove que lideram o conselho. As lembranças de momentos rotineiros ao lado dele ressoam em sua mente, conectando passado e presente.

    O aroma de cappuccino alcança seu nariz, trazendo uma onda de nostalgia. Cada móvel permanece exatamente como se lembrava, preenchendo seu coração com um misto de saudade e familiaridade.

    — Amai Shirasaki… Não esperava te ver aqui. Será que a gata arisca finalmente encontrou seu par? Como disseram os boatos? — provoca um rapaz ao lado de um filtro de água à esquerda dela. Ao reconhecê-la, abandona o copo descartável pela metade sobre uma mesa próxima.

    — Quanto tempo, Miyazaki Watanabe… — responde com tranquilidade, enquanto observa as quatro cruzes nas mangas de seu sobretudo. — Você já é grau quatro? Parece que não é mais tão fraco! — Seu tom é felino, acompanhado por um sorriso de lado que o desafia.

    — Não? Maldita… — Ajeitando as vestes com um toque de emburramento. Seus olhos, contudo, reluzem com a mesma provocação. — Bem, quem teve o azar de cair com você? Soube que até os mais queridos da ordem e do velho Kyotaka passaram por uma seleção de afinidade. Foi isso?

    — Yamasaki Yami. Conhece? — retruca com uma calma que esconde sua ironia.

    Eles recuaram alguns passos da entrada, mas o rapaz não sai de sua frente, bloqueando sua passagem.

    — Ah, não podia ser outro… Loucos devem ficar com outros loucos… — Arrancando uma risada breve e debochada dela.

    — Pois é… e os psicóticos como você? Arranjou alguém?

    — Vaca… — deixa a coroa cair, o semblante se contorcendo em frustração. Mas maior que sua frustração é a indignação estampada no rosto dela. Apesar de sua atitude afrontosa, ele sabia que não era tola. — Eu… não quero ninguém me atrapalhando! — Ele tenta suavizar suas palavras, mas a tentativa de reverter sua fala apenas torna o ambiente mais tenso.

    E por isso, com um olhar que reflete um desafio, dá um passo à frente, desafiando-o a interromper seu caminho. — Se você acha que me interromper vai mudar alguma coisa, está mais perdido do que imagina!

    Com calma, mas a lâmina de sua voz é nítida.

    — Enfim, preciso me retirar. Ao contrário de você, tenho responsabilidades. — Quase o empurrando para passar.

    Mas o garoto persiste em sua provocação, rindo em tom zombeteiro:

    — Uau… Qual é? Você deve passar o dia sem fazer nada! O que é tão importante assim, oh, exorcista de grau cinco?

    A provocação é clara, mas ela mantém sua postura inabalável. Responde apenas com um sorriso frio, sem parar para olhar, apenas dando mais um passo à frente.

    — Melhore e descubra! — responde de forma incisiva, encerrando a conversa enquanto se dirige ao balcão de recepção.

    Ao chegar, avista duas mulheres: uma jovem, por volta dos vinte anos, e uma senhora de cabelos brancos, que digitava com energia em seu computador.

    — Com licença, gostaria de oficializar e legalizar meu registro e o do meu parceiro… — dirige-se à senhora.

    A mulher, sem interromper o movimento dos dedos, lança um olhar rápido ao redor, procurando por alguém.

    — Bem… — encara-a com uma expressão impaciente. — Pegue este bilhete e vá até a sala de oficialização no segundo andar. Verifique o motivo da ausência dele e tudo estará em ordem, mocinha. Mais alguma coisa? — entregando-lhe um pequeno bilhete.

    — Eh, não… Obrigada. — respondeu, grata, antes de se afastar.

    Com passos firmes, mas ponderados, ela se afasta do balcão e para diante da escadaria, o próximo passo para concretizar sua missão.

    Não é como nos serviços públicos. A competência e a rapidez é que batem à porta da administração… São os tais dotados de poderzinho que costumam estragar tudo!

    ÚLTIMO CAPÍTULO ESCRITO AQUI!

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