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    Às 20h, a suave luz de Aurora havia se esvaído gradualmente, transicionando de um amarelo quente para um azul frio no céu, sinalizando o fim das atividades na academia esportiva de Hiragana e a chegada da noite.

    A chuva, que antes era leve, intensificou-se, caindo com força e ressoando no solo como uma sinfonia melancólica. Essa mudança climática era uma constante em Crea: com a chegada de Nox aos céus, a escuridão, o frio e a chuva tomavam conta de todos os cantos, envolvendo tudo em sua presença pesada.

    Essa escuridão revelava o pesar humano, intensificado pelas escolhas feitas ao beberem do pecado e se banharem no mal. Os frutos nascidos da infertilidade se erguiam para abortar a luz e consumir os prazeres da carne. O peso do arrependimento pairava no ar, enquanto as sombras da noite se aprofundaram… Mas ninguém se opunha à comodidade.

    Diante disso, o exorcista, com uma familiaridade inabalável com o tempo, já se encontrava na entrada, fitando aquele lugar com uma expressão firme.

    O único a desafiar os porquês, já que, por Elum, fora dada a graça de ver além do que está visível e coexistir entre os lados.

    Ele permanecia parado diante de uma passagem marcada por um amplo e imponente portão, ladeado por um piso de concreto onde atletas e alunos costumavam se reunir antes das aulas e dos treinos. Havia mesas e assentos de alvenaria, compondo um ambiente que ele detestava.

    Ao olhar mais adiante, contemplou o prédio principal, que ostentava uma arquitetura sóbria, com o nome da instituição em destaque. Cores frias dominavam as grades ao lado do portão metálico, agora de um preto profundo, enquanto o cinza prevalecia, colorindo o concreto do muro e de todo o prédio.

    Ao redor dele, estendiam-se duas alas destinadas aos mestres, professores e treinadores, todas conectadas ao prédio principal por corredores, formando um complexo que parecia guardar todos os segredos da arquitetura da academia.

    Enquanto os educadores seguiam para o estacionamento atrás do prédio, os alunos tomavam o caminho oposto, saindo apressados, imersos em um clima colegial, trocando risos e fofocas.

    A maioria deles estava na faixa etária dos 14 aos 17 anos.

    Ele estava imerso na multidão. As pessoas ao seu redor o observavam com estranheza, e algumas até com certo alívio. Enfrentar essas reações era uma rotina constante para ele; afinal, ser um exorcista não era exatamente bem-visto pela sociedade. Mesmo que o sobrenatural fosse real, lidar com coisas que só você via podia ser um gatilho para a ignorância alheia.

    Sem hesitar, deu os primeiros passos, ultrapassando o portão metálico e adentrando pela porta dupla de vidro. Sua determinação refletia-se no olhar enquanto evitava encarar os olhares dos demais pelo caminho. Apesar de sua presença marcante, detestava multidões, concentrando-se em seu entorno para continuar avançando.

    Ao pisar na escada que dividia o prédio em dois corredores imensos, um arrepio serpenteou por sua espinha, estendendo-se do pescoço até a ponta dos dedos. Seu instinto sobrenatural estava aguçado, alertando-o para algo incomum ao seu redor.

    Energia negativa… Bem, o primeiro passo é ver o velhote.

    Ignorando momentaneamente a urgência de seu próprio instinto, começou a subir os degraus em direção ao segundo andar. O trajeto até a sala do diretor formou-se rapidamente em sua mente, e seus passos foram cuidadosos, sempre atento às salas ao longo do caminho. Embora nenhuma delas mostrasse sinais de presença, as portas das salas comuns estavam todas abertas, sugerindo que, pelo horário, a equipe de limpeza entraria em ação em breve.

    Não havia possibilidade de interação social, pois todos estavam focados em seus trabalhos. Para ele, isso era ótimo, já que iniciar uma conversa com alguém era mais desconfortável do que entrar em conflito com uma entidade.

    Ao chegar à curva do corredor, virou sem hesitação, observando através de uma das muitas janelas à esquerda. Do lado de fora, restavam apenas alguns alunos, espalhados como pingos dispersos, praticamente já esgotando o local.

    Ótimo… quanto menos gente, melhor!

    Seus olhos se fixaram à frente, avistando a porta de madeira que encerrava o corredor, com uma placa indicativa colada nela: Sala do Diretor-Geral.

    Ele anunciou mentalmente seu próximo passo enquanto se aproximava para bater três vezes na madeira da porta, deixando sua mente mergulhar na expectativa do momento. Após o gesto, aguardou, distraído, enquanto seus sapatos ecoavam pelo piso laminado. Observava o entorno com uma mistura de ansiedade e curiosidade.

    Nada mudou…

    Quando a porta se abriu, o homem à frente expressou um sorriso radiante ao vê-lo, seus lábios esticados de orelha a orelha em saudação. Continuava sendo um homem gordo, agora mais velho, com os cabelos escassos e vestindo um terno que mal fechava ao redor do corpo.

    — Finalmente, Yamasaki Yami! Você não mudou nada, hein! Ainda me lembro dessa cara emburrada… — brincou, afastando-se da entrada e fitando-o com mais clareza. — Por favor, entre!

    Ele soltou uma risada sem graça e entrou na sala, movido pela força do ódio.

    — Bem, você também não, né? Senhor Diretor…

    — Ah, não seja modesto, a idade não me fez bem! — respondeu, dirigindo-se à sua poltrona, situada atrás de sua mesa. A sala assemelhava-se a um escritório corporativo, com móveis industriais emoldurando o ambiente. E em sua estante, os prêmios conquistados ao longo do tempo graças à sua gerência e administração.

    Modesto?

    Ao ajustar as mãos sobre a mesa, o diretor lançou um olhar firme em direção ao exorcista e prosseguiu:

    — Bem, tirando o bom humor de dois cavalheiros que somos, vamos falar de negócios… por favor, sente-se!

    — Ah, claro… cavalheiro…

    Yami afastou a cadeira à frente e sentou-se, obrigando-se a encarar o diretor diretamente nos olhos.

    — Bem, sobre os negócios… por ser um trabalho para um exorcista de grau menor, dois graus ainda, obviamente não irei cobrar o valor cheio…

    Ele estava prestes a continuar quando, de repente, ouviu o som da gaveta se abrir. O homem retirou um cheque e, miseravelmente, sacudiu-o entre os dedos, exibindo um sorriso ganancioso estampado no rosto.

    — Por favor, eu o chamei também pela sua graduação… Eu estava ciente dos valores, veja por si mesmo.

    Entregou-lhe o cheque; o valor do montante fez seus olhos brilharem.

    — 55 mil ienes! Isso é sério? Ou está brincando comigo, diretor?

    — Óbvio. A verdade é que eu já estava com esse problema há algum tempo, mas esperei até receber a notícia de sua volta. Bem, algo que traria benefícios para a academia no futuro. Pense, quão imponente seria? Contratar um exorcista tão caro em prol de demonstrar o quão alto é o nível desta academia?

    Até mesmo ele se surpreendeu com o que saiu de sua boca.

    — Ah, é… sem dúvidas…

    Franziu a testa e desviou o olhar imediatamente. Não era do tipo que se importava com o caráter de seus contratantes, mas toda aquela conversa o desanima profundamente.

    Esse cara quase matou seus alunos por causa disso? Porra!

    Seus dedos, impacientes, deslizaram pela perna, tomados por uma inquietação avassaladora que o consumiu por completo.

    — Então, acredita que resolverá isso rapidamente? Quer dizer, vou ter que esperar até o final, certo? E a que horas posso ir embora daqui? — Nakata bombardeou-o de perguntas, ficando meio sem jeito.

    Ele, imerso em seus pensamentos, fixou os olhos no relógio grudado à parede, marcando 20h28.

    — Yamasaki? — ele o chamou, percebendo sua distração, tirando-o da inquietação em que estava imerso.

    — Ah? Eu, bem, sim! Pelo que entendi, há duas possibilidades. Se a entidade estiver espalhada por todo o lugar, será rápido. Se estiver mais concentrada, levará um pouco mais de tempo, o suficiente até eu encontrar o horizonte dos eventos sobrenaturais, que me levarão até o centro! — respondeu com confiança, deixando o diretor com os olhos brilhantes. Levantou-se instantaneamente e, virando os olhos em direção à porta, disse: virando seus olhos, em direção à porta.

    O jovem soltou um suspiro profundo, como se estivesse pronto para escapar, enquanto o velho o aplaudia, com um sorriso ganancioso no rosto.

    Quando o exorcista se dirigiu à porta, o ancião fez um último comentário:

    — Sabia que devia ter contratado você desde o início! Bem, estarei esperando!

    — Certo… — respondeu friamente e saiu, deparando-se novamente com o corredor e fechando a porta atrás de si com grande alívio.

    Pelo menos ele pagou bem, que imbecil!

    Os lábios curvando-se em um leve sorriso de desdém, mas logo se recolheu, focando no que realmente importava. Observou uma das portas das salas se fechar ao longe, acompanhada pelo suave som das trancas sendo acionadas.

    A equipe de limpeza chegou. Bom, tenho que entender o fluxo de energia na escada; senti o fio, mas ele sumiu quando subi a esse andar, ou em algum ponto do trajeto!

    Quase que a solução escapava de sua mente, de tanto queimar neurônios.

    Droga, não consigo discernir, e isso é deplorável, mas talvez, elevando a aura, eu possa forçar uma aparição.

    apoiou a mão direita no queixo, enquanto a esquerda afundava nos bolsos, imerso em profunda reflexão.

    — Hm… no final… Fica complicado discernir se é seguro ou não sem entender as capacidades dessa coisa. Deveria ter pedido mais informações àquele oportunista! — sussurrou, lamentando sua falta de previsão.

    Diante do escárnio, ele soltou um suspiro profundo.

    Bem, posso deixar de emanar a aura e focar em minhas habilidades de dedução. O fato de a escadaria emanar energia já é uma pista!

    Seus ombros se curvaram enquanto ele decidiu finalmente dar seu próximo passo. Ao estender a mão, retirando-a do bolso, ele encontrou uma bala. Com agilidade, a despachou do papel e a jogou para cima, abocanhando-a no ar.

    Seus movimentos foram os únicos a ressoar naquele corredor. Até que, rompendo o silêncio, um grito feminino ecoou pelo corredor, não de surpresa ou desespero, mas um grito seguido por um silêncio mortal; agudo e estridente o suficiente para se duvidar se quem o fez continuaria viva.

    A energia negra fluiu harmoniosamente com o som, como uma brisa que acariciava seus cabelos, apenas para desaparecer no momento em que ele a percebeu, envolvendo-o em um arrepio súbito.

    — Que os jogos comecem! — gracejou, com um sorriso de lado, seus olhos fixos adiante.

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