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    Arthur soltou um suspiro e, com uma expressão de frustração, abaixou os ombros antes de pegar a taça e dar mais um gole.

    — Eh… eu diria que você está louco! E que é impossível! — disse, com um sorriso tímido após a declaração.

    — Maluco? Talvez… — respondeu, rindo. — Mas sou um maluco que tem razão. Veja, Arthur, o mundo é um grande esgoto, e aqueles que se deleitam vivendo nele são ratos que não desejam mudanças! — afirmou com convicção.

    Enquanto falava, olhou para a direita, observando a rua, onde homens de terno saíam de um hotel em direção aos seus carros de luxo.

    — Há tanto dinheiro no mundo. Não é apenas a punição que é injusta, mas também a miséria, que parece ser nossa única riqueza e se aplica a todos! Não?

    Ao lado, estavam os moradores de rua, todos velhos, que deveriam estar em descanso, mas ali estavam… abandonados à própria sorte, no fim, menores que a poeira dos carros.

    Diante disso, o loiro concordou com a cabeça, respeitando a reflexão, impositiva para quem ouvia, mas não seduzia seu ideal.

    — Infelizmente, é verdade. Mas toda grande mudança exige uma grande transformação, certo? Confrontar esses “ratos” pode resultar em ainda mais perdas… você não acha?

    — Deixá-los lá já não causa problemas?

    — Mas você tem certeza de que essas mortes levam a uma paz duradoura? — interrompeu-o com descrença.

    Romero suspirou, inclinando-se para a frente e apoiando o rosto nas mãos. De repente, viu na face dele a mesma expressão de Gabriel, que sempre tivera a mesma posição.

    — Eu tenho fé que sim! — sua voz foi firme. — Mas posso entender sua posição, você é um pacifista, assim como eu já fui, e como meu amigo é… Mas o mundo não mudou devido aos pacifistas, não é?

    — Até agora, mas isso não impede, certo?

    — Não, não impede… — enquanto olhava nos olhos profundos dele, percebeu que não colheria frutos daquela conversa. — Você parece ter raízes muito fortes, parece ter encontrado sua verdade… é isso? — ajustando suas vestes.

    — Já estou satisfeito em fazer minha parte! — Levantou-se primeiro e, enquanto ajeitava seu terno, chamou o garçom com um estalo de dedos. — Se me dá licença, vou indo, Diego Romero, ou melhor, meu amigo lunático. Foi um prazer! — disse, deixando sobre a mesa duas moedas de cinco ienes.

    Isso arrancou um sorriso do idealista, sem sensação de tempo perdido, apenas um leve déjà vu.

    Já o rapaz… Enquanto observava a rua, os carros passavam rapidamente, acompanhados por sirenes de ambulâncias, ditando um ritmo caótico sobre a capital de Saisho.

    “Segundo o departamento de saúde do governo, recomenda-se a implementação da áurea na dieta diária da população, além do uso de medicamentos contendo a substância para amenizar os danos…”

    O rádio do táxi, dirigido pelo senhor que levava Amai Shirasaki a seu próximo destino, anunciou. O carro de sua família estava ocupado; por isso, ela não tinha escolha.

    “Somente nesta manhã e tarde, foram registradas mais de 44 mil vítimas da síndrome da escuridão… Será que esse crime ficará impune a seus autores, como sempre?”

    O motorista interrompeu a transmissão, desligou o rádio e estacionou em frente ao Hospital Hiroshi Yamamoto, com o relógio marcando 22 horas, prestes a anoitecer. O céu tinha um tom crepuscular, com nuvens densas pairando, sugerindo que a noite seria longa e intensa.

    A jovem desceu do veículo, pagou o motorista e dirigiu-se ao balcão de atendimento, onde a aguardavam. Após pegar a chave do quarto do exorcista, seguiu pelo corredor à esquerda, distraída, observando o movimento constante de corpos em sacos pretos, transportados por enfermeiros, médicos e familiares. A atmosfera era pesada, com um silêncio interrompido apenas pelos murmúrios de conversas distantes.

    Ao abrir a porta do quarto 65, destravando o acesso com o cartão recebido, finalmente reencontrou Yamasaki, após passar o dia ao telefone com ele, resolvendo pendências. O quarto tinha uma luz suave de fim de tarde que se esparramava pelas paredes, criando sombras suaves.

    — Boa noite — disse ao vê-lo sentado na maca, com as costas nuas, olhando para a luz do entardecer.

    As costas dele estavam cobertas por uma rede de veias arroxeadas, que pareciam pulsar levemente com seus movimentos.

    — Síndrome da escuridão — murmurou ela, surpresa e um tanto chocada.

    — É… — Soltando um suspiro exausto.

    — Como isso? — Achando estranho que o exorcista desenvolvesse a síndrome.

    — Azar…

    Ela, então, aproximou-se.

    — Posso tentar?

    Enquanto falava, levantou as mãos. Um brilho suave de luz surgiu em suas palmas, conjurado por sussurros inaudíveis.

    — Ah, não, não adianta… eu já tentei!

    Então, sentiu as mãos da garota tocarem suas costas, e uma onda de calor o fez pular da maca. Com o movimento, o lençol deslizou para baixo, revelando que ele estava vestido apenas com uma cueca preta.

    — Que arisco… — comentou, soltando uma risada sem graça.

    Sua aura brilhou intensamente em seus punhos, envolvendo-os em uma luz suave. Ela olhou para o corpo esguio dele, observando novamente as veias roxas que se estendiam por toda a sua pele.

    — Não sou um gato para ser arisco… Você é bastante inconveniente, hein? — sentindo um arrepio que o deixou nervoso.

    — O que posso fazer? Eu só queria… ajudar… — disse ela, com um toque de gentileza na voz.

    — Não precisava… eu avisei! — tentando disfarçar a irritação.

    A garota abaixou as mãos e olhou em volta, percebendo o quarto escuro. A TV estava desligada, e havia uma cadeira próxima, sobre a qual descansava a tigela de sopa, agora fria.

    — Isso aconteceu porque você está usando energia negativa?

    — Eu? Talvez… — pegando sua camisa de mangas compridas que estava sobre a moldura da janela e lançando um olhar constrangido para ela. — E você, conseguiu o que precisávamos?

    — Deu certo… Bem, agora somos uma dupla. Mal consigo acreditar que isso aconteceu! — ela disse, sentando-se na maca de costas para ele.

    Diante disso, ele se apressou e começou a se vestir. Seus movimentos eram cuidadosos, como se quisesse evitar qualquer dor.

    — É… nem eu acredito! Mas, para mim, isso é só um jogo de interesses…

    — Um jogo de interesses?

    Pegou, ao lado, a chave do carro e o crucifixo que estavam sobre a mesa, com o abajur. Os objetos ressoavam pelo ambiente ao serem movidos, quebrando o silêncio.

    — Sim, veja, posso não saber de tudo, mas uma coisa eu sei: nada do que os clãs fundadores fazem é sem motivo.

    — Você tem razão, mas…

    — Mas o quê? — curioso.

    Ou talvez, interessado na oposição que ela iria oferecer.

    — Já se vestiu?

    — Ah, já, sim… Aliás, por que você está aqui? — Percebendo que sua curiosidade estava diminuindo, ela deu a volta na maca e caminhou até ficar de frente para ele.

    — Não é óbvio? Vim te buscar, ver se estava mentindo e te convidar para sair. Não podemos ser estranhos, certo? — balançando os pés enquanto o encarava. Sua determinação era clara, como se estivesse pronta para seguir qualquer ideia que lhe surgisse em mente.

    — Ehr… mentindo? Sair?

    Ele se atrapalhava; também sentia que ela queria algo que estava nas profundezas de suas emoções. A hesitação era visível em seus gestos, como se estivesse prestes a revelar algo que não estava preparado para compartilhar.

    — Disseram que você mente, Yamasaki…

    — Quem disse isso? — visivelmente indignado.

    — Ninguém importante, mas… é verdade?

    — Não! Não preciso mentir… Mas sair? Para onde? — fechando os olhos e virando o rosto, demonstrando leve descontentamento.

    — Sobre isso, que tal irmos a um barzinho ou a um restaurante caseiro? — sugeriu com um olhar doce, apesar de seu semblante sério, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar.

    — São os melhores lugares para um ambiente agradável e para conversarmos… — disse, meio hesitante, mas ainda com um sorriso amigável. — Você aceita meu convite?

    …Será que aceitará?

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