Índice de Capítulo

    Dirigindo pela rodovia Yamate, a dupla já estava a cerca de uma hora do destino, deixando para trás os agitados arredores da capital.

    Estavam na zona rural, ou no que restava dela… O clima, nos últimos anos, havia sido terrível para a agricultura e a pecuária.

    E a fome batia à porta…

    Enfim, o carro deslizava suavemente pela estrada, enquanto o horizonte se estendia diante de seus olhos, tingido pelas tonalidades azuladas de um amanhecer límpido, evocando a serenidade de águas cristalinas.

    Os pássaros voavam no horizonte, enquanto o som das rodas do carro ecoava em seus ouvidos.

    A garota, recostada no banco do passageiro, observava-o com um olhar tranquilo enquanto abria uma garrafa de água retirada da bolsa. Tomou um gole refrescante antes de quebrar o silêncio com uma voz suave e perspicaz:

    — O prazer de se refrescar…

    Ela fez uma pausa, fitando-o com um sorriso de canto antes de prosseguir:

    — Não quer saber mais sobre a missão? Parece que você está meio ausente, Yamasaki Yami! — Balançou a cabeça, deixando seus cabelos vermelhos dançarem ao vento. Então, soprou uma mecha rebelde que caiu sobre seus olhos — Hein!? Azedinho!?

    Que, ainda concentrado na estrada, soltou um suspiro pesado antes de desviar o olhar para ela, arqueando uma sobrancelha diante da provocação.

    — Pode falar… — murmurou, dando espaço para que continuasse.

    Sua omissão era um consentimento, da mesma forma, então…

    Os olhos dela brilharam instantaneamente.

    — Bem… Por que uma entidade permaneceria tanto tempo em um único lugar? Nunca houve qualquer mudança desde seu primeiro registro, nem o estado de pendência foi alterado… Hmmm… Que estranho, não? — comentou rapidamente, como se as palavras estivessem prestes a transbordar de sua mente. Sua boca era uma cascata, e suas palavras, as águas, caíam incessantemente.

    — Talvez seja descaso ou falta de atualização… Pode ser até que ele já tenha ido embora — ponderou. Então, arqueou uma sobrancelha e desviou o olhar para ela. — Amai, você sempre é tão meticulosa com essas questões? Quero dizer, tão detalhista?

    — Gosto de ser a melhor em tudo o que faço. E você, Yamasaki?

    — Eu? Bem… Se dependesse de mim, eu não estaria aqui — soltou um suspiro e voltou a atenção para a estrada.

    — Nossa… Por que você se tornou exorcista, então? Se não gosta, por que faz isso? — insistiu, curiosa.

    O rapaz hesitou por um momento, avaliando se deveria responder.

    — Ah, qual é? Me fala! Já que vamos fazer missões juntos, precisamos conhecer quem está ao nosso lado, certo?

    — Não é interessante… — tentou encerrar o assunto.

    — Ah, vai, para mim é!

    — Não vai me convencer…

    Ele se iludia, com toda a certeza. Mais cedo ou mais tarde, ela teria o que queria. Mulheres são assim — capazes de arrancar diamantes da boca dos homens.

    — Nossa, você é difícil… — suspirou diante da resistência, percebendo que o exorcista não estava disposto a se abrir tão facilmente.

    Ao menos, cabeça dura, ele era.

    Enquanto seguiam pela estrada, a calmaria do caminho deu lugar a uma atmosfera mais pesada e sombria ao chegarem à sinistra Floresta dos Mortos, minutos depois.

    As sombras pairavam entre os altos pinheiros, criando uma penumbra quase total sobre a estrada. O calor de antes se dissipara; ali, o frio reinava suavemente, uivando trevas em dissonância.

    Ao desligarem o motor, o silêncio tomou conta. Ambos saíram do carro, absorvendo o ambiente misterioso ao redor.

    — Floresta dos Mortos… Dizem que mais de cem mil pessoas foram executadas aqui, inimigos políticos do imperador. Você sabia disso, Yamasaki? — comentou a garota, tentando iniciar uma nova conversa.

    Voltaria rouco para casa…

    — Não… Nunca gostei muito de história!

    — Ah, do que você gosta, então? — provocou, observando a floresta com certa ansiedade.

    — O que você está esperando? — interrompeu, ultrapassando Amai e encarando a floresta também, mas seu olhar carregava mais chateação do que curiosidade. — Medo?

    — Medo?

    Passos à frente…

    — Qual é… Eu? Com medo? Nem pensar! Sou uma garota forte!

    Então se calou, e se concentrou, reunindo sua energia enquanto uma aura suave, com tons avermelhados nas extremidades, envolvia seu corpo de forma translúcida. Cores, sensações… Sua aura transmitia mais sobre ela do que palavras jamais poderiam.

    — Hm…

    — Expando potentiam: facit ut gladium gerere possim, qui uno ictu exorcizare valeat! — murmurou, puxando uma lâmina katana de dentro de sua palma, como se a retirasse de sua própria carne.

    A firmeza no cabo revelava sua confiança inabalável.

    Era uma demonstração vívida da extensão de sua técnica inata, a capacidade de manipular a realidade com sua imaginação fértil e poderosa.

    Chamada de Mente Onipotente.

    A técnica inata dos Shirasaki… Interessante… Observava, sem querer admitir, com um certo brilho nos olhos. Mesmo não sendo um entusiasta, reconhecia a grandiosidade do feito. Sabia o suficiente para entender que manipular a técnica dessa forma era algo reservado aos exorcistas mais habilidosos.

    — Conheça minha fiel companheira, a Gladium! — declarou, empunhando a lâmina com a postura de uma espadachim, sua expressão transbordando agitação.

    — Você vinculou um pacto com sua técnica inata?

    — Ah, você é mesmo esperto! Já percebeu isso, não é? — respondeu com um sorriso confiante.

    — Não sou burro… É muito específico colocar o nome da sua lâmina no meio do feitiço.

    — Ah, claro… Mas não é tão fácil de fazer! Hehe, vamos continuar? — disse, desviando o olhar, um pouco envergonhada.

    Era íntimo demais para o rapaz entender…

    — Vamos… — avançou pela selva, mantendo sua aura propositalmente discreta enquanto focava na grande ameaça que os aguardava.

    E observava as sombras demoníacas ao redor, espreitando-os silenciosamente.

    Enquanto Amai caminhava logo atrás, alerta a qualquer ataque. Seus olhos, concentrados como os de um felino à caça, varriam a escuridão, seus passos eram suaves e precisos. A cada movimento, a floresta parecia se fechar sobre eles, tornando-se mais densa e fria. O som incessante dos insetos aumentava, um zumbido sufocante que vibrava no ar, tornando-se quase insuportável.

    Mato… mato… mato…

    Era repetente em sua mente.

    Pouco depois, ele notou as árvores ao redor balançando, suas folhas caindo em um ritmo sobrenatural. De repente, ouviu passos rápidos atrás de si. Ao se virar, tudo o que viu foi uma cortina de poeira que chegava até sua cintura.

    Cadê ela?

    Se manteve em alerta, vasculhando o ambiente com cuidado, seus olhos se moviam rapidamente de um lado para o outro. Então, após o som agudo de um corte, ergueu o olhar e viu a garota no ar, decapitando uma entidade como quem cortava um pão. Fatiando-a sem nenhuma resistência…

    — Ah!

    O sangue púrpura espirrou enquanto girava no ar e aterrissou com maestria, muito à sua frente, suas pernas firmes e a lâmina apontada para trás, pronta para o próximo golpe.

    E mesmo que fosse imune a danos, o sangue fervente o fez recuar instintivamente.

    Observou com atenção o corpo cair para um lado enquanto a cabeça ia para o outro. Os cabelos brancos da criatura balançaram no ar, e seus olhos fixos refletiram a surpresa final. Metade de seu rosto, em avançado estado de putrefação, parecia congelada em um misto de incredulidade e choque.

    Nem pôde reagir… estava além da velocidade de um raio!

    Enquanto absorvia aquele instante, o restante da entidade se desfez em fumaça, emitindo um último gemido antes de desaparecer no ar.

    — Um único golpe!? — exclamou, incrédulo. Até ele… acostumado a vencer em menos de um segundo, estava surpreso.

    — É isso mesmo! Esta lâmina consegue exorcizar com um único golpe, desde que eu a invoque! — explicou, com um brilho de orgulho nos olhos e um suspiro grandioso. — Não é apenas um pacto, é uma jura condicionada. Pode me chamar de gênio! — declarou, vangloriando-se com um sorriso confiante.

    — I-incrível!

    Mas a garota desapareceu de sua frente. Como se… tivesse se teleportado.

    No mesmo instante, sentiu a lâmina dela quase tocar suas costas; a energia que emanava era inconfundível, um alerta gigante que o fez enrijecer. Em um piscar de olhos, ela já havia eliminado outra entidade demoníaca, cortando-a antes que as garras do ser alcançassem seu parceiro.

    — Dois a zero!

    As trevas dançavam ao redor deles, criando uma confusão que tornava impossível localizar um foco ou prever de onde as entidades surgiriam. A falta de visibilidade impedia qualquer antecipação, mas a velocidade de reação era seu grande trunfo. Estava sempre um passo à frente das adversidades.

    — Maldita! — rosnou o demônio, enquanto seu sangue púrpura escorria pelos lábios, misturado a um suspiro pesado que parecia o bafo de um dragão.

    A entidade, semelhante à anterior, exibia o mesmo cabelo e olhos brancos, mas desta vez trazia uma corda apertada ao redor do pescoço, que subia até pressionar debaixo de seu nariz, deformando seu semblante macabro.

    Como ela falava? Havia uma abertura entre os lábios, que o permitia.

    A garota, continuando, perfurou o peito da entidade pelas costas e permaneceu agachada, pronta para evitar possíveis contra-ataques.

    — Pelo pouco de energia negra que eles têm, parece que são demônios obsessores… — concluiu, retirando-a rapidamente e observando a entidade se desfazer em pó diante dela.

    — Demônios obsessores? — questionou, duvidando das palavras da garota. — Não são como parasitas? Onde estão os hospedeiros deles? E por que estão aqui? — Buscava entender mais sobre a situação.

    — Sim, são parasitas, mas só atacam quando não têm hospedeiro ou se sentem ameaçados. Esqueceu? — Ela levou a mão à cabeça. — Mas você tem razão em estar em dúvida… é estranho eles estarem aqui… Quase ninguém vem até aqui! Será que estamos em um campo minado!? Uma técnica inata!? As entidades calamidade são semelhantes às entidades originais, com habilidades praticamente ilimitadas… — afirmou, brandindo a lâmina um instante antes de uma esfera negra atingir os dois.

    Era olha o azedinho brilhar…

    Em questão de segundos, agarrou o projétil com as mãos nuas e o desfez, dissipando-o em raios arco-íris que explodiram atrás deles, criando uma cortina de poeira. Ele converteu a energia negra com a habilidade de um maestro…

    — Não temos tempo para pensar agora… Vamos exorcizar essas criaturas! Limpar essa área o mais rápido possível! — disse com determinação, tentando localizar a besta.

    — Você conseguiu desfazer uma técnica maldita… caramba! — suspirou, admirada, segurando firme sua lâmina. — Vamos, Yamasaki!

    À frente deles, enquanto a poeira se dissipava no ar, a entidade que atacou os observava entre as árvores, acumulando energia negra em suas mãos. A criatura, vestida com um terno surrado, ostentava enormes chifres de búfalo e um terceiro olho na testa. Ao concentrar essa energia negra em uma única e densa esfera de trevas, uniu as mãos e sentiu a aura de ambos ferver, como se estivesse sendo desafiada em seu próprio território.

    Como ele conseguiu fazer isso?

    Pensou, enquanto uma veia de raiva pulsava em sua testa. Pela aparência, a criatura parecia estar em um nível quatro de perigo. Quanto mais humana e verossímil a forma, mais poder era necessário para mantê-la.

    Malditos exorcistas! Quantos mais terei que matar para ter um pingo de paz?

    Seria ele a calamidade de que falavam? Ou apenas mais uma entidade a ser expelida pela escuridão?

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