Capítulo 26 - Decepção, é seu nome
Diante da entidade, a prodígio se apressou, movendo-se com a velocidade de um raio. Ela rasgou o solo sob seus pés enquanto atravessava a distância que os separava, surgindo atrás do demônio em um piscar de olhos. Aproveitando essa brecha, tentou desferir um corte transversal, obrigando-o a desviar no último instante, demonstrando também ter uma agilidade surpreendente.
O demônio se dissolveu como fumaça, desaparecendo diante dela, sendo levado por uma rajada de vento para longe.
— Desgraçado! — murmurou, frustrada.
Os cabelos dela foram jogados para trás pela rajada de vento criada pela aceleração da entidade, balançando a vegetação e as copas das árvores. O som da forte ventania, semelhante ao de uma tempestade, espalhou uma cortina de poeira pela floresta.
Enquanto observava a entidade se materializar à distância, à sua direita, ela a viu surgir com os braços abertos, restaurando-se fragmento por fragmento.
Essa dádiva infernal… ele é realmente uma calamidade!
Pensou, com os olhos estreitos e atentos, enquanto a luz da aurora refletia em sua lâmina.
Preciso evitar essa lâmina ao máximo!
Ele percebeu o perigo iminente quando, nas profundezas de sua mente, sentiu como se uma gota de água caísse em um lago, prenunciando a ameaça.
Yami, como um vulto, já estava atrás dele, surgindo de sua sombra com um movimento ascendente. Preparou um golpe, acumulando sua aura no braço, que fluía como chamas crescendo em uma fogueira. Em instantes, sua aura se transformou em uma espada de fogo, enquanto raios azuis circundavam seu braço, provocando na entidade um leve fisgar de dor.
Sem entoar o feitiço?
Pensou o demônio, tendo apenas alguns instantes para compreender a situação. O exorcista então golpeou entre o antebraço e o braço esquerdo, mas se desfez no mesmo instante, esboçando um sorriso convencido.
Esses pirralhos não me deixam em paz!
O golpe desceu com força sobre o chão, partindo-o e criando uma fissura profunda. A entidade desapareceu novamente, enquanto uma explosão de chamas vermelhas e cintilantes irrompeu na floresta, detonando tudo ao redor. O solo perdeu sua firmeza, entrando em erosão, e as árvores ao redor caíram, queimadas até ficarem enegrecidas. O ar ficou impregnado com o cheiro de madeira queimada, enquanto as faíscas dançavam ao redor do campo de batalha.
Nossa, ele é tão forte…
Ela se surpreendeu, sentindo a mesma presença esmagadora que a besta percebeu ao reconhecer os dois adversários como ameaças além de si.
Eu só queria… viver nessa mata! Por quê? Cacete, por quê?
— Vai ser difícil acertá-lo assim! — gritou ela, alto o suficiente para seu parceiro ouvir, enquanto empunhava sua lâmina à frente do rosto, observando a área ao redor com atenção.
Enquanto, a besta se materializou mais distante, seus olhos brilhando em um vermelho intenso, sua aura negra crescendo ao seu redor como uma sombra viva. O terceiro olho da criatura se abriu completamente, com veias pulsantes ao redor, irradiando uma energia sinistra.
Vamos esquentar as coisas…
Sua aura emerge como uma névoa espessa sob seus pés, cobrindo os arredores da selva da morte, expandindo-se por três a quatro hectares de vegetação sombria, sua verdadeira calamidade.
— Pois é… — murmurou, sem se intimidar pela liberação de poder, ajustando sua postura com um suspiro pesado. Seu crucifixo finalmente cedeu, despedaçando-se no chão. Ele pisou firmemente sobre os fragmentos, sem se importar com seus amplificadores de poder quebrados.
A energia dele é muito mais intensa do que a das entidades de nível três ou até mesmo nível quatro que existem na capital!
Constatou, ao perceber que a energia negra ao redor do ser vazava lentamente, apodrecendo tudo ao seu redor.
— Bem, oh, azedinho, eu tive uma ideia… — disse ela, antes que pudesse questionar.
— Fala!
— Vamos usar um pouco de luz! Entendeu? — revelou, esperando que suas palavras fossem compreendidas.
— Luz? Entendi…
Enquanto os dois discutiam como se estivessem em um passeio, a entidade estendeu a mão, projetando a esfera de energia negra que havia criado anteriormente — um movimento que aconteceu logo após o arremesso de seu primeiro ataque.
O rapaz pode se projetar em minha sombra e ainda conseguiu reverter minha técnica com as mãos nuas… Bem, resta-me focar na garota como alvo!
Concluiu, enquanto os dois elevaram suas auras ao máximo, fazendo a luz fluir ao redor e criando centelhas intangíveis em seu entorno.
Ela concentrou as centelhas em sua lâmina, infundindo-a com poder, enquanto Yamasaki formava uma esfera de luz em sua mão direita, girando-a em alta velocidade.
É hora de terminar isso! Disseram para seus corações… Preciso eliminar essa menina! Reafirmou a entidade para si.
O embate entre eles se intensificou, com a pressão das energias concorrentes preenchendo o espaço ao redor, distorcendo o ar como um campo de forças prestes a colidir.
O conflito ali era físico… golpes, explosões, poderes colidindo. Mas em outros lugares, ele era mental… interno.
Em um cenário distante daquele conflito, o assassino cruel finalmente retornava para casa após tanto vagar em devaneios. Lambiscou os dedos, imaginando o gosto metálico do sangue, e enfiou as mãos entre as calças na tentativa de aliviar o êxtase. Mas quando sentiu apenas o vazio, desistiu e seguiu seu caminho.
Subiu as escadarias com um certo alívio nos ombros, seus passos ecoando pelo corredor estreito, alertando qualquer um que estivesse por ali. O cheiro de poeira e ferrugem impregnava o ambiente, misturando-se ao faro imaginário da morte que sempre o acompanhava.
— Romero!? — exclamou Milk assim que ouviu os passos, virando-se apressado. Seu olhar iluminou-se por um instante, apenas para logo se apagar ao ver surgir na porta do apartamento à esquerda, no segundo andar.
Seu desapontamento ficou claro ao perceber que não era quem esperava.
Era quem mais odiava…
Novamente, estragando seus prazeres.
A sombra na porta parecia zombar dele, um lembrete incômodo de que sua euforia sempre terminava em frustração. Seu maxilar se contraiu, os dedos ainda sujos do toque vazio se crispando ao lado do corpo. A respiração pesou, não de cansaço, mas de irritação.
Por que sempre ele? Por que sempre ali?
— Ele ainda não voltou? — Com indiferença, seus olhos revelando a calma de quem não se abalava facilmente. Quando as chamas do diabo não queimavam em seus olhos, eles pareciam espelhar um vazio profundo.
— Não… Na verdade, ele disse que só voltaria amanhã. Ainda faltam quatro de nós para deixar tudo em ordem, você sabe… — Lançando um olhar rápido para trás antes de soltar um suspiro desanimado.
Bastou esse instante para o messias entender a situação.
— Você não contou a ele? — Já passando pelo rapaz e lançando um olhar rápido pelo cômodo, viu Kwame cochilando com a TV ligada. Na tela, um filme de ação mostrava um protagonista praticamente imortal realizando o impossível com uma única pistola.
— Romero disse que eles não entenderiam. Nem ele, nem os outros… — comentou. Então, ao notar a presença fantasmagórica dele passando ao seu lado, ficou surpreso.
— Ele tem razão! — afirmou o homem, olhando adiante com firmeza.
— Aliás, Rasen, o caos já está em andamento! Publiquei o anúncio de oposição e inimizade à ordem e ao império!
— Imagino o caos que deve estar aquela sala de reunião. Bem, que o caos eterno ocorra, e que os ratos caiam na fogueira! — declarou, enquanto terminava de subir os degraus.
O jovem o observou com um suspiro. A luz que entrava no prédio iluminava as costas dele, como se ele fosse um anjo aos olhos do rapaz.
— Assim seja… um mundo iluminado! — murmurou, olhando para a porta com apreensão.
Até onde isso era real? Quer dizer, até onde acreditava?
Irônico dizer que, em nada.
Agora somos inimigos de Aija, inimigos do mundo… Não há mais volta, não há mais chances…
As palavras ecoavam em sua mente, como um veredito inevitável. Ele havia seguido Romero sem hesitação, sem questionar. Mas agora, diante da realidade do que haviam feito, a dúvida se insinuava como um sussurro incômodo.
Seria aquilo mesmo um novo começo? Ou apenas o prelúdio para um fim irreversível?
Enquanto pensava, imagens cruzavam sua mente. Seguir seu salvador era como seguir o Messias… ou o diabo. Alguém que prometia trazer de volta o paraíso para os humanos.
Mas até que ponto alguém iria por paixão? Pela fé?
O rapaz ponderou, experimentando a dúvida após tanto tempo mergulhado nos mares de certezas.
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