Capítulo 27 - O assassino de exorcistas
Como feixes de laser, ambos os exorcistas se moveram, ultrapassando os movimentos massivamente hipersônicos da criatura e cortando a névoa que cobria a floresta.
Tomando a frente, ela tentou golpeá-lo com sua lâmina, enquanto seu parceiro observava atentamente.
A luz que emanava criava um rastro luminescente, enquanto seus golpes atravessavam as árvores em ventanias cortantes. O cheiro de queimado vinha em seguida, atrasado, junto ao som.
Fazendo-as ceder, despencando ao seu redor, Yami precisou se cuidar, desviando delas e mantendo os dois à espreita de seus olhos. Sua concentração era sobrenatural — poderia ver um milhão delas caindo, e sua mente ainda assim processaria como se fosse apenas uma.
A criatura lutou para desviar e contra-atacar. Suas garras roçaram os cabelos da exorcista, enquanto a energia negra em sua mão voava em busca de uma vítima. Mas não encontrou…
Esses pirralhos são difíceis de lidar!
Ele sentiu a lâmina antes mesmo de seu ressoar tocar sua pele. Entre focos microscópicos de luz, os cortes superficiais arrancaram meros pingos de sangue de suas feridas.
Seria motivo de riso e escárnio.
Ainda assim, estava sendo atingido — e isso lhe despertava um medo sutil, enraizado no fundo de sua existência. Para alguém praticamente intangível, ver seu maior trunfo ser ultrapassado com tanta facilidade era perturbador. Cada golpe que o alcançava ressoava dentro de si, despertando uma sensação de vulnerabilidade que ele se forçava a ignorar.
— Ha! Ha!
Isso… está indo longe demais!
Pensou rapidamente, enquanto sua adversária interrompia vorazmente seu combo. Sem opções, tentou armar o ar com espinhos negros, afiados o suficiente para retalhar um corpo. No entanto, ela os cauterizava um por um, permanecendo firme, os pés arrastando-se pelo solo e levantando uma cortina de poeira que flutuava ao redor.
Ela só consegue me exorcizar se o golpe tiver toda a sua concentração! Então…
Se assegurou mentalmente. Confiança também era força.
No exato instante em que criou a brecha, aproveitou para executar um corte horizontal. A luz acompanhou o movimento novamente, traçando no ar a mesma forma afiada. Seu golpe desfez inúmeras árvores quase instantaneamente, como uma lua crescente cortando o céu noturno, forçando a criatura a se despedaçar em fragmentos, totalmente vulnerável.
Ao se desintegrar, sentiu o calor do impacto, quase sendo ultrapassado pela velocidade do próprio movimento.
Foi a oportunidade perfeita, e Yamasaki percebeu isso. No mesmo instante, liberou a luz com tanta intensidade que seus cabelos acompanharam o arremesso, envolvendo-o em uma aura de puro poder.
— Errou! — desdenhou da tentativa da moça, mas, quando seus cabelos se alinharam à sua postura confiante, percebeu…
Não… eu… errei…
Subitamente, foi envolvido por uma explosão de luz deslumbrante, que irrompeu em seu centro com uma violência avassaladora. A energia o perfurou implacavelmente, como uma lança afiada atravessando seu estômago, dilacerando-o num instante fugaz.
Tudo aconteceu em uma vertiginosa fração de segundo, deixando-o atordoado e perplexo diante da intensidade do golpe.
Quando?
E então, viu a feição convencida do garoto. Era diabólica — até para um ser das trevas.
— Você…
Mal conseguiu articular, enquanto o sangue púrpura escorria de seus lábios entre gemidos de agonia. Suas tripas desabaram aos seus pés, transformando a vegetação ao redor em um banquete macabro de seus restos.
— Eu… — sussurrou o exorcista.
A visão da besta turvou, engolida pela escuridão, até ser abruptamente cortada por um flash de luz. O impacto açoitou sua mente, enquanto o caos de um exorcismo o submergia em tormentos indescritíveis.
Merda, então é assim? Vou mesmo desaparecer como um pedaço de lixo!?
As palavras saíam arrastadas, mal formuladas, sufocadas pela dor e pelo desespero.
Somente ele ouvia o eco de seus próprios pensamentos, imersos no caos das suas angústias, perdidos na cacofonia de sua alma negra dilacerada.
Seus olhos se recusavam a permanecer abertos — ou talvez fosse apenas a sensação que o consumia. Para os outros, sua morte chegava em um instante. Para ele, no entanto, era um arrastar tortuoso, uma névoa densa que envolvia tudo ao redor, distorcendo o ambiente em um cenário ameaçador.
O moribundo tentava focar, mas sua visão se fechava e abria intermitentemente, como se a própria realidade estivesse se desintegrando sob o peso da agonia insuportável.
— É… eu estava certa. Sua habilidade tem seus limites. Uma limitação na quantidade de informações que sua mente pode processar… — disse, com uma calma desconcertante. Sua voz era firme, como se finalmente tivesse alcançado a conclusão que tanto aguardava.
Uma cientista maluca e mística que finalmente comprovou sua teoria.
Seus olhos se voltaram brevemente para ele — um gesto discreto, mas carregado de significado. Ao redor, a atmosfera densa da floresta começava a se dissipar, como se a própria natureza reagisse ao fim do confronto.
As garras demoníacas enfim se afastavam, após tantos ciclos.
— Convencida! — respondeu com um tom desdenhoso, assoprando a mão e observando o vapor subir do golpe que acabara de desferir.
Ela já sabia disso tudo? Ou… hesitou em seu pensamento. Estava apenas chutando?
A pergunta ecoava em sua mente, enquanto a entidade ainda tentava, com dificuldade, acompanhar o desenrolar dos acontecimentos através de seus olhos turvos.
— Malditos… vocês são um saco mesmo, merda… mal pude usar tudo o que tinha! E, finalmente, o último resquício de sua força se esvaiu. Seu braço caiu, inerte, enquanto a energia restante se dissipou em fios de fumaça. Seu corpo, começou a se dissolver como lama encharcada, resistindo inútilmente à aniquilação positiva da luz.
A verdade era que ele tentava converter trevas em vida, agarrando-se desesperadamente a uma existência que já não lhe pertencia. Mas a sua… a sua já havia sido sentenciada no instante em que fora atingido.
— Hã? Convencida? Você quis dizer… genial, não é? — retrucou, sem sequer desviar o olhar para a criatura em agonia, um sorriso de desdém curvando seus lábios.
Sua indiferença beirava o cruel, como se o ser à sua frente já não passasse de uma memória sem importância.
— Genial… Hm…
E seguiu adiante, ignorando-a. Cada tentativa de regeneração era frustrada pela luz corrosiva que ainda impregnava seu corpo — um lembrete mortal e eterno do golpe do exorcista.
A matéria que o compunha desintegrou-se completamente, dispersando-se como cinzas ao vento.
— Não vai terminar? — questionou o rapaz, observando a tranquilidade quase irritante dela.
E que com um gesto despreocupado, lançou sua katana ao ar, vendo-a se desfazer em partículas luminosas antes de atingir o solo.
— Terminar? Já acabou! Ou quer que eu dê um golpe de misericórdia em um monte de poeira? — disse, um toque de sarcasmo tingindo sua voz. O brilho divertido em seus olhos contrastava com a brutalidade da cena que deixou para trás.
— Não… Bem, que se foda esse demônio. Podemos ir? — soltou um suspiro cansado. O embate já não lhe despertava mais interesse.
Se é que um dia despertou.
Nem sequer notou que seu inimigo havia sido reduzido a nada…
— Hm? — lançou-lhe um olhar de esguelha. — Tudo bem. Enfim, achei que fosse difícil, mas, a dois, é bem mais fácil do que parece.
Cruzou os braços com um ar de superioridade, como se refletisse sobre o quão simples fora o desafio.
E então, deu mais alguns passos adiante, retornando pelo caminho por onde vieram, enquanto ele a seguia. Sua mente ainda estava focada na possibilidade de uma recompensa — a única coisa que o animava naquele momento de desilusão: ter que trabalhar.
— Bem, e quanto ganhamos? — perguntou, esboçando um sorriso de lado, nada natural.
— Ganhamos? Ah… você não sabia sobre o mural público? — respondeu, meio sem jeito, lançando novamente um olhar de soslaio para trás, onde já não restava nada do demônio.
Apenas a floresta — meio queimada, meio desmatada —, marcada pelo fio de sua lâmina.
— O QUÊ?!
Seus ombros se enrijeceram instantaneamente, seus cabelos desabaram em desalento, e congelou em descrença, assimilando a cruel realidade da situação.
— E isso é meio que… trabalho comunitário! — explicou, percebendo a aura de impaciência crescendo ao redor dele.
— Trabalho comunitário?! Merda! Você podia ter dito antes, não?! — estapeou o próprio rosto em frustração antes de soltar um suspiro resignado e se virar.
— Ah, mas… eu disse mural público, poxa! A culpa é minha se você é uma mula?
— Yamasaki!? Espera! Calma aí, azedinho!
— Ótimo! Sair de casa, trabalhar e não ganhar nem um trocado furado! Que incrível, hein? Nota dois! — reclamou, exasperado.
E ela apenas o acompanhou, divertida. Talvez estivesse adorando ver aquela cena.
Mas ela não era a única a perseguir alguém.
Duas horas após o fim do expediente dos colégios juvenis, Romero percebeu uma presença o seguindo a alguns metros do parque de diversões Kazuki Tanaka — um lugar abandonado pelo tempo, próximo aos recantos do distrito de Gou.
Um dia, fora fechado devido aos surtos da síndrome que assolava a região.
Ele ainda estava à procura de seus seguidores, cada passo o conduzindo mais perto de seu próximo alvo. No entanto, como o destino adora pregar peças, uma pedra surgiria em seu caminho.
— Mandaram um assassino atrás de mim? Que hilário! Como me localizou? — perguntou, ao notar alguém aterrissar com a precisão de um atleta.
E fisicamente… impressionante.
Mesmo após o período que passou como um mero barista, desde que iniciara sua última caçada há cerca de três ciclos atrás, Tamashiro ainda estava em plena forma. Seu corpo se recuperava rapidamente, graças a uma memória muscular excepcional.
E não envelhecia… era o mesmo de quando fez seu pacto.
— É, esperava o quê? A polícia? Diego Romero… — disse, assumindo uma postura mais baixa, joelhos flexionados e mãos erguidas, pronto para o embate.
A pergunta ficava para trás…
— Talvez… enfim, você não me respondeu! Não sinto a presença de energia espiritual, mesmo que mínima, em ti… — argumentou, encarando-o após se virar. — Mas você não é só um simples humano!
Merda… como esperado, do maior radar sobrenatural da Ordem…
— Tenho meus truques! — o mercenário disse, sua confiança extrema permitindo que a conversa se desenrolasse.
Uma aura negra fluiu ao seu redor, densa como fumaça viva, contorcendo-se com uma malevolência quase tangível. Em suas mãos, as trevas tomaram forma, condensando-se em lâminas finas e pontiagudas, tão sólidas quanto aço forjado.
Pode manipular trevas?
E mais do que isso… endurecê-las?
Isso exigia um conhecimento profundo, algo que apenas demônios de alto escalão costumavam dominar. Mas ele… ele não era um demônio.
E sendo humano? Isso era ainda mais absurdo…
— Entendi, então é você… — O tom de reconhecimento foi claro, mas com uma pontada de surpresa. — Hideki Tamashiro, o tal humano que fez um pacto com um demônio… Espera… — A expressão dele se tornava mais pensativa, os olhos analisando-o. — Você não tinha sido morto pela Ordem? Ou é só mais uma das mentiras dela? — sorriu, mas o sorriso carregava uma tensão, um nervosismo que se disfarçava de sarcasmo.
O confronto estava prestes a acontecer, mas mais importante que isso era a batalha interna que se travava dentro de cada um dos dois. Naquele instante, quem era quem na balança entre luz e sombras?
A resposta, talvez, fosse mais simples do que pensavam… mas peões em tabuleiro não pensam mais do que seus reis permitem.
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