Capítulo 28 - Águas cristalinas
Sem hesitar, Hideki avançou como um raio, sua determinação vibrando no ar e empurrando uma onda de impacto avassaladora que quase arrancara as árvores ao redor, erguendo uma cortina de poeira que obscurecia a visão do desperto.
Ao chegar perto, sua lâmina cortou o ar com precisão, mas o homem freou seu avanço com a mão nua e firme.
Era rápido, mas não mais que seus reflexos.
— Boa! Gênio… — Não falava do exorcista.
— Grrrrgh! — rosnou, escapando de seus lábios enquanto a lâmina roçava perigosamente perto de seu rosto, atravessando sua mão como se fosse papel, com o sangue respingando em sua face, fazendo-o sentir aquele cheiro metálico entre os lábios. — Você é rápido… até demais!
— Patético! Acha isso rápido?
Sua calça estava rasgada nas pontas, mas seus pés inexplicavelmente intactos para um ser humano comum e sem aura espiritual.
Com um movimento rápido, empurrou sua lâmina negra para cima, partindo a mão de Romero em dois e o afastando com um chute poderoso no peito.
— Já perdeu uma das mãos…
Soou como zombaria.
O sangue jorrava, pintando o chão como o de um animal abatido. Ele sentia, o caçador implacável que seu inimigo era. Mas o iluminado não se dava por vencido; determinado, encarou aquilo tudo com certa frieza.
— Transmutatio materiae et status…
As palavras ressoaram, invocando chamas que irromperam em sua mão ferida, pulsando com dor enquanto ele controlava o fogo com o ondular de sua aura. Graças ao feitiço, as chamas queimaram plaquetas, estancando o sangue.
— Não sou Aquiles que cai por um mero calcanhar!
Anticipando o próximo movimento, deu dois passos para trás, mesclando-se à cortina de poeira.
Enquanto o outro recuava, saltando para trás para ganhar vantagem no terreno, seus olhos vermelhos brilhavam com uma percepção demoníaca. Em um giro impressionante no ar, lançou suas lâminas para dentro da cortina, após sentir e visualizar os passos do exorcista. As lâminas voaram, golpeando o solo e cercando-o de todos os lados.
Isso é trevas?
Incrédulo, olhou para as lâminas, percebendo a armadilha, e, visualizando as chamas em suas mãos, teve uma ideia.
Mas vencer o caçador era antecipar suas jogadas…
— Da potentiam nuntio inferni, et efflare! — murmurou ao mesmo tempo, com palavras em tons malditos, fazendo ambas as lâminas explodirem com a potência de uma bomba, varrendo a cortina de poeira e cobrindo-a com outra. Seus cabelos se encheram de terra, mas sua postura permaneceu firme enquanto encarava o cenário às suas costas, o ar pesado e carregado de escuridão, pulsando como raios negros. — Sobreviveu por pouco, hein?
Enquanto provocava seu adversário, uma luz rompeu a névoa árida, formando um domo de fogo ao redor dele, e uma voz abafada ecoou de dentro.
— Não me subestime! Caçador de exorcistas… Tudo o que percebo é cem vezes mais rápido do que o pensamento humano!
Enquanto o acusava, inúmeras bolas de chamas incandescentes eram lançadas do domo, desgastando lentamente as chamas que o envolviam, dissipando-se no ar. Hideki desviava com agilidade das investidas, mantendo um sorriso irritante no rosto, até que as chamas finalmente cessaram. Ele então se desfaz delas e, com a mão erguida, controlava o próprio fogo que criara.
Sua afinidade com a natureza.
— Caçador de exorcistas? He! He! Acertou em cheio, garanhão! — gracejou, e então, arqueou as costas, nem sequer suando.
Até então, estava sob controle.
— Então, a ordem deixou uma aberração como você, como cão de guarda? Esses líderes são piores do que eu pensava… — comentou enquanto cruzava seus dedos, extremamente irritado pelo momento.
O sorriso do caçador se alargou, de orelha a orelha.
Ótimo!
Afiando seu olhar, enquanto criava uma lança de trevas em suas mãos, que tinham duas vezes o seu tamanho. A ponta parecia chamuscar, emanando tons negros.
— Ei, demônio, se prepare, vamos fazer o kamikaze! — rosnou, sua voz carregada de uma ameaça inconfundível.
Suas palavras alcançaram as profundezas de seu ser, e então, seus olhos se despiram de escuridão, e sua aura negra cessou. Por algum motivo, isso o deixou mais confiante, e do abismo, ouviu sua resposta, avançando imediatamente.
O chão tremeu com a força com que empurrou…
Neste momento, sua mente se desligou, seus braços balançaram, sentindo os ventos da ira se juntando à adrenalina, um suicida, amante de seu vício, sentindo o prazer do risco entre os lábios.
Mas o ex-exorcista não iria apenas assistir.
— Expande energiam: utopia, harmonia speculi aquae! — não hesitou, e no mesmo instante em que sua ameaça estava a poucos metros, decretou sua técnica inata.
A energia se expandiu a uma velocidade incalculável, e em apenas 0,15 segundos, ele alterou o espaço-tempo ao seu redor, consumindo qualquer ser consciente num raio de cinquenta metros.
Os passos do assassino desaceleraram conforme se moveu pela terra firme, mas quando a troca de realidades aconteceu, se viu pisando sobre as águas cristalinas e espelhadas de um vasto deserto de sal.
Precisou frear bruscamente; os respingos molharam sua blusa e calça, e seus olhares se perderam por um instante na beleza deslumbrante daquele lugar.
As águas refletiam os céus e a si mesmas, enquanto o horizonte se estendia ao infinito, sem início ou fim.
— É lindo, não é? Esse lugar transmite uma sensação que nenhum lugar de Crea pode transmitir. Já pensou em viver em um mundo assim? — disse, movendo-se com cautela ao redor dele.
Agora, pleno e sereno, para muitos exorcistas, estar ali era vitória certa.
— É lindo, mas… Não é uma foto postal que vai me trazer para sua ideologia, ó filósofo!? Eu vim aqui só por uma coisa… Te matar! — Ao dizer isso, girou a lança, e sua lâmina negra raspou no chão, espalhando água e sal. Com uma pose determinada, ergueu-a do peito para cima, fazendo sua ponta alcançar o chão e seu cabo atingir a altura de sua nuca.
— Você é mesmo um imbecil… — resmungou, e então continuou a caminhar em círculo, enquanto Hideki o acompanhava com seus olhos de águia.
Ele o observou mergulhar a cada passo nas profundezas das águas rasas até seus pés, desaparecendo à sua frente.
Três segundos submerso em sua técnica e, então, ressurgiu.
Num átimo, a presença do iluminado se tornou perceptível, quase palpável, e sem hesitar, Hideki reagiu com sua agilidade impressionante, lançando-se para frente no exato momento em que emergiu. O cabo de sua arma cortou o ar em direção à cabeça de seu adversário, mas, por pouco, sentiu as trevas roçarem seu rosto enquanto se esquivava para trás.
Ainda reagiu a tempo…
Os dois pensaram. Rato e gato, mas ninguém sabia quem era quem.
Não havia trégua para aquela euforia, uma dança incessante de tentativas, cada uma delas carregada com o potencial de ser fatal.
Com uma fluidez que impressiona, ele lança sua arma aos céus em um arco perfeito. Num movimento que exala destreza, se joga para trás, agarrando-a no ar com firmeza em sua mão direita. Seus movimentos são como os de uma dança, e sua postura é uma promessa de determinação inabalável.
Superava os limites mesmo sendo tão limitado.
Uma Técnica Expansiva… Sem selos ou encantamentos imbuídos… interessante!
Enquanto reflete, o observa adotar uma postura mais firme, um sorriso brotando em seu rosto, talvez denotando confiança. Em seguida, abre os braços e se lança em queda livre nas águas rasas, quase parecendo evaporar diante de seus olhos.
— O quê?
A incredulidade ecoa como um sussurro interno. Foi sincero.
Afinal o iluminado se atirou como quem se atira no abismo.
Mas focado? Sempre estava, até mesmo quando não estava. Ele era o preparo, em si — quase o morcego, uma criatura que enxerga mesmo na mais densa escuridão.
Um silêncio domina o ambiente.
As águas espelhadas não denunciam o paradeiro. O tempo parece ter parado, e então — uma pequena onda concêntrica se quebra suavemente a seus pés.
Era uma promessa.
Algo estava vindo.
— Te peguei! — ecoou do iluminado, quando, da água, surgiu sua mão que agarrou a perna dele instantaneamente. — Unire picturam! — a cristalizou no mesmo instante.
Em seguida, mergulhou e ressurgiu às suas costas, completamente encharcado.
— Vai recorrer a truques baratos? — questionou, despreocupado, girando sua lança com destreza sobrando.
Sem perceber, o ex-exorcista quase teve a garganta cortada, sendo forçado a levantar o braço instintivamente.
O golpe o cortou no mesmo instante. Ele sentiu o impacto, sua energia esvaindo-se. O sangue manchou suas vestes, e, devido às trevas que as envolviam, o ferimento parecia irreparável.
Sob seus pés, sua mão caiu — inerte, sem vida.
— Maldito… você é apenas um tolo com uma lança… Não sinto sequer um lampejo de energia negra, ou… espere… você… — murmurou, perplexo, ao perceber que algo estava errado.
Sua respiração estava irregular, e em seus olhos era visível o peso dos dois ataques. Havia perdido bastante sangue, mas ainda não era algo fatal — não para um exorcista.
Está usando Selos ou Pactos?
Talvez estivesse escondendo, ou mantendo sua fonte de energia fora de seu próprio corpo… Energia espiritual não era medida como a energia do mundo físico — ela precisava de um emissor, uma alma ou entidade.
— Está divagando demais, não é? — disse, após o som de cristais se partindo. E, num instante, estava inacreditavelmente livre. Sua arma atingiu o peito do homem, fazendo o sangue salpicar e se misturar às águas cristalinas.
Aproveitando o momento, avançou com rapidez felina. Agachando-se, derrubou-o com uma rasteira, movendo-se ágil como uma sombra. Em um movimento contínuo, lançou um chute certeiro com a perna direita, atingindo-o com precisão e deixando-o atordoado, sem qualquer chance de revidar.
Que oponente tombou, caindo de costas, e mergulhou nas águas, forçando-o a permanecer alerta e atento ao próximo movimento.
Merda… Ele pode estar em qualquer lugar!
Seu pensamento o denunciava — mas suas atitudes ardiam como tochas de confiança.
Mas esse era apenas o começo da batalha.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.