Índice de Capítulo

    Pela manhã, em meio ao terreno arenoso, Amai destacou-se, vestindo trajes incomuns para sua natureza vaidosa. Seu quimono, adornado com tons rosados, refletia a delicadeza das sakuras que a circundavam, enquanto uma faixa vermelha acentua sua cintura.

    Sob a graça da luz de aurora, sua lâmina sobrenatural brilhava, enquanto defendia os golpes da katana de seu pai, em um treino diário.

    Um dos muitos que amplificaram as capacidades da maior exorcista de seu clã em toda a história…

    Arrastando as sandálias e levantando uma cortina de poeira ao redor dos dois, eles se desafiavam. Os cantos dos pássaros preenchiam a calma manhã, como se conduzissem a bela música que ecoava naquele dia.

    — Boa… — murmurou, após bloquear o golpe verticalmente desferido por ele, suportando toda a pressão aplicada.

    O som metálico das lâminas colidindo ecoou, e uma delas pareceu ceder à resistência da outra.

    Raios azuis brotaram da lâmina dela enquanto aquele treino era observado por um jovem rapaz de cabelos castanhos claros, cujos olhos refletiam admiração por ela. Sentado na varanda do dojo, o local dos treinos da família Shirasaki, vestia uma jaqueta preta e calças jeans, perdendo a atenção em seu livro diante do fascínio pelo duelo.

    — Boa? Que audácia, Amai… — brincou seu pai, recuando alguns passos e erguendo sua própria lâmina acima do peito. Vestindo um quimono em tons marrons, que lembrava a casca das árvores, ele a encarava com muito orgulho.

    — Já cansou, velhote? — provocou, firmando-se no chão, enquanto sorria lateralmente e deixava sua lâmina cair, encerrando propositalmente o treino ali.

    — Já… Na verdade, a vovozinha aqui tinha uma reunião importante com seu tio. Naoto, você entende, não é?

    Então, virou-se para o garoto ao dizer suas últimas palavras, com esperança de ser compreendido, enquanto ele soltava um suspiro meio emburrado.

    — Sério? Pensei que fosse conosco, mamãe e eu… Mas enfim, o tio sempre rouba seu tempo, né, velhote? — Pulou animado, seu tênis levantando um pouco de poeira ao redor. Em seguida, dirigiu-se a Amai com entusiasmo: — Bem, mana, agora que você está fortinha, que tal uma queda de braço? Mas sem usar seu poder, hein! Não vale!

    Enquanto o homem ria e caminhava em direção ao riacho que cortava o templo, agachando-se para juntar água e lavar o rosto, e os irmãos se preparavam para o desafio. A garota estava um pouco irritada, mas tentava manter o bom humor, enquanto ele estalava o pescoço, tentando impressionar.

    — Achou que iria me intimidar? — respondeu, posicionando-se para o embate, enquanto sua lâmina descansava no chão, após fincá-la, desfazendo-se diante de seus olhos. Ela também despiu parte de seu braço direito, levemente irritada: — Venha cá! Vamos lá, machão!

    — E você? Acha que me assusta? — retrucou, aproximando-se.

    Apesar de mais jovem, o rapaz ainda era bem mais alto que a garota. Ao despir seu braço esquerdo, a encarou com determinação.

    — Está pronta para ser derrotada? Sem energia espiritual você é só uma magrela fraca e baixinha!

    Os dois então caminharam até a varanda, colocando os braços sobre a madeira. A mão dele, praticamente o dobro do tamanho da de sua irmã, segurou firmemente a dela.

    — Vamos lá, Naoto Fracosaki!

    Afiada como sempre.

    — Calma, crianças… Vocês nunca crescem, não é? — Erguendo-se e olhando para os dois, revirando os olhos ao perceber tamanha infantilidade. Um segurou a mão do outro e forçou, mas Amai parecia levar a melhor.

    Mas sua atenção se perdeu do vencedor.

    Quando olhou para os céus, uma luz intensa rompeu as nuvens, trazendo uma calmaria que jamais imaginara.

    Era a estação das chuvas, a Crea.

    Por que, então, persistia essa paz?

    A resposta não poderia ser dada nem evidenciada a qualquer humano.

    Enquanto isso, longe dali, no covil da oposição, Rasen abriu a porta, encontrando Romero sentado em seu colchão, exausto e suado, em um estado decadente.

    — Então eles pegaram você de jeito… — murmurou o messias, puxando uma cadeira para se sentar ao lado do amigo. — Aliás… Vi o Milk e o brutamontes saindo cedo… É coisa sua? — afastando com os pés uma cumbuca de metal que continha sopa.

    Logo à frente.

    — Sim, eu os enviei… — Imediatamente captando a atenção dele. Seus dedos inquietos revelavam uma marca que praticamente inutilizara sua mão. Aquelas feridas jamais seriam curadas; a batalha lhe deixaria cicatrizes profundas demais para um humano se livrar. — A Ordem enviou um assassino, o tal Hideki Tamashiro. Ele quase me ceifou… se não fosse um demônio! — confessou, sabendo que ele era a única pessoa em quem poderia confiar sobre isso.

    No fundo, sabia que não havia determinação maior do que a de seu messias. Não importava o que dissesse, saberia o que fazer e como seguir.

    Mesmo que fosse ele quem o tivesse guiado, desde que era uma simples vítima, ainda assim, ele tinha a resposta final. Assim acreditaria.

    Como uma hiena em seu auge e um leão já velho de seus fardos.

    — Um demônio? — Genuinamente surpreso. — Pensei que, pelos ferimentos, fosse por causa daquele garoto capaz de usar energia negativa… Bem, se eles recorreram aos serviços de um possuído, é porque a situação não está boa! Mas… — fez uma pausa dramática, como se a resposta óbvia estivesse se revelando diante de si. — Como o demônio te salvou? Ele te ajudou a derrotá-lo? Ou foi algo mais sutil? Tipo… esse cara era o alvo…

    — Ele apareceu do nada e desapareceu com Tamashiro. Disse algumas palavras para ele, mas, pela forma e pela recitação maldita, era uma entidade original, um demônio nascido do abismo! — colocando as mãos sobre o rosto.

    Ou seria… que não?

    Conclusões, certezas. Não poderia tê-las.

    Se não fossem as marcas do combate…

    Diria que fora uma alucinação.

    — Entendi… — quase chegou a refletir sobre, mas foi como uma dúvida fugaz, que não interessava mais do que suas necessidades. — Talvez estivesse à espreita, esperando o momento certo, ou sei lá, talvez seja só uma ratoeira do meu pensamento… Não dá para tirar conclusões, só nos resta a dúvida, não acha?

    — A dúvida? Maldição… é ela que está me corroendo. Mas… está certo, Hideki poderia ser o alvo. Ainda assim, será que nossos passos não estão sendo observados? — perguntou, sentindo um arrepio na espinha.

    Era esse o motivo que o paralisou até então.

    — Passos? Romero, não seja tão desconfiado. O futuro pertence apenas a Elum, e a mais ninguém! Somente nossos passos passados podem ser vistos, entendeu? Não há como parar este trem que se chama revolução; vamos até o fim dos trilhos! — disse Rasen.

    Naquele momento, viu nele o líder. Até então, era apenas a criança destinada a se tornar o messias, mas agora havia uma confiança inabalável em seu ser, que se confirmava a cada palavra dita.

    Talvez fosse apego à ideia, enquanto vítima do abismo… não importava.

    Se antes ele tinha certeza, agora não havia mais dúvidas: ele era seu messias!

    — Realmente… somente a Elum pertence o futuro, e mesmo que pudéssemos ver adiante, apenas veríamos aquilo que ele desejasse! Parar, nesse momento, é inviável… — concordou, sentindo uma animação crescente em seu tom de voz.

    Seus olhos, antes focados nele, voltaram-se para seus livros e, mais adiante, para aquele mapa. Ele não estava pronto totalmente para revista o que almejava, mas a chama não se apagara; queimava com uma aura de renovação.

    Aquela era a segunda vez que morria… e ressurgia… assim vivia, até enfim tornar-se um iluminado! Como em seu ideal, buscava sempre a verdade, ou o que acreditava ser sua verdade…

    E seu profeta então ergueu-se da cadeira e caminhou até a janela ao lado da mesa onde estava o mapa do distrito.

    Encarando os grandes arranha-céus à frente, sentiu a ansiedade percorrer seu corpo. Logo, aquele primeiro ato terminaria…

    — O trem não irá parar… dúvidas? Incertezas? Iremos esmagá-las! Assim como eles esmagaram nossos corações!

    Fora teu primeiro decreto, gravado na tábua dos mandamentos.

    ÚLTIMO CAPÍTULO ESCRITO AQUI!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota