Capítulo 42 - Interdição
Arthur se ergueu de cima de Yelena, sentindo os lençóis úmidos de suor sob a ponta dos dedos, assim como os cabelos dela, ainda desgrenhados.
Suas costas estavam marcadas pelas unhas da garota, enquanto ela ainda ofegava em concordância com sua respiração.
A cada suspiro, a paixão parecia aumentar, seu olhar fixo nele com uma intensidade quase exterior aos próprios corpos.
As roupas jaziam espalhadas pelo chão do quarto, ao redor da cama, testemunhando a intensidade do momento.
Ferviam como brasas, como ferro fundido em águas geladas — puro êxtase.
Arthur, ao se afastar, sentou-se à beira da cama, levou a mão ao próprio rosto, um sorriso de lado surgiu. Parecia ter enfrentado uma batalha exaustiva e prazerosa.
— Você é difícil de vencer em um combate, hein! Será que é mais durona trocando socos do que na cama? — provocou, lançando a ela um olhar malicioso.
Já ela se sentou ali mesmo, segurando os lençóis contra os seios e encarando-o com um sorriso desafiador.
— Engraçadinho… O que te animou tanto? Senti que você ia me matar! — confessou, com uma satisfação sem igual estampada no rosto, enquanto rastejava de quatro até ele. Suas unhas pintadas de vermelho cravaram-se em seus ombros, bem onde ainda estavam as marcas de seus dentes — Hein? O que foi? — sussurrou, com os lábios roçando seu ouvido, provocando um arrepio em seu corpo.
— Ah, caramba…
Isso o fez saltar de repente, tentando escapar das garras dela, que se mostravam difíceis de esquivar ou desvincular.
— Não fala assim… cacete, eu vou acabar ficando ainda mais animado…
— O que foi, gatinho? — provocou, deixando o lençol escorregar até o colo, hipnotizando-o com sua beleza — Não quer um terceiro tempo? — mordeu o dedo de forma insinuante, enquanto ele admirava a tatuagem de dragão que descia de seu peito até o abdômen.
Ela era sua sereia — e ele, o pobre marinheiro que já havia mergulhado em sua luxúria.
— Você é pior que álcool! Ainda vou casar com você, garota! — declarou ele, apaixonado, enquanto agarrava a toalha pendurada na porta do guarda-roupa — Vamos tomar um banho e ir à praia antes que esse calor gostoso acabe?
Admirou-a por um instante antes de voltar a olhar para o banheiro.
— Hein?
Estendeu-lhe a mão sem encará-la diretamente, rindo de nervoso.
— Certo, certo! — Levantando-se. Caminhou até ele, pousando as mãos em seu peito e sentindo cada fibra que o compunha — firme e forte.
Após um beijo, seguiu primeiro para o banheiro.
— Vamos, gatinho… — chamou, oferecendo-lhe uma bela visão de suas costas. Nelas, rosas tatuadas entrelaçavam-se com brasas.
Um corpo adornado por belas e alucinantes artes que encantavam o rapaz.
A seguiu, e os dois deixaram o quarto para tomar um banho juntos. Quando ligaram o chuveiro, naquele box estreito, a água gelada golpeou seus corpos quase febris, proporcionando um instante de fuga da realidade.
Um momento de descontração que era mera dualidade do que se escondia nas entrelinhas. Enquanto os jovens curtiam o pouco que tinham e gozavam da vida, os mais velhos tomavam decisões que logo cairiam sobre eles.
Como sempre, a política era assim: governar hoje para prejudicar amanhã.
Cara a cara com o governador de Nova Tóquio, Kyotaka soltou um suspiro exausto. Estava cansado de tantas reuniões, praticamente sem dormir há dias.
— Então, você quer que eu confie em vocês? — perguntou Shinzo Abe, um homem de setenta anos, vestindo um terno preto e com um olhar desiludido. Suas costas estavam voltadas para um quadro pintado em sua homenagem. O salão de reuniões políticas, capaz de comportar até trinta membros, parecia pequeno diante do peso da discussão — Não dá mais! Não foram só os acidentes com os exorcistas, o terremoto, o surto da Síndrome da Escuridão, o assassinato… O povo não quer um bando de lunáticos batendo em bichos invisíveis! Não quando seus filhos estão morrendo! Você não entende isso? — desabafou, com a voz carregada de frustração.
Mas será que as vidas importavam tanto assim para ele? Ou apenas calculava o prejuízo que um descarte demográfico poderia causar?
Enfim…
À esquerda, alinhavam-se os quadros de todos os seus antecessores — os oito governantes que já haviam administrado Nova Tóquio. À direita, tremulavam as cinco bandeiras das cinco cidades que compunham o estado-país de Shoushin, que regia o continente de Aija desde o surgimento do império.
— Eu sei… Eu entendo. Mas, Shinzo, você mais do que ninguém deveria saber que grande parte disso é necessária! Esse ciclo não terá fim enquanto a população for tão ignorante! — respondeu, tentando manter a calma.
Não era a primeira vez que estava ali para defender sua posição. Afinal, a Ordem Espiritual, apesar de seus feitos e de ter livrado o mundo de muitos de seus pesares, era — como dizia seu fundador — a pária da sociedade.
Uma sociedade que bebia da própria ignorância sem freios. Para eles, a Ordem era como sentir uma sede angustiante.
Nunca cessava. Seu dever era eterno, um ciclo que só terminaria quando a humanidade enfim enxergasse o mal que causava a si.
— Eu sei que isso é necessário, sei que é a única verdade. Mas olha o mundo. Normalmente, a verdade é o que menos se deseja… — suspirou, profundamente — Não dá para continuar assim para sempre. Pode não ser comigo, pode ser com outro, mas um dia… teremos que encerrar as atividades da Ordem como são hoje. Infelizmente, não vai dar! — afirmou, deslizando um papel até o líder, do outro lado da mesa de mogno levemente avermelhada.
Ela proporcionava um contraste marcante naquela sala, com suas paredes acinzentadas e móveis pretos — uma herança deixada pela governante anterior, Yuriko Koike, a primeira mulher a alcançar proeminência na política de Aija.
Tão recluso e intolerante às mulheres por tanto tempo.
— Uma… interdição? — Leu o início do documento, surpreso.
— Exatamente. Não há outra saída…
Sua voz vacilou, mas estava cara a cara com o homem mais poderoso do mundo — não podia demonstrar fraqueza.
— Nós… estamos embargando a Ordem dos Exorcistas. Todas as decisões e reuniões precisarão do nosso aval. Esse é o único jeito de evitarmos uma guerra! — explicou, jogando uma caneta sobre a mesa, em direção ao velho — Minha família é da Igreja de Elum e, por mais que eu não seja um adepto, tenho carinho por vocês e pelo seu trabalho. Então, como representante dos exorcistas, seja racional! — clamou, enquanto ainda tentava digerir o que lia e ouvia.
Foi constrangedor. Como falar sozinho.
— Querem acesso até mesmo aos pagamentos?
— Queremos transformar isso em um serviço público, algo semelhante a um policiamento. Mas esse ainda é um futuro muito distante! — respondeu, gesticulando na tentativa de alcançar um consenso com o líder — Até lá, vamos incorporar uma campanha junto à população para suavizar a imagem dos exorcistas. Entende?
— Entendo. Deve ser incômodo quando alguém tenta resolver problemas que você não sente ou cuja dimensão não compreende… como um psicólogo — disse na sua máxima compreensão, agarrando a caneta e assinando rapidamente — Mas também entendo que o imperador não estará ao nosso lado. Não com todos os governadores temendo as consequências das nossas ações. Só me responda uma coisa: as outras nações deram avisos a Aija?
Fazendo Shinzo engolir seco.
— Deram… Mas, diante daquele terremoto, dá pra entender por que se sentiram ameaçados… — Ele fez uma breve pausa — …De toda forma, temos um acordo? — Com um tom esperançoso.
— Temos! Em qualquer caso, meu intuito era ao menos não prejudicar o trabalho que estamos fazendo. Bem, meu caro Shinzo Abe, se não se incomodar, vou me retirar… — disse, levantando-se.
— Certo, eu… aprecio sua cooperação. E…
— Que Elum te abençoe! — cortando-o antes que pudesse concluir. Não havia mais palavras a trocar.
Não valia a pena descarregar o pente verbal.
— O-obrigado.
Suava frio. Sentiu o alívio percorrer-lhe o peito assim que a porta se fechou, libertando seu coração — enfim, podia respirar.
— Por Elum! — soltou.
Reuniu as mãos sob o queixo.
Sai vivo… Agora, tudo será diferente… E eu poderei almejar o cargo de conselheiro do imperador!
A seriedade e o medo deram lugar à ganância.
Mergulhado em reflexões silenciosas sobre um futuro incerto — reflexões que, em sua mente, sempre terminavam com o próprio triunfo.
Homens e seus líderes… Apenas isso…
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