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    “A máquina não para, mesmo que a maioria de seus passageiros perca suas vidas; ela só cessa quando quem a controla perece.

    — Um fatalista do destino.

    Ou Diego Romero — um nome que ressoava pelos confins do deserto, não como o de um herói ou vilão revolucionário, mas como o de um sobrevivente marcado pelo peso implacável da guerra, que havia sido reacendida.

    Cada passo, outrora firme quando emergira das brasas da morte, arrastava-se agora, como se carregasse o fardo insuportável de cada vida perdida naquele fatídico dia.

    Tudo aquilo aconteceu há dezesseis anos, na segunda passagem do ciclo 279. Sua figura esquálida contrastava com a imensidão árida de Shamo, onde a luz escaldante de Aurora apenas realçava sua solidão e desespero.

    A fumaça negra que se erguia no horizonte não era simplesmente uma lembrança da destruição causada, mas uma sombra que pairava sobre sua alma atormentada.

    Cada nuvem escura evocava as lembranças dolorosas daqueles que mais marcaram seu coração: pai, mãe, irmãos… todos reduzidos a cinzas.

    Nada mais que cinzas! Sempre que fechava os olhos, revivia o inferno em chamas do vilarejo, ouvindo os gritos agonizantes ecoarem em sua mente como um lamento eterno da tragédia que testemunhara.

    Era um espectro vagando entre os vivos, seus trapos incinerados servindo como lembrança constante de sua própria mortalidade — e da fragilidade da vida naquele mundo dilacerado pela guerra.

    Seus lábios ressequidos ansiavam por água, mas sua voz fora silenciada pela dor e pelo desespero que o consumiam por dentro.

    À beira do colapso, viu a morte encará-lo mais uma vez. No entanto, algo o impediu de sucumbir completamente: a mão do destino, que sempre interferira desde o instante em que nascera.

    Piscou, tentando focalizar a figura que se aproximava, mas sua vista o traía.

    Um homem de cabelos vermelhos intensos, cujo rosto permanecia oculto, estendia a mão em sua direção.

    O susto foi suficiente para que tentasse agarrar desesperadamente a mão estendida, seus dedos tremendo antes de perder a consciência.

    Duas horas depois, despertou, murmurando um nome que ecoava apenas em sua mente.

    Era o nome de sua mãe — a última pessoa que amara e vira perecer naquela tragédia.

    Seu nome doía mais do que lembrar como morrera; sentir cada centímetro de sua pele queimando seria menos doloroso do que a perda em si.

    Olhando ao redor com uma mistura de confusão e desespero. Suas mãos agarraram o lençol branco que o cobria, e o cheiro pungente de álcool impregnava o ar.

    Disse um homem mais velho, ocupando uma das camas próximas. Com as mãos apoiadas nos joelhos e olhos penetrantes, encarava o jovem com uma serenidade que contrastava com o caos ao redor.

    Calvo, vestindo um sobretudo preto, com um crucifixo pendurado ao pescoço, ele era o primeiro exorcista que conhecera em toda a vida. Seu nome era Seiji Watanabe.

    Estava ali em missão, promovendo a paz e auxiliando as vítimas — um dos muitos Elumitas espalhados pelo continente.

    O jovem franziu o cenho, tentando assimilar as palavras. Sua mente continuava turva, e seu corpo, enfraquecido pela exaustão e pela dor, mal respondia.

    As perguntas ecoaram pela tenda, mas ninguém parecia disposto a respondê-las de imediato.

    Lágrimas escorreram por seu rosto, e suas mãos tremiam sob os lençóis.

    Aproximando-se. Seu olhar transmitia uma serenidade firme, que acalmava momentaneamente a tempestade que se agitava dentro do jovem.

    Resignado, assentiu.

    Não tinha forças para questionar mais. Sua mente ainda lutava para compreender o que acontecera — e o que ainda estaria por vir.

    Enquanto o sono o envolvia, sentiu uma presença incerta atingir-lhe como uma onda furiosa.

    Seus olhos pousaram em um relógio. “Tic tac…”, ouviu — ou pensou ouvir — em meio ao transe.

    E então, esse transe o transportou.

    Transportou-o para o exato instante, dezesseis anos depois, encarando aquele quadro tão querido por seu messias, naquela noite fria, enquanto segurava um de seus inúmeros livros — justamente aquele que o levara até ali.

    Mal necessário…

    Pensou, soltando um suspiro profundo, enquanto os passos ecoavam pela escadaria. Alguém chegava. E ele sabia exatamente quem era.

    Milk havia retornado de sua missão como o bom servo que sempre fora.

    Reuniu todas as forças que ainda lhe restavam para se erguer, perturbando a tênue luz que Nox emitia.

    Como no passado. Parecia mais fragmentado que o comum… Mais ausente e distante de si.

    Sua sombra não possuía mais forma, parecia moldar-se segundo a imagem de sua aura. Já não existia mais ele… apenas seu propósito.

    E a ele, entregaria tudo: sua alma, sua humanidade, e, se necessário, sua própria vida.

    Tentou encará-lo no fundo dos olhos.

    Mas não viu nada além da face inclinada para baixo, a respiração calma, os cabelos sujos caindo sobre o rosto como uma cortina opaca.

    Sua voz soava firme, mas sem arrogância. Apenas convicção.

    Silêncio. Um peso entre os dois. Como uma ferida antiga que nenhum dos dois ousava expor completamente.

    Talvez ainda houvesse dúvidas escondidas em algum canto de seu ser… bem no fundo.

    Ele o encarou.

    As palavras cortaram como flechas diretas, afiadas, certeiras.

    E por um instante, o silêncio pareceu pesar mais que a própria noite.

    O jovem respirava com tanta ansiedade que mal conseguia manter a postura.

    Seus olhos encontraram os de seu líder, e as palavras deste atingiram-lhe o âmago.

    Suas mãos apertaram o ombro, sentindo um calor reconfortante nas pontas dos dedos.

    Naquele instante… ele foi, verdadeiramente, feliz.

    Não fora vítima de uma ideia, mas do amor — tão impiedoso quanto — capaz de levar um homem a se lançar de um precipício sentindo ternura na própria morte.

    Ele não era “iluminado”. E, no fundo, sabia disso.

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