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    Seis passagens atrás…

    Dentro de um carro em meio às ruas mais sujas do distrito de Gou, Gabriel dirige enquanto Romero o acompanha, folheando um jornal. No jornal, lê-se: “Já se passaram quatro anos desde a fatídica síndrome da escuridão. O império nega responsabilidade, enquanto a oposição afirma que mais de 15 milhões morreram.”

    — Uma barbaridade… Como esse filho da puta do imperador consegue dormir? Quer dizer, o ex-imperador… aquele velho deveria ser fuzilado em praça pública! — reclama Romero, jogando o jornal para trás, visivelmente irritado. Em suas mangas, estão quatro cruzes costuradas, indicando seu classificação como um exorcista de grau quatro. Ele já não é mais o jovem do deserto, ou pelo menos assim pensa.

    — Ele dorme como todos os nobres, com suas cabeças em travesseiros macios e mesas fartas ao amanhecer. Romero, se você se chatear com tudo o que acontece, você não vive! — responde Gabriel. Ao virar a esquina, avistam uma multidão nas calçadas, murmurando entre si, com olhares de choque e curiosidade.

    Aquela rua é como um túnel do tempo, onde as mazelas e os prazeres ocultam-se como passos sutis. Somente o tempo pode converter uma semente em uma majestosa árvore.

    — Não é tão fácil… — diz Romero, olhando para os lados através do vidro fumê. Solta um suspiro profundo e recosta-se no banco do carro. — Imbecis, devem estar aqui só pela diversão. Não se importam com o moleque… — comenta.

    — Não os culpe. Este instante, por mais infeliz que seja, é uma quebra na rotina. Não espero que entenda ou normalize a situação, só… não se importe tanto! — replica Gabriel, estacionando em frente ao Jardim das Flores Douradas. É madrugada, e as luzes do grande edifício estão acesas. Carros dos mais poderosos homens de Nove Tóquio estão estacionados, e uma ambulância bloqueia a entrada, impedindo a passagem de qualquer veículo.

    — Sua calma me assusta! — diz, saindo imediatamente do carro, sendo alvo de olhares indiferentes ao redor. — Bairro de Gou… além das paredes do Domus-Dei, isso aqui é bem bonito! — admite, surpreendido pelo braço de Gabriel em seu ombro. Gabriel sai logo em seguida, batendo a porta do carro com força.

    — Vamos?

    — Ehr… Vamos! — Romero responde, sentindo um odor pútrido. Não é um cheiro demoníaco, mas o cheiro do pecado humano, tão adorado e tão repugnante. Os dois então caminham, passando pelos paramédicos que lhes dão passagem. Todos estão imersos na situação. Quando chegam perto de um grupo de policiais, que seguram pás e têm fardas sujas de terra, Gabriel toma a dianteira.

    — Boa madrugada! — cumprimenta Gabriel, enquanto Romero encara um rapaz sobre uma maca ao lado dos paramédicos, aos pés da escada. O jovem, coberto de terra, respira com dificuldade.

    — Boa! Achamos que vocês não viriam! — diz o oficial que comanda a operação, apertando a mão de Gabriel.

    — Desculpe, tivemos que evitar uma onda de protestos, mas, qual a situação? — desculpa-se Gabriel, fitando Romero de canto de olho.

    — Segundo uma das funcionárias do local, parece que o dono abusou do jovem e o enterrou vivo após o ato. Viemos atrás de um corpo, mas, caramba… ele está vivo mesmo após seis horas! Não dava para não ser um caso paranormal! — explica o oficial, enquanto Romero engole a seco a situação.

    — Abusou? O que esse moleque está fazendo aqui? Isso não é um bordel de mulheres? — pergunta Romero, parecendo interrogar o oficial.

    — Calma… — responde Gabriel.

    — A mãe… ela trabalha aí, pelo que disseram! — interrompe o oficial, ajeitando seu cinto e encarando a grandiosidade do edifício. — O pai é o dono… falaram que ele tem preferências por garotos…

    Podia-se ver o nojo estampado na face de Gabriel e dos demais oficiais, mas o jovem que ele tutela está ainda mais chocado.

    — O quê? Deve haver algum engano. Que mãe… que pai faria isso?

    Aquele instante, aquele maldito instante, Romero sente algo revirar seu estômago, e está pronto para vomitar, mas, aquele momento, aquela cena… é só um fragmento de sua mente, a qual, um dia já passa.

    Um breu toma seus olhos e ao seu redor, tudo é deletado, ele cai, em escuridão, demasia escuridão, à qual não há horizonte, ele está sonhando com o que já foi. Vítima da doença chamada ansiedade.

    Este instante é uma revisita ao seu passado, em seus sonhos, que como uma cortina, caem ao “tic-tac” do relógio em seu smartphone, que vibra sobre a mesa. A luz da manhã parece surgir, caindo sobre sua face, e, abrindo lentamente os olhos, ele vê sapatos negros e ensanguentados nos pés de alguém sentado em sua poltrona. Livrando-se do ponto de vista limitado, ele se ergue, assustado, e lá está Rasen, o encarando, refletindo o abismo em seus olhos.

    — Acordou cedo… pesadelo?

    — Ehr… é… foi mais um sonho… desagradável… de um momento, desagradável! — diz, sentando-se na cama, ainda espantado. — Onde esteve? Quando Milk chegou você já tinha saído… — questiona.

    — Só estava contemplando a noite, que, aliás, foi tão boa… não sentiu o frio!? Após tanto calor! — indaga Rasen, erguendo-se e deixando pegadas de sangue à frente da poltrona.

    — Rasen… você sabe que não pode chamar atenção até… o plano ser completo, não sabe?

    — É… Mas eu não chamei atenção, Romero. Se é o que imagina! Eu apenas estava tentando entender meus próprios limites. Até o dia, preciso estar a par das possibilidades e das impossibilidades. Afinal, será uma jogada de uma única chance, não é?

    — Sim! — responde Romero, levantando-se. — Mas…

    — Para que tanto medo? Já não apostamos nossas vidas? Acalme-se! O destino está do nosso lado! — diz Rasen, interrompendo-o e seguindo para a saída. — Vou tomar um banho. Quando todos chegarem, me chame. Boa manhã, meu amigo! — conclui.

    Ele então desce, seus passos ecoando e despertando quem quer que esteja adormecido. Um sorriso de orelha a orelha estampa seu rosto, e no bolso, algo de metal tilinta levemente. É a sinfonia da morte que ele carrega, revelada quando entra em seu apartamento e segue direto para o banheiro. Ali, joga três crucifixos banhados em sangue na pia. Com movimentos lentos, começa a despir-se, peça por peça, revelando um corpo tatuado. Cada tatuagem conta uma história, carregada de incertezas, pois as certezas sempre o machucaram demais.

    Essa manhã, do dia 34, já começa gélida após os dias calorosos. É o derradeiro dia; os seis cavaleiros irão se reunir a Rasen e Romero, assim enfim como os oito iluminados. É apenas o início do desabrochar do caos. Abraçando essa ideia, Milk, já bem cedo, envia mensagens a todos. Está exausto, vestido com as mesmas roupas do dia anterior, um andar abaixo do último, onde Romero está. Sentado sobre seu colchão no chão, seu único pertence é uma mala à sua frente, naquele ambiente tão escuro e vazio.

    Os três estão postos para o que está por vir.

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